Academia Montesclarense de Letras

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Copyright by © 2014 – Editora Cotrim Ltda.
Montes Claros – Minas Gerais

Coordenação Editorial
Júlia Maria Lima Cotrim

Projeto Gráfico
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda

Formatação
José Rodrigues F. Júnior

Revisão dos Textos
De responsabilidade dos autores

Revisão Final
Wanderlino Arruda

Desenho das vinhetas de
Conceição Melo

Fotografias
Dário Teixeira Cotrim
Dóris Araújo
Itamaury Teles de Oliveira
Márcia Vieira Yellow
Silvana Mameluque
Wanderlino Arruda

Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
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Cotrim, Dário Teixeira (Org.)

C843d

A Deusa das Letras. Dário Teixeira Cotrim (Org.). Montes
Claros – Minas Gerais. Editoras Millennium/Cotrim Ltda. 2014.
118 p. - Volume I
1. Literatura Brasileira 2. Ensaios 3. Montes Claros - Minas
Gerais
I. Dário Teixeira Cotrim (Org.) II. Título
CDD B869.1

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Editora Cotrim Ltda
Rua Euzébio Godinho, 304 - Bairro São José.
39400-356 - Montes Claros - MG
(38) 3015-7939 - dariocotrimcultura@gmail.com

2014

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ÍNDICE

A Deusa das Letras: à guisa de Prefácio - 09
Dário Teixeira Cotrim
Destinos - 12
Olyntho da Silveira
Rainha Centenária - 14
Felipe Gabrich
“Vovó centenária está tão bonita de vestido novo” - 17
Mara Narciso
Uma mulher à frente do seu tempo - 24
Júlia Maria Lima Cotrim
A mulher, a velhice e o amor! - 26
Amelina Chaves
Uma mestra cruzou o meu caminho:
homenagem de uma eterna aluna - 29
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Estrela Guia - 34
Geralda Magela Sena Almeida e Souza
O Prazer é todo meu, Dona Yvonne Silveira - 37
Evany Cavalcante Brito Calábria
Dona Yvonne - 39
Terezinha Campos
A Grande Dama - 41
Marilene Veloso Tófolo
Yvonne Silveira: no Largo de Cima - 44
Wanderlino Arruda
Semideusa da Cultura - 52
Petrônio Braz
Dona Yvonne: ícone de cultura e sabedoria - 57
Glorinha Mameluque
Lady Yvonne - 61
Felicidade Patrocínio
Yvonne Silveira, uma lição de vida até nos sonhos - 65
Luiz Giovanni Santa Rosa
Yvonne Silveira: Uma Eternidade - 68
Edson Ferreira Andrade
Toquemos os Sinos - 71
Dóris Araújo
Intelectuais pouco envelhecem: Dona Yvonne, muito menos... - 75
Itamaury Teles
Pelos Caminhos da Vida - 79
Maria do Carmo Veloso Durães
Yvonne Silveira: A jovem de cem anos - 84
Maria de Lourdes Chaves
Yvonne Silveira, uma estrela que brilha - 86
Maria Ruth das Graças Veloso Pinto
Mãe e Mestra - 90
Maria Ilca Terence Noronha
O valor das palavras - 93
Zoraide Guerra David
A filha do Farmacêutico - 96
Karla Celene Campos
Uma grande mulher - 100
Maria Luiza Silveira Teles
A dama da literatura - 103
Gal Bernardo
Cem anos de existência, é um presente de Deus - 105
Ariadna Muniz
Dona Yvonne - 109
Clarice Sarmento
Yvonne Silveira, escritora insignia da literatura de Montes Claros - 112
Terezinha Teixeira Santos
A paciente Dona Yvonne Silveira - 115
Edwirges Teixeira de Freitas


A DEUSA DAS LETRAS
À GUISA DE PREFÁCIO

Dário Teixeira Cotrim

O nosso propósito aqui não é fazer uma grande enciclopédia sobre a vida e a obra da professora Yvonne de Oliveira Silveira, mas uma pequena Antologia, com artigos assinados pelos seus amigos e amigas, sobre as virtudes e os saberes de uma mulher intelectualmente reconhecida nos meios literários e querida por todos os montes-clarenses. Nota-se que esta Antologia foi programada e projetada para fazer parte das comemorações do Centenário da homenageada, com crônicas e poemas alusivos à sua vida. Não há como negar a nossa admiração e o nosso preito de gratidão e respeito por essa encantadora mestra da cultura: Yvonne de Oliveira Silveira – uma mulher à frente do seu tempo!

Aqui está uma visão centenária da professora Yvonne, escrita pelos seus confrades e confreiras. São palavras de carinho, de gratidão e de muito amor pelo brilho inexcedível do seu meigo coração e de sua bondosa alma. Por outro lado, são manifestações espontâneas pelo fulgor de sua simpatia, pela cultura polimorfa, pelo seu sentimento de “juca-pratismo”, que tantas vezes se manifestou com entusiasmo e que ainda continua se
manifestando com afeição nos seus diversos pronunciamentos. Acima de tudo, pela sua inquebrantável atitude em trabalhar, sempre e muito, pela valorização cultural de nossa querida cidade de Montes Claros. Yvonne de Oliveira Silveira completa cem anos de vida repleta de momentos felizes e, poucas vezes, melancólicos.

Saudosa pela partida de seus pais e de alguns de seus amigos, ela eternizou-lhes a memória no influente livro Cantar de Amiga. Disse-nos a confreira Maria Luiza Silveira Teles que “ao exprimir toda a gama de sentimento que a tornaram pela existência, brindou a uma celebração maior: a celebração de tudo que caracteriza a sua própria vida e compõe a belíssima canção da vida do Ser Humano”. Entretanto, a dor maior foi o momento de dizer “adeus” à sua alma gêmea, o poeta-escritor Olyntho Silveira.

Agora, numa força conjunta das nossas Academias de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, a Antologia do Centenário da professora Yvonne de Oliveira Silveira é lançada, sob a responsabilidade da Editora Millennium/Cotrim Ltda. Esta Antologia foi totalmente revista e corrigida pelo eminente acadêmico Wanderlino Arruda, a quem agradecemos a colaboração, que novamente nos prestou, com tanta competência e dedicação. Ainda assim, valemo-nos do ensejo para
os nossos agradecimentos aos que, espontaneamente, e de modo tão gentil nos ajudaram a organizar e publicar esta despretensiosa obra literária com o intuito comemorativo. Para finalizar, é nosso desejo que a ilustre professora Yvonne de Oliveira Silveira tenha vida longa e que continue sempre inteligentemente lúcidaà frente de suas atividades literárias em favor de nossas Academias de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Benza! Deus!


Destinos

Olyntho da Silveira

Quando surgiste frente ao meu caminho
E os fados para sempre nos ligaram,
Meus planos todos se modificaram
E armamos de esperança o nosso ninho.

Um após outro, os dias se escoaram
Eu, encantado pelo teu carinho,
Conduzindo por tuas mãos de arminho,
Sentir não pude as horas que passaram.

Veio a neve pintar os meus cabelos,
Mas eu, que só agora posso vê-los,
Relembro aquela venturosa data.

Tornando iguais os nossos dois destinos,
No céu negro dos teus cabelos finos
Estrelas vêm surgindo já, de prata.

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Do livro ‘Cantar da Amiga’, da professora Yvonne de Oliveira Silveira. Pág.17.


RAINHA CENTENÁRIA

Felipe Gabrich

Os publicitários iriam exibir a sua imagem em outdoors e vídeos como paradigma da jovialidade. Não é todo ser humano que atinge a incrível marca dos cem anos de vida, embora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o famigerado IBGE, tenha elevado para 74 anos o índice de expectativa de vida do homem moderno no Brasil.

Mas ela é possuidora de vários perfis e qualidades de seres humanos de inteligência privilegiada.

Como esse incrível e maravilhoso feito de comemorar com muita alegria os cem anos de vida no mês de dezembro do ano 2014 da Graça do Senhor.

De pé e altaneira, em todos os sentidos físicos da biologia humana. Com lucidez de espírito de menina de poucos anos de vida. Com o timbre de voz firme e brilhante de pessoas iluminadas que se expressam com a alma.

Poetisa na acepção do termo, Yvonne Silveira em nada fica a dever aos maiores poetas e escritores da literatura brasileira dasúltimas décadas.

Seus livros estão aí para quem quiser ler e comprovam sua brilhante mente produtiva de versos e de contos sonoros e abstratos.

Há, também, escritos de cunho histórico de quem faz e participa do conhecimento.

Professora eterna, apaixonada e dedicada das artes e das letras até os dias atuais, não obstante a aposentadoria oficial por tempo de serviço.

Presidente da Academia Montesclarense de Letras.

Sócia efetiva da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, dentre outras atividades culturais da talentosa Yvonne Silveira.

Impressiona a todas as pessoas a vitalidade dessa decana professora aposentada e a sua encantadora e obstinada vontade de viver.

Na verdade, ela está presente em todos os eventos oficiais e não oficiais da cidade. De batizado de boneca à entrega de medalhas e diplomas de honrarias.

Isso, sem contar as solenidades de lançamento de livros, sua grande paixão.

Tive a honra de ter sido aluno dela na antiga Escola Normal e na Faculdade de Administração. E talvez esse detalhe fuja à análise dos publicitários de plantão: poucas pessoas desses claros montes podem escrever em seus currículos terem sido amigos de uma pessoa humana maravilhosa em toda extensão do adjetivo pátrio.

Ou abençoadas com a dádiva da amizade da emérita mestra ao longo de muitos anos, assim como de seu inesquecível e saudoso esposo Olyntho.

Quisera ter o dom da palavra para saudar os cem anos de vida de dona Yvonne. E para eternizar o apreço e afeto nutridos por muitos corações que aprenderam os segredos da literatura brasileira através da sabedoria de uma mestra que sempre amou o que fala.

Mais cem anos, dona Yvonne, é o que desejamos do fundo do coração.

Montes Claros, sua gente e sua cultura agradecem aos céus a sua profícua e benfazeja existência!



“VOVÓ CENTENÁRIA ESTÁ TÃO
BONITA DE VESTIDO NOVO”

Mara Narciso

Já se sentiu desrespeitada. Chegou a ouvir alguém dizer que ela não era ninguém, nalguma ocasião social. Concluiu que era inveja, embora não se ache coisa alguma, apenas uma simples ex-professora de Português e Literatura, que se formou em Filosofia na atual Unimontes. “Não fiz nada de mais”. Fala isso sempre, numa modéstia que parece verdadeira. Diz que a importância que tem é dada pelos outros, que escreve para jornais desde menina, mas não escreve bem, sendo uma escritora

comum. Ao mesmo tempo considera que foi boa professora e em trinta anos de magistério, teve apenas dois desentendimentos com alunas, um no colégio e outro na faculdade. No segundo caso a moça era atrevida e retrucava, então mandou que se calasse. A aluna era portadora da doença de Chagas e morreu alguns dias depois, logo no começo das férias. Ainda hoje é doloroso lembrar-se desse episódio.

Dona Yvonne Silveira não foi minha professora, mas ouvi diversas vezes as suas ex-alunas a evocarem de forma respeitosa, dando a ela os méritos por hoje serem o que são. Fizeram curso superior, estão bem de vida e desenvolveram o gosto pelos estudos e pelos livros nas prosaicas aulas de redação da mestra.

Eu conheci Dona Yvonne em 2005, por ocasião do lançamento do meu livro “Segurando a Hiperatividade”. Em nome da Academia Montesclarense de Letras ela fez a apresentação. O fato de ela ter dito na sua análise técnica minuciosa, lendo várias fichas frente e verso, de que a minha escrita não era literária, hoje não tem nenhuma importância, mas na ocasião me estimulou a melhorar, e a buscar escrever noutro ritmo que não “o correr da pena”, segundo definição dela.

A eterna presidente da Academia Montesclarense de Letras pode até não ser uma escritora tão grande quantos os autores que a inspiraram a lecionar Literatura, mas entende da técnica de escrever como ninguém. A sua prodigiosa memória precisa apenas de uma breve revisão para palestrar sobre um tema relacionado ao que ensinava. Seus poemas são corretos, tecnicamente adequados, com ritmo, métrica e alguma coragem. Prefere a linha memorialista, e, acanhada em fazer críticas, recorre ao caminho do elogio. Quando solicitada a opinar sobre temas atuais, recorda que, quando começou a se popularizar o uso de drogas, escreveu uma crônica contundente sobre o tema, condenando, obviamente, e foi duramente ameaçada. Na ocasião lecionava e dirigia, e sob um alerta dos riscos que corria, decidiu abandonar assuntos polêmicos.

Diante de uma dama centenária, mesmo quem não se importa com o politicamente correto, tende a derramar-lhe elogios fáceis. Espírito crítico: está aí uma qualidade que Dona Yvonne Silveira tem de sobra. Rigorosa sobre o que diz, quando discursa e troca algum nome, põe-se a fazer o mea culpa, lamentando-se pelo equívoco.

É de se esperar enorme comedimento de quem veio ao mundo no começo do século passado. Nasceu em Montes Claros em trinta de dezembro de 1914, filha de um farmacêutico bem conceituado, que, devido à prática de curar doentes naqueles lugares ermos em que não havia médico, chegou a passar dicas para profissionais formados na capital. Nos seus catorze anos
a família foi morar em Francisco Sá, chamado Brejo das Almas, lugar com quatro ruas poeirentas. Um rapaz, Olyntho Silveira, então com dezenove anos falou que iria namorar a filha do dono da farmácia. Tinha visto a menina uma vez e quando a viu de novo, ela própria já sabedora do seu interesse, passou diversas vezes de bicicleta, vestido num paletó marrom, e com a gola da camisa aparecendo.

Namoraram quatro anos, e, seguindo a tradição da época, pensou que, com um beijo na boca, fato consumado e que muito a impressionou, ficaria grávida. Era a filha mais velha, e a mãe adoentada, com problema psiquiátrico, que não tinha tratamento eficaz, não lhe falou nada sobre casamento. Utilizou-se das informações de uma amiga mais velha, mas se casou sem saber por onde nasciam as crianças. Dona Yvonne e seu Olyntho casaramse na casa dela. A noiva não se animou a atravessar a pé, com seu vestido longo, as ruas cheias de poeira, até a igreja. Perguntada, não mencionou uma única palavra sobre a lua de mel. Talvez
não tenha ouvido bem a pergunta. Era o ano de 1933, e, como diz o jargão, a vida não permite ensaios. O conhecimento pode chegar junto ao ter de fazer, e assim foi. Ficou casada por setenta e seis anos e não gerou filho, comenta desanimada. É triste sabermos que não será preservada tão interessante genética.

Um cérebro privilegiado como o dela deveria ser estudado, pois aprendeu Francês, quando jovem, e aprimorou o Português pela Rádio do Ministério da Educação. Ainda hoje fala de improviso e de pé com tal clareza e voz límpida, que impressiona. Um feito que muitos, com trinta anos a menos do que ela, não conseguem imitar. Há dois problemas físicos que ela costuma
mencionar: dificuldade para andar e escutar. Usa o aparelho auditivo, com pouca eficácia, devido ao desgaste do tempo, e anda pouco. Disse que todos os médicos a mandam caminhar, ainda que seja em seu amplo quintal. Mas acaba não obedecendo.

