NOTAS DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO

A ordem de publicação dos trabalhos dos associados efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos associados correspondentes e convidados;

A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem nela contidos. A revisão dos originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.

FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos, arqueológicos, genealógicos e suas ciências e técnicas auxiliares, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental do município de Montes Claros e região Norte de Minas.


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Sobrado de Dulce Sarmento
Rua Cel. Celestino, 140 - Centro - 39400-014 - Montes Claros/MG
(Corredor Cultural Padre Dudu)

REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Publicação Semestral

Diretor e Editor
Dário Teixeira Cotrim

Conselho Editorial
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Hermildo Rodrigues
Mara Yanmar Naciso Cruz
Silvana Mameluque Mota

Editoração, Diagramação e Impressão: Gráfica Editora Millennium Ltda.

Fotografias: Arquivo de Dário Teixeira Cotrim, Eliane Maria Fernandes Ribeiro, Harlen Soares Veloso, Hermildo Rodrigues, Leonardo Álvares da Silva Campos, Maria Clara Lage Vieira, Manoel Messias Oliveira, Landulfo Santana Prado Filho, Maria do Carmo Oliveira, Silvana Mameluque, Américo Martins Filho, Mara Narciso, Valdevi, Facella e Internet.

Impressão
Gráfica Editora Millennium Ltda.
ISBN: 978-65-86024-19-7


Capa: O Tropeiro


SUMÁRIO

Diretoria 2020-2021– 07
Associados Efetivos – 10
Associados Honorários – 12
Associados Eméritos – 13
Associados Correspondentes – 13
Homenagem a Associados Falecidos – 15

APRESENTAÇÃO – 17
ARTIGOS DIVERSOS DOS ASSOCIADOS EFETIVOS DO IHGMC

Américo Martins Filho | O Tropeiro Américo Martins - 21
Antônio Pereira Santana | Nave de passagem - 25
Dário Teixeira Cotrim | Prefácio para Landulfo - 28
Edvaldo de Aguiar Fróes | A rotina no hospital - 31
Eliane Maria Fernandes Ribeiro | Sertanear César, saudade e emoção - 40
Filomena de Alencar Monteiro Prates | Adeus ao Mestre - 46
Gustavo Mameluque | Em tempo de pandemia, vamos falar de inveja - 49
Harlen Soares Veloso | Bicentenário de dr. Carlos Versiani - 52
Hermildo Rodrigues | Fafil - Unimontes: 50 anos de início das aulas - 55
Ivana Ferrante Rebello | Cabaré Mineiro - 59
José do Carmo Felício | Professor Cícero Pereira - 64
José Francisco Lima de Ornelas | Jamais serão esquecidos - 68
José Jarbas Oliveira Silva | Jair Ruas, João Marques e Tone de Zengla - 70
José Ponciano Neto | Intertv 40 anos - 74
Landulfo Santana Prado Filho | Baronízia Santana Gonçalves - 78
Lázaro Francisco Sena | O “furacão” Wanderlino - 83
Lázaro Francisco Sena | Sobrevivência e Fé - 85
Leonardo Alves da Silva Campos | A capela que ia virar cadeia afundou - 87
Manoel Messias Oliveira | Éramos nove, agora somos oito - 91
Mara Yanmar Narciso | Pedido de casamento - 95
Mara Yanmar Narciso | Montes-claridades, de Wanderlino Arruda - 100
Márcio Adriano Silva Moraes | Cinemoctografia - 103
Maria Clara Lage Vieira | Augusta Ribeiro Drumond - 104
Maria da Glória Caxito Mameluque | Diomedes, “meu tipo inesquecível” - 111
Maria Inês Silveira Carlos | Entrevista com a minha mãe - 115
Terezinha de Souza Campos Neves | Folclore: saberes de um povo - 121
Wanderlino Arruda | João Gordo - 123
Zoraide Guerra David | Patrício Guerra, o polivalente guerreiro - 127

ARTIGOS DIVERSOS DOS ASSOCIADOS
CORRESPONDENTES DO IHGMC

Fernanda Oliveira Matos | Anízio Teixeira, de Caetité para o mundo - 141
Maria do Carmo Oliveira | História de dona Lili - 145

DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Fundado em 27 de dezembro de 2006.

COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007

Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
Jornalista Luís Ribeiro dos Santos
Dr. Wanderlino Arruda


DIRETORIA 2020-2021


PRESIDENTE DE HONRA Palmyra Santos Oliveira
PRESIDENTE Dário Teixeira Cotrim
1º VICE - PRESIDENTE José Ferreira da Silva
2º VICE - PRESIDENTE Sebastião Abiceu dos Santos Soares
1º DIRETOR-SECRETÁRIO Mara Yanmar Narciso Cruz
2º DIRETOR-SECRETÁRIO Hermildo Rodrigues
1º DIRETOR DE FINANÇAS Lázaro Francisco Sena
2º DIRETOR DE FINANÇAS José Francisco Lima Ornelas
DIRETORA DE PROTOCOLO Wanderlino Arruda
Diretor de Comunicação Social Silvana Mameluque Mota
Diretor de Arquivo, Biblioteca e Museu Amelina Chaves

CONSELHO CONSULTIVO

Membros Efetivos
Maria de Lourdes Chaves
Teófilo Azevedo Filho
Virgínia Abreu de Paula
Membros Suplentes
Juvenal Caldeira Durães
Gessileia Soares Cangussu
Dorislene Alves Araújo

CONSELHO FISCAL

Membros Efetivos
Carlos Renier Azevedo
André Luiz Lopes Oliveira
Alceu Augusto de Medeiros
Membros Suplentes
Maria do Carmo Veloso Durães
Maria da Glória Caxito Mameluque
João Nunes Figueiredo

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA

Rita de Cássia Oliveira Bichara
José Ponciano Neto
Maria Regina Barroca Peres
Antônio Félix da Silva
Ildeu Soares Caldeira Júnior

COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA

Denilson Meireles Barbosa
Leonardo Álvares da Silva Campos
José Dirceu Veloso Nogueira
César Henrique Queiroz Porto
Paulo Hermano Soares Ribeiro

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA,
ETNOGRAFIA E SOCIOLOGIA

Maria Ângela Figueiredo Braga
Hélio Antônio Maia
Jânio Marques Dias
Frederico Assis Martins
Eliane Maria Fernandes Ribeiro

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIOS

José Francisco Lima de Ornelas
Marilene Veloso Tófolo
Juvenal Caldeira Durães
Zoraide Guerra David
Landulfo Santana Prado Filho

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO E PUBLICAÇÃO

Marilúcia Rodrigues Maia
Yury Vieira Tupinambá de Léllis Mendes
Ivana Ferrante Rebello e Almeida
Daniel Tupinambá Lélis
Maria Clara Vieira Lage

COMISSÃO DE VISITA E APOIO

João de Jesus Malveira - Coordenador
Edvaldo Aguiar Fróes
José Ferreira da Silva
Manoel Pereira Fernandes Neto
Harlen Soares Veloso

COMISSÃO DE PROMOÇÕES E EVENTOS

Ana Valda Xavier Vasconcelos
Josecé Alves dos Santos
Teófilo de Azevedo Filho (Téo Azevedo)
Maria de Lourdes Chaves (Lola Chaves)
Augusta Clarice Guimarães Teixeira (Clarice Sarmento)
Mara Yanmar Narciso da Cruz

COMISSÃO DA LITERATURA DE CORDEL

Carlos Renier Azevedo (coordenador)
Teófilo Azevedo Filho
Josecé Alves dos Santos
João Nunes Figueiredo
Amelina Chaves


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC


CD
Sócios
Patronos
01
Edvaldo de Aguiar Fróes Alpheu Gonçalves de Quadros
02
VAGA Alfredo de Souza Coutinho
03
Antônio Alvimar Souza Antônio Augusto Teixeira
04
Maria do Carmo Veloso Durães Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
Dorislene Alves Araújo Antônio Ferreira de Oliveira
06
Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Maria Aparecida Costa Antônio Gonçalves Figueira
08
Jânio Marques Dias Antônio Jorge
09
Narcíso Gonçalves Dias Antônio Lafetá Rebelo
10
Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Sebastião Abiceu dos Santos Soares Ary Oliveira
12
Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Ana Valda Xavier Vasconcelos Arthur Jardim Castro Gomes
15
Magda Ferreira de Souza Ataliba Machado
16

Gilsa Florisbela Alcântara

Athos Braga
17
Samuel Andrade Lopes Auguste de Saint Hillaire
18
Frederico Assis Martins Brasiliano Braz
19
Paulo Hermano Soares Ribeiro Caio Mário Lafetá
20
Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira Camilo Prates
21
Terezinha Gomes Pires Cândido Canela
22
Silvana Mameluque Mota Carlos Gomes da Mota
23

Landulfo Santana Prado Neto

Carlos José Versiani
24
José Ponciano Neto Celestino Soares da Cruz
25

Pedro Borges Pimenta Júnior

Corbiniano R Aquino
26
Harlen Soares Veloso Cyro dos Anjos
27
Regina Maria Barroca Peres Dalva Dias de Paula
28
Hélio Antônio Maia Darcy Ribeiro
29

Carlúcio Pereira dos Santos

Demóstenes Rockert
30
Maria Lúcia Becattini Miranda Dona Tirbutina
31
Augusta Clarice Guimarães Teixeira Dulce Sarmento
32
Everaldo Ramos de Oliveira Edgar Martins Pereira
33
Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Geralda Magela de Sena e Souza Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35

Hermildo Rodrigues

Ezequiel Pereira
36
Felicidade Vasconcelos Tupinambá Felicidade Perpétua Tupinambá
37
Evaldo Gener de Fátima Francisco Barbosa Cursino
38
Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
José dos Santos Neto Gentil Gonzaga
40
Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
Kelly Cristine Nery Rocha Gomes Geraldo Tito da Silveira
43
José do Carmo Felício Godofredo Guedes
44
Roberto Carlos M. Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
Gustavo Mameluque Henrique Oliva Brasil
46
Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
Amelina Fernandes Chaves Hermenegildo Chaves
48
Virgínia Abreu de Paula Hermes Augusto de Paula
49
José Ferreira da Silva Irmã Beata
50
Antônio Félix da Silva Jair Oliveira
51
Osmar Pereira Oliva João Alencar Athayde
52
Maria de Lourdes Chaves João Chaves
53
VAGA João Batista de Paula
54
Cláudio Ribeiro Prates João José Alves
55
Lázaro Francisco Sena João Luiz de Almeida
56
Ivana Ferrante Rebelo João Luiz Lafetá
57
Marilúcia Rodrigues Maia João Novaes Avelins
58
Maria Ângela Figueiredo Braga João Souto
59
Márcio Adriano Silva Moraes João Vale Maurício
60
Manoel Messias Oliveira Jorge Tadeu Guimarães
61
Ildeu Soares Caldeira Jr. José Alves de Macedo
62
José Jarbas Oliveira Silva José Esteves Rodrigues
63
Carlos Renier Azevedo José Gomes Machado
64
Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Laurindo Mekie Pereira José Gonçalves de Ulhôa
66
Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Denilson Meireles José Monteiro Fonseca
68
Benjamim Ribeiro Sobrinho José Nunes Mourão
69
Rita de Cássia Oliveira Bichara José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
José Roberval Pereira José Tomaz Oliveira
71
Manoel Pereira Fernandes Neto Júlio César de Melo Franco
72
Júnia Veloso Rebello Lazinho Pimenta
73
Terezinha de Souza Campos Neves
Lilia Câmara
74
Filomena Alencar Monteiro Prates Luiz Milton Prates
75
Alceu Augusto de Medeiros Manoel Ambrósio
76
VAGA Manoel Esteves
77
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro Mário Ribeiro da Silveira
78
Américo Martins Filho Mário Versiani Veloso
79
Antônio Pereira Santana Mauro de Araújo Moreira
80
Isau Rodrigues Oliveira Miguel Braga
81
Juvenal Caldeira Durães Nathércio França
82
Josecé Alves dos Santos Nelson Viana
83
Daniel Oliva Tupinambá de Lélis Newton Caetano d’Angelis
84
Itamaury Telles de Oliveira Newton Prates
85
André Luís Lopes Oliveira Armênio Veloso
86
Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Elzita Ladeia Teixeira Pedro Martins de Sant’Anna
88
João de Jesus Malveira Plínio Ribeiro dos Santos
89
José Francisco Lima Ornelas Robson Costa
90
Teófilo Azevedo Filho (Téo) Romeu Barcelos Costa
91
Wesley Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Renat Nureyev Mendes Tupinambá Sebastião Tupinambá
93
Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Gessileia Soares Cangussu Teófilo Ribeiro Filho
95
Marilene Veloso Tófolo Terezinha Vasquez
96
Yure Vieira Tupinambá de Lelis Mendes Tobias Leal Tupinambá
97
Leonardo Alvares da Silva Campos Urbino Vianna
98
Mara Yanmar Narciso Virgilio Abreu de Paula
99
João Nunes Figueiredo Waldemar Versiani dos Anjos
100
Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

ASSOCIADOS EMÉRITOS

Antônio Ferreira Cabral
Expedito Veloso Barbosa
Luiz Pires Filho
Maria das Dores Antunes Câmara
Milene Antonieta Coutinho Maurício
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista

ASSOCIADOS HONORÁRIOS

Alberto Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Irany Telles de Oliveira Antunes
Girleno Alencar Soares
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Luís Ribeiro dos Santos
Mardete Dias Silveira
Newton Carlos do Amaral Figueiredo
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça
Waldyr Barbosa de Oliveira

ASSOCIADOS CORRESPONDENTES

Adilson Cézar Sorocaba - SP
Alan José Alcântara Figueiredo Macaúbas - BA
André Kohene Caetité - BA
Antônio Félix da Silva Florianópolis - SC
Avay Miranda Brasília - DF
Carlos Lindemberg Spínola Castro Belo Horizonte - MG
Cândida Correia Cõrtes Carvalho Luz - MG
Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte - MG
Daniel Antunes Júnior Espinosa - MG
Dêniston Fernandes Diamantino Januária - MG
Eustáquio Wagner Guimarães Gomes Belo Horizonte - MG
Felicíssimo Tiago dos Santos Rio Pardo de Minas - MG
Fernanda de Oliveira Matos Caetité - BA
Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte - MG
Flávio Henrique Ferreira Pinto Belo Horizonte - MG
Honorato Ribeiro dos Santos Carinhanha - BA
Jeremias Macário Vitória da Conquista - BA
João Martins Guanambi - BA
Jorge Ponciano Ribeiro Brasília - DF
José Walter Pires Brumado - BA
Liacélia Pires Leal Feira de Santana - BA
Manoel Hygino dos Santos Belo Horizonte - MG
Maria do Carmo de Oliveira Porteirinha - MG
Moisés Vieira Neto Várzea da Palma - MG
Neide Almeida da Cruz Feira de Santana - BA
Paulo Roberto de Souza Lima São João Del Rei - MG
Pedro Oliveira Várzea da Palma - MG
Reynaldo Veloso Souto Belo Horizonte - MG
Terezinha Teixeira Santos Guanambi - BA
Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte - MG
Zanoni Eustáquio Roque Neves Belo Horizonte - MG
Zélia Patrocínio Oliveira Seixas Aracajú - SE
Zilda de Souza Brandão (Bim) Belo Horizonte - MG




EPITÁFIO
Para um túmulo de amigo
“A morte vem de manso, em dia incerto e fecha os olhos
dos que têm mais sono...”
(Alphonsus de Guimaraens - ossa mea, I.)



Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

APRESENTAÇÃO

Ainda sob o medo da pandemia, estamos cumprindo a nossa meta de publicar uma Revista a cada semestre e, desta vez, concluímos a edição do segundo semestre de 2020, com a publicação do vigésimo quinto volume, toda ela recheada de novidades para o deleite dos associados. São textos escritos por vinte e oito confrades, todos eles elaborados com nitidez de conteúdo e, que, certamente vão enriquecer a memória e a história do nosso povo. Este volume da Revista tem como tema central o conhecimento da história que, mesmo encarada sob uma perspectiva sinóptica do resgate e da preservação dos fatos, ainda contribui para o desenvolvimento cultural da cidade de Montes Claros e da região.

Nota-se que o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros esteve sempre na vanguarda dos princípios básicos da história, com a asserção do conhecimento em diversos segmentos dos estudos da humanidade, através dos livros.

É importante que o leitor possa comentar e opinar, com encadeamento de ideias, sempre no sentido de melhorar a qualidade das nossas publicações, propondo uma reflexão do próprio pensamento e a divulgação de obras raras e esquecidas em gavetas de armários velhos e solitários.

Pois bem, o nosso proposito está cada vez mais próximo da realidade que aspiramos. Portanto, agradecemos aos associados a confiança depositada no Conselho Editorial desta obra, percebendo ainda que, o fio condutor a unir esse conjunto de textos foi tão somente a dedicação dos confrades nas pesquisas incessante do processo natural da memória.

Em resumo: aqui está mais uma Revista, com capa do monumento aos tropeiros, uma doação de Américo Martins Filho, ilustre associado do nosso egrégio Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e, tudo isso graças ao empenho de todos os confrades. Assim, sendo, boa leitura!



O TROPEIRO AMÉRICO MARTINS

Nasceu a 4 de Março de 1890, na cidade de Jacaracy, no estado da Bahia. Filho do capitão José Martins Ribeiro e de dona Etelvina Cangussú Baleeiro Martins.

Talvez herdando a fibra dos seus pais, Américo era um homem resoluto e de atitudes firmes. Segundo informes de pessoas de sua família, teve ele que enfrentar a luta da subsistência desde os seus doze anos de idade. Para melhor êxito das suas pretensões, ainda moço, procurou, em sua terra, o padre Guilhermino, a quem se ligava por laços de parentesco, para pedir-lhe um emprego. Por incrível que pareça, foi nessa época, quando ainda imberbe e inexperiente, que lhe foi confiado um “lote” de burros (dez animais) para fazer o comércio ambulante entre a vila de Duas Barras e Lençóis do Rio Verde (hoje Urandí e Espinosa). Os lucros eram diminutos, chegando a ganhar um tostão na venda de um saco de farinha. Homem de aventura, não deixava de ter suas ambições para progredir.