Sua rotina começa cedo. Gosta de se levantar, arrumar logo a cama, trocar de roupa, alimentar-se e cuidar do jardim, coisas que faz sem ajuda. Não gosta de ir direto para as leituras, para não ficar muito parada. Não aprova a inércia diante da televisão, a qual vê pouco, apenas o noticiário. Então, lê alguma coisa, especialmente os dois jornais da cidade, que assina: Gazeta e Jornal de Notícias. Após o almoço, recosta para descansar, quase não dormindo de dia. É quando vem a parte da tarde, horário em que escreve. No momento está perdida em trovas memorialistas, mas acompanha os acontecimentos atuais, o tempo presente. Gosta das notícias internacionais, e busca seus desdobramentos. Depois vem a noite longa, mas dorme relativamente bem.

Tem muito cuidado para não cair. Alimenta-se pouco, e, raramente tem distúrbios estomacais, especialmente quando come fora de casa. Acredita que a memória antiga esteja em forma devido a um remédio que toma há muitos anos para preservá -la – Pharmaton -, porém gostaria de não se esquecer das coisas do dia a dia. Para evitar maiores lapsos, conta o tempo sistematicamente. Ao se levantar localiza-se na semana e no mês. A rotina de enveredar-se pelos livros garante uma espécie de exercício cerebral. Usava um laptop, mas está desativado no momento, sendo urgente consertá-lo. Tem um perfil no Facebook, mas vê a internet como um perigo, vislumbrando o lado mau com muita convicção.

A televisão é permissiva, a moral se degradou, ela lamenta. Soube da existência de homossexualidade após estar casada, e por acaso, quando um parente mostrou com ar de galhofa um bilhete de um rapaz que queria ficar com ele. Estranha que hoje uma criança de quatro anos saiba reconhecer um homossexual. A liberalidade a assusta. A rua ao lado da sua casa, na esquina no Bairro Vila Brasília era escura, e casais vinham namorar lá, dentro dos carros. Uma vez, um casal foi visto nu pelo pessoal
da casa. O movimento era grande, num ir e vir constante, e não havia constrangimento dos que estavam namorando, mesmo quando pessoas chegavam à janela e olhavam para baixo para intimidá-los. No outro dia, diziam, havia preservativos espalhados. Atribui esse comportamento liberal a ascensão das classes pobres, com pouca formação moral.

Com cem anos de existência, ela pode pensar e falar o que quiser. Como foi criada no rigor do começo do século XX, não precisa sentir-se presa ao que se convencionou chamar de conveniência no pensar. A patrulha ideológica pode funcionar para os outros, não para Dona Yvonne. Ainda assim, prevendo o pensamento dos outros sobre os seus, doura a pílula, dizendo:“todos são iguais, ninguém é pior nem melhor, e eu mesma não me sinto mais importante do que ninguém”. Reforça que a elite acabou, e os antes da classe baixa tomaram o seu lugar. São eles que ditam normas e modas, todos se vestem e se comportam de forma igual, seguindo a televisão. “Você não se lembra, mas as empregadas se vestiam diferente das patroas”.

Seu bisneto do coração, de pouco mais de um ano, anda pela casa usando fralda e um sorriso gostoso. Preocupa-se sobre em que mundo ele crescerá, devido à poluição e violência. O ser humano tem aprimorado muito a sua maldade, e isso a amedronta. As pessoas perderam a vergonha. Apresentam-se à missa e até para se comungar de shorts curtos, blusas tomara-que-caia com a barriga de fora, sem o menor pudor. Nesse particular, ela sempre foi recatada, até porque o seu marido tinha muito ciúme e não a deixava usar roupas sem mangas.

Fala de duas amigas que estão gravemente enfermas, e que também poderá cair de cama, o que tem pavor. Lembro a ela que cada um tem uma história, e que é melhor esperar para ver. Sobre a proximidade dos cem anos, emociona-se, imaginando que poderá não chegar lá, pois seu marido morreu em 2009, cinco meses antes do centenário. Sugiro que não se impressione com isso, e que faça de conta que serão os noventa a nove anos outra vez. Os números inteiros chamam a nossa atenção, fecham um ciclo. Melhor não exagerar na emoção.

Em seguida faz referência a Constancio Vigil, escritor uruguaio, que narra diversas situações em que a vida fecha um ciclo. Acontecem nascimento, crescimento, apogeu, declínio e morte.“Tudo no mundo é assim”, ela diz, “inclusive vários impérios e até mesmo o sistema solar, no qual os planetas giram em torno deles mesmos, então em torno do sol, que pertence a Via Láctea, e que caminha para um lugar que não sabemos qual é”.

Foi uma visita informal, não marcada e sem nada anotado. A conversa durou três horas, e na saída, ela me leva à porta, mostrando o sistema de cerca elétrica e monitorização por câmera, sendo que anteriormente tinha lamentado o corte de um oiti na sua porta devido a questões de segurança. Disse ter se alegrado com a minha visita, e solicitou que eu a avisasse com antecedência, na próxima vez, para ela poder preparar-me um lanche, pois não tinha néctar, apenas ambrosia. Achamos bom, você e eu, grande mestra, sairmos da rotina para termos uma boa conversa.

Ficamos pasmos em ver, sem nenhum exagero, que Dona Yvonne Silveira é um caso extraordinário de longevidade, lucidez e sabedoria. Ainda que alguns digam que ela não é tudo o que festejam e os mais próximos reclamem que ela não é tão mansa em casa quanto fora dela, sem esforço algum lhe fazemos reverências, pois sua dignidade, um grande legado, evoca todas as homenagens.



UMA MULHER À FRENTE
DO SEU TEMPO

Júlia Maria Lima Cotrim

Nós, confreiras e amigas de Dona Yvonne de Oliveira Silveira, que completa cem anos de idade, em 2014, teremos a oportunidade de externarmos a amizade, a afeição e o carinho que dedicamos a ela nesta antologia – A Deusa das Letras – organizada e publicada pela Editora Cotrim Ltda.,

Falar de Dona Yvonne acho que não é difícil, pois ela se mostra como uma mulher que batalha pelo seu direito à diferença, questionando os papéis que lhe são conferidos pela família e pela sociedade, administrando a própria vida, na incessante busca da possível autonomia, procurando sua porta de entrada para a cultura, sem aceitar o rótulo de inferioridade sempre conferidoàs mulheres.

Ela é uma mulher que procura exercer sua inteligência e sua sensibilidade quando profere seus discursos, nos passando um aprendizado inigualável e, numa busca de parâmetros que sejam mais apropriados ao que vai descobrindo em si mesma.

Dona Yvonne esqueceu a passagem dos anos, o desgaste da luta, os aborrecimentos da rotina e compartilhou uma relação alegre e fiel com o seu esposo Olyntho da Silveira, tornando-se uma esposa-companheira por muitas bodas.

Quisera ter tido a oportunidade de ser sua aluna, enquanto conheço pessoas que tiveram o privilégio de ter passado por uma sala de aula, cujo tempo conviveram e deleitaram com seus ensinamentos. Para mim ela é a pura expressão do ser humano comprometida com a cultura e o saber. É um exemplo!

Há pessoas que passam por aqui e deixam marcas e ela vai nos deixar uma contribuição cultural e suas emoções registradas, que bem assimiladas, se transformarão em sabedoria. Na condição de uma das grandes construtoras do progresso de Montes Claros, nada mais justo que receber nosso reconhecimento pelo extraordinário desempenho frente à Academia Montesclarense de Letras, à Academia Feminina de Letras de Montes Claros e ao Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.



A MULHER, A VELHICE
E O AMOR!

Amelina Chaves

O homem e a mulher envelhecem de formas bem diferentes. Enquanto a mulher encontra mil opções para enfrentar a idade, o homem na sua maioria fica parado, sem meios de vencer a solidão proporcionada pelo tempo, que não perdoa ninguém por mais poderoso que seja. A mulher, por
natureza é mais comunicativa e atualmente dispõe de vários recursos da ciência moderna, remédios, alimentação e exercícios que ajudam lutar contra a aparência de velhice. Ela também leva a vantagem de poder usar adornos, enfeites brilhantes que tem o efeito de atrair os olhares e desviá-los das imperfeições causadas pelo efeito dos anos vividos. Deus doou à mulher uma grande aliada, a vaidade, que desenvolve esta ansiedade feminina de parecer bela, e renovar sempre, para ser agradável aos olhos das pessoas, enfeitar-se e disfarçar as marcas do tempo, mas, por outro lado, quando a mulher só pensa no visual, em qualquer idade não passará de um objeto decorativo. A sabedoria e a cultura se tornam de extrema importância na velhice, só elas dão condições de descobrir novos caminhos no campo do trabalho, mesmo social, como forma de preencher o tempo disponível, tornando-se útil e valorizando a vida. A velhice e a arte talvez sejam uma das melhores formas de desafiar o tempo, a arte pode ser uma grande aliada da velhice que limita o corpo.

A partir de certa idade, as atividades tornam-se penosas, o trabalho, que requer esforços às vezes tornam-se impossível, enquanto o conhecimento e à experiência adquirida podem ser realçadas e usadas. Existem vários artistas e profissionais que permanecem até o fim, senhores do seu talento. Como prova disto Voltaire, compôs ‘Candice’ aos sessenta anos. Vitor Hugo escreveu na idade madura os mais belos versos sobre a velhice
e o amor. Quantas mulheres fogem de viver um grande amor, alegando que estão velhas? Esquecem que só o amor dá sentido a vida; portanto deve ser vivido em qualquer época; logo, nada de renúncia sentimental. O coração tem necessidade de exercícios. Naturalmente, nada de criar amores imaginários forçando os sentimentos, mas quando surgir algo, porque interditar? Sem outra razão além da idade, mulheres que têm a capacidade de despertar os sentimentos de alguém deve amar até os últimos dias da existência.

Preconceitos absurdos condicionam a mulher na velhice: sendo mais velha não pode se relacionar com um homem jovem, enquanto o homem de setenta anos chega até mesmo a se casar com moça de vinte anos. Muitos acham ridículo velhos apaixonados. Triste são aqueles que não sabem amar, levam o resto da vida desprovidos deste sentimento grandioso que nos conduz amar a vida de forma plena e diferente. Nada existe de feio ver uma pessoa mais velha enamorada, mesmo quando o amoré platônico. É na velhice que podemos descobrir a beleza que marca a personalidade de cada um. A delicadeza no gesto de ternura, afeição, admiração e de carinho não tem idade para sentir e para ser feliz não tem um tempo determinado. O amor entre pessoas mais velhas pode ser belo e sincero quanto o amor entre jovens, pois nele está inserido a pureza, a experiência, esta que só se aprende vivendo. É este amor, que não se perde em buscas e pode ser mantido com a mesma volúpia e a mesma sensualidade da juventude, porque o espírito é intocável pelo tempo.
Um exemplo de velhice bonita, elegante, e produtiva é a nossa homenageada a amiga e mestra Yvonne Silveira.

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Membro da Academia Montesclarense de Letras e de outras academias afins. Sócia colaboradora da Comissão Mineira de Folclore.
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UMA MESTRA CRUZOU
O MEU CAMINHO:

HOMENAGEM DE UMA ETERNA ALUNA

Marta Verônica Vasconcelos Leite
“Se a cultura do espírito aumenta a felicidade dos homens, não
pode deixar de ser grande serviço a humanidade inventar meios, pelos
quais essa cultura se generalize.”

A citação acima bem poderia ser de Yvonne de Oliveira Silveira, mas não é, foi publicada num jornal francês no século XlX: “O Universal” (Paris, 18/07/1825). Inicio essa homenagem à minha Mestra de literatura universal e brasileira valorizando sua formação intelectual e, por conseguinte, o seu magistério. Quase uma vida a serviço da educação norte-mineira. Dona Yvonne, como a chamamos, nasceu para ser professora e se realizou como tal.

Eu a conheci em 1973, na Escola Normal Professor Plínio Ribeiro, que se localiza no Bairro Funcionários, que na época parecia-nos ficar longe do centro da cidade. Dona Yvonne chegavaà escola no seu famoso fusquinha verde, o que era uma grande novidade, uma mulher dirigindo o seu próprio carro. Era professora de literatura brasileira, mas nunca se prendeu a isso,
suas aulas eram verdadeiras palestras sobre a literatura universal, especialmente a portuguesa, o que muito me valeu para me sair muito bem no futuro vestibular. Nós as normalistas, ficávamos encantadas com tanto conhecimento acumulado em uma só pessoa e, como acontece com os bons professores, ela não nos forçava a ler os clássicos, mas nos estimulava e indicava bons autores. Da minha parte foi tudo natural, fui boa aluna porque tive a sorte de ter uma leitora contumaz como minha mãe e como filha mais velha, desde cedo convivi com bons livros, Dona Yvonne, na verdade, só consolidou esse meu gosto pela literatura.

Segundo Irlen Antônio Gonçalves (2008, p. 193/194):

O intento de compreensão das práticas profissionais desses atores escolares implicou trazer como problematização central e geral as questões relacionadas à constituição da cultura que emergiu na escola em Minas. Pois foi nessa realidade que essas práticas foram inventadas ou reinventadas, gerando não somente as ações passivas de produção das imposições formais dos regulamentos e programas prescritos, mas, sobretudo, desenvolvendo relações mais extensas, com tramas de sociabilidades entre os professores e seus pares e com outros sujeitos, seja no seio familiar, comunitário ou outros.

Essa era uma época de mudanças na educação formal. Os professores buscavam se adequar entre o novo e o tradicional. Como já citado, Dona Yvonne não obrigava ninguém a ler, não fazia chamadas e também não me lembro de provas difíceis aplicadas por ela, no entanto, ninguém matava as suas aulas. Naquelaépoca, ela já era uma senhora experiente o suficiente para entender que seria inútil tentar exigir de alunos, cujo pais pouco ou nada estudaram, uma bagagem de conhecimentos literários e que nos dois semestres que ela passaria conosco, o máximo que iria conseguir seria se impor como professora pontual, elegante e amiga de suas centenas de alunas. Por isso, nos orientava no sentido de que querendo, e se dedicando, qualquer pessoa pode se tornar um cidadão culto. Nesse aspecto acredito que ela fez o seu melhor.

Souza (2005, p. 167) nos ajuda a entender tais ações, citando Chartier (1990, p. 182), que adverte para o fato de (em questões culturais) é preciso postular sobre existir um espaço entre a normatização e o vivido, entre a prescrição e a prática, entre o sentido visado e o sentido produzido, espaço esse onde podem insinuar-se novos caminhos.

Em 1989, depois de ter concluído meu curso superior em Comunicação Social, na PUC Minas, em Belo Horizonte, retornei a Montes Claros e ao Conservatório Estadual Lorenzo Fernandez, onde reiniciei meus estudos artísticos, retomando o gosto pela pintura em telas, uma grande e antiga paixão. Participei de muitas exposições coletivas com as colegas do Conservatório, em Montes Claros e em várias cidades brasileiras, até que resolvi fazer a minha primeira exposição individual, na Galeria da Caixa Econômica Federal. Para isso precisava de alguém que me apresentasse como artista plástica e foi na porta de Dona Yvonne que fui bater. Ela como sempre foi muito atenciosa. Avaliou os meus trabalhos, através de fotografias e aceitou o convite. Essa Exposição, que denominei: “20 anos de pintura”, teve vernissage no dia 30 de maio de 1992 e foi um marco na minha história pessoal e também um reencontro com minha Mestra. Como ela é uma assídua frequentadora dos acontecimentos culturais da cidade, nós nunca mais nos perdemos de vista.

Da pintura à escrita de livros, foi para mim um caminho natural. O trabalho com o ensino superior na Universidade Estadual de Montes Claros e as várias especializações me levaram à escrita científica e depois literária, trajetória sempre acompanhada por Dona Yvonne. Também participei da pesquisa fotográfica para o seu livro: “Montes Claros de ontem e de hoje” (1995), escrito em parceria com a amiga Zezé Colares.

Em 2009, fui convidada a participar da realização de mais um sonho idealizado por Dona Yvonne Silveira, a criação da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, e foi com imensa alegria que comecei a frequentar as reuniões que estruturaram essa instituição literária, que esse ano completa cinco anos. Congrega quarenta cadeiras, ocupadas por escritoras residentes em Montes Claros além de outras que são correspondentes. Cada cadeira homenageia uma patrona, mulheres que se destacaram na literatura ou professoras dedicadas à nobre causa da educação e que já não se encontram entre nós. Como idealizadora, Dona Yvonne, do alto de seus 99 anos, ocupa o posto de Presidente de Honra e participa com entusiasmo de todas as nossas ações e publicações. Ela é ainda, minha confreira no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e nessa condição apresentou o meu primeiro livro de memórias, em 2010. Assim, seguimos Mestra e eterna aluna, amantes das letras e das artes em geral, defensoras do patrimônio cultural de nossa terra. Desejo vida longa a Dona Yvonne, porque a sua presença entre nós sempre foi motivo de inspiração e força.
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Referências:
Educação elementar: Minas Gerais. Luciano Mendes de Faria filho (org). Belo Horizonte: UFMG, 2006.
SOUZA, João Valdir Alves de, Igreja, escola e comunidade. Montes Claros: UNIMONTES, 2005.
VAGO, Tarcísio Mauro, Histórias de práticas educativas. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

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ESTRELA GUIA

Geralda Magela de Sena Almeida e Souza

Seus cantares têm
mimos de amiga
paixão e amor eterno
respeito e admiração
pela vida, pelo outro.

Sua voz grave
chega aos ouvidos como acalanto.
Promovendo

conduzindo
incentivando
apoiando.
Centelha divina,
surgiu um dia
nos céus norte-mineiro.
E gostou. E ficou.
Qual estrela guia.
Brilhando
inovando
desmistificando
apontando caminhos de bem viver.
Ilumina belezas
saberes.
Agrega amigos
da cultura
das letras.
Promove tradição
conhecimento.
Faz história. É história.
Aspergindo simpatia
nobreza
poesia
é o seu caminhar.
Olhos voltados para o alto
coração testemunhando Fé
mãos abertas semeando saber.
Agradecida, honrada
por partilhar da sua amizade
do seu tempo
da sua luz
do seu destino centenário
celebro
com louvores e alegria
esta estrela refulgente
e tão amada: YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA



O PRAZER É TODO MEU,
DONA YVONNE SILVEIRA

Evany Cavalcante Brito Calábria

Conheci uma senhora intensa, extraordinária e da cor de um diamante, de olhar presente, do seu jeito de ser. Uma luz real.

Havia chorado, foi o que me contou, quase como quem se desculpa ao me receber na sua casa, quando fui buscar a apresentação que ela escreveu para incluir no meu livro Vestígios daÚltima Hora.

Naquela noite ela chorou, pois completara um ano de ausência do seu amado, e, assim, com face de anjo sorrindo, comentou sobre meu livro, sua voz melancólica marcava o choro sentido e um semblante que consentia.

Na sua frente, percebi como tudo é necessário, físico e mental, como a vida é mágica. Tive um encontro histórico onde captei plenitude, generosidade e doçura. Uma senhora de tamanha gentileza que me conduziu como a uma filha e demonstrou a satisfação deste encontro, pude sentir a mesma emoção que pensava estar perdida. Ainda sinto sua energia espetacular.

Nas reuniões da Academia, onde somos confreiras, regada por suas sábias palavras, sempre me emociono junto com ela, aprendo demais e saio de lá encantada pela lição de vida e empenho que transmite.

Ainda em sua presença, tudo que disse é marcante, achou detalhes nas entrelinhas dos meus poemas, que merecem amadurecimento e, eu a admirava cada vez mais.

Mas não conseguia esquecer o momento que ela vivia – ah! como queria viver um amor assim. Saí de lá agraciada, extremamente feliz e levando as preciosas folhas escritas à mão, por ela.

Dona Yvonne, é um prazer enorme ouvir sua voz, sentir suas mãos tocar as minhas. São divinas, mãos de uma mestra, uma senhora de Deus.



DONA YVONNE

Terezinha Campos

Dona Ivone com noventa e nove anos de idade
Tens de menina a simplicidade
Em constante e célere atividade,
Receptiva e com cordialidade.
Apesar da feliz anosidade,
Vais-te comunicando com acuidade,
Com amor, com carinho e generosidade
Despontas ao nosso olhar monumental deidade.

Quantos já passaram pela tua vida,
Recebendo instrução, amor e guarida?
Doando bálsamo à alma ferida,
Conduzindo no caminho a ovelha perdida!
Quanto desvelo à criatura abatida,
E quanta compreensão à que busca guarida!
Dona Ivone mulher augusta-luzida,
Oh, alma venturosa e tão querida!

Dotada de amor e terna paciência
És dona de um discurso cheio de fluência
Cujas palavras desfilam com ritmo e cadência.
Ah! Quantos receberam tua bendita influência?
És tão admirada pela competência!
Pelo desvelo, cuidado e diligência;
Oh, dona Ivone mulher- opulência!
Tu és tão somente magnificência.



A GRANDE DAMA

Marilene Veloso Tófolo

No ano de comemorações do aniversário de Dona Yvonne Silveira não poderia deixar de escrever sobre este fato relevante do meio acadêmico, estudantil, literário, social, profissional e familiar.

Cada um observa um aspecto que o liga a esta grande dama, seja de profissão, amizade, cultura, simpatia, afinidade e admiração.

Eu a vejo como Mestra, na velha Escola Normal, na rua Coronel Celestino, onde a juventude não tinha fronteiras, o sorriso indefinível corria pelos corredores, assoalhos, escadas, grandes portas e ruas de pedras.

Era a Montes Claros diferente, sem grande trânsito, as praças arborizadas, sem violência, e podíamos apreciar a natureza, a beleza da praça e a Igreja Matriz.

O sino tocava ao longe, mas agora o sino não é o da Igreja,é o sino da Escola, que chama os alunos para as aulas matinais.

Não vou desviar do assunto que me fez escrever, devo falar sobre cem anos, que soam pesados, mas passam leves para esta senhora, criança, de sorriso fácil, que carregou consigo a classe, a elegância, a delicadeza de uma pessoa, para quem os anos não marcaram...

Não falarei da escritora, da fundadora da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, mas falarei da Mestra, daquela que nasceu para ensinar, que gosta de estudar, de atualizar, e que tem a palavra fácil, um dom de Deus.

Cada um segue a sua missão e Dona Yvonne cumpriu a dela, não são todos que chegam aos cem anos bem vividos...

A sala está cheia de alunos, sonetos, redações, provas, misturam-se com a juventude que se foi, os cabelos tornaram-se brancos, mas a postura, a elegância, o sorriso, a educação fazem parte desta Senhora, que celebra a vida, deu prioridade à Educação e insiste em desafiar a nossa cultura, tão desgastada nos dias de hoje.

Dona Yvonne, enquanto existirem mulheres como a Senhora, a educação prevalecerá sobre nós, porque uma dama que atravessou várias gerações, chega vitoriosa, com princípios pautados no bem, na seriedade e colocando a Educação como um dos nossos pilares.

Parabéns! Cem anos, são cem dias para quem tem esperança em tempos melhores: de fé, mudança e realização. Tenho dito.



YVONNE SILVEIRA
NO LARGO DE CIMA

Wanderlino Arruda
Não basta crer e saber, é necessário viver a nossa crença, isto é, fazer penetrar na prática cotidiana da vida os princípios superiores que adotamos.
Léon Denis

Yvonne de Oliveira Silveira é de Montes Claros e veio ao mundo em 30 de dezembro de 1914, numa casona de esquina das Ruas Padre Augusto/Doutor Santos, onde agora reina o Banco Itaú. Tempo bom de infância de Cândido Canela, Mário Veloso, Waldir Bessone, Raul Peres, Ciro dos Anjos, Felicidade Tupinambá, tempo de suas amigas Walkiria Teixeira, Zuleica, Luíza Froes, Dora dos Anjos, Idoleta e Maria Maciel. Tempo de seu futuro namorado, noivo e marido Olyntho Silveira. Tem duas origens interessantes: da família Peres, de tradição montes-clarense e do sangue alemão do seu pai Antônio Ferreira de Oliveira, lourão de olhos verdes, sobrenome brasileiro, porque traduzido. Teve sete irmãos: Wilson, Lívio, Zilda, José Laércio, João Hamilton, Paulo Nilson e Nilza. Muitos tios: Alexina, Francisco, Levy, Iracy, Raul, Rubens, Zelândia e Zélia. Francisco era o famoso Cica Peres. Raul, é o doutor Raul Peres, agora chegando aos 104.

Foi criada pertinho do Largo de Cima, conhecedora perfeita da Praça Doutor Carlos, ouvinte de todo o barulho de fereiros e de animais amarrados em moirões e palmeiras. Foi sempre uma alegria de menina que vivia entre canteiros de flores e hortas de alface, brincadeiras de quintal e de rua, com estórias dos mais velhos no escurecer da boquinha da noite, assentados na calçada. O tempo corria lento, marcado pela posição do sol
e pelo sino do relógio da torre do mercado, um batido musical para cada meia hora e tantas e tantas pancadas coerentes com o número do mostrador; meio-dia e meia-noite, claro com doze lindas sonoridades. O que não era poeira do chão, era boniteza colorida dos pequis, dos cachos de banana, dos sacos de laranja, dos bacuparis e das pitangas, das carnes penduradas e cheirosas pingando gordura. Tudo, tudo entre a realidade e os sonhos.

Agora Dona Yvonne – assim eu a sempre tratei mesmo como colega de faculdade - vive seu centenário e faz a vida se transformar em obra de arte. Sempre parecendo que saiu do banho, cabelo arrumado, perfume de mãos que oferecem flores, seu olhar é de quem ama mais do que tudo a existência. Em Yvonne Silveira, nada mais condizente que as palavras de Emmanuel construídas no sonho e concretizadas no amor: “Duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus: uma chama-se AMOR, a outra, SABEDORIA. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo -a para o Alto”.

O Curso de Letras, o primeiro em nível superior em Montes Claros, teve início no Colégio Imaculada Conceição, em 1963, teve matrícula de 52 e formatura de somente sete: Yvonne, Saturnino, Hugo, Adilson, Lola, Irmã Guiomar e Wanderlino. Quando o terminamos em 1967, para sermos professores universitários em nossa própria escola, Yvonne e eu tivemos de seguir para a pós-graduação na Universidade Católica de Minas Gerais, ela na especialização em Teoria da Literatura, eu em Linguística Geral, isso além de termos de prestar exames de suficiência, ela na Universidade Federal em Belo Horizonte, eu na Federal de Juiz de Fora, porque o registro da Fafil iria demandar ainda algum tempo. Já com muita prática no ensino de Português e de Literatura, fomos na área os primeiros a preparar
futuros alunos e candidatos ao vestibular. Daí, da cátedra e da titularidade de professores, vivemos entre importantes gerações de estudantes que, hoje, marcam o jornalismo, a vida social, a batalha política e cultural em várias partes deste Brasil. Fico encantado quando um aluno de Yvonne marca lembranças de suas aulas, principalmente por recordar cada minuto do entusiasmo dela, principalmente das muitas palavras de incentivo à leitura e à escrita. Como a sua estreia no magistério foi aos doze anos, ela teve no mínimo oitenta e oito de oportunidades para despertar vocações, quase um século de benfazeja prestação de serviços à cultura.

Disse muito bem Charles Chaplin que a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. É preciso que a gente cante, ria, dance, chore e viva intensamente cada momento, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Acrescenta Fernando Pessoa que o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. E é por isso que existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Não seria exagero dizer que os dois mestres – sem conhecer Yvonne Silveira - escreveram isso tempos atrás baseados num modelo nela inspirado ou que ela inspira. Neste momento em que escrevo, ela está comemorando e ajudando a comemorar o Dia Internacional da Mulher, desfilando nobremente num escaldante sol de Verão, por vontade própria e atendendo a um convite do Rotary de Montes Claros-União. Estou quase certo de que ela estará sendo fotografada e dando uma entrevista para os repórteres da TV e apresentando ideias para a moçada dos jornais e das rádios. Voz de moça de trinta anos, com toda uma lógica no raciocínio e uma perfeita coerência de ideias. Numa rara queixa esta semana, ela me disse, por telefone, que acha que está envelhecendo, pois se vê distraída, sentindo umas tonteiras e tendo dificuldade para subir escadas. Claro que velha seria a avó dela se ainda estivesse viva.

De publicação, Yvonne Silveira tem Montes Claros – Crônicas,“Cantar de Amigos - Poemas, História do Elos Clube de Montes Claros, Montes Claros de Ontem e de Hoje, e Folclore para Crianças, (em parceria com Zezé Colares) e Brejo das Almas – Contos e Crônicas, livro dela e do marido Olyntho Silveira. Foram muitos e muitos os prefácios para livros de amigos,
muitas as análises literárias, muitos poemas e crônicas, muitas as peças para apresentações de teatro. Professora de tudo quanto é escola em Brejo das Almas e em Montes Claros, nunca houve na sua vida um dia de desemprego, trajetória do ensino primário até a eficiência universitária. O cargo talvez mais elevado entre os muitos que tem exercido seja o de Diretora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, nossa querida Fafil. Isso sem falar que foi professora de História das Artes no Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, ao tempo de D. Marina. Presidente da Academia Montesclarense de Letras desde 1985, nunca teve vontade de deixar o cargo, nem vai deixá-lo, dizendo-se sempre influenciada por Austregésilo de Athayde, da Academia Brasileira de Letras, e por Vivaldi Moreira, da Academia Mineira, que tiveram mandatos infinitos e existenciais. Só aos quase cem anos, ela admitiu passar o cargo para “alguém mais novo/a”, acredito uma grande conversa da boca para fora, porque de alma sempre nova, ela sempre sentiu a perpetuidade do seu mandato. Iluminar, iluminar tudo, iluminar todos, iluminar sempre, esse é o seu lema, essa a sua trajetória, esse o seu dever, o que entende por sua missão.

Yvonne e Olyntho realizaram, lá pela meia idade, uma mais do que querida adoção. Receberam, com muita alegria, Ireni, Ireni Mota Carlos, que lhes deu dois netos: Maria Luíza e Pedro Vinícius. O nascimento de Maria Luíza Oliveira Silveira foi elegantemente comemorado com um soneto de Olyntho, um dos mais bonitos que ele escreveu. De Maria Luíza, curso superior de Enfermagem, casada com Leandro Pimenta Peres, nasceu o bisneto Vinícius Silveira Peres, que já anda como rapaz, dá recados e faz as honras da casa quando chega uma visita. Moram todos numa linda mansão da Rua Basílio de Paula, que liga a Vila Brasília ao Bairro Todos os Santos, desculpem-me a falta de modéstia, uma área das mais nobres. Para a época de antanho do casamento, em Brejo das Almas, Olyntho e Yvonne se uniram já bem coroas (76 anos de vida em comum), ele com 23, ela com 18. E só se casaram depois de quatro anos de namoro, porque Olyntho não lhe dava sossego, passando dia e noite de bicicleta em frente à casa de D. Cândida e Niquinho Oliveira, seu pai. Por falar em Niquinho, é bom dizer que ele, na verdade, tinha um nome de literato e de orador e dois apelidos como farmacêutico, um no Brejo, outro em Montes Claros: o normal era Niquinho Oliveira. O outro, que lhe foi posto por Joaquim Sarmento, um dos seus melhores amigos, era Niquinho Açúcar, só usado pelos mais íntimos. E por que Ninquinho Açúcar? Havia, na Camilo Prates, da Padre Augusto até a Praça Doutor Carlos, dois Niquinhos farmacêuticos: Niquinho Teixeira e Niquinho Oliveira. O Oliveira, louro e brancão, como disse antes, de olhos verdes; o Teixeira, um tanto quanto amorenado. Para distinguir melhor, Joaquim Sarmento apelidou-os de Niquinho Açúcar e Niquinho Rapadura, ficando assim bem mais clara a identificação. Yvonne e eu somos da fundação do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Ela tem como patrono o pai farmacêutico Antônio Ferreira Oliveira e eu, o farmacêutico Antônio Augusto Teixeira, ambos fundadores do Rotary de Montes Claros em 1926, o terceiro clube rotário do Brasil.