Daí veio o desejo de adquirir a tropa e fazer o comércio por conta própria. Imaginando a dificuldade que lhe parecia intransponível, de conseguir o numerário e condições para a compra, resolveu fazer promessa ao Senhor Bom Jesus da Lapa, em que consistia ir à cidade onde está situada a Basílica do miraculoso santo, para, em três dias seguidos, varrer e limpar o sagrado templo. Efetivamente, o resultado não se fez esperar. O padre, vendo como eram conduzidos os negócios do seu protegido, não teve dúvidas em vender-lhe a tropa em boas condições e bom prazo. (veja foto)

Posteriormente, vendeu o lote de burros e, com o produto, ingressou no comércio ambulante de jóias. Assim, visitando diversos lugares, chegou até Vila Brasília, onde encontrou bom campo, principalmente entre os fazendeiros da região, com os quais achava mais fácil transacionar. Conversador e bastante insinuante, sabia convencer o freguês que, raramente deixava de comprar-lhe uma peça, mesmo que fosse apenas um par de brincos ou um anel.

Desde quando ali aportara, se revelou um bom negociante. Exerceu, não só a profissão de joalheiro, mas, também, outros comércios, inclusive de tropa, para a qual tinha encarregado de confiança. Foi negociante estabelecido com o comércio de fazendas, ferragens, armarinhos e outros artigos. Deu ao seu estabelecimento o nome de “Empório 4 de Março” (dia do seu aniversário).

Espírito empreendedor, como disse linhas atrás, Américo Martins tinha iniciativas arrojadas. Foi o primeiro a adquirir um caminhão “Chevrolet”, recebido na vila, então, com discurso e música, como um acontecimento marcante no lugar. Foi um dos grandes fazendeiros da região, explorando, em larga escala, o comércio de gado. Anos depois, transferiu com sua família para Montes Claros, onde educou os filhos, quando então, adquiriu a Fazenda Rocinha, nas proximidades de Bairro Jaraguá.


Américo Martins, também pioneiro na região do Urucuia, para onde ia à cavalo.

Nesta região, foi o pioneiro a trazer o primeiro TELEFONE, a primeira Rede de Energia Elétrica, o primeiro Poço Tubular, benfeitorias que tinham como ponto final, a sede da sua Fazenda Rocinha.

Paralelamente, tempos depois, iniciou o primeiro Posto de Combustível (o atual Posto da Produção), que funcionava em anexo, Armazém, Restaurante e Hotel. Além deste comércio e atividades rurais, AMÉRICO MARTINS, atendendo o pedido de sua nora Rosângela Veloso Assis Martins, iniciou a construção da “Escola Américo Martins”, o qual foi o primeiro educandário desta região de Montes Claros. Quando no término das obras fez a doação ao município, através do prefeito Antônio Lafetá Rebello. É de deixar gravado, que sua nora Rosângela, foi a primeira coordenadora desta escola.

Anos depois, transferida para o Bairro Jaraguá I, já sob a administração do Governo Estadual, promoveu e pratica excelente educação a milhares de alunos que aqui passaram , realizando desta forma o sonho de AMÉRICO MARTINS, sertanejo que em toda sua vida (faleceu em junho de 1968), tornou-se em realidade seus sonhos progressistas, em benefício de diversas comunidades por onde passou.

NAVE DE PASSAGEM

Quando me buscares, não mais estarei aqui, não quero ser o último a embarcar nessa nave de luz. O vento já vem soprando em busca dos retardatários da vida, a nave não espera por ninguém. A sombra da tarde confunde os rostos dos que ficam e a lua ilumina a face dos que querem ir. Dos que saem pelos caminhos que um dia foi prometido para que não houvesse nenhum lamento nos olhos dos meninos e meninas, dos filhos e filhas do trabalho honroso ou escravo, dos puros e dos delinquentes, dos anjos que não foram para a catequese quando chamados.

Se me olhares nos olhos não verás o brilho que carrego e não entenderás o meu rosto, e jamais verás a luz que trago n’alma. Tenho todos os sonhos adormecidos, que foram escritos em tempos pretéritos. São rabiscos feitos em papeis avulsos que mantenho guardados na mente que ainda está sã e sonhadora, mesmo com esses contratempos de ventos e sombras que sopram em todas as direções, fazendo vítimas, indiscriminadamente: negros, brancos, pardos, europeus, americanos, do norte e do sul, e tantas outras raças por esse mundo afora.

Ainda com tudo isso, a minha mente viaja em devaneios, que são permitidos nas noites quentes de lua cheia, ou mesmo na lua minguante. A lua nos remete a delinquir. Ela sugere pecados que serão perdoados assim que a nave chegar ao ponto final.

Quando voltares, verás que minha mala já não está sobre o guarda-roupas do quarto como de costume. O mesmo quarto onde deitei para dormir à espera da tua companhia, sem contudo ter feito um poema que falasse de amor, ainda que em rimas de dor, como são os mais lindos, e que são lidos as lágrimas pelas criaturas que teimam em amar.

O amor, tão grandioso como é, deveria criar uma luz de felicidade eterna, mas não! Ele está sempre na dor, a espera do fim, seja pela perda do ente querido ou pela traição do hipócrita que existe em cada personagem seja real ou fictícia.

A luz da nave dá o sinal de partida. Não há uma chamada por ordem alfabética, todos devem estar atentos a tudo a sua volta.

Naquela primeira noite da viagem ficamos todos juntos prestando muita atenção ao noticiário. As conversas foram diminuindo a medida que o tempo passava. Na embriaguez do sono eu observei que mesmo a nave estando em alta velocidade algumas pessoas continuavam a entrar e se acomodarem nos bancos. Eu tive uma pequena dúvida se eram de fato pessoas ou simples espíritos que estavam em busca dos seus corpos, e essa preocupação tirou-me o sono: seria eu, também, um espirito?

Saí a andar pelo corredor da nave. Tentei falar com as pessoas ou com os espíritos, mas ninguém me ouvia, ou fingiam não ouvir. Então resolvi voltar ao meu lugar. Não o mais encontrei. Todos os lugares eram iguais, nada identificava onde eu estava anteriormente.

Eu não tinha levado nada para essa viagem, nem a mala eu consegui localizar. Acho que na correria eu a deixei em cima do guarda-roupas, deve ter sido isso mesmo, não me lembro de têla trazido comigo. Recostei em um canto qualquer e esperei o dia clarear para eu poder me orientar direito. O silêncio era quase total, um pequeno zumbido vinha da parte traseira da nave, agora já não sei direito se traseira ou dianteira, tudo era igual. O barulho parou, só eu estava acordado, as janelas continuavam abertas, ninguém mais entrava como antes, parece que as pessoas já estavam cansadas: todas dormiam profundamente. Comecei a me preocupar, o dia não clareava!

Olhando pela janela, eu não via a lua, tão pouco as estrelas. Eu não tinha um relógio de pulso. Como saber as horas? Ao passar a mão pelo pulso notei que batia lento, quase parando. Contei as batidas, não passavam de umas poucas dezenas, acho que menos que quarenta e poucas, saí andando a procura de alguém que pudesse me socorrer, que pudesse medir os meus batimentos cardíacos, quem sabe encontrar ali um médico cardiologista ou mesmo o seu espirito, tomara que ele não tenha esquecido o seu estetoscópio como eu esqueci a minha mala. O desespero foi tomando conta de mim, eu gritei alto, uma, duas, três ou mais vezes, o meu grito não era ouvido, comecei a tossir um cheiro de mofo invadiu o espaço onde eu me encontrava. Eu não via outra saída, a não ser ir pra janela, tentar respirar um ar puro. Porra nenhuma o cheiro de mofo vinha exatamente daquela janela, corri pra outra, o mesmo cheiro a me sufocar, aí não teve outro jeito, gritei novamente desesperado, agora eu clamava a Deus por um pneumologista, ninguém me ouvia, moço, moço meus pulmões estão carregados, nada. Ninguém naquele lugar me ouvia. Num impulso derradeiro me atirei da janela... Graças a Deus era um sonho. Esse coronavírus ainda vai nos deixar loucos!

PREFÁCIO PARA LANDULFO

O livro Razão, Existência em Formação – Misterioso Mundo da Ciência Filosófica, do abalizado autor Landulfo Santana Prado Filho, é caracterizado como um enternecimento de incerteza ou ansiedade, mediante determinada circunstância, e tem o foco na evolução como modelo do conhecimento sobre os mistérios da vida. A análise que fazemos desta obra se refere na forma da escrita com a utilização da linguística e a diversidade na composição dos textos. Não podemos invadir o conhecimento perfeito do autor sobre os temas sacramentados neste livro, uma vez que percebemos a sua aptidão pelos enigmas da história e a tentativa de desvendar fatos controversos. O que há, aqui, são as explicações plausíveis e aceitas no universo da filosofia. Por outro lado, o simbolismo utilizado para definir situações inesperadas da escrita tem uma visão inquestionável do valor literário, na concepção da idade do homem.

A evolução do tempo no plano físico é superada pela do plano espiritual. Com a espiritualidade genealógica nos estudos das origens, pode-se dizer que o escritor arrasta para si um problema racional nos primórdios da vida. Pois, sabe-se que a intelectualidade das pessoas é lapidada na leitura do conhecimento através dos livros e o autor desta influente obra de ficção é um belo exemplo deste estado de situação.

Nos capítulos “Paradigmas” e “Enigmas” o leitor pode avaliar as seguintes situações; não raras vezes, a dissertação sobre o funcionamento do corpo humano torna-se uma verdadeira aula de anatomia, e isso acontece porque o autor procura definir, com propriedades, as situações involuntárias na compreensão das coisas; por outro lado, é por demais detalhista nas suas explicações e, são por essas veredas, que acontece a aplicação do simbolismo em todo o texto. Há uma preocupação com o idioma, haja vista que a sua escrita é escorreita, não obstante o tema ser complexo. Daí que o leitor vai encontrar expressões e vocábulos incomuns ao dia a dia dos brasileiros.

O livro de Landulfo Santana Prado Filho é composto de quatorze capítulos. Em razão disso não se recomenda analisá-lo capítulo por capitulo, senão como um todo. A citação de dois deles no parágrafo anterior foi apenas para estimular a leitura dos demais. Nota-se que este trabalho literário consiste em introduzir na filosofia os conceitos de sensibilidade e decisão, assim como preconizava o pensamento de Nietzsche.

A parte da filosofia da vida, baseada nos grandes filósofos da antiguidade, esbarra na famosa frase “sei que nada sei”, do latim “ipse se nihil scire id unum sciat”, atribuída ao mestre Sócrates, atestando que, verdadeiramente, o homem, por mais que ele procure entender o mundo, descobre que nada sabe. Entretanto, a leitura do seu livro Razão, Existência em Formação – Misterioso Mundo da Ciência Filosófica, trouxe para mim uma janela aberta, a favor do sol e defronte ao infinito, onde o conhecimento, singrando em mar revolto, penetra com extremo cuidado no meu corpo e alma, alimentando-os com os mais preciosos conhecimentos sobre a nossa existência. Portanto, tomando emprestado esta citação de Bezerra de Menezes, desejo “que o Senhor nos abençoe nesta leitura, nos fazendo compreender o que há de melhor nestas páginas, e que esse prefácio, mesmo na sua simplicidade, faça-te alegrar, para que possas entrar no conteúdo destas letras que escondem vida e perfumam os corações, capacitando-te no sentido de te certificares do poder das virtudes que o Evangelho nos ensina por amor”.

O seu amigo de sempre!


Landulfo Santana Prado Filho


A ROTINA NO HOSPITAL

As consultas diárias pela manhã e à tarde se sucediam, com eventuais atendimentos noturnos, facilitados pelo fato do médico morar no próprio Hospital.

Os partos naturais eram feitos pela competente enfermeira prática, que cuidava de tudo, mas eventualmente o trabalho de parto se complicava e Jansen era chamado à sala de parto, onde realizava episiotomias, seguidas de episiorrafias, sob anestesia local.

Outras vezes, havia parada de progressão do feto, indicando-se a aplicação do “fórcipe de alívio”, sempre acompanhado de estresse por todos ali presentes, aliviados pelo choro, respiração e cor rósea do recém-nascido, controle de sangramentos e boa contratilidade uterina pós parto!

Hemorragias vaginais pós parto, devido a retenção da placenta, eram solucionados de imediato, através da sua extração manual ou curagem e, quando necessário, completada com curetagem uterina. O uso de Ocitócicos injetáveis, associada à massagem uterina, solucionava a maioria dos casos.

Quando a indicação era de Cesariana de emergência o médico realizava a raquianestesia e a enfermeira e uma outra funcionária ficavam na sala, para o ato cirúrgico, sempre estressante, mas com competência. Todo o instrumental cirúrgico, inclusive aventais, luvas e tudo mais encontravam-se sempre prontos para uso em tal situação!

Havia também os casos de Cesarianas e Cirurgias eletivas, marcadas previamente, com o comparecimento do Anestesista da cidade vizinha, que vinha acompanhado de estudante de Medicina para auxiliar o cirurgião. Frequentes, também, eram os internamentos de gestantes com hemorragia vaginal devido a abortamentos incompletos espontâneos, cujo tratamento consistia na curetagem uterina, realizada no sala de cirurgia, sob sedação venosa, oxigênio e controle rigoroso da respiração, pressão arterial e batimentos cardíacos, auxiliado pela eficiente Enfermeira.

O atendimento de crianças desidratadas devido às gastroenterites agudas, com vômitos e diarréia eram frequentes, muitas vezes exigindo internamento com hidratação venosa e antieméticos injetáveis, além de antibióticos.

Em alguns casos, havia necessidade de dissecção de veia periférica, para hidratação. Sendo possível, a hidratação oral era introduzida, o mais precoce. Quando o quadro clínico persistia Jansen encaminhava a criança com os seus familiares para internamento na Clínica Pediátrica da cidade vizinha, além de otites persistentes, broncopneumonias, crises convulsivas repetidas e meningoencefalites.

Ocorriam, ainda, as fraturas ósseas simples e complicadas e o RX exercia papel indispensável para o diagnóstico e a imobilização gessada.

Um exemplo é a chamada fratura de Colles no adulto com fratura da extremidade distal do rádio e do processo estilóide da ulna, com o típico desvio dorsal daquela extremidade, denominada “em garfo”.

Num desses casos, após antisepsia cuidadosa, anestesia local e tração manual, o médico fez a redução da fratura, gessando o antebraço com desvio cubital, conduta que aprendera no Pronto Socorro de BH, mas o edema do dorso da mão e dor local, após alguns dias, levou-o a encaminhar o paciente para o Ortopedista.

Outro paciente foi atendido com fratura exposta no 1/3 inferior da tíbia direita, exigindo intervenção cirúrgica de urgência, com o Anestesista da cidade vizinha.

Seguindo a conduta adotada para aquele tipo de fratura, foi feita uma janela no gesso, para futuros curativos e controle da evolução do caso e o paciente foi posteriormente encaminhado para o Hospital Felício Rocho em BH, devido ser funcionário do DER e a gravidade Um atendimento marcante foi o de um paciente que sofreu acidente com sua caminhonete, na descida da serra, sofrendo escoriações diversas e fratura de clavícula e Jansen, após reduzi-la,sob anestesia local, imobilizou com o chamado “oito gessado” e o resultado foi ótimo.

As suturas ambulatoriais eram frequentes e, na ausência do Médico, nos fins de semana a própria Enfermeira, resolvia com toda a sua competência! Outras cirurgias tipo postectomias (cirurgia para correção de fimose) sob anestesia local, punções articulares para aspiração de derrames nos joelhos e injeção de corticóide de ação lenta na articulação (Decadronal) também eram realizadas.

As cirurgias eletivas tipo Herniorrafias, eram agendadas com o Anestesista e o auxiliar, procedendo-se os procedimentos na sala cirúrgica previamente preparada. Bons e inesquecíveis tempos!

ABDOME: UMA CAIXA DE SEGREDO

Todo Médico já ouviu, com frequência, a afirmação acima, através dos seus mestres e colegas mais experientes, alertando assim, que todo cuidado é pouco quando se trata do diagnóstico de patologia abdominal!

As variações anatômicas e fatores os mais diversos explicam a dificuldade para o diagnóstico diferencial entre as inúmeras doenças abdominais.

Com relação ao chamado Abdome Agudo que é um quadro de instalação súbita de urgência ou emergência, exigindo um diagnóstico e um tratamento urgente ou emergente: se a terapêutica for clínica, dizemos tratar-se de Abdome Agudo Clínico, se for cirúrgica, falamos de Abdome Agudo Cirúrgico.

Um exemplo clássico de Abdome Agudo Clínico é a Salpingite Aguda (inflamação das tubas uterinas ou trompas de Falópio) e outro é a Pancreatite Aguda que, a princípio, é clínico e a Diverticulite Aguda. Já a apendicite aguda e a úlcera péptica perfurada fazem parte do Abdome Agudo Cirúrgico. Didaticamente, dividimos o Abdome Agudo nas seguintes Síndromes:

1-Abdome Agudo Inflamatório: salpingite aguda, pancreatite aguda, colecistite aguda (vesícula biliar), diverticulites, etc.

2-Abdome Agudo Obstrutivo: obstrução intestinal por aderências, vólvulo torção) do cólon, intussuscepção (invaginação) intestinal, hérnia, tumores.

3-Abdome Agudo Perfurativo: úlcera péptica perfurada, perfuração de divertículo de intestino grosso, etc.

4-Abdome Agudo Hemorrágico: rotura hepática, do baço, vasos, etc, geralmente por traumatismos abdominais, gravidez tubária rota, perfuração uterina, rotura uterina, doença trofoblástica gestacional, Cesarianas, etc.

5- Abdomen Agudo Misto: perfurativo e inflamatório, hemorrágico e inflamatório, etc. Assim sendo, em outros capítulos serão descritas várias situações de tema tão instigante, vivenciadas no dia a dia do jovem Médico...

DEDICATÓRIA

Desejo dedicar este livro como uma necessária e justa homenagem a todos os Profissionais da SAÚDE, que diuturnamente labutam nas suas trincheiras de tralho, muitas vezes, com um grande sacrifício pessoal e de seus familiares, no atendimento aos milhares de pacientes dos Postos de Saúde, Ambulatórios, Clínicas, Hospitais,

Consultórios, Laboratórios e Pronto Socorros, espalhados por nosso País, tendo como princípio imutável a Ética e o sentimento cristão de fraternidade e solidariedade para com o sofrimento do outro!

A MEDICINA, sobretudo, exige de todos que a abraçam a noção exata de que lidamos com VIDAS HUMANAS e jamais poderemos nos esquecer disso!

A sua mercantilização e a banalização no trato com a VIDA, deve ser denunciada e combatida com veemência por todos que ainda acreditam ser a nossa profissão uma das mais sublimes e grandiosas!- Quando a MÍDIA escancara, aos nossos olhos, o absurdo dos inúmeros casos de omissão de socorro, com pacientes morrendo nas calçadas bem em frente aos Hospitais de Pronto Atendimento, partos na rua defronte à Maternidade, recusas seguidas de atendimentos ao Plano de Saúde de paciente com intensa dor precordial, com morte no terceiro Hospital, confirmando-se o fácil diagnóstico de IAM (Infarto Agudo do Miocárdio) comprovando-se, com filmagem, o conhecimento dos casos pelos Médicos Plantonistas, chega-se, infelizmente, à conclusão, que estamos chegando ao fundo do poço!

MAIS UM CASO DE APENDICITE AGUDA COMPLICADA
COM ICTERÍCIA NO PÓS OPERATÓRIO

O paciente foi atendido apresentando o quadro clínico clássico de Apendicite Aguda: dor iniciada no epigastro, acompanhada de náuseas e vômitos, seguida de localização dolorosa na fossa ilíaca direita, parada de eliminação de gases e fezes e febre baixa 38°

À palpação abdominal, constatou-se contratura muscular da fossa ilíaca direita e ruídos hidroaéreos diminuídos à ausculta, sendo solicitados os exames de sangue e urina, confirmando-se o diagnóstico de apendicite aguda e sua indicação cirúrgica.

Na laparotomia ficou confirmado o diagnóstico, notando-se a presença de secreção purulenta na pelve que foi aspirada e drenada com dreno de Penrose exteriorizado por pequena contra abertura lateral e o apêndice colocado em formol a 10% e enviado para exame a anatomopatológico.

O pós operatório transcorria normalmente, quando surgiu uma icterícia acentu-ada, com urina escura e as fezes acólicas (brancas), fígado aumentado de tamanho e baço não palpável, sem febre e dor; os exames de sangue e urina mostraram aumento discreto das transaminases, aumento das bilirrubinas, sobretudo da direta, fosfatase alcalina e do colesterol total e aumento da urobilina. O RX simples do abdome não revelou a presença de cálculos das vias biliares e nem calcificações ou cálculos pancreáticos.

Tudo isso, acompanhado por um grande clínico de inteira confiança
de Jansen.

O diagnóstico foi de Colestase Intra hepática de causa toxi infecciosa, devido à peritonite, por apendicite aguda supurada e o tratamento clínico instituído com jejum, sorotepia e hidrocortisona venosa durante 03 dias, havendo regressão completa do quadro e alta do paciente após 08 dias.

Foi, realmente, um novo aprendizado, com final feliz!


O UTRO IDOSO COM A GANGRENA SECA NA PERNA
E PÉ DEVIDO À ARTERIOSCLEROSE

O homem vivia no Asilo São Vicente de Paulo da cidade e foi examinado pelo Médico por solicitação do Presidente da Entidade. Com 78 anos de idade, apresentava gangrena seca na perna e pé direitos estado geral razoável, sendo indicada a amputação ao nível do 1/3 inferior da coxa e solicitados os exames pré-operatórios básicos. Um detalhe frequente: fumante inveterado!

Antes da marcação do dia da cirurgia, era necessário combinarse com o Anestesista e auxiliar que viriam da cidade vizinha, o que foi feito para a semana seguinte.

Tudo preparado, foi feito o bloqueio por raquianestesia, com leve sedação do paciente pelo competente profissional. Jansen efetuou, com habilidade habitual, a amputação, tudo dentro da técnica apropriada com o devido cuidado com as ligaduras dos vasos e secção adequada do ciático para evitar o temido neuroma do coto, responsável pela chamada “dor fantasma”, em que o paciente tem a sensação dolorosa no pé que fora amputado!

O pós operatório transcorreu dentro da normalidade, com boa cicatrização da incisão feita tipo “bico de pato”. Cerca de um ano depois, este mesmo paciente apresentou gangrena no outro membro, sendo indicada e feita amputação semelhante, com o uso definitivo de cadeira de rodas, doada pelo operante ROTARY CLUBE da cidade!


SERTANEAR CÉSAR, SAUDADE E EMOÇÃO

Falar de César é sertanear: se possível fosse...
Recordar... De manhã, no quarto suspenso, situado ao leste da casa de estilo colonial, com piso de tábuas corridas, provocadoras de barulho oco, batentes de aroeira e janela ampla, cheiro de araçá, mistério, admiração ao ex seminarista. Isto, lá, pelos finais da década de 1960.

Na pequena estante, uma coleção de companheiros... Machado de Assis, Rubem Alves, Augusto dos Anjos, Clarice Lispector, Castro Alves, Érico Veríssimo, Euclides da Cunha, Fernando Sabino, Guimarães Rosa, Platão, Dostoievsky, Nietzsche... Orgasmo literário.

Diversas possibilidades, trilhas antagônicas, entre o sagrado e o profano. O novo homem simples escancara meandros largos... Quase infinitos. Quem sabe se chegará a um porto, se é que queira chegar. Inútil esperança de tia Augusta, pelo retorno do filho ao seminário.

Não se sabe quando e como, brotaram na mente fértil, tendências pecaminosas, ou, sempre existiram, influenciadas pela cotidianidade da vida no Beco de Rola? Ou as sonhadas (pelo menos) visitas na casa de Ana Torada? Nasce... Aldinha não existe... Não é triste? Arroubo de amor juvenil. No caminhar, o reencontro com amigos: Catatau, Rubem Pinto, Sebastião Nunes. O pecado mora ao lado, na rua direita e na D. Pedro II. Mal espera passar a tarde de sol escaldante no Cerrado seco, com ar rarefeito. Umidade que seca, para subir a rua e fazer o foot na Praça Benedito Valadares

Tiãozinho abre o Bocaiuva Clube: eles são brancos da sacada paqueram as moças que fingem não vê-los no contraste da vida sempre igual da cidade pequena do interior o ex seminarista nem sente o calor, o marasmo, o “Eta vida besta meu Deus“

Mas percebe a sutileza do vento, do farfalhar de folhas, das flores roxas da árvore boca de sapo, dos ipês, do correr do calango... Do sentar no coreto e ouvir histórias, de Seu Romeu a Julieta, tanto fazia. Assim, sente a poesia no/do/ar bocaiuvense... Sempre entremeada de emoções apreende e sente o cheiro, passos, fala, trejeito, calor e frio que o inspiram, Acalantam, esperanciam... Pura ternura, carisma, profundidade

Despojado, o andar de bermuda e camiseta, quase sempre suado, transformaram em Marca registrada e, às vezes, a blusa ficava jogada sobre o ombro. Nem aí para as línguas das mulheres puras

“Sequer conheço Fulana
Vejo Fulana tão curto,
Fulana jamais me vê.
Mas como eu amo Fulana”.

Momentos de revolta à ditadura... banhos na fonte luminosa durante as madrugadas, Serenatas...Vicente Celestino... Jovem Guarda... visitas ao cemitério da rua Saudade, ao som da gaita, as idas aos galinheiros das moradias de senhoras casadoiras... Passeio de ônibus, inesperado com Delourdes, só pra ver o sol nascer indagado, responde: Senti um vazio existencial após terminar Aldinha não existe

Falar de César é sertanear: assim, como autor, supervisor na área de comunicação da presidência do Banco do Brasil, viajante, tocador de gaita, jogador de futebol... Introspectivo, de possibilidades extremas, César se muda para o Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte... Anda... Anda... Casa-se com Patrícia, amor eterno e têm três filhos: Guilherme, Alessandra e Patrícia. Silencia sobre a morte da linda e amada irmã Ocarlina

Volta-se para Bocaiuva, em especial, para conviver com a mãe idosa. Após a morte da mãe volta-se para Belo Horizonte, reencontro com a turma da casa dos Contos, bairro São Bento, trabalho na correção de textos, para a alegria de muitos de lá. Família... Tristeza para os que ficam... Dor e ausência sem substituição. Injustiça sertaneja. Irreverente. Costumava indagar: O que vai fazer com esta informação?

Mói em qualquer lugar, tempo ou condição, amor eterno. Realiza múltiplas produções literárias... Consagração... O texto, a poesia... Viram cinema, matéria de rádio, televisão. Balé de sombras, pura emoção...

“De Milena, circos e sonhos”, romance transformado em teatro, enredo de carnaval. Droga de cidade Grande: a verdade triste de Cláudia ao se tornar dependente. Família que se desestrutura, dor imensurável... Sensibilidade que extravasa xixi na cama, que virou Meu nome é Joca é novela juvenil, ulterioridade reafirmada. História do menino negro José Carlos, com apelido de Xixi na cama (Joca)

História de um primeiro amor, romance lido e relido pela juventude. O destrinchar, o arrumar, o apresentar letras, palavras, frases... Tocam a alma Beto, o analbeto, em memória à mãe, Augusta, professora dedicada à alfabetização de alunos “fiz por onde driblar rondante sentimentalismo, fruto peco de saudade”

Fica claro: as línguas só devem ser empregadas para promover harmonia, cordialidade, fraternidade: Ave César. Sente revolta pelo Brasil desigual e busca equidade. Participa de diversas coletâneas: Histórias de amor infeliz, Novos contistas, I Concurso Nacional de Contos Infantis, Antologia do conto brasiliense, Contos da terra dos contos... Perco nos textos.

Falar de César é sertanear: adentrar no viver e reviver saudades. Das noites jogando buraco na sala de jantar do médico e amigo dr. Luiz. Das comemorações dos dias de pais, mães na Fazenda Tabua. Das caminhadas pelo entorno bocaiuvense, do catar pequi e murici. E, ao passar pela esquina de Gino, sentir a sua ausência na turma do Ferro Velho. Ouvir o choro de Tião Caldeira, Romero, Paulo Jacão, Dr. Lucílio...

Saudades de vê-lo sentado à porta da loja de Titi Vá. Recebê-lo para um arroz com pequi em várias ocasiões, junto ao seu irmão o escritor João Roberto Amorim. De agradecê-lo eternamente pela leitura da dissertação de Mestrado.. Dói fundo passar pela Rua Herbert de Souza, obrigatoriedade cotidiana. Apreender a casa, última morada na cidade, em 2013. A janela do escritório fechada, a falta do dicionário analógico. A garagem sem o velho Santana Quantum, o não sentar nas escadas. A interrupção das longas conversas e aprendizagens: Bocaiuva rural. Comunidades quilombolas, o nosso problema existencial não resolvido até por Sartre. A geo-história das territorialidades norte mineiras – meu porto seguro

Saudades amigo. É impossível segurar lágrimas

Difícil viver uma saudade não querida, injusta... Tiraram você de nós bocaiuvenses. Amamos você, César, por muitos e muitos outros motivos.

Em tempo: Tiquinho...pode corrigir o texto. Ali e aqui. Falar que inventei a palavra Sertanear. Inventei... mas não a saudade. Guimarães Rosa já dizia: o sertão (e o que se vive nele) são muitos. Ele está aqui e em qualquer outro lugar, até na sua casa.


ADEUS AO MESTRE

Na caserna, o clarim silenciou. Nas salas de aulas do Curso de Direito, ninguém mais ouviu aquele “boa noite” impostado como só ele sabia fazer. No plenário do júri também foi notado que algo de incomum estava acontecendo. Aquele brilhante causídico de porte elegante e ternos bem cortados estava nos deixando. Uma ausência notada por toda cidade da região.

O Cel. Georgino recebeu seu chamado, viajou deixando uma grande saudade...

Por muitos dias ficou na UTI de hospital, aonde os sinais vitais se enfraqueciam aos poucos. Eu ligava á espera de notícias de um próximo restabelecimento, visitava e conversava com minha amiga Dina, seus filhos e netos. Mas eis que um telefonema me leva a Santa Casa, agora para ver meu amigo pela última vez. Encontrei-o dormindo o sono eterno, semblante tranquilo de quem adormeceu no Senhor com a certeza do dever cumprido.

Já estava ausente da vida militar, mas sempre se perfilava ao ouvir os primeiros acordes do Hino Nacional. Como bom cavalheiro, sempre comparecia aos eventos do Batalhão, da Universidade e do Fórum. Era um vovô carinhoso e adorado pelos netos, pai amigo, esposo compreensivo e sogro que muitos gostaria de ter. É impossível discorrer sobre todas as qualidades do militar, professor e advogado Dr. Georgino.

Quando foi criado o curso de magistério no colégio Tiradentes, fui madrinha de formatura da primeira turma, cujo padrinho era o Cel. Georgino. Em seu ele falava do curso de normalista e dizia com orgulho que todos os degraus galgados em sua vida e o sucesso obtido tinham como base esse curso.

Algum tempo atrás, eu assistia a uma sessão de júri numa cidade vizinha, quando o Dr. Georgino ocupou a tribuna em defesa do réu. No seu discurso, com retórica impecável, ele dizia “vim de Montes Claros até aqui é pelo caminho avistava os ipês floridos, amarelos e dourados como o sol, numa paisagem que, se meu cliente não for absolvido, ficará por muitos anos sem poder ser por ele contemplada”. Os aplausos foram incessantes e o corpo de jurados convencido da inocência do réu, que foi absolvido por unanimidade.

Na sala do fórum eu quis também cumprimentar o brilhante advogado. Parabenizei-o e a seguir perguntei:” Doutor, o senhor tem certeza de que essa é a época da floração dos ipês?” Ele respondeu: “Madame, para ser sincero, na minha vida até aqui eu não vi sequer folhas nas árvores, muito menos flores”...

Era assim o nosso amigo Georgino. Versátil, convincente, espirituoso. Tinha um timbre de voz que certa vez chegou a abalar o antigo fórum da cidade de Porteirinha, sua fama de grande orador se estendia para além das fronteiras das Minas Gerais.


Foto Dário Cotrim

É isso aí meus amigos. Os grandes oradores estão nos deixando numa viagem sem volta. Consola-me a certeza de que um dia iremos nos encontrar e então contaremos e louvaremos ao Senhor.

Agora me resta abraçar meus amigos Dina, Jorge, Gessim, Lídia, Lúcia, Leda, Gui, Bina e Júnior, meu irmão de fé, e dizer que o Cel. Georgino, ao chegar na Pátria Celeste, pode repetir as palavras do grande apóstolo São Paulo: “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé “.


EM TEMPO DE PANDEMIA,
VAMOS FALAR DE INVEJA

Acabo de ler o excelente livro do baiano Joaci Góes, Presidente da Academia de Letras da Bahia com o título “A inveja nossa de cada dia” em que o mesmo nos traz este sentimento pecaminoso desde Moisés, passando por Napoleão, Hitler, Kennedy, John Lenon e Pelé, dentre outros. Compilação de leitura obrigatória para todo aquele que desejar entender mais um pouco deste sentimento que ao longo dos tempos vem provocando guerras, mortes e revoluções. Ele distingue com maestria muito bem, Inveja de Ambição. E nos revela que inveja é “desejar o que o outro tem” enquanto que Ambição é “lutar, estudar, pelejar e trabalhar para chegar naquele patamar de sucesso que o outro chegou”.

Capítulo de destaque do livro é aquele destinado ao Nazismo e também ao Vaticano. Pasmem! Ele estudou profundamente vários relatos do “Pecado Capital”, Inveja, no seio do Vaticano. De maneira técnica e recorrendo a várias citações o autor descreve com rara cultura todo o processo de “Inveja” que culminou com o apogeu e a queda do III Reich Alemão protagonizado por Adolph Hitler. Hitler tinha muita inveja dos comerciantes judeus que viviam em Berlim. Inveja a sua cultura, a sua riqueza e sua prosperidade. Esta inveja transmutou-se em ódio e este ódio se consubstanciou em guetos e campos de concentração. Ou seja, a inveja, mal hálito da alma (segundo Góes) é dos Pecados Capitais o mais mortal. Por inveja se deseja, se falseia e se mata.

Quem nunca sentiu schadenfreu provavelmente está mentindo, já dizia Arnaldo Chuster e Renato Trachtenber na obra “As sete invejas capitais”.

Shadenfreude, palavra alemã, representa aquela alegria inconfessável de outro se dando mal. Algo muito raro no Brasil de hoje. E principalmente na Política, ou seja, para alguns, “quando pior melhor”. Frase símbolo da INVEJA TUPINIQUIM. E não há reza forte ou mandiga, Santo Forte ou Iemanjá que impeça a inveja de atacar, porque querer o que é do outro faz parte da natureza- de macacos a bebês, relembra Góes.

Ao longo da história. Diversos personagens causaram prejuízos a oponentes que ameaçavam roubar seu status. Em um caso famoso que entrou para a galeria de lendas sobre a inveja (e que não consta no livro de Joaci Góes), o compositor italiano Antônio Salieri teria envenenado Wolfgan Amadeu Mozart, então com 36 anos. Aliás os dois são protagonistas do filme “Mozart” ganhador do Oscar. Salieri morreu de tanta inveja de Mozart.

Segundo a lenda, “ao se preocupar somente em alcançar o gênio austríaco, Saliere teria desprezado suas próprias qualidades excepcionais. Era um “virtuose da música” também. Deu azar de nascer no mesmo século de Mozart. Tal qual Neymar Júnior deu azar de nascer no mesmo século de Leonel Messi e Cristiano Ronaldo. Dizem as más línguas que Neymar Júnior morre de ciúmes de Messi pelo fato de Messi ter sido eleito por diversas vezes o melhor do mundo pela FIFA. Da mesma forma Diego Maradona morre de inveja de Pelé.

Maradona gostaria muito de ter sido Pelé. “Além de se um excelente compositor, ele havia descoberto Mozart, o que mostra uma sensibilidade aguçada. Ele também era um gênio. Tal qual Maradona e Neymar. Não precisava invejar ninguém. Bastava-se em si mesmo”.

Toda a trama e narrativa do clássico Machbet de William Sheakspeare, uma das obras que marcaram a passagem do homem medieval para o homem contemporâneo, a linha mestra também é a INVEJA. Lady Machbet chega a desafiar: “Se você não deseja o trono da Escócia não mais serás digno de mim. Não serás homem “Machbet se rende ao desejo da esposa, e ao seu próprio desejo, e ensanguenta as suas mãos. Como o Rei escocês morto em suas mãos declara: “Nem toda a água do oceano vai lavar as minhas mãos deste sangue injusto”. É a inveja produzindo ódio, morte e dor. Avassaladora como vírus Covid-19 que não perdoa ninguém: jovens, adultos, idosos, sadios e pessoas com cormobidade.