Quando não era ainda normais as viagens para outros países, Dona Yvonne fez duas aventuras na Europa. A primeira em 1981, lembro-me muito tendo de memória os comentário do seu companheiro de turismo, Lazinho Pimenta. A segunda em 1991, com um turma de amigas, um mês inteiro percorrendo Portugal, depois de participar como representante brasileira em uma Convenção do Elos, no Faro, quando D. Fernanda Ramos
era presidente internacional. Sem dúvida, fizeram muito sucesso, bela apresentação do elismo brasileiro, principalmente do nosso Elos Clube de Montes Claros, que sempre esteve na vanguarda. Desejo lembrar também aqui da admissão de Dona Yvonne na Academia Montesclarense de Letras, juntamente com Simeão Ribeiro Pires, Olyntho Silveira, Cândido Canela e Sílvia dos Anjos, primeira turma convocada para se unir aos fundadores Alfredo Marques Vianna de Góes, João Valle Maurício, Joaquim Cesário dos Santos Macedo, Francisco José Pereira, Orlando Ferreira Lima, Heloísa Neto de Castro, Antônio Augusto Veloso, Maria Ribeiro Pires, Dulce Sarmento, José Raimundo Neto, Hélio Oscar Valle Moreira, Avay Miranda e Geraldo Avelar. A curiosidade é que os criadores da Academia não queriam
ter patronos, privilégio que ficaria para eles mesmos, quando morressem. Foi Yvonne Silveira que os convenceu a adotar a prática normal.

Neste grandioso 2014, ano de seu centenário, estaremos em constante festa, preparando e comemorando juntamente com ela todas as glórias que Deus lhe permitiu. Ana Valda Vasconcelos, representando o Elos Clube, Maristela Cardoso planejando pelos artistas, e eu, como presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, estamos nos reunindo com muitas instituições para realizarmos importantes reuniões festivas. Elos Clube, Academias de Letras, Instituto Histórico e Geográfico, Rotary, Conservatório, Fundação Marina, Ateliê Felicidade Patrocínio, Associação dos Artistas Plásticos, Automóvel Clube, Câmara Municipal e Assembleia Legislativa. As duas maiores manifestações deverão ser da Reitoria da Unimontes e da Secretaria de Cultura. O Reitor João dos Reis Canela já está preparando sua festa para o mês de maio.

Clássica e renascentista, sempre antenada a cada tempo,é Yvonne Silveira conservadora ao máximo, alma de absoluta mineiridade. Intelectual tanto dormindo como acordada, será sempre um dos símbolos de Montes Claros e de Francisco Sá, seu saudoso Brejo. Ontem como hoje teve e tem uma multidão de admiradores e de amigos. Deo gratias!

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Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas.
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SEMIDEUSA DA CULTURA

Petrônio Braz

Observa Marilena Chaui que “em nossa vida cotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos. Dizemos, por exemplo, ‘eu estou com a razão’ ou ‘ele não tem razão’ para afirmar que nos sentimos seguros de alguma coisa ou que sabemos com certeza alguma coisa. Também dizemos que, num momento de fúria ou de desespero, ‘alguém perde a razão’, como se a razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter, possuir ou perder, ou recuperar, como na frase ‘Agora ela está lúcida, recuperou a razão”.

A razão, nesse caso, não é faculdade de raciocinar, mas de avaliar com correção. Com razão os membros da Academia Montesclarense de Letras ao organizarem esta Antologia, como uma homenagem aos cem anos de nascimento de Yvonne de Oliveira Silveira

Assiste razão, também, a quem afirmou que Yvonne Silveiraé a patriarca semidivina da cultura de Montes Claros, que se respeita e se venera.

A professora Yvonne Silveira, presidente da Academia Montesclarense de Letras, esposa do saudoso escritor-poeta Olyntho da Silveira, com seus bem vividos cem anos, encontrase em plena atividade intelectual e social.

Professora de várias gerações de montes-clarenses tem prestado ressaltados serviços à cultura regional. Yvonne Silveira, intoxicada de cultura até o mais profundo de sua alma, é reverenciada como ícone da intelectualidade local. Uma deidade.

Instrui Yvonne Silveira que “o romance, como substituto da epopeia, surge no Romantismo, refletindo o estilo de vida da burguesia em ascensão e tornando-se o porta-voz de seus desejos e ambições. De tal modo, o romance, atualmente, reflete o ambiente sócio-cultural com os conflitos e estudos científicos, como a psicanálise, e de simples narrativa passa a ser considerado uma das espécies literárias mais importantes, pelas técnicas estilísticas e da prospecção psicológica”. Uma aula.

Ao se ler um poema, não se busca a razão, mas a emoção, isto porque o emotivo não é passível de ser analisado logicamente.“Eu te peço perdão por te amar de repente / Embora o meu amor / seja uma velha canção nos teus ouvidos”. O que nos diz Vinícius de Moraes? Ele apela para o sentimento, sem se incomodar com a razão, como fundamento da própria existência.

A poesia de Yvonne Silveira é sentimento e essência filosófica. Daí por que Maria Luiza Silveira Teles nos faz cientes de que “o abismo da alma humana, com seus desvãos, meandros, desertos, grandezas e angústias se abre diante do leitor e, no decorrer da leitura, vamos nos identificando com a autora, encontrando os sentimentos que vêm fazendo morada em todos nós, nos caminhos da existência”.

Raquel Mendonça, nas primeiras páginas do livro “Cantar de Amiga”, apresenta a autora ao leitor: “O seu caminho sempre foi o das palavras, das lições, das letras a cultivar a língua portuguesa e a literatura com generosas doses de amor, talento e conhecimento! A maior Dama, sem dúvidas, da Cultura da cidade e região: Yvonne de Oliveira Silveira!”.

Há algum tempo, reorganizando os livros que me vieram do meu pai - Brasiliano Braz - deparei-me com um, já sem capa, mas com o conteúdo perfeito, de autoria do saudoso Olyntho da Silveira e de Yvonne Silveira: “Brejo das Almas”, edição de 1962. Preciosidade em meu poder, cuja existência em meus guardados desconhecia. Mandei encadernar.

Conversando com Yvonne Silveira, informou-me ela que meu pai tinha sido amigo de Olyntho e dela, e trocavam correspondências, artigos e livros, mas ao tempo dessa amizade não me relacionei com eles. Não os conhecia. Relacionei-me com eles muito depois.

Talvez por conviver entre analfabetos presunçosos, entre pessoas que só valorizavam os bens materiais, meu pai não dava conhecimento público de suas relações culturais. Ele as mantinha no silêncio de sua individualidade. Sobre ele disse Cândido Canela: “As gerações futuras saberão admirar a obra e reverenciar daqui a cem anos, ou mais, a memória de Brasiliano Braz”.


No Antelóquio do livro, como Olyntho Silveira designou o Prefácio, ele esclarece ser “o segundo livro que traz o nome de Brejo das Almas. O primeiro, de autoria do maior poeta do Brasil contemporâneo – Carlos Drummond de Andrade – de versos modernos, cuja filosofia, no estro inconfundível do vate itabirano, não é de fácil interpretação. O segundo é este que o leitor tem em suas mãos, infinitamente longe do conteúdo do primeiro, nem só no seu estilo como na deficiência de substância e no brilho das imagens.”

Mas o livro de Olyntho e Yvonne Silveira não é um livro de poesias, nem mesmo de história. É um livro de crônicas, que fixa histórias.

Olyntho Silveira descreve, no Antelóquio, fatos importantes vinculados à História de Cruz das Almas das Catingas do Rio Verde, Brejo das Almas das Catingas do Rio Verde, São Gonçalo do Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, e nos traz à lembrança o intrépido Antônio Gonçalves Figueira, que foi também o fundador de Montes Claros. Ele rebusca fatos a partir de 1760 e
descreve vivências históricas. Esses conhecimentos de natureza histórica teriam aprofundado o relacionamento entre Olyntho Silveira e Brasiliano Braz.

O livro “Brejo das Almas” é dividido em duas partes distintas. A primeira, da lavra de Yvonne Silveira, e a segunda, de Olyntho Silveira.

Yvonne, na primeira crônica, descreve a viagem de sua família, pela estrada poeirenta e estreita, de mudança de Montes Claros para o Brejo das Almas em 1929, a vila que “tinha muitos defuntos”.

O livro nos leva a um refluxo para o passado. É salutar ler e, lendo, relembrar tempos idos e vividos. Tempos de um passado não muito remoto, mas que já tem um nome: saudade!

A vida das moças e dos rapazes em Brejo das Almas daqueles tempos não era diferente da vida em São Francisco. As duas cidades não possuíam luz elétrica, nem cinema, mas havia bailes, de quando em quando, e as moças cantavam modinhas. Naqueles tempos, os beijos dados ou vendidos não faziam nascer meninos.

Recorda Yvonne Silveira os tempos da emancipação do município com a mudança do nome para Francisco Sá. Difícil de ser absorvido pela população e, por muito tempo, dizia-se:“Moro no Brejo”, “Vim do Brejo”, “Vou para o Brejo”. Até hoje alguns francisco-saenses ainda falam, com orgulho: “Sou do Brejo”. Mas, Yvonne Silveira é de Montes Claros.

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(*) Advogado e escritor. Membro da Academia Montesclarense de Letras, da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco e da Academia de Letras, Ciências e Artes de Várzea da Palma. Sócio da Associação Nacional de Escritores, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
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DONA YVONNE
ÍCONE DE CULTURA E SABEDORIA

Glorinha Mameluque


Esta é uma tarefa das mais difíceis a que me propus. Falar sobre Dona Yvonne ou para Dona Yvonne é um grande desafio, pois mestres e doutores a ela já se referiram, enaltecendo a grande figura que ela é: verdadeiro ícone da nossa cultura. Para ela, tudo parece pouco, sem expressão; faltam palavras que consigam transmitir a riqueza da sua vida, dos seus feitos, da sua personalidade. Deixo para os outros tão difícil tarefa.

Reservo-me apenas o direito de falar sobre a minha relação com Dona Yvonne. Sempre ouço a maioria das pessoas se referirem a ela como sua antiga professora. Não tive esse privilégio, pois quando cheguei a Montes Claros, já havia passado essa fase da minha vida. Minha história com Dona Yvonne começou através das letras.

Quando escrevi meu primeiro livro, isto em 1997, sabedora que ela era a Presidente da Academia Montesclarense de Letras, achei por bem convidá-la para o lançamento, que foi feito sem as honras de qualquer Academia, eu ainda neófita e inexperiente nesse mundo novo que se abria para mim. Ela compareceu atenciosa e usou da palavra com maestria como sempre, comparando o meu livro “Memórias de um álbum de família” em que mostrava as lutas, dificuldades e vitórias da nossa família a uma peça “Álbum de família” de Nelson Rodrigues, que ao contrário, mostrava uma família desequilibrada, eivada de paixões incestuosas e perversões diversas.

Foi aí o meu primeiro contato mais próximo com Dona Yvonne. Tempos depois, conhecendo minhas crônicas publicadas semanalmente no antigo “Jornal do Norte”, convidou-me a ingressar na Academia, o que protelei por alguns anos, porque trabalhando durante o dia e estudando à noite, senti que não poderia me dedicar a esse novo mister, como gostaria. Até que, livrando-me de alguns compromissos, decidi aceitar o seu convite e em 07 de agosto de 2002 tomei posse na Academia, ocupando a cadeira nº 1, que tem como patrono o Desembargador Velloso, Fundador o Dr. Antônio Augusto Veloso e 1ª sucessora a Irmã Maria de Lourdes.

Como membro da Diretoria, estreitei os meus laços de amizade e admiração com Dona Yvonne, espelhando-me nela como minha madrinha e referência nas artes das letras. Daí para frente foram muitas as nossas reuniões, quase sempre em sua casa, onde eu podia me deliciar com um cafezinho fresco acompanhado de biscoitos e a presença constante de seu Olyntho ao nosso lado.

Em crônica publicada em 2002, registrei: “Enquanto aguardo, me vejo envolvida num bate papo tão agradável com o senhor Olyntho, que nem vejo a hora passar. Falamos do tempo que está quente, da instabilidade das chuvas, das coisas que mudaram, como se fôssemos velhos amigos e confidentes... a prosa estava tão boa que até me esqueci que estava em pleno expediente de trabalho e que havia gente me esperando no escritório. E assim ficamos conversando, até que dona Yvonne veio juntar-se a nós e a conversa continuou cada vez melhor. Saí dali com a impressão de que, por alguns instantes eu deixara de lado de fora a correria, o calor, o medo da violência, os perigos da rua, os problemas da vida. E respirei, ao lado daquele casal tão agradável, um clima de paz, de tranquilidade, de sabedoria, de carinhosa acolhida tão difícil de encontrar hoje em nossos dias.” (20/03/2002)

Nossa amizade foi se fortalecendo cada vez mais. Eu a ajudava nos trabalhos da Academia e ela revisava alguns de meus livros e textos. Perto dela sempre me vi como na narrativa bíblica: O gigante (ela) e Golias (eu), tão pequena diante da sua grandeza.

Tempos depois, sendo homenageada pelas “Amigas da Cultura”, coube a Dona Yvonne falar sobre mim, grande honra a mim concedida. Guardo com carinho o seu discurso, desta vez escrito, fugindo à regra dos seus brilhantes improvisos.

No ano do seu centenário, uno-me a tantos que querem homenageá-la, desejando do fundo do meu coração que ela continue com muita saúde e sempre iluminada por Deus, que já derramou tantas graças e bênçãos sobre sua intensa vida. Sou muito grata a Deus por ter colocado Dona Yvonne em minha vida e por ter podido beber dessa seiva prodigiosa de sabedoria e luz.

Parabéns, Dona Yvonne!



LADY YVONNE

Felicidade Patrocínio

Montes Claros é uma cidade feliz, assim deduzo apesar de reconhecer problemas que requerem atenção e ação.

Não é porque nela nasci que nela permaneço. Ou melhor dizendo, tendo dela partido por um momento efêmero, a ela retornei. Os irmãos se foram há muito tempo, em busca de maior conhecimento, de oportunidades de trabalho e de espaços mais amplos para afirmação nas profissões escolhidas. Venceram! Eu permaneci! De alhures ficam a acenar-me, chamando-me para fazer-lhes companhia. Não fui. Questão de opção. Na inumerável lista dos motivos que me fixam aqui e me fazem encantada no seio desta metrópole, estão alguns montes-clarenses especiais. Dentre eles destaco a presença e a exuberância de uma pessoa encantadora aqui residente: Dona Yvonne de Oliveira Silveira.