No Judaísmo, a inveja só é considerada pecado quando existe o desejo de tirar algo do outro. Quando tem o caráter de admiração, é vista como estímulo para o desenvolvimento material e espiritual. Ficou consagrada a expressão “inveja santa” ou “inveja boa”, incentivo para alcançar os objetivos de crescimento.

Concluindo este artigo em tempo de pandemia tenho inveja (no bom sentido!) do autor deste clássico: “A inveja nossa de cada dia”. Mas uma inveja sadia. Quem sabe um dia eu e mais um tanto de nós não venhamos a sistematizar e redigir como ele? Lembando que inveja difere de ambição. E que podem existir duas ambições. Uma de querer crescer e outra de querer destruir para crê.


BICENTENÁRIO DE
DR. CARLOS VERSIANI

Transcorreu no último dia 20 de dezembro de 2019 o bicentenário de nascimento do Dr. Carlos José Versiani. Há cem anos essa data foi motivo de grande comemoração em Montes Claros, com amplo apoio de cidadãos, imprensa e representantes políticos e religiosos, como expressão de “uma dívida de gratidão a que nenhum dos habitantes desta e da Comarca de Grão Mogol pode ser indiferente”, como registrou uma edição do Jornal Gazeta do Norte do ano de 1919.

No “Álbum de Montes Claros”, (REYS, Hugo Leal Netto dos., 1927), Doutor Carlos Versiani, “Primeiro médico a pisar as plagas sertanejas”, foi considerado como “um grande filantropo, que desapareceu deixando a memória dessas raras individualidades em que se esmaltam as mais preciosas virtudes” (...). “Pessoas que o conheceram contam que dificilmente o cliente conseguia pagar-lhe os serviços profissionais. Não apresentava contas, não dava preço de seu trabalho, ainda que este tivesse sido o mais intenso. Seu nome foi sufragado em


Carlos José Versiani
(1819 – 1903)

todas as eleições municipais, sendo eleito sempre vereador e presidente da Câmara e concorrendo eficazmente para a boa direção e progresso do município” (...) “Pertenceu sempre ao partido conservador, em que lutou com honra, patriotismo e moderação”.

Carlos José Versiani era filho do Capitão Pedro José Verciani e D. Angélica Cláudia Penna. Era neto de João Antônio Maria Versiani, natural de Lucca, na Itália, que no Brasil foi guarda-livros da Real Extração de Diamantes em Tijuco (atual Diamantina/MG). Nasceu na Fazenda Santo Elói, no distrito de Bonfim de Montes Claros, então Comarca do Serro Frio, hoje Bocaiúva, em 20/12/1819. Estudou no Caraça e no RJ, formando-se em Medicina, vindo a estabelecer-se em Montes Claros em 1845. Lecionou e clinicou nesta cidade durante 58 anos, onde foi Vereador de 1853 a 1868, dirigindo o município por 16 anos consecutivos. Foi Deputado Provincial (1848-49, 50-51, 52- 53 e 54-55) e Geral (1853-56 e 77), pelo Partido Conservador. Era casado com D. Gabriela Gertrudes de Oliveira Catta-Preta e faleceu a 17/04/1906, deixando sete filhos: Pedro Catta Preta Versiani; Carlos Versiani; Maria Versiani; Elisa Augusta de Oliveira Versiani; Artur Napoleão (Tatá) de Oliveira Versiani; Gabriela Carolina de Oliveira Versiani e Carlota Catta Preta Versiani.

A herma erigida em sua homenagem na praça que leva seu nome no centro de Montes Claros foi construída com a contribuição de 10 mil réis do Padre José Vieira Silva, como registram os jornais da época. Nela está gravada essa frase em latim: “Nominem ejus requiretur a generatione in generationem” (Seu nome será lembrado de geração em geração).

FAFIL - UNIMONTES:
5O ANOS DE INÍCIO DAS AULAS

Há 50 anos neste mês de março, a FAFIL dava inicio as aulas, com os cursos de GEOGRAFIA, HISTÓRIA, LETRAS e PEDAGOGIA, em salas cedidas pelo Colégio Imaculada Conceição, à avenida Cel. Prates, 276. Era o ano de 1964.

Graças ao idealismo de um grupo, o sonho tornara-se realidade. Inúmeras foram as reuniões empreendidas pela FELP-Fundação Educacional Luiz de Paula na casa de Manoel Nazareno Procópio de Moura, a rua Dom Pedro II; e de Luiz de Paula Ferreira e sua esposa Isabel Rebello de Paula, a rua Dr. Santos, com a presença ainda de M. Florinda Ramos Marques, M. Dalva Dias de Paulo, Sonia Prates G. Quadros, as irmãs Maria da Consolação Figueiredo(Mary), Maria Isabel M. Figueiredo (Baby), e Glacira G. Mendes. Excluindo Luiz de Paula Ferreira, todos os citados foram os primeiros professores, juntamente com Maria de Lourdes S. Zuba, o marista Wagner M. Ribeiro, Dr. Romildo B. Mendes, Francisco G. Souto e Antonio Francisco Oliveira. Este último como secretário-adoc, redigiu a 1ª Ata de fundação da FAFIL.


Formandos de 1967 - FAFILMoc (Foto de Valdevi)

Isabel Rebello de Paula com competência, dedicação e firmeza, foi a primeira diretora. No desempenho da função, dispensou o recebimento de honorários, assim como Manoel Nazareno que a substituiu. Raridade hoje em nossos dias. Lamentavelmente, e esquecido por muitos, Manoel Nazareno, padece inconsciente, há quase 6 anos, vitima de AVC, num leito da Santa Casa. Hamilton Souza Lopes, foi o primeiro candidato inscrito ao Vestibular.

No ano seguinte, 1965, transferimo-nos, para a antiga Escola Normal localizada a Rua Cel. Celestino,75, fundos da Igreja Matriz. Naquele ano, os alunos da Escola Normal, haviam sido removidos para a atual E. E. Prof. Plínio Ribeiro, à av. Mª Fininha, 1225. As dificuldades foram muitas, mas superadas. A biblioteca foi improvisada na Secretaria em livros doados por Isabel R. Paula e outros mestres. No primeiro ano de funcionamento a FAFIL estava sob o amparo da Fundação Luiz de Paula. No ano seguinte, 1965, com a criação da FADIR-Faculdade de Direito que passaria a funcionar no primeiFormandos ro andar do casarão, ambas passaram a integrar a FUNM-Fundação Norte Mineira de Ensino Superior, criada pela Lei Estadual nº 2.615 de 24.05.62 de autoria do ex-deputado Cícero Dumont, que foi também o paraninfo representando o ex- governador Magalhães Pinto. No inicio de 2.012, a UNIMONTES comemorou festivamente 50 anos a partir da criação da FUNM. Até hoje, o site da UNIMONTES registra erradamente, o inicio das aulas em 1963, embora há 2 anos, portando documento, tenha solicitado a correção desse erro histórico. Contudo, vale muito registrar, e comemorar para os primeiros alunos, os 50 anos do inicio das aulas em março-64, assim com faz a torcida mineira que comemora o aniversário do Estádio Mineirão, a contar de quando a bola começou a rolar em setembro-65, e não quando a Assembléia de Minas aprovou projeto de sua construção em anos passados.

Conservo até hoje, o convite de formatura, e lá está gravado também o nome das abnegadas e queridas secretárias: Adélia Miranda e Teresinha Duarte. Na foto acima em Dez/1967, na noite da diplomação das primeiras turmas, vemos parte de alunos de GEOGRAFIA: da esquerda para a direita: Regina Maria Barroca Peres, o autor destas linhas, Carmélia C. Macedo (Beli), José Omar Peres, e Carlos R. Monção. Alguns dessa turma, mais tarde se tornaram mestres da FAFIL como Regina Maria Barroca Peres, José Omar Peres, e Maria José Narciso; de outras turmas: Wanderlino Arruda e Ivone O. Silveira, num longo período de 1967 a 1990.

Montes Claros à época estava em plena ebulição comercial, industrial, social, cultural, e política. Esse período foi um dos mais ricos da história da cidade. A FAFIL veio culminar essa época de ouro. Havia ainda para alguns, o sonho de federalização: o montes-clarense Darcy Ribeiro era o Ministro da Educação, sonho abortado pela derrubada do governo Jango Goulart.

R. Shinyashil disse um dia: “Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa realizar”. Desta forma, quero homenagear, dirigentes, mestres e demais servidores dos primórdios da FAFIL, em reconhecimento pelo tanto que realizaram. Eles ousaram sonhar, e creram. Eles fizeram um caminho novo. Eles fizeram história. Graças a esses pioneiros, a busca do sonho é hoje uma realidade incontestável: a nossa querida UNIMONTES.

CABARÉ MINEIRO

Guimarães Rosa, ao imortalizar a sedutora figura de Doralda, em Dão-lalalão, novela que integra Corpo de Baile, publicado em 1956, também nos revela uma das características da cidade de Montes Claros, conhecida por ser a terra das casas de mulheres-damas. Doralda ou Suçena, “a mulher em estado de perfume”, teria sido tirada de um bordel de Montes Claros e levada como companheira por Soropita, vaqueiro valentão. Na novela rosiana e em outros livros de Guimarães Rosa, Montes Claros se imortalizaria como a terra das mulheres dadivosas.

Porém, muito antes de o criador de Diadorim escrever sobre esses sertões do Norte, terra dura e resistente, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade publicaria em seu primeiro livro, Alguma Poesia, de 1930, o poema “Cabaré mineiro”:

A dançarina espanhola de Montes Claros
dança e redança na sala mestiça
Cem olhos morenos estão despindo
seu corpo gordo picado de mosquito.
Tem um sinal de bala na coxa direita,
o riso postiço de um dente de ouro,
mas é linda, linda gorda e satisfeita.
Como rebola as nádegas amarelas!
Cem olhos brasileiros estão seguindo
o balanço doce e mole de suas tetas....

O poema drummondiano, uma décima, alterna versos de dez e doze sílabas métricas e apresenta poucas rimas consoantes, e nos últimos versos, rimas toantes, que conferem ao texto uma sonoridade monótona, sugerida também, no plano do discurso, por expressões como “linda gorda e satisfeita” e “balanço doce e mole das tetas”. Embora paire sobre a “sala mestiça” um certo ar de decadência e enfaro, há também alguma luz, ressaltada na combinação do nome da cidade e dos dentes de ouro da bailarina e em suas nádegas amarelas. Ora, o calor que se deduz retrata o ambiente quente do bordel e o calor próprio do sertão. Há sensualidade e dormência, que chega ao leitor desde o ritmo e perpassa pela alusão às nádegas, às tetas e ao qualificativo “gorda”, repetido.

O poema se inicia com a apresentação da dançarina; ela é espanhola e de Montes Claros. O caráter ambíguo dos termos nos permite inferir que a dançarina tanto pode ser natural da Espanha, como nascida em Montes Claros, mas que imitava, no gesto e nas danças, as espanholas. Ainda, se contrapormos esse verso primeiro com o último, podemos entender, em sentido erótico, que os montes claros são as duas tetas de “balanço doce e mole”. Contudo, apesar de ser vista e desejada por “cem olhos morenos”, seu corpo evidencia sinais de uma vida trágica: as picadas dos mosquitos e a marca de bala, evidenciados ainda mais pelo “riso postiço” em seu rosto.

No “Cabaré Mineiro” de Drummond, a atração é a dançarina, que, apesar de ser gorda, ter a pele marcada de picadas de mosquitos e um ferimento de bala na coxa é vista como linda. Assim, a visão, sentido que se destaca na percepção da dançarina, é um sentido falho, enganoso, que leva o leitor à sugestão de que o olho vê diferentemente do que o olho deseja. A mulher que dança incorpora uma Salomé caricatural, mas sedutora e perigosa, por isso atraente. Assim como Doralda, que leva Soropita a matar de ciúmes. Há, na prosa de Guimarães Rosa e no poema de Drummond, uma celebração dos sentidos, uma evocação dos desejos sensuais, que, além da possiblidade da satisfação da carne, permitem também a celebração do sonho.

Em 1980, essa atmosfera quente e sedutora é recriada na película “etílica-musical”, Cabaret Mineiro, tal como seu diretor, o montesclarense Carlos Alberto Prates Correia, qualificaria o filme. Estrelado pelo ator Nelson Dantas, que incorporaria o cantador Antônio Rodrigues, em suas andanças pelo interior de Minas Gerais, juntamente com o “amigo americano”, interpretado por Helber Rangel.

No filme, vemos a presença de mulheres sensuais como Salinas, interpretada pela triz Tâmara Taxman, e Avana, interpretada por Tânia Alves. O imaginário erótico, existente nos versos de Drummond e descrito de forma magistral na ficção rosiana, alinhava-se ao forte apelo musical do Norte de Minas Gerais. Os catopês e a marujada de Montes Claros, a dança do Grupo Corpo, as modas de Zezinho da Viola, os sambas de Noel Rosa, a voz e o instrumental de Tavinho Moura, atravessavam o filme, conduzindo uma história que tanto se referia às novelas de Guimarães Rosa, ao poema de Carlos Drummond de Andrade, como às memórias afetivas do filho de Montes
Claros.

Entre atores conhecidos e celebrados, Cabaret Mineiro contou com a participação dos moradores como figurantes, que nele utilizaram seu vestuário cotidiano. Foi filmado durante 12 semanas, tendo como característica não obedecer rigidamente a um roteiro, tentando atingir no instante da gravação a proposta de combinação da cultura erudita aos elementos da cultura popular e do modo de viver de uma antiga Minas Gerais. Podemos dizer que a intenção de Carlos Alberto como cineasta era similar ao feito de Rosa, como escritor, ao realizar a junção entre o erudito e o popular na linguagem de seus livros.

Dessa forma, o filme apresenta uma compilação de lembranças, sonhos, trechos do cotidiano do interior mineiro, ilustração de canções, poemas, cantos, brincadeiras, piadas e alegorias, aproximandose a um grande e heteróclito painel de sugestões cinematográficas.

Entre as cantigas populares da cidade, o cheiro do pequi amarelo e o aroma do café preto com biscoitos de toalha, o filme celebrou o sertão e a atmosfera onírica, sugestiva e dramática dos bordéis de Montes Claros, que foram famosos até o início do século XX.

No esplendor da construção da ferrovia, na década de vinte, século XX, Montes Claros contava com 10% da população composta de prostitutas.


Fotografia da Estação Ferroviária de Montes Claros, em 1926 (Foto Facella)

O filme, que se passa sugestivamente a bordo de um vagão de trem, expressa o que as ferrovias trouxeram e levaram do sertão, num sentido que incorpora a chegada da modernidade no lugar, até então considerado o ermo do mundo, e os intercâmbios culturais que tal fenômeno proporcionou. Ao compor essa mistura de música, dança,
sensualidade e violência, Carlos Alberto consegue levar para a tela uma história em que passado e presente se misturam, para celebrar um modo de viver, talvez findo.

Cabaret Mineiro arrebatou os principais prêmios do Festival de Gramado de 1981, entre eles os de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia (Murilo Salles), Melhor Ator (Nelson Dantas), Melhor trilha sonora (Tavinho Moura) e Melhor atriz coadjuvante (Tânia Alves). Ganhou ainda o prêmio de Melhor Fotografia no Festival
de Brasília.

Como lembraria o jagunço Riobaldo, em Grande sertão: veredas, “a cidade acaba com o sertão. Acaba?”. Aquele sertão a se perder de vista, para onde vinham as mulheres dadivosas a mando dos coronéis, talvez tenha acabado de vez. Sobrevivem os cheiros e batuques das festas de agosto, que arrastam anos de história. A dançarina espanhola, ou rapariga do Bonfim, ainda povoa a imaginação do povo, celebrada em todas as rodas de viola, na letra e música dos irmãos Elthomar Santoro e Ismoro Da Ponte:

Me abras la puerta la fuera
E me diz que vai embora pero non e pero sim
És indigna, marvada, infuzada
Rapariga do Bonfim
Mas se tu queres ir embora para sempre
Me mate, me mate, me mate
Porque viver sem você será um disparate.

PROFESSOR CÍCERO PEREIRA

Cícero dos Santos da Silva Pereira nasceu em São José do Gorutuba - então distrito de Grão Mogol, Minas Gerais - em 11 de novembro de 1881. Filho de Ludovica e Manoel José da Silva Pereira, pais também de Ulisses (primogênito), Ezequiel e Maria Lisbela.

Homem simples, de estatura mediana, humilde, simples, sóbrio e austero, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, poliglota e esperantista, possuidor de grande erudição e inteligência vulgar.

Desde pequeno, o menino Cícero revelou profundo interesse pelos problemas espirituais, iniciando-se aos 13 anos no estudo da Doutrina Espírita, sob a orientação segura de Antônio Loureiro, grande expositor espírita que conhecera em Montes Claros/MG, e do qual se tornou amigo e admirador. Espírito evoluído, inteligência lúcida e trabalhador incansável, fez de sua vida um evangelho de amor, no exercício da fraternidade e no cultivo da Doutrina de Kardec a que se dedicou com total zelo.

Fez o curso primário na escola pública de São José do Gorutuba, transferindo-se em 1894 para Montes Claros, a fim de cursar a Escola Normal daquela cidade, estabelecimento no qual, na condição de professor recém-formado, iniciou-se no magistério, chegando a ocupar, por indiscutível mérito, o cargo de diretor. Foi nessa Escola que conheceu aquela que viria a ser a companheira devotada de sua vida: Guiomar Léllis, sua aluna.

Casaram-se em 5 de março de 1903, em Riacho do Mato, município de Porteirinha, onde ambos foram professores. Dessa união não houve filhos biológicos, mas adotaram o menino Ruy Sócrates Loureiro, que se formou em Direito. Imenso é o número de filhos espirituais que o casal foi gerando por toda a vida, além dos sobrinhos Antônio dos Santos, José, Joffre e Geraldo Léllis, acolhidos amorosamente em seu lar.

Na cidade de Grão Mogol, para onde regressou em 1909, exerceu o magistério e foi prefeito, coletor estadual e colaborador assíduo do jornal local. Ali, levantou a bandeira do Espiritismo, conseguindo reunir elevado número de adeptos, mercê de sua simpatia, cultura e talento de grande orador.

Em vista disso, a perseguição religiosa se fez sentir sobre ele durante os quase dez anos que ali permaneceu. Como cristão autêntico, suportou todas as agressões recebidas com a maior serenidade e tolerância, amparado pelos amigos espirituais que sempre o assistiram.

Removido em 1920 para Montes Claros, assumiu a gerência do Banco da Lavoura e, junto com colegas de magistério, reorganizou a antiga Escola Normal, da qual foi eleito diretor, assumindo também a atividade docente que ali desenvolvera anos seguidos. Foi escolhido para ocupar a cadeira número 27 da Academia Montesclarense de Letras. Em homenagem póstuma, seu nome foi dado a uma rua no
bairro dos Santos Reis, por força do decreto municipal número 778 (de 31 de julho de 1967).

Mudou-se para Belo Horizonte em 1927, como funcionário da matriz do Banco da Lavoura, e dedicou-se ao magistério público - função em que se aposentou. Fundou o jornal O Tempo, ao qual deu sua melhor colaboração. Tornou-se um dos primeiros sócios da União Espírita Mineira, à época sob a direção do amigo Antônio Lima, ocupando o cargo de 1º Tesoureiro. Cultor do Esperanto, foi grande propagandista
da língua criada por Zamenhof.

Em março de 1935, Cícero Pereira fez ressurgir o jornal da UEM, figurando seu nome como redator-secretário, no Ano I da Segunda Época e, no Ano II, como regente de O Espírita Mineiro. O número 5 deste Jornal registra a doação de quatro mil réis, feita por Cícero Pereira, para ajudar na aquisição da antiga sede da UEM, na Rua Curitiba, 626.

Como prefeito de Grão Mogol no biênio 1935-1936, deixou a marca de sua capacidade administrativa. Foi eleito Presidente da União Espírita Mineira em 1936, terminando o mandato em 1940. Assumiu, então, o cargo de Vice-Presidente, que ocupou até pouco antes da desencarnação.

Seu nome está indissoluvelmente ligado a várias instituições do nosso Estado, entre as quais o Grupo Espírita Paz e Caridade; o Grupo Espírita dos Trabalhadores Humildes; o Grupo Espírita Perseverança; o Abrigo Jesus – que ajudou a fundar com Leonardo Baumgratz, Alencar Braga, Osório de Moraes, César Burnier Pessoa de Melo, Rodrigo Agnelo Antunes, Francisco Cândido Xavier, Salvador Schembri, Rubens Romanelli, Oscar Santos e outros; a Casa Transitória - que fundou com Maria de Lourdes Carvalho -, entidade inspiradora de obras similares em Brasília e São Paulo; o Centro Espírita Amigos na Dor, em Boa Esperança; e o Grupo das Samaritanas, que mantém a Creche Vovó Guiomar em funcionamento no local onde
residiam o Prof. Cícero Pereira e sua esposa Guiomar Léllis Pereira, na rua Bonfim, 360, em Belo Horizonte.

Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier), era tido como um filho querido do Prof. Cícero Pereira. Disse o querido Chico: “Achava-me me grandes dificuldades no desdobramento de minhas atividades mediúnicas, após a publicação do Parnaso de Além-Túmulo, em 1932, e precisava ouvir um companheiro que me auxiliasse nos esclarecimentos de que necessitava. Nosso caro Professor, não só me recebeu com imensa bondade, como também me franqueou a própria moradia, onde, por muitas vezes, tive o privilégio de ouvi-lo, tanto quanto à sua querida esposa D. Guiomar, sobre os mais variados problemas da vida, com o que ambos me fortaleceram a fé no estímulo ao trabalho de que foram exemplos vivos em nosso mundo.”

Assim era esse homem bom chamado Cícero Pereira ou, simplesmente, Professor Cícero, que desencarnou em 4 de novembro de 1948, pouco antes de completar 67 anos de idade. O abnegado Professor jamais se recusou a atender qualquer chamado para um passe a um necessitado. Sua palavra mansa, doce, amorosa era remédio infalível para os doentes do corpo ou da alma. Sua autoridade apostólica era irresistível e seus passos deixaram rastros de luz.


JAMAIS SERÃO ESQUECIDOS

Prefaciar um livro é como abrir uma porta e convidar o leitor a adentrar em um mundo encantado. No caso do mais recente livro do escritor Dario Teixeira Cotrim, o mundo em que vamos entrar é duas vezes encantado. O autor conseguiu juntar duas formas de arte excelentes em si mesmas: a Literatura e o Cinema, não por acaso, chamado de Sétima Arte. Em prosa leve e estilo informal, o escritor nos leva de volta às matinês e soirées dos Cinemas de Montes Claros, nos áureos tempos da nossa juventude.

Da Árvore dos Enforcados a Madame X; de E o Vento Levou... a Uma Linda Mulher, iluminados por um Candelabro Italiano ou sob as Luzes da Ribalta, somos inundados pela magia e experimentamos as mais diversas sensações.

Embora um único filme possa nos causar vários tipos de emoções conforme a história se desenrola, o autor, tal qual um “lanterninha” nos conduz pelas diversas obras, ressaltando o medo, a angústia, a alegria, a felicidade, a esperança ou a frustração que cada gênero nos evoca.

À emoção de apresentar aos leitores as crônicas cinematográficas de Cotrim, junta-se a minha emoção pessoal, filho que sou dos cinemas montes-clarenses pois foi, o final dos anos trinta que meu pai, convidado a instalar a sonorização das nossas salas, até então mudas, conheceu a cachaça da região, se encantou por uma moça da terra e aqui se casou e formou a sua família, num Love Story de final feliz.

Então, prezados leitores, que se apaguem as luzes e sejam todos bem-vindos ao mundo mágico do cinema!


Cena do filme “E o vento levou” (internet)


JAIR RUAS, JOÃO MARQUES
E TONE DE ZENGLA

Alô, Jair Ruas de Lourdinha! Alô João Marques de Stefânia! Alô Tone de “Zengla” de Leila! Atenção leitores! “Zengla” não é a outra não, é o apelido; creio ser derivado do nome da mãe ou do pai. Não sei. Tá meio explicado, mas vamos ao assunto.

Como estão os meus amigos de longas datas? Estão enfrentando bem essa quarentena chinesa, que já virou sessentena ou até mais? Estão recolhidos, como determinam as cartilhas e os ditames legais? Conhecem a velha máxima: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”?

Então, meus amigos, tomem os cuidados necessários, vi no celular que estão prendendo e até agredindo pessoas, principalmente os velhos, que nem nós, que insistem no Direito Constitucional de ir e vir. Direito que nos parece não valer mais.

Eu estou aqui. Firme! - Firme igual prego em angu! Diria o gaiato do Jair Ruas, seguido de sua estridente e afinada gargalhada.

Estamos Presos! Presos não. Presos sim, mas com liberdade transitória, sem “tornozeleira eletrônica”, como os corruptos, é verdade, mas com a coleira da família que mede os nossos passos. Podemos até dar uma escapulida, mas, para isso, precisamos nos disfarçar que nem os bandidos dos filmes “bang-bang” de outrora, ou melhor, do nosso tempo. Lembram? Todos mascarados. Todavia, mascaravam com o próprio lenço, que portavam no pescoço, entretanto, hoje, as máscaras tem que ser especiais. E, ai de quem não usar. Feitas as considerações, vamos aos fatos que nos levaram a escrevê-los.

Não sei se já perceberam, mas penso que o lado de lá deve ser muito bom, melhor que o lado de cá, penso eu. Jair Ruas diria novamente: - “To fora! Lá vem você com suas filosofias baratas.”.

Mas é fato. Vou citar desorganizadamente alguns nomes e depois concluo: Elias Xavier, Hernane Vilas boas, Nelson Vilas boas, César Meira, Edmur Xavier, Renê Xavier, Juventino Campos, Ari de Campos, Bolivar Andrade, Maninho de seu Bebé, e recentemente Antônio Augusto. Destes, somente Bolivar Andrade e Maninho não
eram amigos comuns a nós, mas meus. É claro que tem muitos outros, como: Zé de Arlete, Zé Ratinho, Ildeu Despachante, Tone Pidoca, esses, porém, eram amigos de “Pelada”, tanto na Lagoinha quanto no Batalhão. Todos eles já passaram para o lado de lá, e nenhum veio reclamar, ou nos dizer como é lá.

É como se dissessem: - “Sei lá!”

Eu me preocupo com eles, por isso, sempre os coloco em minhas orações, seja em casa, na igreja, ou em qualquer lugar, e também na terra santa dos que já foram. Nesta, costumo me postar ao pé do Cruzeiro, colocando em meditação e contemplação os nossos convívios passados, revivendo no pensamento os comportamentos, as alegrias, as dificuldades e principalmente os exemplos legados de cada um deles.

Fico cá pensando... O que é que eles estão aprontando lá em cima? Nós os conhecemos na vida terrena, sabemos bem como era o comportamento de cada um deles. Uns mais comedidos outros mais afoitos.

Elias, o mestre em organização, nada econômico; Hernane, o garboso garanhão, falante como um advogado; Nelson, cirurgicamente comedido nos atos e nas palavras; César, reservado como todo contador; Edmur, quase taciturno, moderado até no sorriso; Renê, um mestre conselheiro da arte filosófica; Juventino, moralista até nas afeições, semblante altivo, sorriso curto; Ari, o azar vira festa, tudo acaba
em samba e alegria – levanta, sacode a poeira e dá volta por cima; Bolivar, a solução de todos os problemas - qual é mesmo o seu problema? Sempre na ponta da língua; Maninho, desde criança, o mais esperto, o garoto brincalhão; Antônio Augusto, conselheiro cativante, fala mansa, equilibrado, a empatia em pessoa. E os da “Pelada”? Zé de Arlete, o rei das artimanhas e das brincadeiras; Zé Ratinho, esse deve estar jogando pelada até agora; Ildeu Despachante, concentrado, mas retraído; finalmente Tone Pidoca, um grandalhão, forte e corredor.

Ressaltamos, ainda, que, todos eles, eram homens de boas índoles, reputações ilibadas e exemplares pais de família. Quanto a se bons ou maus esposos, é salutar que deixemos as ponderações aos próprios cônjuges.

É...! Meus amigos, Jair, João Marques e Tone de Zengla, ao que parece, daquela turma sobraram nós. Dos peladeiros ainda restam outros. Quer queira, quer não, o cerco está fechando, os janeiros passando, e não tem essa de que sou o mais novo que serei o último, não. O tempo de Deus é diferente do nosso. Então, meus amigos, vamos viver a vida tal como ela se nos apresenta. Enquanto não é chegada a hora, nada de viver em pânico, nada de temer a morte. Nossos amigos são pacientes, e nos aguardam do lado de lá. Mas, não agora, como no final do filme O Gladiador: “But not yet!” Paz e bem.


Da esquerda para a direita: Assentados: Antonio Augusto Mota, Nelson Vilasboas e o
filho Heitor, Edmur Xavier, Sandoval Nobre, João Marques, Jarbas Oliveira, Antônio
de Zengla, Elias Xavier, Dário, Juventino Campos; Agachados: Zito - cunhado de
Nelson, Hernane Vilasboas, Jair Ruas e Ari de Campos.


INTERTV 40 ANOS

Neste setentrião mineiro com fronteiras abertas, a história da televisão está intimamente ligada à maçonaria, especialmente a Loja Maçônica “Deus e Liberdade”. Desde o nascimento da emissora TV Montes Claros, ocasião que muitos montes-clarenses se equiparam com uma antena capaz de receber transmissões do Canal 04, ilustres fundadores são lembrados na imprensa.

Em 1969 e meados dos 70, era a emissora TV Itacolomy (“sempre na liderança”) – tinha a imagem chuviscada e fugaz – direto de Belo Horizonte.

Nessa época o Sr. Edes Barbosa era o nome mais falado em Montes Claros pelo seu dinamismo na gestão da transmissão de imagens devido sua raça nas montagens das torres - uma delas no topo da Serra Geral (estrada Juramento/Itacambira) que era operada pelo Sr. Gilson Caldeira, ex- vereador de Juramento. As histórias dos projetos e da logística de implantação nesta época já foram contadas pelo Sr. Edes Barbosa. As emoções de assistir as novelas “Selva de Pedras” (preto e branco), e da primeira a cores “O bem amado”, são inesquecíveis.

Porém, tem uma parte da história que poucas pessoas de Montes Claros e do Norte de Minas sabem!

Foi á participação incisiva da maçonaria nos processos que viabilizou a criação da TV Montes Claros.

Em 1978, já na efetivação da emissora – depois de muitas tentativas e projetos, os primeiros sinais de televisão começam a aprimorar. Em setenta e oito eu trabalhava “temporariamente” na Alfaiataria Montes Claros situada na Rua Simeão Ribeiro nº 200 pertencente aos irmãos Sr. João Xavier e Terezino Xavier; neste local era o “meeting point” dos maçons de Montes Claros. Além de ser funcionário da alfaiataria, era também, o “Office boy” da Loja maçônica “Deus e Liberdade” sob o comando do Sr. Terezino Xavier. Era este escriba que entregava as confecções da alfaiataria e as correspondências da Loja.’. Maçônica.’ endereçadas ao Grupo Bandeirante. Este “Office boy” às vezes tinha que ir três vezes aos Correios para verificar se tinha correspondências na caixa postal para Elias Siufi ou Toninho Rebello oriundas do Grupo Bandeirante.

Muito curioso (na condição de *goteira) ficava ouvindo e lendo o que falavam e escreviam os maçons no meu local de trabalho. Foi aí que percebi a força e a participação da maçonaria na criação da emissora de TV em Montes Claros.

O grupo empresário era totalmente maçom – a troca de correspondências com Grupo bandeirantes do empresário JANUÁRIO LAURINDO CARNEIRO era diária. Aquelas a serem expedidas eram lacradas ali mesmo no balcão - as destinadas a Loja.’. Maç.’. e / ou ao grupo de empresários eram abertas aos olhos deste * “goteira”.

Outro empresário que muito intermediou a criação da geradora de TV foi o Sr. ALOYSIO DE ANDRADE FARIA – foram muitas correspondências endereçadas a ele – inclusive o Dr. Aloysio Faria é parente de Dona Jacy Ribeiro, viúva do Mario Ribeiro (ex-prefeito) e do Ênio Pacifico Faria Dr. Aloysio Faria sempre foi um grande apoiador do Hospital Universitário Clemente de Faria.

As conversas entre os maçons acerca da implantação da geradora de TV me deixava feliz pelo fato da minha terra ganhar um canal de TV. – -Foi uma glória!

O primeiro maçom a ter esta visão de captação de imagens de TV ITACOLOMY foi o maçom Ir.’. Waldemar Heyden, e, logo foi formado o grupo de visionários com outros maçons, entre eles: Antonio Lafetá Rebelo – Geraldo Novais – José Rego – José Gomes de Oliveira – Antônio Cassimiro – Diógenes Guimarães e outros.

Quatro anos depois do decreto de outorga o grupo liderado por Elias Siufi - Antonio Lafetá Rebello – Ewany Borges – Geraldo Borges, juntamente com os profanos (não maçons) João Bosco Martins e o José Correia Machado – lembramos ainda do Valdeir Correia – Edson Santos - Sr. João Simões e o dono da Radioluz (que não me lembro do nome) INAUGURAVAM oficialmente a Televisão em Montes Claros. - Estes benfeitores citados foram responsáveis pelas primeiras imagens de TV em nossa terra chamada Montes Claros, eles fundaram a TV Montes Claros / TV Grande Minas hoje INTERTV Grande Minas.

Para construir o prédio da emissora e a torre de transmissão, o prefeito Toninho Rebello e o Elias Siufi escolheram uma área o alto da Colina de Dona Germana (Morrinhos) – ocasião que fez um acordo de desapropriação com os moradores, o Sr. Cizinho Cruz (pai do Edyone Cruz lutador das artes marciais, mais conhecido como
“torresmo”); o outro morador era o mais famoso das “Muchachas”, o Sr. Manoel Nunes da Silva, o sempre conhecido por “Manoel Quatrocentos” (“namorado” da Maria Tostão). Foram indenizados – Sr. Cizinho foi para Rua Melo Viana e Manoel Quatrocentos para o bairro Montes Carmelo. – Manoel Quatrocentos nos deixou em 1988.

Deixaram saudades os programas: “Debate no Quatro” - “Dois Pontos” do Elias Siufi – Theodomiro Paulino com “Caderno de Notícias” - o programa da Marina Queiroz, “Tarde Mulher” – Alfeu Soares (esportes) – Artur Leite – Rosangela Silveira, Eduardo Brasil e muitos outros. No início a produção era extremamente modesta, a maior parte era lida pelo jornalista em frente às câmeras. Hoje a tecnologia traz mais recursos de leituras (Teleprompter) e imagens de qualidades impressionantes.

Atualmente a InterTV é gerida pela holding Caraíva Participações Ltda., de propriedade do empresário Fernando Aboudib Camargo do Estado do Rio de janeiro.

Orgulho-me de ter feito parte da história como o “Office boy” dos maçons fundadores, além, de ter sido personagem de várias matérias jornalística abordando o Meio Ambiente e os Recursos Hídricos do Norte de Minas.

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“Goteira”, gíria maçônica: Significa pessoa que fica escutando conversa de maçom.
14/IX/2020
EM TEMPO: o Dr. ALOYSIO DE ANDRADE FARIA faleceu dois dias após a sua citação neste artigo; em 16/09/2020.
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BARONÍZIA SANTANA GONÇALVES

Devo estas páginas à caridade da eminente espírita, serva do Senhor que encontra-se no mundo espiritual, ao qual sinto ligado por um sentimento de gratidão que pressinto se estendendo além da vida presente.

Não fora a amorosa solicitude dessa iluminada representante Espiritual da Doutrina dos Espíritos (código divino) que promoveu, na página fulgurante deixada na terra sobre Ciência, Filosofia e Religião, acudir ao apelo de todo coração sincero e que recorri ao seu auxílio com o intuito de progredir, acudir às necessidades urgentes do trabalho, socorrido e reparador.