Sim, refiro-me à meiga mestra, à Presidente da Academia Montesclarense de Letras, à oradora que, no auge dos seus 99 anos de idade, se impõe solenemente no centro de uma mesa oficial de importantes eventos culturais ladeada por autoridades municipais, estaduais e nacionais e, de maneira eloquente e firme, derrama no ar palavras eruditas e belas.

Observo, nos seus discursos de improviso e nas suas preleções, erudição, profundidade e coerência. Com propriedade, tem citado filósofos contemporâneos.

Esta mulher, Yvonne de Oliveira Silveira, guerreira da literatura e da cultura da região, cuja presença por si só enobrece qualquer evento, é senhora de uma simpatia e uma generosidade sem par. Percebe-se no seu rosto, não obstante o longo percurso vivido, a vitória da beleza e da saúde sobre o tempo inexorável. Elegante no vestir, no pentear e no se apresentar, esta lady, ilumina a sociedade que frequenta.

Lembro-me com alegria e gratidão desta presença quando presidi a Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros. O nome de Dona Yvonne sempre encabeçava a lista dos convidados para os eventos promovidos, aos quais ela pontualmente comparecia. Só se dava início ao cerimonial após a sua chegada, pois, com a sua presença o evento ganhava importância e elevava o seu nível.

Há três anos criei o Clube de Leitura Ateliê/Galeria, onde já foram realizadas mais de duas dezenas de reuniões literárias. A todas elas a grande mestra compareceu. Com muita animação sobe as escadas, participa das discussões e, ao final, sempre profere uma conclusão enriquecedora. Agradeço a DEUS e a ela por tanta contribuição!

Dona Yvonne foi a companheira amorosa e infalível do escritor Olyntho da Silveira, que já partiu à margem dos cem anos de vida, bem vividos num relacionamento harmonioso e cheio de afinidades, uma vez que o mesmo também era intelectual e escritor. Dele cuidou carinhosamente nas suas carências físicas e afetivas finais. Esta união exemplifica para todos, o verdadeiro companheirismo nascido na fertilidade do amor.

Poemas belos e bem cadenciados brotam do coração sensível desta lady e figuram em paginas de livros. Em outros livros mais confirma a sua verve literária, assim como nos artigos dos jornais, que ainda está a produzir.

Como professora de Português da Unimontes, também se tornou inesquecível. Honrou e ainda honra cargos importantes como a presidência das “Amigas da Cultura” e de outras instituições culturais. Do seu labor atual também faz parte a presidência da Academia Montesclarense de Letras e a presidência honorária da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, além do cargo que ocupa na diretoria do Elos Clube, que já a homenageou solenemente.

O seu carisma reporta-me às grandes ladies da história. Quanto a admiro!

Então me pergunto: que cidade não ficaria aprazível se habitada por ela? Ao mesmo tempo constato o quanto nos torna maiores e melhores tê-la no seio da nossa sociedade! O fato de ter esta lady entre os habitantes de Montes Claros é um dos motivos que me enchem de orgulho desta cidade.

Por isso, sempre que a vejo, silenciosamente agradeço a Deus pela sua vitalidade e, sempre que tenho oportunidade, eu digo de viva voz:

PARABÉNS, Dona Yvonne!

Quando eu crescer, gostaria de ser como você!..



YVONNE SILVEIRA
UMA LIÇÃO DE VIDA ATÉ NOS SONHOS

Luiz Giovanni Santa Rosa

Em 12 de Junho de 2002, no Canal 20 de Televisão, no meu programa “PROSA E CUIA” - Página “Uma lição de vida”, prestei uma homenagem aos namorados, entrevistando uma mulher norte-mineira, cuja cultura, valores morais e espirituais antecedem-na no palco das apresentações e justificam as mais calorosas homenagens. Essa mulher, cujo nome é revelado ao longo desta narrativa, em cada momento da entrevista, me surpreendia, hora narrando um fato, emitindo um parecer ou revelando um acontecimento que marcou a sua vida; porém o que mais me tocou foi o seu relato sobre o seu romance com o seu saudoso e único namorado. Esse namoro, que se estende além da morte física, completa agora no coração da entrevistada, oitenta e seis anos; aqui cabe parafrasear Camões: “Para tão longo amor... tão curta vida”. Aquela entrevista, para mim sui generis foi motivo de uma reflexão que me acompanhou no resto daquele dia, além do que, à noite a entrevistada se fez presente em meus sonhos. Sonhei que em Montes Claros realizava um concurso alusivo a “conhecimentos gerais” e o tema sorteado foi NAMORO, devendo ser observadas as seguintes particularidades: Seriam feitas duas únicas perguntas; para as quais as respostas deveriam ser obviamente certas e dadas de forma enigmática. A primeira pergunta foi: “Qual o nome do homem mais importante no planeta terra e que a historia não registra que o mesmo teve uma namorada?

O único candidato a dar a resposta era natural da cidade de Grão Mogol e de forma enigmática respondeu: o nome deste homem está na minha profissão, que também é o meu nome. A mesa julgadora, não obstante ser composta por sete confrades do IHG de Montes Claros, não conseguindo decifrar a resposta enigmática, pede ao candidato para esclarecê-la. Este ao entregaràquele conselho a sua carteira de identidade, informa: Eu ganho a vida fazendo presépios, inclusive participei da armação do presépio de Grão Mogol. Na cédula de identidade daquele homem lia-se o seu nome, ARMANDO NASCIMENTO DE JESUS. Nada a questionar, a história não afirma que Jesus teve uma namorada. A segunda e última pergunta foi esta: Qual o nome da mulher norte-mineira que teve o namoro mais longo? Cinco homens aproximaram-se do júri e um deles disse àquele conselho: As nossas nacionalidades juntas formam o nome desta
mulher. Estavam diante do júri quatro romanos e um inglês, ou seja: IV (quatro em algarismo romano) e ONE (um, em inglês); juntos formam o nome (IVONE). Aplauso generalizado. No dia seguinte, às sete horas, o meu telefone me acorda, era Dário Cotrim me cobrando o meu depoimento que será usado pelo IHG nas comemorações do centenário de Dona Ivone Silveira. Aquele testemunho ainda não estava pronto; o que fazer? Uma oportuna intuição veio me socorrer: Transcrever o que sonhei seria o meu depoimento, visto que nem todos conseguem ser o que Dona Yvonne é: UMA LIÇÃO DE VIDA ATÉ MESMO EM NOSSO SONHO. Parabéns, musa centenária!



YVONNE SILVEIRA
UMA ETERNIDADE

Edson Andrade

Muitos têm a memória, mas poucos, como eu, o privilégio de tê-la, em pleno Século XXI, de modernidades, tecnologia e insensatez, como amiga, professora e confreira.

Fui seu aluno nos longínquos anos 68-70, na Escola Plínio Ribeiro de tantas glórias e saudades. Ali, dentre inúmeros ensinamentos e lições de vida honrada e digna, recebi o melhor e maior elogio, como pretendente a escritor: a mestra, desconfiada de que não fora eu o autor de uma redação, atribuiu-me nota sete e disparou: “da próxima vez, faça seu trabalho sozinho”. Era integralmente meu o texto, daí minha revolta inicial pela injustiça. E o orgulho do reconhecimento pela via inversa.


Yvonne de Oliveira Silveira, de família de intelectuais dos rincões de Francisco Sá é uma dessas pessoas a marcar a vida e a história de uma região. Professora renomada, criadora não solitária da Fundação Universidade do Norte de Minas – FUNM e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FAFIL, tem seu nome indelevelmente cravado nas glórias educacionais deste estado e do nosso Brasil, pela sua militância inarredável nas hostes dos que se perfilaram e ainda perfilam pela defesa da melhor Educação Brasileira.

Como escritora, já nos legou livros memoráveis em prosa e verso. Certamente, com sua inteligência, vivacidade, lucidez e amor à vida, ainda nos reservará surpresas editoriais do conjunto do seu enorme talento e conhecimento em literatura e língua portuguesa.

Fui seu aluno, novamente, no curso de Letras da FAFIL, a partir de 1975. Eu era ainda um menino imberbe, ingênuo e idealista. Pobre e a caminho de um casamento precoce, vivi o sonho de ser alguém na vida, eu, que já cometia meus poemas e textos em prosa. Com Dona Yvonne, fortaleci minha voracidade pela leitura de tudo e de todos os autores bons do meu país. E cresci na volúpia do prazer literário.

Certo dia, em sala de aula – eu sempre chegava atrasado, porque pedalava velha e inseparável bicicleta o dia inteiro – entusiasmado além do meu normal, pois sempre tivera como minha a característica da formalidade, eis que arrisco dizer a ela, à mestra gloriosa que, “um dia, serei membro da Academia Montesclarense de Letras.

A então professora de Literatura Portuguesa sorriu e desejou- me sorte. Anos depois, precisamente em 1984 – a seu convite – tomei posse da Cadeira 36 daquela egrégia Academia. Era a glória do menino órfão de pai e pobre de todas as providências materiais.

O tempo passou e já não sou mais o mesmo sonhador. Aprendi que a vida somente ensina caminhos para quem tem pernas e força no caminhar. Aprendi, no exemplo da mestra maravilhosa, que a dignidade e a honradez precisam ser binômio natural no traçado sinuoso, fértil, mas finito de nossa quase improvável existência.

Minha mãe, a primeira, partiu para a eternidade de minha memória. Com ela, o aprendizado básico e necessário ao bom conduzir-se com urbanidade e honradez. Além, é claro, do alimento escasso e das noites insones, motivadas pela fome, forja de minha têmpera e do orgulho de me ter tornado melhor.

Yvonne Silveira centenária: eis nossa homenagem. E que ela nos brinde com aulas de saúde, lucidez, dignidade, amor à vida e vaidade, pelos próximos cem. Qual Narciso a mirar sua beleza nas águas plácidas e cristalinas, para se comprazer. E mais, para se renovar a cada nova imagem refletida no firmamento do seu amor ao belo e à convicção de que a silhueta poderá, um dia, desaparecer, mas JAMAIS a gloriosa mensagem contida na eternidade do que é digno, honrado, belo e bom.



TOQUEMOS OS SINOS
EM CELEBRAÇÃO DO CENTENÁRIO
DE YVONNE SILVEIRA

Dóris Araújo

“Toda a nossa vida é uma
primavera, porque temos em nós
a verdade que não envelhece
e essa verdade anima
toda a nossa caminhada.”
(Cirilo de Alexandria)


Yvonne Silveira, antes de tudo mestra... no sentido amplo da palavra, que dos seus feitos não se vangloria, de cultura inigualável, de plena sabedoria.

Minha professora na antiga Faculdade de Filosofia Ciências e Letras –FAFIL / FUNM, atual UNIMONTES.

Foi ali, no interior daquele casarão, que tive a grata satisfação e a honra de conhecê-la, em 1980... ano em que me ingressei no curso de Letras daquela Faculdade, onde ela era professora titular de Literatura Portuguesa e Teoria da Literatura.

A professora Yvonne Silveira sempre foi uma figura ímpar. Sua energia e dinamismo nos impressionavam. Personalidade marcante na vida de todos nós, seus alunos.

Nos fez empreender viagens magníficas pelo universo literário dos grandes escritores e poetas.

Nossa grande incentivadora nas artes da declamação e da escrita.

Por seu intermédio conheci o saudoso João Valle Maurício, escritor e poeta, autor de vários livros de prosa e dos mais belos poemas sobre Montes Claros, e pelo qual, eu, desde menina, nutria profunda admiração e respeito.

Atendendo a seus convites, ainda na faculdade, apresentava-me nos mais importantes e significativos eventos culturais de nossa cidade, muitos deles promovidos pela Academia Montesclarense de Letras, da qual dona Yvonne era membro.

Ao longo do tempo, nosso vínculo de amizade foi crescendo, amadurecendo e consolidando– se.

Em 1989, nossa mestra maior, Yvonne Silveira, torna-se Presidente da Academia Montesclarense de Letras, cargo assumido com dedicação e compromisso.

Em 1996,com seu apoio, lancei o meu primeiro livro, “A Dança das Palavras”, obra agraciada em 1997 com o “Prêmio Cultura”, do Jornal de Notícias, através da coluna da Jornalista Márcia Sá, “Gente, Empresas e Negócios”.

Em seguida, também com seu aplauso, pleiteei, com sucesso, uma cadeira na Academia Montesclarense de Letras, tornando-nos assim, além de amigas, confreiras.

Em 2002, a presidente da Academia Montesclarense de Letras, Yvonne Silveira, ilustra mais uma vez a minha história, prefaciando com beleza e generosidade o meu segundo livro, intitulado “Canção do Amanhã”.

A professora Yvonne é mesmo uma pessoa extraordinária, dotada de memória e cultura fabulosas. Referência máxima nos meios intelectuais de nossa sociedade.

Sócia de várias entidades e instituições, como: Rotary Clube Sul, Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Academia Municipalista de Letras, entre outras.

Fundadora da Associação ‘Amigas da Cultura’ e da Academia Feminina de Letras de Montes Claros.

Continua como presidente da Academia Montesclarense de Letras, onde atua com brilhantismo.

Recebeu inúmeros prêmios literários, homenagens e títulos, por merecido reconhecimento ao seu valor e à sua infatigável luta em prol da cultura.

Em 30 de dezembro, deste ano, a ilustre e querida mestra completará cem anos! Uma vida longa e prodigiosa. Vida iluminada e iluminadora.


A nossa notável professora, aos cem anos de idade (tomando emprestadas as palavras de S. Catarina de Sena), “tem um coração de criança e uma coragem indomável de viver.”

Esses cem anos reduziram a audição da nossa mestra; contudo, não enfraqueceram sua fala, que conservou-se firme, clara, ativa e vigorosa, com a sonoridade própria da voz da Yvonne de antanho.

Esses cem anos não diminuíram o brilho dos seus olhos, tornaram seu olhar mais aguçado pela luz das virtudes conquistadas; não tiraram da dona Yvonne sua lucidez, ao contrário, enriqueceram-na com experiências, vivências e conhecimentos, avivando e tornando ainda mais prodigiosa sua memória.

Em absoluto, esses cem anos não fragilizaram o seu coração; aprimoraram os seus sentimentos, conservando sua integridade com a energia rejuvenescedora do amor.

Amor à cultura, aos amigos, à família, amor indestrutível ao esposo Olyntho Silveira...

E amor a Deus, sobre todas as coisas.

Os cem anos de Yvonne Silveira, definitivamente, não significam velhice. Eles significam fundamentalmente sabedoria adquirida, virtude que atua como poderoso elixir de rejuvenescimento do espírito.

Toquemos os sinos, todos os sinos... e celebremos o centenário dessa nobre e admirável Mulher. Toquemos os sinos em louvor...



INTELECTUAIS
POUCO ENVELHECEM

DONA YVONNE, MUITO MENOS...

Itamaury Teles

Na milenar cultura ocidental, longevos cidadãos são muito respeitados como sábios conselheiros. Há séculos, eles vêm desafiando a lógica e derrubando antigo mito segundo o qual a perda da memória e da capacidade intelectual é condição irreversível da idade. O segredo de tudo está na prática diária da meditação, que exercita o hábito de pensar.

Embora se saiba de seus grandes benefícios, a meditação é pouco difundida na cultura ocidental, inclusive no Brasil. Talvez por isso, os idosos aqui sejam tão desrespeitados e tratados como um peso social e familiar, com raras e honrosas exceções.