Refiro-me aqui a abnegada servidora do bem desencarnada em 25 de setembro de 2003, emissária da providência no plano espiritual a saudosa Baronizia Lungas Gonçalves, Lungas nome atribuído à convivência com tribo indígena Tupinambás, a grande Apóstola no Brasil do Espiritismo, tão admirada pelos adeptos da magna Filosofia e da Religião, e a quem tenho os melhores motivos para atribuir às intuições advindas para a compilação e redação do presente exemplar.

Durante anos tive a felicidade de sentir a atenção da tão nobre espírita, (reforma de mim mesmo) piedosamente voltada para mim, inspirando-me um dia, aconselhando-me em outro, enxugando-me as lágrimas nos momentos decisivos em que renúncia se impusera com resgates indispensáveis ao levantamento de minha consciência, engolfada ainda no opróbrio das conseqüências de uma reação em causa da existência presente.

E durante anos convivi, por assim dizer, com essa irmã venerável, ilustre confreira, (convidado à prática do Evangelho) cujas lições que habita minha alma de consolações e esperanças, cujos conselhos procurei sempre pôr em prática, e que hoje como nunca, quando a existência já declina para o seu acaso, fala-me mais ternamente ainda, no segredo do recinto humílimo onde estas linhas são escritas!

Destaquei pela assiduidade e simpatia com que sempre me honrou, e, principalmente, pelo nome glorioso que agora aqui deixo registrado, pois se trata de uma divulgação doutrinária Espiritual (as vozes amigas do céu provinda do espaço, amáveis mensageiros, instrutores e intermediários celestes) fecunda e talentosa, senhora abnegada.

Até hoje de mim mesmo índigo a razão por que me distinguiria com tanta afeição se, obscura, trazendo bagagem intelectual vivida, somente possuía para oferecer ao seu peregrino saber, como instrumentação, o coração respeitoso e a firmeza na aceitação do Evangelho, porquanto, por aquele tempo, nem mesmo a cultura doutrinária eficiente eu possuía!

E posso mesmo dizer que foi graças a esse convívio com a Doutrina Espírita (código divino) que me advêm às únicas horas de felicidade e alegria que desfruto neste mundo, com a resistência para o testemunho que fui chamado a apresentar à frente da grande Lei que tem caráter divino e não transitória, o princípio dos deveres para com Deus.

Até o momento em que estas linhas vão sendo traçadas, e de dar-me ainda os testemunhos que mais tarde provarei, talvez não faça a tempo as renúncias indispensáveis ao verdadeiro intercâmbio com o Além ou a insuficiência dos meus cabedais intelectuais não permite facilidade às nobres entidades assistentes faz-se transmitidas à coletividade, mas mesmo assim, como um iniciante escritor, sobra capacidade, por mim mesmo, tentar a experiência recebendo instruções a fim de prosseguir, pois ser-me-a concedido à necessária assistência! Sendo assim uma vibração do pensamento capaz de manter, pela ação da vontade, o que desejar!

O Espiritismo tem amplamente tratado de todos esses interessantes casos para que não se torne causa de admiração o que esta sendo exposto; e certamente muito conhecido dos estudantes da doutrina explicada e abrilhantada à luz do Espiritismo.

Patenteado fica ao meu raciocínio as bagagens de me colocar em plano equivalente aos missionários escolhidos por Nosso Mestre Jesus Cristo. Vendo-me ao “status” do idoso, sabendo que não terei nenhum arrebatamento e nem irei subir em uma nave de fogo, como Elias no deserto, vou me preparando espiritualmente para o retorno de onde vim, não sei aonde, se morte definitiva e absoluta, ou para uma invernada em outras paragens, na busca de melhora e evolução do espírito. Registro neste momento minhas convicções.


Antônio Carlos Pereira, Irmã Diretora
Sra Dionízia Santos Gonçalves e o representante
espiritual Pe. Henrique


Baronízia Santana Gonçalves (Dionízia)

Baronizia Lungas Gonçalves, pioneira memorável, Fundadora e Presidenta do Centro União e Fé, em 28 de agosto de 1922, conforme Certificado expedido pelo Registro Geral das Sociedades Espíritas instituído na Federação Espírita Brasileira, emitido em 20 de Julho de 1927, no seu art. 6º do Regulamento de 25/03/1925, por determinação dos arts. 38, § 22, e 42 § de seus Estatutos, com sede em Cachoeira Estado da Bahia, tendo satisfeito às exigências do art. 3º do citado Regulamento, se acha inscrito, sob o nº de ordem 182 naquele Registro, deferido que foi pela Diretoria da Federação, em 19/07/1927, o seu requerimento de inscrição. Assim sendo, passouse-lhe o presente Certificado, pelo qual a Federação reconhece estar o dito Centro no gozo dos direitos definidos nos arts. 7º, 8º, e 9º, do mesmo Regulamento.

Na Cidade de Montes Claros fundou e presidiu Centro Espírita Apóstolo João Batista em 24 de Junho de 1949, com as atividades iniciadas na própria residência da confreira, na Rua Coronel Joaquim Costa, 1093.

Em suas palavras a irmã presidenta dizia: como fundadora de mais de 37 Centros Espíritas, reconhecidos e de utilidade pública, com a finalidade do estudo teórico, experimental e prático do espiritismo, para nos ensinar o Santo Evangelho no estudo de todas as verdades ou norma perfeita de vida.

Como espírita convicto, fui chamado a ocupar o cargo de 1º Secretário da Diretoria na Entidade Espírita. Participei das reuniões até o desencarne da Saudosa Diretora Baronizia Lungas Gonçalves, as atividades foram encerradas e a Entidade extinta.


Landulfo Santana Prado Filho
Irmão Remido.


O “FURACÃO” WANDERLINO

Assim foi descrito o nosso confrade do Instituto Histórico e Geográfico, professor Wanderlino Arruda, pelo ex-prefeito de Montes Claros, Athos Avelino Pereira, em solenidade oficial de que os dois participavam.

Por que furacão?

Ao pé da letra, diríamos que o nosso personagem, pela simples presença entre nós, é capaz de provocar desarranjos fenomenais, alterando a ordem natural das coisas, tal como nos acostumamos a entendê-las. Em linguagem figurada, confirma-se o entendimento original, ao perceber que a universalidade de seus conhecimentos, a inquietude e a versatilidade, tudo acondicionado com embalagens de empatia, pode gerar instabilidade ocasional em nossas acomodações.

Comecei a conhecer Wanderlino nos “bancos” da pioneira FAFIL, quando fazíamos o curso de Letras, ele um ano à minha frente. Sempre alegre e jovial, foi o que me bastou para aprender a admirá-lo e respeitá-lo. O exercício de outras profissões, além do magistério, hibernou o nosso relacionamento durante um bom tempo.

Aí aparece o Instituto Histórico, para nos reunir sob o mesmo teto e com os mesmos anseios de preservação da memória de Montes Claros. Estava, portanto, consolidada a nossa amizade e fraternal consideração. Temos repetido, em algumas oportunidades, que não vale a pena ficar discutindo com Wanderlino, nos raros momentos de calmaria que com ele desfrutamos. Melhor é aproveitar o tempo para ouvi-lo, em vez de querer impor os nossos improváveis questionamentos. Pois bem, diante de tal premissa, vamos ouvir Wanderlino, nesta mais recente obra de sua criação literária, a que denomina “Montes-claridades”, um compêndio de reflexões, sempre bem humoradas, sobre entidades, pessoas, fatos e quejandos de nossa cidade.

Tive o privilégio de haurir, em primeira mão, as presentes “bem -aventuranças” literárias do autor, que nos evocam a memória de consagrados cronistas de Montes Claros, tais como Nélson Viana, Luiz de Paula e João Vale Maurício, para falar apenas dos mais antigos. Pois Wanderlino ombreia com eles, na criteriosa escolha dos temas, na leveza do texto e, sobretudo, na sutileza de detalhes que conduzem
ao epílogo bem arranjado nos escaninhos da felicidade. Com ele, as palavras já saltam sorrindo, para construir uma ficção à sua imagem e semelhança. Não existe mau humor e pessimismo em suas obras. E, nesse contexto, quem sai ganhando é o leitor. Felizes somos nós, os premiados com a leitura sempre edificante dos escritos de Wanderlino Arruda.


SOBREVIVÊNCIA E FÉ

Sobrevivência e Fé, eis o título deste mais recente livro do escritor José Ferreira da Silva, ilustre membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Pela ordem natural das coisas, poderia ser “Fé e Sobrevivência”, pois o que se revela na trama é a conquista do direito à vida, como consequência de uma profissão de fé capaz de desafiar e “remover montanhas”. Mas, no presente caso, o autor-personagem optou pela melhor sonoridade da expressão, sem descurar da importância das palavras, para marcar a sua própria existência na face da terra.

Conforme o leitor poderá intuir, o menino Zé Ferreira tinha tudo para não dar certo na vida, face às precárias condições em que nasceu e se criou, despossuído dos mais elementares recursos materiais e sanitários de sobrevivência, somente superados pelo exemplo de trabalho de seus genitores, alicerçado pela fé inquebrantável de sua mãe Maria de Jesus. Por isso mesmo ele cresceu forte e hábil, merecendo até a alcunha de Pelé, lembrando a figura do eterno “rei do futebol”. Pelé de Galdino, para não omitir o nome de seu honrado pai.

Raro é encontrar-se uma autobiografia em que os atos e fatos, em sua maioria, aparecem narrados por outros personagens. Pois o professor José Ferreira assim o conseguiu, mercê de sua ampla rede de amizades tecida ao longo de seus setenta anos de sobrevivência e fé. Aí estão os depoimentos de seus colegas de infância, nas perigosas aventuras do Rio Mosquito ou nas renhidas “peladas” com bexiga de boi; não faltam os testemunhos eloquentes de seus companheiros de futebol, nos jogos, realizados pelo seu querido Guarani de Porteirinha; presentes também as narrativas sobre sua escalada profissional, através do estudo e do trabalho, culminando pelo exercício do magistério na rede estadual de ensino; e, para coroar a sua produtiva carreira, uma aposentadoria pródiga em atividades sociais e beneficentes, desenvolvidas graciosamente, sobretudo através das pastorais da sua igreja católica.

Não para por aí esta obra, construída com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, onde o professor Ferreira “assina o ponto” diariamente. O livro é um vasto repositório de fotografias, que bem consagram seu carisma para conquistar e conservar amizades. Vá o leitor seu amigo se procurar na galeria e certamente se encontrará. Mas vá com calma, pois o livro não foi escrito para ser esgotado em uma simples leitura, mas para ser pesquisado, sempre que alguma fase da vida do autor for relembrada.


A CAPELA QUE IA VIRAR CADEIA AFUNDOU

“Se existir castigo, aquilo foi castigo de Deus.”

Assim como o sr. José Gonçalves Santos, “Paulistinha”, 35 anos, autor desta afirmativa, pensam muitas pessoas que residem em São Pedro das Garças, município de Montes Claros, quando se referem à antiga igrejinha de quase 80 anos, que afundou cerca de 80 centímetros dentro da terra, quando estava pronta para ser utilizada como cadeia.

Quem sabe contar muito bem toda a história é dona Cândida Rocha, 72 anos, que nasceu em São Pedro das Garças, presenciando, portanto, o desenrolar dos fatos. “Quando nasci” – disse ela – “em 1902 já existia naquele local uma igrejinha feita de enchimento” (barro batido sobre varas). “Fui batizada nela. Em 1912, ela desabou, mas foi reconstruída à base de adobe” (tijolo seco ao sol e empregado cru).

Aproximadamente em 1916, fizeram uma nova igreja em outro local, sendo que a primeira ficou abandonada. Com o passar dos anos, o prédio da nova igreja foi ficando em condições precárias, até que uma terceira surgiu, próxima ao prédio da segunda. Esta última que foi construída é a igreja que hoje pode ser vista no centro de São Pedro das Garças, um dos mais bonitos e sólidos prédios daquela comuna.

Em 1971, assumiu a Prefeitura Municipal de Montes Claros o sr. Pedro Santos. Procurando prestar uma ajuda a São Pedro das Garças, que não fosse muito dispendiosa para os cofres da Municipalidade, o novo administrador mandou que o prédio da antiga igrejinha, abandonado há 55 anos, fosse totalmente reformado para que funcionasse nele um posto policial e também cadeia. Assim foi feito. Os funcionários começaram a trabalhar, supervisionados provavelmente pelo sr. Joaquim Sarmento, “Quincas”, proprietário de um boteco naquele distrito.

Finalmente os serviços ficaram prontos. “Aí aconteceu. Quando a cadeia já estava pronta para ser utilizada, ocorreu o afundamento de aproximadamente 80 centímetros, além de rachaduras em algumas partes e paredes que caíram. Bem que eu estava achando que o prédio estava bonito demais para ser cadeia” – concluiu dona Cândida.

Castigo mesmo ou fenômeno natural? A maioria prefere ficar com a primeira hipótese. Inclusive, lendas acerca do caso já começam a aparecer. Contam que quando o primeiro preso – que não chegou a existir – deu entrada no posto policial, o prédio afundou e as paredes se racharam, dando passagem para que ele fugisse.

“Paulistinha”, que já cantou diversas vezes no programa “Sertão da Cidade”, da “Rádio Sociedade”, em dupla com “Sorriso”, acredita piamente em castigo do céu: “ – Olha, moço, aquilo de construir uma cadeia ali simplesmente foi uma afronta a um local sagrado, onde repousam hoje muitas pessoas bondosas. O castigo foi merecido.”

A srta. Miriam Gomes, residente em Capitão Enéas, onde é chefe do Cartório, não toma partido de A ou B, mas acha muito estranho um prédio totalmente reformado, inclusive em seus alicerces, afundar assim, sem mais nem menos. E a sra. Conceição Oliva, 34 anos, filha de dona Cândida, presta mais alguns esclarecimentos:

“ – São Pedro das Garças surgiu em redor dessa igreja. No local onde ela se encontra, que já foi cenário de belíssimas festas de São Pedro, encontram-se enterrados muitos corpos.”

O afundamento de cerca de 80 centímetros se verificou apenas do lado esquerdo da capela, deixando-a inclinada. Quem a vê se lembra da torre inclinada de Pisa, na Itália. Os mais esclarecidos já a batizaram o prédio: “a Pisa brasileira”.

São Pedro das Garças fica distante cerca de 80 quilômetros da sede do município, Montes Claros. Diariamente há ônibus de Montes Claros para lá, às 13,30 horas, e de lá para cá, às 7,50 horas. A passagem custa Cr$ 5,35.

Naquela comunidade, a iluminação é gerada por motor a óleo. A CEMIG, em Capitão Enéas, está anunciando para breve a extensão de seu campo de atuação até lá. As ruas não possuem calçamento de espécie nenhuma, e os passeios também não existem.

Não há nada para a população divertir-se. Apenas, de ano em ano, são realizadas as tradicionais festas de São Pedro, que são muito bonitas e contam com a presença de pessoas de toda a região. Antigamente essas festas eram sempre prestigiadas pelo povo de Capitão Enéas. Aquela é uma região essencialmente agropecuária, possuindo
uma das melhores terras do País. As fazendas são imensas e têm uma paisagem deslumbrante, como em poucos outros lugares do Norte de Minas Gerais. Os fazendeiros, em sua maioria, residem em Montes Claros.

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Nota 1. Primeira reportagem escrita pelo autor como jornalista e publicada originariamente no jornal “Diário de Montes Claros”, de Montes Claros, em 16 de maio de 1974.
Nota 2. Publicada também na segunda edição do livro “Montes Claros, sua História, sua Gente, seus Costumes”, de Hermes de Paula, segunda edição, 1979, volume 2, na “Antologia Montesclarense”, pág. 262, com o título “Pisa Sertaneja”.
Nota 3. A torre inclinada de Pisa é um campanário da catedral italiana de Pisa. Originariamente projetada para ficar na vertical, começou a inclinar-se para sudeste após iniciadas as obras, em 1173, o que se deu devido a uma fundação mal construída e a um solo mal consolidado. Ela se inclina atualmente para sudoeste. Do solo ao topo, tem 55,86 metros do lado mais baixo e 56,70 metros na parte mais alta. Sua inclinação atual é de aproximadamente 3,99 graus.
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ÉRAMOS NOVE, AGORA SOMOS OITO

A vida humana não passa de um sopro. A vida terrena é apenas uma passagem: depois de nós virão outros. As pessoas passam, mas as lembranças e saudades permanecerão. Para as moléstias do corpo há vários remédios; para as moléstias da alma, só há um: a saudade. O homem foi feito do “pó da terra” acrescido do sopro divino, ou alma, que dá vida; sendo descrito por alguns como o hálito vivo de Deus a diferenciar o homem dos outros animais, tornando-a ligada ao Criador.

Cessando a vida, o Ser Humano retorna à origem, ao pó, o seu espírito vai ao Criador porque é imperecível. Portanto, saudamos a morte que nos leva à casa do Pai. Na terra, muitos são os caminhos a trilhar, e muitas as formas de caminhar, mas devemos cultuar a inteligência com o valor supremo, mesmo com sacrifício, ou a necessidade de aplainar caminhos em terrenos pedregosos e, as vezes, arenosos.


Manoel Messias e seus irmãos

Se isso ocorrer vamos adubá-los com flores de prosperidade, com jeito simples, mas rico de amor à causa, porque Deus está em nosso meio. A sua presença tira-nos de todo o medo, incerteza, dureza de coração, que acaso venhamos sentir.

Diz a primeira estrofe de um conhecido hino religioso: “É no campo da vida que se esconde um tesouro, vale mais do que ouro, mais que a prata que brilha; é presente de Deus, é o céu já aqui; o amor mora ali e se chama família”

Portanto, não nos esqueçamos que a família nos mostra o que é certo, indica os melhores caminhos e nos proporciona um amor verdadeiro. Uma família em harmonia, que cultua o amor, permanece unida ad eternum. Assim é, e será, a “Família Oliveira”.

Meus irmãos! Meus parentes em todos os graus! Meus amigos! Nós da “Família Oliveira” aprendemos a conviver unidos, como nossos pais e avós no respeito mútuo; herdamos os seus traços e atitudes. A dor provocada pela ausência de Gileno, nosso primogênito, deve ser substituída por um novo modo de sentimento, o que devemos visar para ele é a paz eterna. Dom da vitória! Devemos passar do material para as memórias, e tornar todas as lembranças verdadeiras; não instaurar em nós um cenário de incertezas e dúvidas. Nós confiamos em Deus não apenas nisto ou naquilo, e sim em tudo.

Resta-nos a eterna saudade. O nosso irmão Gileno, chamado carinhosamente de “Gila”, aqui presente em espírito e na foto, deixou um oceano de amigos e admiradores conquistado ao longo da sua vida terrena, com robusta estrutura.

Pai Clemente! Olha para o nosso coração saudoso que sente a dor da perda física do nosso ente querido. Meus Irmãos! A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cantem, chorem, dancem, riam e vivam intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine. Na Terra, somos chamados às hipocrisias que nos
garantem um lugar na sociedade somente para recebermos os elogios que vêm dos homens. Ao contrário, Deus não nos chama à impureza, mas à santidade; pois, suprema, é a vontade divina.

Recebemos a notícia da partida do nosso irmão Gileno, para a eternidade com resignação. Passou para o mundo espiritual no dia 19 do mês 9, às 9 horas da noite, por ter terminado sua caminhada aqui na Terra, onde esteve por 78 anos, 4 meses e 2 dias, vividos com dedicação, deixando-nos bom exemplo de conduta no convívio fraterno no seio familiar e na sociedade. Ele foi um autêntico líder, honesto, formador de opinião e de invejável formação moral; víamos nele o exemplo a ser seguido. Não era daqueles que vendia a sua dignidade. Temos certeza do seu acolhimento pelos anjos, que o levaram á Santíssima Presença do Criador, e que foi acolhido com um festim na eternidade.

A morte é uma caminhada de volta para Deus, nosso Pai. Ela é incontestável, não há “ser” vivo que possa fugir. Ela não é privilégio, porque deixar de viver é somente o cumprimento de uma Lei Natural. Ela não é o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra. Com a morte o homem acaba, e a alma começa. Portanto, resta-nos a eterna saudade. Não podemos viver do passado, nem viver saudosos dos temos idos, sem a resignação.

Por inúmeros gestos de amor e de aprendizados devemos nos esforçar para conservar a unidade de espírito pelo vínculo da paz com Gileno, que soube viver de maneira simples e humilde, trilhando pelo caminho da retidão, e que na advocacia criminal fez uma carreira tão bonita como o pôr-do-sol. Ele tinha um coração que não cabia no peito, coração manso, sem prepotência. Vivia rodeado de amigos, e deles recebeu muitos incentivos salvadores, em momentos de desânimo.

Oremos, pois, por ele. A oração é um clamor que nasce da nossa pobreza, é um ato de verdade e de fé. Oh, Senhor! A morte não é o nosso fim... Em Vós ela é renascimento, é plenitude, é paz. Nós que ficamos neste torrão, vamos manter acesa em nosso coração a chama do amor distanciando das trevas do egoísmo e da indiferença, para iluminar outros corações. Sejamos exemplo de virtude neste chão enganador e corrupto, a fim de tornar este mundo mais humano e mais feliz. Pai Onipotente, Deus da Vida, a terra inteira deseja a salvação. Livrai-nos do medo. Onde impera a coragem não há espaço para o temor e, então, somos libertos para sermos a expressão da alegria da salvação anunciada por Jesus.

Isso é o que pedimos por meio de nossas orações silenciosas. Nossa mente está sempre ocupada com um fluxo incessante de pensamentos, por isso, o silêncio é um bem precioso, que nos faz entrar em contato com nosso eu mais profundo, onde habita o Criador do Universo.


PEDIDO DE CASAMENTO

Meu pai, Alcides Alves da Cruz, é de Januária. Antônio Alves da Cruz, meu avô paterno, tinha fazenda na região da Serra das Araras e era pernambucano, casado com Idalece Alves da Cruz, que o abandonou, levando os dois filhos, Alcides e Ismar, para largá-los num orfanato em Belo Horizonte. Quando Antônio, já com outra família, soube do fato e foi buscá-los, Ismar, o mais novo, não o reconheceu. Carregou-os para sua fazenda, onde foram maltratados pela madrasta. Meu pai nunca falou do abandono da mãe, mas falava do sofrimento de dormir numa rede de embira, num depósito de rapadura cheio de morcegos. Os dois irmãos estudaram como internos no afamado Colégio São João de Januária, dirigido por padres.

Aos 15 anos, Alcides vendeu sua bicicleta e foi morar em Montes Claros. Trabalhava numa fábrica de tecidos, fazia o curso técnico de contabilidade e jogava futebol na posição de centroavante, fazendo incríveis gols de cabeça.

Milena, a minha mãe, moça inteligente e bonita, morena clara de cabelos lisos pretos e olhos azuis acinzentados terminava o curso científico em 1952 e quis estudar medicina em Belo Horizonte, mas seu pai, Petronilho Narciso, não permitiu. Logo depois, Alcides, 21, e Milena 18 anos, se conheceram e namoraram.

Carlinhos, tio de Milena, tomou conhecimento do meu pai no Cassimiro de Abreu, o time que ele jogava, e foi quem o apresentou a Petronilho. Pai pediu para que não fosse mencionado o futebol, uma atividade mal vista na época, mas meu avô, ao vê-lo, falou: Alcides, aquele que fez todos os gols do Cassimiro!

Logo desejaram ficar noivos, então, Alcides entregou a Petronilho uma carta vinda de Januária. Transcrevo-a com as características originais, como também a resposta. Não entendi o cumprimento do meu avô Antônio, abreviado, mas acho que deva ser amigo. Copio como está nos velhos papéis, nos quais procurava gato e achei coelho: cartas perdidas no tempo. Senti-me invadindo a privacidade dos meus avôs, homens circunspectos, na faixa dos 40 anos, resolvendo o destino dos seus filhos. Quem estava em Januária escreveu no topo Montes Claros e quem estava em Montes Claros escreveu no topo Januária.

Montes Claros, 30 de dezembro de 1952
Prezado amigo Petronilho
Saudações cordiais

Embora não tenha tido a satisfação de conhecê-lo pessoalmente, já fui certificado pelo meu filho Alcides ser o senhor uma pessoa honesta, criteriosa, e dotado de grande prestígio no meio social montes-clarense. Esta minha carta tem como única finalidade a qual em seguida passarei a expor-lhe: venho informá-lo do desejo do meu filho se casar com sua filha; tendo eu a esclarecer-lhe que não obstante não conhecê-la, estou de pleno acordo, mesmo baseado nas considerações do Alcides.


Noivos felizes

Agora mesmo acabo de entrar em acordo com ele, para que ele
venha tomar a direção dos meus negócios no fim de 1953, ocasião em
que concluirá o seu Curso de Contabilidade. Nesta ocasião, segundo os
planos por mim e por ele elaborados poderão se casar e nesta oportunidade
procurarão por certo prosperar. De antemão, comunico-lhe ser meu filho
pessoa de bons costumes e bons princípios. Sem mais e na expectativa de
que tudo saia a seu inteiro contento, firmo-me,

Atenciosamente seu amigo Antônio Alves da Cruz

Resposta de Petronilho Narciso:
Antônio Alves da Cruz
Januária - Minas, 31/12/52

Acuso recebimento da sua carta datada de ontem por intermédio do Alcides. Agradeço penhorado em tudo nela expresso, prometendo ao prezado amigo, oportunamente, voltar ao assunto que julgo ser de máxima importância e responsabilidade. Aproveitando o ensejo lhe envio os meus melhores votos de feliz ano novo extensivos a todos da sua excelentíssima família, o mesmo fazendo-lhe minha esposa e filhos.

Cordialmente, Petronilho Narciso

O pai da noiva não deu o consentimento, mas, no dia 12 de dezembro de 1953, aconteceu o casamento dos meus pais, durando 31 anos. Desta união e vivência infelizes, sem amor e marcada opressão do meu pai, nasceram Helder, Mara, Hebert (natimorto) e Carla. Quando éramos meninos, Alcides foi bom, dando o que pôde dar.
Milena, pioneira, tardiamente concretizou seu sonho, se tornando médica em 1974, aos 40 anos.

Enfim, um pedido, uma não resposta, um casamento triste e algumas coisas boas.


MONTES-CLARIDADES
DE WANDERLINO ARRUDA

Lazer disfarçado em tarefa é ler e fazer a apresentação do 18º livro de Wanderlino Arruda. Ainda que nascido em São João do Paraíso, em quatro de setembro de 1934, é o montes-clarense mais autêntico que existe por aqui. Veio estudar em Montes Claros em 1951, coisa que fez com afinco, mergulhando nos livros e no trabalho, crescendo e acompanhando Montes Claros se desenvolver. Testemunha ocular, por paixão e profissão, já que trabalhou como repórter no Jornal de Montes Claros, esteve em importantes acontecimentos históricos da cidade.

Montes-claridades é um passeio pelas pessoas, ruas e entidades montes-clarenses, numa caminhada entusiasmada de alguém presente em muitos dos fatos citados, ao mesmo tempo vivendo o acontecimento e reportando-o para a imortalidade. São crônicas escritas em tempos diversos, e que se consegue imaginar quando foi, pelo fato narrado e pelos personagens, vivos e mortos.

O tema “nome de ruas” é recorrente na obra, e, quando menos se espera, vem um detalhe pitoresco e pura surpresa. A Rua Dr. Santos, que homenageia o médico Antônio Teixeira de Carvalho, conhecido como Doutor Santos, era o caminho do menino Wanderlino Arruda. Passava indo e vindo, seja como comerciário, seja como trabalhador da notícia, ou morador de uma pensão naquela rua, e depois do Hotel São José, sendo capaz de, fotograficamente, desenhar com palavras cada edificação, detalhando os personagens dentro dela.

O Mercado Central, ser inanimado, ganha vida, cheiros e balbúrdia, nas lentes amorosas de Wanderlino Arruda, que lhe vê grandioso, bem construído, cheio de atrativos, ainda que consistisse num ambiente infecto, verdade relativamente ocultada, já que o amor tende a minimizar qualquer falta de qualidade.

A energia, vitalidade e jovialidade de Wanderlino Arruda sabese de onde vêm, da sua literatura e vice-versa. Um alimenta o outro de forma siamesa. Ainda que o toco que ficava em frente à sua casa tenha ganhado ares de protagonista vivente, seu entusiasmo é grande quando fala das pessoas que admira. Há um crescendo no encontrar as palavras exatas, chegando-se ao apogeu de materialização corporal
e psicológica, através da sua fácil adjetivação. Os colegas do Colégio Diocesano, alguns compenetrados com os estudos, outros não, a solenidade no trato com os mestres, pessoas austeras, distantes, exceto monsenhor Gustavo, um doce de pessoa, estão lá, nos escaninhos da saudade.

O Clube Minas Gerais ganha destaque em sua memória, por ser próximo ao local onde o menino Wanderlino Arruda fora morar quando aqui chegou. O lugar luxuoso, cheio de glamour, mistérios, música, jogo, mulheres e frequentado pelos homens de dinheiro, atiçava a imaginação e curiosidade do recém chegado, logo transferido para um endereço distante geograficamente do ambiente de pecado, mas não afetivamente.

Quando o personagem é grande, fica exuberante na argúcia do escritor, que visita o passado sem melancolia. Passam por Montes-claridades vultos que construíram a cidade, como Cícero Pereira, Nathércio França, Yvonne Silveira, Konstantin Christoff, Luiz de Paula, Hermes de Paula, Darcy Ribeiro, Dulce Sarmento, João Carlos Sobreira, Simeão Ribeiro, Godofredo Guedes, e outros, bastante elogiados.

Entidades circulam em suas páginas como Rotary, Loja Maçônica Deus e Liberdade, Catedral, Banco do Brasil, Fafil, Academia Montes-clarense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, todas elas pululando vida e saúde. Original em várias passagens e genial no nome, Montes-claridades são, na verdade, vários partos, porque conta o nascimento de inúmeras instituições, numa narrativa vibrante, quase romântica, típica dos jovens que nunca envelhecem, como é o caso de Wanderlino Arruda. Não só deu a luz em suas páginas, mostrando a criação dos nomes citados e outros mais, como também, iluminando o horizonte, para que sigam os caminhos de “o estudo é a luz da vida”. Estudar iluminou a vida desse paraisense,
que, generosamente, distribui história e amor em seu novo livro.



AUGUSTA RIBEIRO DRUMOND

Quando chegamos a Bocaiuva para lecionar Português no Colégio Normal Oficial, atualmente denominado Escola Estadual Professor Gastão Valle, encontramos alguma dificuldade. Havíamos saído da Faculdade de Letras da UFMG, em Belo Horizonte e tínhamos um método novo para o ensino da língua, mas nem todos foram receptivos a isto.

Entretanto, para nossa alegria, deparamo-nos com uma professora bastante entusiasmada, interessada em renovação, que logo se juntou a nós, num gesto simpático, solidário, ávido de por em prática novos conhecimentos didáticos: D. Augusta.

Sua bagagem pedagógica, sua simplicidade, sua dedicação nos conquistaram e foi muito proveitoso o tempo em que trabalhamos juntas, num esforço comum de oferecer aos nossos alunos novos horizontes do saber.

Augusta Ribeiro Drumond nasceu em Bocaiuva aos 09/11/1913, filha de Pedro Ribeiro da Silva e Ocarlina Ribeiro Drumond.

Foram seus irmãos:

Esmeraldo Ribeiro Drumond, que se casou com Maria Olinda Versiani;
Alencar Ribeiro Drumond, solteiro;
Antônio Ribeiro Drumond, casado com Jovinha;
Maria Drumond de Souza (Mariinha), esposa de Mário Coutinho de Souza;
Hilda Ribeiro Drumond Lages, que se casou com Mário Lages;
Neusa Ribeiro Drumond Leles, casada com Dionísio Leles;
Arabela Ribeiro Drumond Fernandes, esposa de Walter Fernandes;
Gerolisa Ribeiro Drumond Froes, casada com Irineu Froes.

Augusta viveu uma infância feliz, em Bocaiuva, com seus pais e irmãos. Gostava de brincar de roda, contar histórias, pular corda, roubar bandeira, morto-vivo, adivinhações, declamar poesias, passear nos arredores da cidade com suas amigas, fazer piquenique no pontilhão da recém-construída ferrovia que passava por aqui em direção a Montes Claros.

Enfim, sua infância foi povoada daquelas brincadeiras divertidas e amenas, costumeiras entre as crianças de outrora e que as de hoje não conhecem.

Em idade escolar, iniciou seus estudos no Grupo Escolar Coronel Fulgêncio, que, nos dias de hoje, se denomina Escola Estadual Genesco Augusto Caldeira Brant. Terminando a primeira fase dos estudos, foi para Montes Claros, estudando em regime de internato, no Colégio Imaculado Coração de Maria.

Na adolescência, quando vinha nas férias, gostava de passear, ler poesias, cantar, ouvir serestas e também namorar.

Formou-se normalista em 1935 e foi designada para trabalhar na Fazenda do Sítio, em Engenheiro Dolabela, passando, posteriormente, para a escola de Granjas Reunidas, que era um povoado próximo a Engenheiro Dolabela. O trabalho que executou nas duas comunidades foi reconhecido e elogiado.

Casou-se com Sérvulo Pereira de Amorim, que trabalhava no almoxarifado da Usina Malvina, de Engenheiro Dolabela.

O casal teve três filhos: Antônio César Drumond Amorim, que se casou com Patrícia Lanari Drumond; João Roberto Drumond Amorim, casado com Maria Zita Afonso Drumond e Ocarlina Drumond Patrus Ananias (falecida), casada com Márcio José Patrus Ananias.

Vale enfatizar aqui que seus filhos, seguindo as suas pegadas, se tornaram ilustres escritores. Antônio César foi várias vezes premiado pelas suas obras literárias e João Roberto, historiador e sociólogo, enriquece o acervo de Bocaiuva com suas obras de cunho histórico, geográfico e social e tivemos o privilégio de tê-lo como nosso colega no quadro docente da Escola.

O reconhecimento da dedicação de Augusta ao seu mister viria logo. Designada para saudar o político da região, Dr. José Maria de Alkmin, em uma visita á comunidade, ela o fez com tanta competência, que o então deputado solicitou ao secretário da Prefeitura de Bocaiuva, Sr. Romeu Barcelos Costa, que providenciasse a sua transferência para a sede do município.

Assim, ela foi trabalhar onde fez seus primeiros estudos: Grupo Escolar Coronel Fulgêncio.

Foi um período muito especial para ela. Fez amizades e trabalhou em conjunto com as professoras Marocas, Nair, Dila, Maroquinha, Lourdes Alves, Lourdes Araújo, Lídia Castro, Maria do Rosário Dornas Valle e a diretora, D. Zinha Meira.

Seu trabalho foi reconhecido com uma homenagem por ocasião das comemorações dos 75 anos da Escola.

Na fundação do Ginásio Senhor do Bonfim, atual Colégio Servelino Ribeiro, foi convidada para preparar alunos do curso de admissão. Também ministrou aulas de Português no mesmo estabelecimento de ensino.

Aqui também ela foi homenageada pelo seu trabalho, feito com dedicação e carinho.

Trabalhou por muito tempo como professora de Português no Colégio Normal Oficial, diga-se Escola Estadual Professor Gastão Valle.

Augusta sempre primou, não só no ensino da língua materna, mas também na formação moral de seus alunos.

Foi redatora do jornal “A Pena”, que circulou por muito tempo na cidade. Quando ficou viúva, criou seus filhos com o amor e a “garra” que lhe eram peculiares.

Ao aposentar-se, dedicou-se à arte musical e à pintura. Fez aulas de violão e aprendeu a pintar, preferindo focalizar em seus quadros algum recanto da Bocaiuva antiga.

A parte religiosa não ficou esquecida. De boa formação católica, ela participava de movimentos pastorais da Paróquia do Senhor do Bonfim, desde a época do Padre Siardo até o tempo de Padre Geraldo Majela de Castro que, posteriormente se sagrou bispo e arcebispo da Arquidiocese de Montes Claros.

Nessa época, ela se tornou amiga da família do pároco, de D. Ana, mãe do padre e fez, como se costuma dizer, a honra da casa, ajudando bastante na instalação da família na cidade.


Sérvulo Pereira de Amorim

Aos noventa e dois anos, D. Augusta faleceu no dia 28 de outubro de 2006.

Sua passagem pela vida, pelo mundo, no aconchego da família, no ambiente escolar e religioso marcou profundamente todos aqueles que, de alguma maneira, conviveram com ela.

As marcas que pessoas como D. Augusta deixam no cenário em que viveram não morrem com elas. Ficam para sempre no coração das pessoas que a conheceram e que ficaram para se lembrarem dela.