Não obstante esta constatação, também por aqui há pessoas que se mantêm ativas em seu meio, não dando importância ao peso da idade. Normalmente são intelectuais, que se mantêm rejuvenescidos por exercitarem algo similar à meditação oriental: praticam constantemente o pensar. Para estes, lugar de velho nem sempre é no asilo, mas na ativa participação social com o produto de suas atividades intelectuais.

No campo das letras, em especial no comando de Academias, podemos relacionar três exemplos emblemáticos de como o exercício mental sistemático contribui para uma longevidade saudável: Austregésilo de Athayde presidiu a Academia Brasileira de Letras durante trinta e cinco anos, de 1958 até 1993, quando morreu, aos 94 anos; Vivaldi Moreira só abandonou a presidência da Academia Mineira de Letras morto, aos 88 anos, tendo-a comandado de 1975 a 1997; e Yvonne de Oliveira Silveira,
já com 99 anos, que continua - por merecimento - firmeà frente da Academia Montesclarense de Letras, faz mais de 29 anos. Agora, por iniciativa do escritor Petrônio Braz, a ela será também conferido o título de Presidente Vitalícia do sodalício.

O escritor Olyntho da Silveira, marido da Dona Yvonne, que se encantou, lúcido, beirando os cem anos, é outro bom exemplo. Lia e escrevia com regularidade. O mesmo ocorre com a escritora Ruth Tupinambá Graça: aos 97 anos, lépida e participante dos acontecimentos culturais, continua a nos brindar com excelentes artigos memorialistas, que os enfeixa, de quando em quando, em elogiados livros.

O advogado Sobral Pinto, destacável figura que se notabilizou defendendo corajosamente os perseguidos políticos peladitadura militar instaurada em 1964, também morreu trabalhando o seu intelecto, aos 98 anos – e tomando sua dose diária de cachaça. Publicou livros, fez palestras, defendeu de forma intransigente seus princípios e ideais e tornou-se profissional paradigma para muitos advogados brasileiros.

O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, um intelectual que pediu para que seus escritos não fossem considerados enquanto durassem seus oito anos de mandato, saltita como jovem, do alto dos seus 82 anos recém completados, brandindo estandarte e tecendo loa à descriminalização da maconha. Até hoje, é ouvido por políticos e empresários em palestras no Brasil e no exterior.

De acordo com estudos científicos no campo da Medicina, o exercício regular do cérebro é prática eficaz para inibir o envelhecimento intelectual, mantendo ativo o processo relativo ao conhecimento, de forma ampla, envolvendo percepção, memória, juízo e raciocínio.

A Organização Mundial de Saúde considera essencial para um envelhecimento ativo, ao lado de uma alimentação saudável, a prática regular de exercício físico e a estimulação cognitiva, porquanto o cérebro, como qualquer músculo, necessita ser exercitado. O gosto pela leitura de livros e jornais, a escrita sistemática, as palavras cruzadas, a meditação, os exercícios de matemática e de lógica, por exemplo, são atividades eficazes para essa estimulação cerebral.

Em sentido oposto, pessoas com preguiça mental, que julgam já terem cumprido o que lhes competia fazer nessa existência, naturalmente tendem a envelhecer de forma mais célere e, às vezes, precocemente. Distanciam-se da realidade e vão-setornando meras máquinas cujas engrenagens se deterioram pelo não uso da sua capacidade cognitiva e criativa. É como se pedissem para serem substituídas. Por absoluta obsolescência...

Dona Yvonne, ao contrário, sábia como é, não deixa a “peteca cair”. Tem planos para o futuro, quer continuar fazendo palestras sobre literatura em escolas, exigindo-me, sempre - como secretário geral da Academia Montesclarense de Letras -, uma nova edição da nossa revista... E para os acadêmicos que cobram eleição no sodalício, que tão bem dirige, sentencia, com voz firme de adolescente: - Podem convocar eleições. Serei candidata...

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(*) Escritor, jornalista.
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PELOS CAMINHOS DA VIDA!...

Maria do Carmo Veloso Durães

“Encontramos as pessoas por acaso, mas não é por
acaso que elas permanecem na nossa vida.”

Cresci escutando os meus pais falarem sobre a nossa família, assim íamos conhecendo cada um, como se tivéssemos com eles convivido. Lembro-me do tio Chico, Francisco Durães Coutinho, irmão mais velho do meu avô, Cesário Durães Coutinho (pai do meu pai, Cesário de Quadros Durães), como se eu o tivesse conhecido e tido com ele uma ampla convivência. Na verdade, essa documentação oral sobre família é tradição na nossa família e isso é bom, porque conhecemos os nossos antepassados há várias gerações. Ainda criança, quando eu saía pela cidade com o meu pai, ele me mostrava os lugares onde morava a sua família, então eu sabia que a residência do tio Chico era bem próxima à Praça Dr. Chaves (Praça da Matriz) e a prima Regina, sua filha, morava na Praça Dr. Carlos Versiani (Praça do Mercado), propriedade que ocupava todo o quarteirão, entre a Praça Dr. Carlos e a Rua Padre Augusto. O marido da prima Regina, Francisco Peres, possuía uma casa comercial em frente à praça e, conforme a descrição do meu pai, no restante do terreno ficava a residência deles, com um grande quintal com muitas árvores.

Dona Yvonne de Oliveira Silveira entrou na nossa história, quando minha irmã, aluna na Escola Normal (E. E. Prof. Plínio Ribeiro), me contou que a sua professora de português era nossa parenta, pois na primeira chamada, na sala de aula, ela se identificou, dizendo a ela: “Somos parentes, pois eu também sou Durães”. Eu não me lembro do meu pai ter citado o nome de Dona Yvonne, mas ele falava sobre os avós, pais, tios e primos dela. Como as pessoas vão perdendo e ganhando nomes de família pelos caminhos da vida, não poderíamos nunca identificá-la como parente, se o seu nome de família é “Oliveira”. Com o tempo, descobrimos que ela era bisneta do tio Chico, de quem o meu pai falava com tanto carinho, filha da prima Cândida (China) e neta da prima Regina (Sinhá, Zizi), também nossas conhecidas, pelas sábias palavras do meu pai. As famílias vão se multiplicando e é sempre possível encontramos parentes entre os nossos amigos, colegas, vizinhos, alunos, professores e até entre os desconhecidos, que passam pela nossa vida.

A minha irmã sentia uma grande admiração por Dona Yvonne que, além de excelente professora de português, era também uma excelente poetisa. Um dia chega da escola, recitando, com muita eloquência e entusiasmo, um comovente poema dela. Fiquei muito impressionada, adorei aquela “Linda Mentira”! E assim, pelas referências da minha irmã e pelos seus poemas, eu fui conhecendo essa pessoa maravilhosa e logo me identifiquei
com ela, pois eu também gostava de escrever. Imitando os poetas dos livros didáticos, eu ia fazendo os meus poeminhas infantojuvenis e, aos quatorze anos, respondendo àquele poema tão declamado pela minha irmã, escrevi um poema dedicado à prima Yvonne, “Árvores da Vida”.

O tempo foi passando e eu comecei o curso superior na FAFIL - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, onde tive o prazer de ter, como professora de Literatura Portuguesa, a querida prima Yvonne. Assim passei a conhecê-la também como educadora, uma grande Mestra, sempre amiga e pronta a orientar voos intelectuais, pois prestigiava os seus discípulos, incentivando-os na busca do conhecimento. Ela ensinava com o mesmo amor que percebíamos que ela tinha pela cultura. Ampliando a nossa convivência, eu, ainda estudante, trabalhei em uma escola, onde ela era sócia e professora e, dessa forma, os nossos caminhos estavam sempre se cruzando.

Um dia mostrei a ela um meu poema e ela me pediu uma cópia e, para minha surpresa e alegria, alguns dias depois vi esse meu poema publicado na “Página Literária” do Diário de Montes Claros, coordenada pelo Dr. João Valle Maurício, abrindo caminho para outras publicações, também no Jornal de Montes Claros, com a valiosa atenção e apoio de Dona Yvonne e do seu marido, Olyntho Silveira. Naquela época, participei dos festivais de poemas “Fespoema” desse Jornal, o que possibilitou o meuencontro com outros jovens escritores, nascendo em Montes Claros o movimento literário “Catibum”, do qual fui secretária.

A vida foi seguindo o seu curso e, assim que terminei a faculdade, Letras Português / Francês, fui para Belo Horizonte, onde ingressei na UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, para fazer novamente um curso de Letras, desta vez, Inglês e Teoria Literária, que a FAFIL ainda não oferecia aqui. Assim perdi, temporariamente, o contato com Dona Yvonne, mas sempre tinha notícias dela. Depois de alguns anos retorno a Montes Claros, ingressando-me, como voluntária, em algumas entidades sociais, mas um pouco distante da vida cultural da cidade. Passado algum tempo, com o valioso apoio dos amigos, Luís Carlos Novaes (meu ex-colega do Catibum) e Angelina Antunes, começo publicar textos em prosa e verso no Jornal de Notícias e, logo depois, também com o valioso apoio do amigo Aroldo Pereira, começo participar do Psiu Poético, publicando, posteriormente, minhas poesias em suas antologias poéticas, coordenadas
pelo amigo Jurandir Barbosa. Assim, aos poucos, fui me entrosando com o meio cultural, mas, mesmo divulgando os meus escritos, ainda não havia me aproximado das outras entidades culturais da cidade. Um dia, numa agradável surpresa, recebo o telefonema de Dona Yvonne, convidando-me a ingressar na “Academia Feminina de Letras de Montes Claros”, que estava sendo fundada por ela. Senti-me honrada com o seu convite e, desde então, além de primas, amigas e colegas de magistério, passamos a ser também confreiras.

Recomeçamos uma estreita convivência e, acompanhando -a aos eventos culturais da cidade, descubro essa sua outra face: o seu amor à vida. Tenho aprendido muito com ela e, às vezes, até brinco, citando o título do filme “Ensina-me viver”, pois é contagiante essa sua alegria de viver! E parece que ela sempre teve esse gosto pela vida, pois, conforme ela mesma já me revelou, era uma criança travessa, que curtia bem a vida. Sempre viveu com intensidade e teve uma infância feliz! Já me contou que gostava de subir naquelas árvores, descritas pelo meu pai, no grande quintal da casa dos seus avós, hoje centro comercial de Montes Claros.

Há pessoas que passam pelo nosso caminho e marcam a nossa vida! Dona Yvonne sempre esteve presente, mesmo quando, temporariamente, nos distanciamos. Além dos eventos culturais, tenho acompanhado outros momentos da sua vida e cada vez mais cresce a minha admiração e amizade por ela. Às vezes pessoas até me perguntam se ela é a minha mãe e ela, brincando, já me disse para confirmar. Essa convivência com Dona Yvonneé sempre muito gratificante! Ela é otimista e vive intensamente cada minuto com sabedoria! Sabe enxergar o lado bom da vida! Dona Yvonne é uma sábia Mestra, também nessa maravilhosa Arte de Viver!



YVONNE SILVEIRA
A JOVEM DE CEM ANOS

Maria de Lourdes Chaves

Jovem, conforme o dicionário Houaiss, “É aquele que apesar da maturidade, conserva a vivacidade, a energia, a flexibilidade e certa inocência que caracterizam os jovens”.

Além de merecedora de todas as homenagens que lhe são prestadas por sua total dedicação à cultura, ela tem grande predileção pela seresta. Na letra do Hino a Montes Claros, ela destaca o seresteiro quando fala: “Tu és a cidade consagrada pela voz dos teus bardos e cantores”. Já Clarice Sarmento, como autora da música do hino, ressalta a palavra “voz”, conferindo-lhe o ornamento que exalta palavra e a destaca dos outros.

Yvonne é jovem porque seu espírito é tudo isso. Ela se arruma como uma adolescente sem, chegar às raias do ridículo.

Comparece a todas as reuniões oficiais quando convidada. Faz discursos. Ela está se tornando a oradora oficial dos eventos. Em sua fala, discorre com propriedade, chegando num texto escorreito, sobre qualquer assunto.
Parabéns Yvonne, parabéns Montes Claros por abrigá-la, qual pássaro em suas douradas asas.



YVONNE SILVEIRA
UMA ESTRELA QUE BRILHA

Maria Ruth das Graças Veloso Pinto

Há quem diz, com boas pessoas muito se aprende, pois elas despertam sonhos e deixam boas lembranças. E assim acontece como, o que se diz a música: “Fica sempre! Um pouco de perfume! Nas mãos que oferecem rosas! Nas mãos que sabem ser generosas!”

Essas filosofias me transportam para a pessoa de Dona Yvonne, pois ela é assim: generosa, e feita de pura simpatia.

Mas, a que mesmo compará-la? Um grande Jequitibá? Um notável Cipreste? Uma atriz influente? Uma renomada cantora? Bem se vê que é preciso conhecê-la, com mais, vigor.

É notório dizer que ela é feita de ideais, palavras, poesia, conhecimentos, os quais são partilhados com todos. O brilho, a energia, a fluência ao discursar dão à sábia mestra, Yvonne Silveira, uma marca registrada de profissionalismo, e de competência, exemplar. O que nos permite chamá-la carinhosamente de batalhadora incansável, de valorosa guerreira! Seus ensinamentos, suas reflexões, seus belos discursos, brindam-nos sempre com assuntos diversos, e estes são por ela, cuidadosamente explorados.

Como aluna, amiga, confreira da Academia Montesclarense de Letras, tenho com ela aprendido muito, pois os seus feitos nos fazem entender e refletir sobre o bem viver adquirindo, conhecimentos e valores, que nos levam a crescer de forma mais consciente.

Creio que não só para mim, mas para tantos, um dos grandes ensinamentos, que dela aprendemos, é que devemos estar sempre no campo de batalha. Pois ela, apesar de tantos desafios, nunca embainhou as armas. É altiva e vigorosa, frente a Academia Montesclarense de Letras.

Tem assim revelado com atitudes e boas ideias, que o tempo tem tempo, para ensinar ao tempo, o saber.

Como o saber se alegrar ao comemorar o seu centenário, com poesia na mão, no bolso, na cabeça e no coração! Assim como a primavera, num reino encantado, dando flores para o outono. Miosótis, margaridas, dálias brancas, amarelas, vermelhas, sem deixar de fora, as perfumadas rosas. Porém, o notável é ver e saber que ela vivencia essas emoções, e se prepara para receber e acolher esse abraço carinhoso, daqueles que a homenageiam.

Portanto para quem não a conhece, Dona Yvonne, é essa nobreza personificada. O amadurecimento dignifica o seu semblante. Um sorriso meigo, um olhar sereno, emolduram- lhe o rosto. E para realçar a beleza, tem os cabelos, levemente organizados num distinto coque à francesa. Muitos títulos poderiam ser dados a ela: escritora, professora, mãe, esposa, amiga, conselheira, presidente da Academia Montesclarense de Letras.

Sabemos ainda, que no processo educativo da vivência, as palavras só têm sentido se acompanhadas de exemplos. E ao olhar o ontem, e o hoje, de dona Yvonne, vemos e sentimos que ela não levou e nem leva a vida, a toque de caixa, mas sim com uma postura de digna filha de Deus! O seu papel de cidadã do mundo é exercido por ela com maestria. E neste contexto de estar presente como protagonista, abrindo caixas surpresas, ora com palestras, ora com livros, ora com fecundas ideias, a levar sonhos, que vão cativar ideais, vai indo a sonhadora Yvonne, descendo e subindo degraus na escalada da vida, carregando no dorso a vida bem vivida.

E é assim, que de quando em quando, nos momentos festivos, um baú é aberto, e lá vem, história...

O trem da alegria chega junto, apitando, barulhando, cantando, festejando e a magia surpreende a todos, com risos, sonhos e liberdade. Vai assim manifestando a cultura, simples e profunda ao mesmo tempo.

Lá vem a senhora, menina,
Lá vem a menina, senhora!
Com meigo sorriso,
Com um olhar, profundo!
Traz nas mãos abertas,
Uma caixa dourada,
Amarrada com fita,
Com laços de lado.
De longe, vem vindo, ela,
Como uma caixa surpresa,
Para mostrar a riqueza,
Que há dentro dela.
Assim é dona Yvonne,
Como uma história
De risos e dores. De amor e vida!
A se revelar, nos palcos da vida!
Parabéns, Dona Yvonne!
Por esta data, outonal
Alegres celebramos os seus cem anos,
Pois, você é impar, sem igual!



MÃE E MESTRA

Maria Ilca Terence de Noronha

Este ano de 2014 iniciou-se com as comemorações do centenário de Dona Yvonne de Oliveira Silveira, uma das grandes intelectuais de Montes Claros. Falar de Dona Yvonne, é bailar com as palavras para reverenciá-la como merece. Casada com Olyntho Silveira, viveu quase setenta e seis anos de feliz união até a sua morte em março de 2009. Por isso, vive até hoje, saudosa do seu eleito.

A sociedade montes-clarense presta com muito carinho, júbilo e gratidão homenagens a esta grande dama, que muito contribuiu e contribui para o desenvolvimento cultural e social da nossa cidade e de toda Minas Gerais.

Foi professora efetiva de Português na escola estadual Professor Plínio Ribeiro e na faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, hoje Unimontes, lecionou Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa.

Membro da Academia Montes-clarense de Letras, ocupa a cadeira 16, cujo patrono é seu pai, Antônio Ferreira de Oliveira, da qual é presidente há muitos anos. Fundou a Academia Feminina de Letras de Montes Claros, sendo sua presidente de honra.

Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e das Amigas da Cultura de Belo Horizonte, foi uma das fundadoras das Amigas da Cultura de Montes Claros, onde também é presidente de honra. E não termina por aí, é também membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e sócia do Elos Clube de Montes Claros. Recebeu inúmeras e merecidas homenagens ao longo de seu portentoso sucesso como amante das artes e das letras:

- Medalha JK, governo do estado.
- Cidadã benemérita de Montes Claros, pela Câmara Municipal.
- Cidadã benemérita de Francisco Sá,título outorgado pela Câmara Municipal.
- Medalha Lília Câmara, pela Sociedade Amigas da Cultura.
- Recebeu também homenagens dos Rotary Sul, Leste e de Montes Claros.
- Troféu Yvonne Silveira, instituído pela Academia Feminina de Letras de Montes Claros.
- Medalha de Honra do Elos Internacional.
- Medalha de Homenagem pelos cento e cinquenta anos de Montes Claros.
- Caneta de ouro pela Academia Montesclarense de Letras.
- Homenageada também foi pela Universidade Estadual (Unimontes).

Dona Yvonne, sempre em busca de conhecimentos, procura informar-se do no tempo, que também é o seu. Nesse âmbito da sua intelectualidade, ainda escreve poesias, crônicas, sonetos, memórias e vários livros. Entre as obras publicadas se destacam: Montes Claros e Brejo das Almas, em parceria com seu amado Olyntho Silveira e “Cantar de Amiga”, no qual muito me surpreendeu e envaideceu com o lindo poema “Mãe e Mestra”. Obrigada Dona Yvonne, parabéns pelo seu centenário!

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Acadêmica da Academia Feminina de Letras de Montes Claros. Cadeira 39, tendo como patrona, Júlia dos Anjos Siqueira. Fundadora da cadeira, Maria Celestina Ferreira, minha patrona, da qual sinto muito orgulho!”
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O VALOR DA PALAVRA

Zoraide Guerra David

Refletindo sobre a importância da palavra - marco indelével - a Academia Montesclarense de Letras reveste-se de sabedoria ao homenagear Yvonne de Oliveira Silveira, a Presidente, comemorando seu centenário de vida, através de uma Antologia.

O Gênesis, cap. 1, informa-nos a criação do Universo, usando a expressão: “Deus disse”, repetidas vezes. A palavra do Criador gera, transforma, define. Evidencia a responsabilidade conferida ao ser humano, permitindo-lhe expressar-se pela palavra. Falada ou escrita, ela enseja-nos manifestar nossos sentimentos e ideias no processo da comunicação social.

Esta Antologia contém homenagem digna e justa à escritora Yvonne. Os participantes louvam sua inteligência, fé, amor, coragem, perseverança, dentre outros dons, como causa de tão amplo relacionamento social e armas defensivas contra comodismo e depressão.

Seu livro Cantar de Amiga, avaliza essas considerações, porque enquanto pela amizade ela forma seu patrimônio vivencial, pela palavra, externa sua cultura, calor humano, gratidão. Lega aos leitores depoimentos poéticos que se perpetuam e podem ser utilizados como fontes de pesquisa histórica.

A educação e cultura constituem elementos formadores, de um rico currículo. Seus pronunciamentos são admiráveis, regados a conhecimento e lucidez. Professora e escritora, tem ocupado vários cargos, recebendo títulos e homenagens. Suas crônicas e poesias são veículos que transportam o leitor ao domínio da ternura, harmonia e paz!

Dentre minhas obras literárias, o prefácio de Três Vezes Poesia - em parceria com Patrício Guerra - meu pai e Zoraya Guerra David - minha filha; o posfácio de Patrício Guerra: Vida e Obra, e, a apresentações de Deixa a Luz do Céu Entrar na sessão de seu lançamento, confirmam sua versatilidade, traduzida num só vocábulo: talento.

A poesia de Patrício Guerra - sócio correspondente da Academia Montesclarense de Letras, saudando os sócios efetivos na década de sessenta, atesta nossas colocações:

SAUDAÇÃO A MONTES CLAROS
Quizera da inspiração
Um dos lampejos mais raros

E repleto de emoção
Para saudar Montes Claros
............................................
Imploro neste momento
Que a musa não me abandone
Para louvar o talento
Da bondosa D.Yvonne

Mortugaba_BA 18/10/1969

Nossa convivência na E. E. Prof. Plínio Ribeiro, FAFIL, reuniões da AML, IHGMC e visitas amigas recíprocas, inspiraram-nos presentes poéticos.

Em CANTAR DE AMIGA, à pagina 165 seu poema AMOR E FÉ é um brinde à minha alma! E, ao ensejo da comemoração dos seus 99 anos, durante a confraternização da AML, dediquei-lhe este acróstico:

Yvonne é singular!
Valoriza Montes Claros
Oralmente ou na grafia.
Nosso reconhecimento!
Nesta data confirmamos:
Ela é “mulher-poesia!”

O valor da palavra é inegável, pois como veículo de comunicação humana, registra momentos e pessoas que com gratidão e justiça, eternizamos.



A FILHA DO FARMACÊUTICO

Karla Celene Campos

O vento que sopra por lá me conta histórias. Das antigasé que gosto mais. Histórias antigas ficam encantadas. Encantadas, tornam-se eternas - o tempo não as desfaz.

Todos os ventos sabem histórias.

O vento do Brejo das Almas sabe histórias do Brejo das Almas. Foi ele que me contou a história do meu tio-avô.

Por certo tempo, meu tio-avô - um dos filhos do fundador do lugar - foi morar em São Paulo. Ao retornar à terra natal, a filha do farmacêutico já morava lá.

A garota - vinda com a família das promissoras terras dos Montes Claros - tinha, então, 14 anos da mais pura mocidade. E um brilho inteligente no olhar.

O coração do meu tio-avô decretou na hora: apaixonado! Para ela escreveu sublimes poemas de amor. Versos retirados das entranhas, lapidados com suor.

Não foi difícil à filha do farmacêutico corresponder aos sentimentos do jovem enamorado. Com jeitinho, se desviou do rumo traçado pelos pais: os estudos em Montes Claros, privilégio das moças educadas de então, para ficar por lá. Assim, fez opção pela terra do eleito, terra primitiva, tão docemente atrasada quando comparada à promissora cidade onde nascera.

Primitiva, sim, mas ali estava aquele que seu coração escolhera. Além disso, havia na primitiva cidade um vento viandante que encantava todas as coisas: fazia subir em redemoinhos a poeira das ruas; despejava assobios nas águas cristalinas que passavam sob a ponte da estrada; propiciava bailados a um imponente coqueiro, altaneiro dentre a vegetação rasteira. E sabia contar histórias.

A filha do farmacêutico, também artista como o eleito, com tintas coloridas transferiu para uma tela a beleza do coqueiro. Com ritmos e palavras, cantou a ponte, testemunha de encontros e murmúrios. E entendeu a linguagem do vento.

O tempo, que não para de passar, trouxe o dia 20 de junho de 1933 para coroar o encantamento: a filha do farmacêutico e o filho do fundador do Brejo das Almas se uniram pelos laços do casamento, abençoados por Deus, pelos familiares e pelo Padre Salu.

O tempo a passar, a passar...

Meu tio-avô compreendeu e aceitou o sacrifício: necessário deixar de vez a terra natal e transferir-se para Montes Claros: a jovem esposa queria estudar, estudar, estudar. O brilho inteligente no olhar pedia, queria, exigia mais luz.

De braços abertos foram recebidos pela cidade que a viu nascer.

E o tempo a passar, a passar...

Ganhos e perdas, perdas e ganhos. Meu tio-avô registrou numa página de sua história que “mais perdas do que ganhos”; “mais dores que alegrias, mas, não importa: os dois, sempre juntos”.

E assim foi, pela vida a fora.

O tempo a passar, a passar...

A ponte, testemunha do amor dos dois, deixou de existir sobre as águas que não correm mais.

O coqueiro, que dançava ao ritmo dos ares expelidos pela Serra do Catuni, seguiu o destino do companheiro de uma cantiga popular que fala de outro coqueiro: “coitado, de saudades, já morreu”.

Um dia, a iniludível veio e levou também meu tio-avô.

A menina de quatorze anos, a esposa fiel, a intelectual emotiva e racional chorou. E chorou muito a partida do eleito.

O tempo, porém, precisa passar. E passa.

E passa muito depressa. E passou muito depressa.

Tão depressa, que a menina de quatorze anos pela qual meu tio-avô se apaixonou... agora completa cem anos!

E o vento está doido para ir contar ao meu tio-avô que a doce centenária continua a mesma menina de quatorze anos, a mesma esposa fiel.

E traz o mesmo brilho de Vida no olhar.



UMA GRANDE MULHER

Maria Luiza Silveira Teles

Era uma menina bela e inteligente, que nasceu filha de um
poeta e queria alçar altos voos. Nasceu na terra das serenatas
e das artes.

Logo, porém, seu pai mudou-se para uma pequena cidade onde ela, adolescente, flor em seus quinze anos, se apaixonaria pelo mais garboso e inteligente rapaz da cidade, filho do Cel. Jacintho Alves da Silveira, homem importante, fundador do pequeno município.

Aquele amor duraria toda uma vida. Chegaram a viver juntos mais do que as Bodas de Diamante. Ela esperava tanto que ele completasse os seus cem anos! Entretanto, um mal repentino e súbito levou seu companheiro, nas vésperas do centenário.

Ela murchou sem aquela magnífica fonte onde se dessedentava...
Chorou, por muito tempo, as lágrimas mais sentidas, pela saudade do seu grande amor...

Mas, mulher inteligente e forte não pode deixar se abater por muito tempo. Ela sabia que toda uma comunidade precisava de sua luz. E, assim, floresceu de novo e, para a alegria de todos que a amam, voltou a brilhar, espalhando sua luz por toda a cidade que, hoje, agradecida, festeja o seu próprio centenário.

É difícil falar de uma mulher tão completa. Educadora, pintora, poetisa, historiadora, dona de um imenso cabedal de conhecimentos. Uma mulher que deu sua vida para fomentar a cultura de sua terra natal e que educou gerações e gerações.

Missão cumprida! A nós cabe agradecer a Deus por estar ainda entre nós essa magnífica criatura.

Lembro-me dela, lá pelos meus cinco para seis anos, quando, pela primeira vez, fui à terra de meu pai visitar sua família. Era a minha tia mais bonita, alegre, inteligente e pintora. Sim, foi esse talento com o qual tive o primeiro contato. E me encantei!

Mas, ela era também aquela tia que procurava nos agradar com guloseimas maravilhosas que só vim conhecer naquela terra. Tanto na fazenda, como em sua casa na cidade, eu adorava brincar, sentindo-me livre e solta naquele chão abençoado.

Logo, porém, com tristeza, tive que voltar para a capital, onde residíamos.

Com meus dezesseis anos, no entanto, voltei para o norte de Minas e encontrei já aqui os meus queridos tios Olyntho e Yvonne…

Ela não se contentara em viver em Francisco Sá. Embora lá fosse professora e exercia a sua arte de pintar e poetar, aquela era uma cidade pequena para o que almejava.

Ela queria fazer mais cursos e conhecer o mundo. E meu tio, como um bom companheiro, quis contribuir para a realização dos sonhos de sua mulher, trazendo-a para cá e abandonando suas lidas como fazendeiro, amante da terra.

Aqui, ela estudou e, como sonhava, saiu daqui para fazer cursos em outras paragens e viajou para além-mar.

Repartiu conosco todo o seu potencial, toda a sua bagagem, não somente de conhecimentos, mas de amor.

Eu sinto orgulho de tê-la como minha tia e de saber que corre em minhas veias o mesmo sangue de nossos ancestrais, os Utsch.

Minha querida tia Yvonne, receba as homenagens, que tanto merece, do nosso Instituto Histórico e Geográfico e de toda Montes Claros. Receba, também, o grande amor dessa sua sobrinha, prima e admiradora.

Que seu nome jamais seja esquecido pelas próximas gerações!



A DAMA DA LITERATURA

Gal Bernardo

Dona Yvonne, considerada a nossa “dama da literatura”, começou a trabalhar cedo, desde mocinha exercendo seu papel de educadora, esposa, dona de casa, poetisa e escritora - seu papel fundamental. Agora, quando ela está completando cem anos, temos muito o quê comemorar, principalmente pelo privilégio de conviver com uma pessoa tão especial, tão amiga e atenciosa.

Analisando o perfil desta pessoa repleta de qualidades, eu diria, sem medo de errar, que a sua principal característica é mesmo a de Escritora. Sim, os escritores são destemidos, sonhadores, atrevidos, sensíveis, inovadores, revolucionários... sempre utilizam a escrita para colocar suas idéias. Dona Yvonne sempre foi tudo isso! E olha que, há cem anos as coisas eram bem diferentes para as mulheres. Daí, dá para imaginar o que ela passou, enfrentou e lutou para chegar aonde chegou. Uma guerreira!


Difícil escrever sobre uma mulher assim, em poucas linhas. Uma história de coragem, de menina que queria muito mais do que apenas esperar sentada um bom casamento, uma bela casa e muitos filhos. Queria muito mais... liberdade, novos horizontes, ser feliz, amar, conquistar o mundo com suas palavras, transformar mentes e culturas.

Sua missão deu bons resultados, dona Yvonne da Silveira! Um século de vivência, de um tempo em que as mulheres não eram reconhecidas intelectualmente. Um século vencendo paradigmas. Só tenho a desejar que sua vida continue assim tão bela, minha amiga. Que você continue entre nós por muitos e muitos anos e que possamos aprender a viver do seu jeito diferente de enfrentar a vida: brindando todos os dias o por do sol, a beleza da lua, o colorido das flores, enfim, é desse jeito romântico e
encantador que se conquista longevidade e disposição para uma vida imortal. Parabéns! Continue desbravando as letras em textos para que outras mulheres também criem coragem para seguir adiante... e fazer a diferença!



CEM ANOS DE EXISTÊNCIA
É UM PRESENTE DE DEUS!

 

Ariadna Muniz

É um prazer imensurável ser partícipe dessa linda homenagem a essa grande diva da Literatura, Dona Yvonne Silveira, professora aposentada na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas - cujo título “Professora”, muito a envaidece. Revisitando a História, li uma frase em que D. Pedro II sintetiza a importância da arte de ensinar: “Se não fosse imperador, gostaria de ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”. Por isso, ao longo dessa homenagem hei de referir a Dona Yvonne, como professora. Homenagem esta a qual dedico a todos grandes homens e mulheres que abraçam o magistério com amor e afinco e são responsáveis pela formação de todas as outras profissões.

Detentora de uma extensa bibliografia com atividades ligadas diretas ou indiretamente às letras, a Professora Yvonne,é Presidente da Academia Montesclarense de Letras por vários mandatos, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, pertencente à Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, jornalista, cronista, poetisa, historiada, memorialista e escritora. Suas crônicas sempre povoaram a minha infância e adolescência. Hoje tenho o prazer de ler suas histórias em jornais, livros e agora também através da internet.

Além dos inumeráveis atributos intelectuais ela é uma mulher de uma simplicidade e riqueza sem fim. Simples na delicadeza, no trato, no carinho; rica em cultura, em obras, em conhecimento e ensinamento. Tão bom tê-la entre nós, identificada nesse interior do Brasil. Orgulho de Montes Claros, considerada nossa “pérola”, “joia rara do sertão” ou a “Diva dos Gerais.” As suas palavras são tecidas fio a fio, e entrelaçadas na escrita, ficam cada vez mais bonitas, mais fáceis de compreensão aos nossos olhos. Tocam nosso coração ao remexer lá no fundo de nossas memórias. Os seus versos, suas crônicas, tem o dom de nos envolver, e com elas, esquecemo-nos do mundo. Revestimonos de um passado de nostalgia, e também de muitas alegrias. Seus contos agem como um bálsamo, um alento, um conforto, um carinho, e, numa fração de segundo nos vemos com dez, quinze anos, correndo pelas ruas de Montes Claros, livres, felizes, plenos de inocência. É isso que a literatura nos faz, a imersão para o etéreo e o soerguimento para o mundo real. E sempre emergimos mais fortes, mais leves, mais revigorados e com mais conhecimento.

Para mim, a Professora Dona Yvonne, é uma das pessoas mais importantes do meu estado e do meu Brasil. Feliz é a cidade que tem essa filha do coração como sendo de suas entranhas, uma mulher muito especial! Tão viva e tão bela! Felizes somos nós que temos oportunidade de escrever sobre essa grande diva da Literatura. Mesmo sem chances de corresponder ao intelecto da grande mestra, tive essa atitude corajosa em arriscar a falar o quanto ela é importante, para mim, para meus familiares, para todos os montes-clarenses. A força de suas realizações e a magia de sua obra poética alcança a admiração não só dos literatos, mas o apreço de pessoas simples, que como eu também lêem e se vêem retratadas em seus textos.

Destemida, atual, contemporânea, a Professora Dona Yvonne Silveira, defende ideias avançadas, invariavelmente comprometidas com a luta por uma sociedade mais fraterna e menos desigual. Postando-se ao lado dos mais fracos, ela se vê impelida a batalhar por justiça, sobretudo em nome das mulheres. Dona Yvonne é uma mulher universal e a partir de sua experiência local compõe a sua arte, da janela da sua casa, das ruas, dos sobrados, dos casos, da sua experiência, de outras vivências. Como espectadora ela, observa, indaga, e reflete. E lá de Francisco Sá, ou daqui de Montes Claros, sua cidade natal, a grande mestra, Yvonne Silveira fala ao coração das pessoas. Ela alcança com a sua literatura, sem sequer sair do sertão, o mundo inteiro.

Destaco aqui não apenas o talento literário desta professora, mas, sobretudo sua fibra. Como disse o escritor Euclides da Cunha “O sertanejo, é antes de tudo um forte” e a Professora Yvonne, como fiel representante do sertão, não se curva diante das dificuldades da vida, procurando guiar-se pelo otimismo e pela coragem. Para ela não há tempo perdido. Uma frase de outra grande poetisa, Cora Coralina, define exatamente esse aproveitamento do tempo, esse viver intenso e produtivo da Professora Yvonne Silveira “Tempo perdido falam os insensatos. Não há tempo perdido. Todo tempo é tempo de semear “.

A Professora Dona Yvonne está semeando e colhendo tudo de bom que plantou nessas terras dessas Minas Gerais. Certamente, quem a encontra, sabe que a cada dia ela renasce no tempo, ainda que os documentos estejam prestes a declará-la centenária. A grande mestra vive com muito dinamismo, e, continua reconectando fios de amizades antigas, mergulhando em histórias perdidas no tempo, falando fatos contemporâneos, fazendo novos amigos, preservando a memória, escrevendo com a maestria de sempre, seja em qualquer gênero literário, sempre se superando, e nos encantando.

Salve Mestra Dona Yvonne Silveira! Cem anos se passaram sem ela perceber, pois foram bem vividos, com sabedoria, inteligência, vivacidade, alegria e simpatia. Professora Dona Yvonne Silveira, receba o meu abraço afetuoso. cem anos de existênciaé um presente de Deus! Receba essa dádiva como um grande tesouro. Muitas bênçãos de paz, saúde e prosperidade renasça a cada dia em sua vida! Receba o meu carinho e a minha eterna admiração!



DONA YVONNE

Clarice Sarmento

Escrever ou falar sobre Dona Yvonne não é uma tarefa fácil, já que, pelo menos durante setenta anos, muitos o fizeram, o que torna a originalidade difícil de ser encontrada. Muito precoce em sua visibilidade como intelectual, ainda adolescente já era professora no antigo Brejo das Almas, onde o pai era farmacêutico.

É uma destas pessoas que se distinguem das demais, que tem luz própria e ilumina o cenário no qual esta inserida. Inteligência brilhante e inquieta, com o dom da oratória, seu espírito de liderança e pioneirismo poderia tê-la levado a um cenário menos provinciano, quiçá à política, já que sua capacidade a habilita a uma distinção em nível nacional, provando que a cultura floresce também longe dos grandes centros, mesmo numa pequena cidade do sertão.

Deixou marcas nas atividades às quais se dedicou, sempre interessada em todas as manifestações culturais, experimentando um pouco de tudo. Em sua ânsia do saber, aventurou-se na pintura e na música, desfrutando os prazeres culturais, ampliando horizontes, num contínuo aperfeiçoamento em diversos cursos, leituras e estudos. Como cantora, organizou um coral na Igreja de Francisco Sá e, já aqui em Montes Claros, foi estudar canto no Conservatório Lorenzo Fernandez. Entretanto, como leitora voraz, fixou-se na literatura.

Embora nossas famílias fossem amigas (Seu Olyntho era amigo e companheiro de meu pai), só comecei a conhecê-la no auge de sua efervescência cultural, como colega do curso de História das Artes, ministrado no Conservatório Lorenzo Fernândez pelo Maestro Magnani, que vinha de Belo Horizonte naquele tempo, os estudos mais especializados eram feitos fora ou os professores de centros maiores eram trazidos para ministrá-los aqui, em cursos intensivos. Como aluna brilhante, foi escolhida
para substituir o maestro em novas turmas, quando de sua volta á capital.

Também fui sua contemporânea na Escola Normal como colega de magistério. Ela como professora de Português e Literatura, eu como professora de Educação Artística. Aos poucos fui tomando conhecimento da grandeza de sua cultura e da força emergente de seu caráter, que justificam a unanimidade no reconhecimento de sua liderança nos meios culturais de nossa cidade.

Timoneira da caravana do saber, buscando sempre um tempo mais fecundo de realizações na grandeza do conhecimento através da cultura e idealismo, na luta pela qualidade do ensino, soube procurar criar espaços para o bem, confiando na realização do sonho de um mundo melhor, mais humano e mais feliz.

Neste seu centenário, minha amizade e admiração.
Salve, Dona Yvonne! A senhora também é norte estrela.



YVONNE SILVEIRA
ESCRITORA INSÍGNIA DA
LITERATURA DE MONTES CLAROS

Terezinha Teixeira Santos

Sinto-me honrada em participar desta antologia, somando as minhas simples palavras às homenagens dedicadas à ilustre confreira e amiga YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA, quando comemoramos com júbilo o seu aniversário de cem anos de vida.

Mulher que desde cedo vem pontuando os caminhos da sua vida com fé, humildade, trabalho e sobretudo amor ao próximo. A grandiosidade da sua idade representa a sua fortaleza, a sua generosidade, a força e a coragem da Mulher que venceu preconceitos alcançando inúmeras honrarias, provas incontestáveis das suas ricas qualidades. A grandeza e a magnitude dos seus méritos enobrecem a sociedade em que vive, e a aniversariante faz jus às homenagens já recebidas e as outras que virão. É notória a forma brilhante, calorosa, reconhecida e carinhosa como a sociedade montesclarense comemora os cem anos, de Dona Yvonne. Mulher laureada pelos amigos e premiada por Deus com os louros da idade, que é a maior graça permitida ao ser humano no percurso da sua trajetória biológica.

No constante processo de viver e viver servindo, no desejo de ser cidadã produtiva, Dona Yvonne sempre revelou espírito de luta, de determinação e de uma imensurável capacidade de desafiar as intempéries do próprio tempo. Que seus exemplos sirvam para nortear as veredas da honradez, da responsabilidade, do caráter, da ética e da moral deste mundo hodierno em que vivemos.

Dona Yvonne, mulher a quem Deus confiou uma vida ornada com dotes de virtudes, nos primórdios da sua mocidade debruçou-se sobre a educação, mergulha no mundo das letras espargindo a luz de uma primorosa literatura. A sua inteligência rara abrilhanta a Academia Montesclarense de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, A Academia Feminina de Letras e tantos outros recantos das letras. No universo dos intelectuais ela compõe a galeria dos imortais.

Excelente professora e educadora, procurando unir sempre a luz do seu espírito culto com o calor do seu bondoso coração. Será sempre uma estrela a espargir a luz do saber.

Que a soma da sua idade fortifique sua fé e conserve a vontade de viver.

Parabéns, D. Yvonne,

Que Deus a abençoe.

Ser amiga de D. Yvonne é ser agraciada por Deus, é beber na fonte da sabedoria, viver com a delicadeza e a candura. É beber chá com biscoitos recheados de literatura.



A PACIENTE
DONA YVONNE SILVEIRA

Edwirges Teixeira de Freitas

A centenária Professora Ivone Silveira, também foi minha cliente para suas necessidades odontológicas. Dentre tantas outras personalidades de Montes Claros, atendidas por mim, nestes 72 anos dedicados a Odontologia, primeiramente como protética e depois como Cirurgiã Dentista formada aos 49 anos de idade. Não poderia deixar de prestar minhas habilidades e dons que Deus abençoou-me para atender tantos clientes, que por ironia do destino, perdera seus dentes e consequentemente a mastigação e o sorriso, que reflete um dos principais prazeres da vida. Principalmente quando o ser humano, avança no tempo, e este inexorável tempo premia a poucos com a beleza da experiência, a idade “Ouro”, apesar do corpo não mais acompanhar o ritmo da cabeça. E então, necessitamos da saúde bucal, para o prazer de deliciar uma comida gostosa e saborosa, de beber desde da água para nos hidratar e matar nossa sede, também as mais variadas bebidas para serem degustadas e com o sabor do paladar, podermos mergulhar no tempo e recordar através deste instinto, de tantos momentos ao longo da vida, que nos faz recordar desde da nossa infância, adolescência, adulto e até então.

Sendo que dar o sorriso a esta personalidade mulher, Professora Yvonne Silveira, é uma missão muito gratificante.

Ela ligou-me para marcar um horário, sendo que estava necessitando de restabelecer a mastigação e o sorriso naturalmente. Então, no dia e hora marcada lá estava Dona Yvonne Silveira, com sua simplicidade e educação que lhe é peculiar.

Ali na cadeira de dentista, que sempre falo que é um divã, onde os pacientes contam suas histórias, onde relatam fatos tanto da cidade, como da família e seus problemas pessoais. Estava ali na minha frente, esta ilustre dama, que, primeiramente relatou o fato que a trouxe a minha clinica, e que necessitava de meus cuidados para o tratamento devido.

Assim procedi, realizando as sessões necessárias para realizar o tratamento e ter a grata satisfação de melhorar seu sorriso e mastigação tão essencial também para a fala, onde expressamos nossos pensamentos, e que para ela fora tão usado ao longo de sua existência. Como seus belos discursos, suas maravilhosas e enriquecedoras aulas na sua maestria como professora, que ajudara a formar tantas pessoas tão importantes ou menos importantes, mas, sob seu crivo tornara pessoas melhores, como seres humanos.

Então aqui apresento esta minha simples homenagem, e minha grata satisfação em ter sido útil algum dia para uma mulher tão respeitada e um ser humano ímpar como a Senhora. Que Deus e Nossa Senhora Imaculada Conceição, abençoa a Senhora Dona Yvonne Silveira e todos os seus entes queridos. Parabéns pelo seu aniversário, de chegar aos cem anos, com esta lucidez e saúde. Realmente, sua vida foi abençoada por Deus.

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Cirurgiã Dentista. Membro Instituto Geográfico e Histórico de Montes Claros/MG.
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YVONNE DE
OLIVEIRA SILVEIRA

A acadêmica Yvonne de Oliveira Silveira nasceu na cidade de Montes Claros - Minas Gerais, no dia 30 de dezembro de 1914. Filha do farmacêutico Antônio Ferreira de Oliveira e de dona Cândida Peres de Oliveira. Casou com o saudoso poeta e historiador Olyntho Alves da Silveira. Escreveu vários livros. Em parceria com o marido ela escreveu o livro “Brejos das Almas - crônicas históricas”. Em parceria com a confreira Zezé Colares ela escreveu dois livros: “Montes Claros de Ontem e de Hoje” e “Folclore para Crianças”. Além dessas parcerias a professora Yvonne Silveira ainda escreveu outros dois livros: “Cantar de Amiga” e “Montes Claros - Crônicas”, este que foi organizado por Osmar Pereira Oliva.

É impossível anotar aqui todas as suas atividades de educadora. Escreveu e publicou suas crônicas em vários jornais da cidade. Ainda hoje publica no Jornal de Notícias, no Suplemento Mulher. São mais de duas dezenas de cargos honoríficos. Está à frente da Academia Montesclarense de Letras há 29 anos como presidente da entidade. Foi a fundadora da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e participa do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, ocupando a Cadeira N. 5, que tem como patrono o seu ilustre pai Antônio Ferreira de Oliveira. Professora Emérita de Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes e Cidadã Benemérita de Montes Claros, título conferido pela Câmara Municipal, em 1985.

Não vamos prolongar sobre as suas atividades, tendo em vista que os artigos aqui publicados já trazem essas e outras informações de importância fundamental para a história e a literatura.

Editora Cotrim Ltda.



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