Existe uma frase cujo autor não nos ocorre, mas que, mesmo assim, podemos citar porque já pertence ao domínio público. A frase diz: “O homem é eterno quando seu trabalho permanece”. Parafraseando, podemos dizer também que “a mulher é eterna quando seu trabalho permanece”.

Augusta é eterna. Eterna no coração de sua família, eterna na saudade dos colegas que lhe sobreviveram, eterna na lembrança, que deve ficar para a posteridade, de uma professora que ajudou a tecer a história de Bocaiuva.


DIOMEDES, “MEU TIPO INESQUECÍVEL”

Há alguns anos, a Revista Seleções publicava periodicamente um texto com o título: “Meu tipo inesquecível.” Hoje, quando se falta tanto em pandemia, em cloroquina e em outros medicamentos, veio-me à memória a figura de uma pessoa que povoou a minha infância e da qual nunca me esqueci. Trata-se de Diomedes Valadares, que todos do meu tempo conheceram lá em São Romão, minha terra.

Ele era filho do lendário e importante figura, o Major Saint-Clair Valadares, que era farmacêutico, e morrendo, deixou de herança para seu filho Diomedes, sua farmácia. Ele era apenas um prático, que aprendeu com seu pai a fazer poções que curavam todas as doenças. Mas era o único médico que havia na cidade, e que atendia todos os chamados, acudindo prontamente e na maioria das vezes gratuitamente a quem precisasse.

Lembro-me perfeitamente das minhas doenças infantis, e principalmente da malária que conhecíamos como impaludismo e que todos os anos deixavam-nos todos de cama com os terríveis calafrios, que não havia cobertor que resolvesse, seguido de febre alta. Isto porque o Rio São Francisco enchia no tempo das chuvas e alagava tudo, chegando mesmo até à rua da nossa casa, próxima do rio. Todos que moravam ali, mudavam-se para a parte mais alta da cidade, com medo da enchente. Quando o rio descia para o seu leito natural, ficava uma vazante cheia de lama e aí os terríveis mosquitos Aedes aegypti, que chamávamos de muriçocas, aproveitavam e lá vinha o impaludismo. Quando eu e meus irmãos apresentávamos os primeiros sintomas, meu pai ia atrás do Diomedes e ele nos examinando a olho nu, apalpava nosso pulso, olhava-nos com ar sério e dizia para meu pai: “É impaludismo!”. Minha mãe levantava as mãos para o céu e dizia: “Graças a Deus!”. O impaludismo já era uma doença comum e o medo é que fosse outra doença mais grave. Naquele tempo não haviam os testes e nem laboratórios lá em São Romão. O diagnóstico era feito no olho mesmo. E lá vinha o tratamento.

Aí começava o nosso martírio: a injeção de Impaludam- uma injeção de cor azul que o Diomedes já trazia pronta numa seringa enorme. Resolvia o problema da malária, mas poucos dias depois lá vinha o abcesso nas nádegas, causado pela injeção. Tanto que a marca registrada das pessoas de São Romão do meu tempo é uma depressão nas nádegas, causada pelo tal abcesso.

Além disto, tomávamos durante muitos dias a cloroquina, tão badalada hoje, que chegava a doer nos ouvidos e que nos deixava pálidos depois da doença. Quando eu estudava fora e que chegava de férias, era a primeira visita que vinha me ver e me abraçar, quando ficava horas conversando com meu pai nas cadeiras colocadas na calçada, um hábito daquele tempo.

Lembro-me que escrevi uma crônica para ele, no extinto Jornal “O Sertão” jornal de São Romão, que reproduzo aqui:

“Caro Dió:
Pego hoje o papel para rabiscar alguma coisa e lembro-me de você. Pelo tempo em que não nos encontramos, pela minha longa ausência, talvez você pense que eu seja uma ingrata, que me esqueci de você. Puro engano! Talvez a covardia, o medo, o desejo de iludir-me tenham me impedido até agora de deslocar-me daqui para ir ver você. Quanto já desejei fazer isso, só Deus sabe. Como me lembro de você, sempre solícito, atento, o grande médico de todos, pobres e ricos, do centro ou da periferia, recém-nascidos, crianças, senhoras e idosos, sempre com seus apetrechos na mão, andando rápido na rua a atender os vários chamados, sempre gratuitamente. Quantas vezes, incontáveis vezes, você entrou em minha casa, fosse dia ou noite, a qualquer hora, com qualquer tempo: por vezes, pela febre insistente do terrível impaludismo que nos mantinha presos à cama com arrepios cronometrados; e você aparecia com a injeção de Impaludam, azulzinha a nos meter medo; outras vezes pelas enxaquecas de minha mãe e por último pelas crises do meu pai. Você era aquele médico amigo, que atendia a qualquer hora, figura hoje inexistente.

Nos meus dias de infância, quando fazia comidinhas no fundo do quintal; na juventude quando eu retornava à casa para as merecidas férias e mesmo já madura a visitar meu pai, sempre seu vulto inconfundível se fazia presente: antes, lépido, ágil, rápido; depois, mais cansado, a arrastar os chinelos, cabelos embranquecidos pelo tempo, mas sempre a mesma doação, o mesmo amor.

Quisera poder retribuir ao menos uma gotinha do grande mar de bondade que você sempre derramou, mas nem sempre podemos fazer aquilo que sonhamos, levados pelo grande torvelinho da vida que se encarrega de nos jogar pra longe daqueles a quem a gente quer bem.

Querido Dió, padrinho Diomedes, amigo, irmão: você é um grande homem, daqueles de quem a gente conta histórias para os filhos, daqueles que ficam inseridos na história de uma comunidade. Você merece o reconhecimento de todos, uma coroa de louvor, um lugar de herói.

Não pense que me esqueci de você, meu velho amigo: estou me enchendo de coragem para ir ver você e dizer-lhe como sinto saudades daqueles papos nas rodadas de cadeiras nas calçadas, ora de sua casa, ora da minha; dizer-lhe como o admiro por tudo o que você é e foi. Aproveitar mais uma vez a sua lição de vida, grande professor que você é. Desculpeme, mas não poderia mandar-lhe uma carta que só você iria ler. Esta carta aberta é o meu preito de gratidão, um mínimo que posso fazer além de rezar por você, diante do tanto que você merece. Um abração saudoso.

A)Glorinha.

Diomedes Araújo Valadares, de família tradicional, mas que viveu de forma anônima e que foi o “anjo da guarda” das famílias de São Romão, teve as pernas amputadas por complicações do diabetes e muito sofreu nos seus últimos dias.

Tenho certeza que sua bondade, sua ajuda caridosa a todos e sua humildade sempre serão lembradas por todos que conviveram com ele.

Por isto mesmo, é ele “O meu tipo inesquecível.”


ENTREVISTA COM A MINHA MÃE

D. Alzira, com seus bem vividos 101 anos, foi testemunha valiosa da história de Montes Claros. Conviveu diretamente com importantes personagens da primeira metade do século passado, exemplos D. Tiburtina e dr. João Alves. E com uma grande vantagem: como criança e adolescente, era isenta qualquer censura. Para ela, as pessoas e os fatos tinham valor de realidade.

Quem era Dona Tiburtina? Dona Tiburtina de Andrade Alves era sobrinha do meu avó materno Moisés Domingos de Andrade, portanto minha prima. Casada com Dr. João José Alves, médico e político. Quando criança convivi muito com ela, eu e minhas primas brincávamos no grande quintal de sua casa. Dona Tiburtina era uma
pessoa acolhedora e bondosa. Sua casa estava sempre cheia de pessoas, promovia saraus (as crianças não participavam, ficavam brincando no quintal) onde recebia a sociedade de Montes Claros e eram servidos chá e café acompanhados de quitandas. Tenho uma grande lembrança do gramofone que me encantava e que se parecia com uma flor. Era uma esposa que estava sempre ao lado do seu marido, ajudava-o na sua profissão: visitava os doentes em suas casas, ajudava na Santa Casa, distribuía remédios e ajudava a fazer partos. Acompanhava o marido na política e lutava muito quando a oposição os ofendia.

E o Dr. João Alves? Seu consultório ficava ao lado do casarão, hoje Automóvel Clube. Eu, minha mãe e meus parentes mais próximos consultávamos em sua casa. Não o chamávamos de doutor e sim de João José. Era uma pessoa boníssima, não cobrava a consulta dos parentes. Era um chefe político e sempre ganhou a política enquanto viveu. O Dr. João Alves era opositor ao candidato a presidente da República Júlio Prestes e eu me lembro de um verso que meu tio Carlos Câmara fez: Julinho não vem, / Na terra do leite grosso / Porque Dr. João Alves / É um colosso.

No dia 6 de fevereiro de 1930, que ficou conhecido como Atentado em Montes Claros, eu não estava na casa no momento, porém a minha mãe Maria Augusta estava presente e nos contou o seguinte: Veio do Rio de Janeiro a caravana de Melo Viana ( Vice-presidente da República), oposição a Dr. João Alves. Desceram na Estação Ferroviária e entraram na praça da residência de Dr. João Alves. Naquela hora havia um sarau na casa e esta estava cheia de pessoas. Dr. João Alves chegou à janela e fez uma referência para a caravana que passava e nesse momento uma bomba foi atirada (não se sabe quem atirou) e atingiu Dr. João Alves, que caiu vomitando sangue. Segundo as palavras do jagunço Totonho: “Quando vi meu padrinho vomitando sangue, eu atirei e assim começou o tiroteio”. Morreram cinco pessoas e quatorze ficaram feridas. A partir desse dia ele nunca mais teve boa saúde, deu um problema na perna e foi tratar em Belo Horizonte. As notícias vinham por telegrama e essas diziam que ele piorava a cada dia.

Quando estava prestes a morrer, a oposição organizou uma festa para ser feita no dia de sua morte com muito foguete, muita comida e bebida. Quando chegou o telegrama anunciando a morte de Dr. João Alves, a oposição começou a comemorar, porém a mãe de um dos opositores morreu e assim tiveram que encerrar a festa.

Após a morte de Dr. João Alves, Dona Tiburtina se recolheu, acabaram-se os saraus, as reuniões políticas.

Você conheceu os jagunços? Conheci os três que faziam a guarda de Dr. João Alves: Exupério Ferrador, Totonho e Zé Lu. Geralmente eles ficavam no quintal embaixo das árvores e sempre armados. Após o atentado, Exupério Ferrador colocou uma pensão na Rua João Souto para atender soldados. Um dia quando eu estava na Escola, minha Tia Doninha foi me buscar, muito apreensiva, pois o Totonho tinha sido assassinado no mercado e esse fato poderia acarretar um novo massacre. Quanto ao Zé Lu, não sei o que aconteceu com ele.

E os Bate-paus? Eram homens que substituíam a polícia na falta dela, vestiam farda e ficavam armados e vigiavam as entradas da cidade. Só entrava alguém após revista. Meu esposo, antes do nosso casamento, foi um deles.

Como eram os hábitos familiares? As famílias se encontravam à noite. Os homens conversavam sobre política, negócios. As esposas se assentavam à porta da rua para trocar experiências domésticas (receitas, bordados, educação dos filhos) e as crianças ficavam brincando de roda, pique, cabra cega, tudo à luz da lua, não havia energia elétrica. Quando um pouco mais velha ia passear na Rua Quinze e na Praça da Estação. Após meu casamento, já aqui em Francisco Sá, fazia a mesma coisa com meus filhos, algum tempo com a luz da lua e a partir de 1949 com a luz elétrica. Em Montes Claros, a luz era muito fraca, o gerador ficava no local onde hoje está erguida a Igreja do Rosário. Não havia água encanada, toda casa tinha cisterna.

Em Francisco Sá a energia era gerada por uma usina movida à lenha. A energia elétrica chegou no dia 26 de julho de 1949. A água em Francisco Sá chegava às casas através de uma bica que vinha do rio e ficava onde hoje é o Clube Social. O prefeito Feliciano Oliveira construiu a caixa d’água e fez a canalização e os moradores fizeram as redes até suas casas.

As Escolas? Entrei para a escola aos sete anos de idade, no Brejo das Almas. O Grupo Escolar ficava na Rua Sete de Setembro, e era bem pequeno, tinha só quatro salas. As professoras eram Maria Luísa Araújo (Tia Mariquinha) Maria Augusta Dias, Maria de Jesus, que formaram em Diamantina. Vieram de Montes Claros: Raimundo
Ataíde, Maria José de Moura (D. Menininha). Após a morte de minha mãe, mudei para Montes Claros e estudei na Escola Normal. Os professores eram Cândida Câmara (Doninha), D. Taúde, Dulce Sarmento, João Neto. Meu avó materno Moisés, que além de Agente do Correio, foi professor. Havia muitos castigos: aluno ficava de pé em frente para a classe, batia com régua de madeira, usava a palmatória e puxava as orelhas, na escola primária.

A Santa Casa foi construída no mesmo local onde se encontra hoje. Era muito pequena, eu e minha família frequentávamos a missa na sua capela e também aos domingos fazíamos visitas aos doentes.

Possuía uma enfermaria feminina e outra masculina e alguns quartos para quem podia pagar e alguns quartos para confinamentos. O meu bisavô Justino Câmara doou o terreno para a construção e outras pessoas ajudaram na construção. Médicos de que me lembro: Dr. Marciano e Dr. João Alves e como já disse D. Tiburtina ajudava muito a cuidar dos doentes internados.

Lembra dos primeiros automóveis em Montes Claros e Francisco Sá? Em Montes Claros havia pouquíssimos carros, uma das filhas de Dr. João Alves, chamada Sinhazinha dirigia um carro Ford. Quando apareceu o primeiro automóvel aqui em Francisco Sá, muitas pessoas se esconderam com medo. Outras curiosas com a novidade venderam galinhas, porcos para poderem andar no carro.

E as Festas em Francisco Sá? Geralmente eram Festas Religiosas: Festas de Agosto, Coroações, algumas festas de casamento e saraus. Usava muito as visitas em famílias, geralmente no começo da tarde. Chegavam-se de surpresa e a família visitada tinha por obrigação pagar a visita. Entre as famílias havia muitos compadres e comadres e casavam-se muito entre os parentes. Quando chegava uma família para morar na cidade, costumava-se fazer uma visita de boasvindas. As visitas eram sempre recebidas com muita fartura, servia-se café com bolo, biscoito, requeijão e queijo. Como sempre as crianças não participavam das conversas e ficavam nos quintais (todos os quintais tinham pomar).

Novenas e outros Rituais

Aconteciam na Matriz que era bem menor, havia novenas em intenção de vários Santos, Nossa Senhora, Sagrado Coração de Jesus. Rezava-se o terço, cantava a Ladainha, e o Ofício de Nossa Senhora. As mulheres usavam sempre véu em qualquer ritual que houvesse na Igreja e os homens vestiam ternos (os mais abastados) e tiravam o chapéu.

Na época do Natal em todas as casas faziam presépios e havia a visita das pastorinhas. Na Sexta Feira Santa os homens passavam o dia dentro do quarto fazendo jejum e em orações. Não varriam as casas, a comida era feita na véspera, e não se penteavam o cabelo, porque segundo a tradição Nossa Senhora não teve tempo de pentear o cabelo na Sexta Feira Santa. Meu avô tinha por vizinhas três irmãs que na Sexta Feira Santa jejuavam com um copo de água com três folhas de laranjeira dentro do copo, mas nunca explicaram a razão disso.

Como eram as roupas usadas naquela época? As mulheres e meninas usavam vestidos longos. Os homens ricos vestiam terno, gravata e chapéu e alguns usavam bengalas e calçavam sapatos e botinas. Os homens trabalhadores usavam roupas comuns. Não havia roupas prontas para vender, havia as costureiras e os alfaiates. Lembro-me que quando criança usava um sapato, como o atual tênis, chamado pé de anjo. Quando as mulheres andavam a cavalo usavam a chapelina para se proteger do sol e o cilhão para montar de lado.

Sobre as armas e maçonaria? Nunca vi nenhum parente portando armas, sabia que os coronéis e os jagunços tinham carabinas, espingardas, revolveres e que a maioria andava armado. Só vim a conhecer quando já casada e quando fui trabalhar na Prefeitura de Francisco Sá e tinha um colega que era Maçom, porém ele nunca explicou o que era a Maçonaria.


FOLCLORE: OS SABERES DE UM POVO

A 17 de agosto de 1965, pelo decreto número 56.747, foi criado o Dia do Folclore no Brasil. Considerou-se a importância crescente dos estudos e das pesquisas do Folclore, em seus aspectos antropológico, social e artístico inclusivo, como fator legítimo, para maior conhecimento e mais ampla divulgação da cultura popular brasileira.

O folclore brasileiro é considerado um dos mais ricos do mundo, por causa de sua diversidade, junção de etnias e culturas. Simboliza a cultura popular e apresenta grande importância na identidade de um povo. A importância do folclore é reconhecida pela UNESCO, entidade vinculada à ONU, que considera o folclore como Patrimônio Cultural Imaterial ressaltando a importância da preservação das diferentes manifestações, que o formam.

O folclore foi criado no século XIX e sua origem está associada ao idioma inglês. O termo em português é um aportuguesamento de folklore, proposto por William John Thoms em 1846 significando: folk-povo e lore-conhecimento ou saber.

Os pioneiros no estudo do folclore foram os irmãos Grimm e Johan von Herder. Atualmente, os especialistas consideram que o folclore é uma área de conhecimento vinculada à antropologia. Para se compreender bem a história de um país, é necessário não apenas se debruçar sobre os documentos da alta cultura (instituições religiosas e artes eruditas) também se faz necessário o estudo das tradições populares, da cultura popular. Nesse sentido o trabalho dos folcloristas e dos estudiosos da cultura popular torna-se indispensável.

Luís da Câmara Cascudo, ou simplesmente Câmara Cascudo ainda na década de 1920 ele começou a interessar-se por literatura e pela tradição dos contos, lendas e narrativas populares, como as que eram impressa em cordéis e vendidas em feiras nordestinas. Natural de Natal / RN estudou em Recife – Pernambuco.

Folclore é a ciência ou a sabedoria de um povo. O fato folclórico, contudo, pode resultar tanto da invenção quanto da difusão; o folclore mineiro é muito rico e se desenvolveu, principalmente na época da mineração. Nele há influência dos primeiros habitantes do Brasil, que foram os portugueses, índios e negros (escravos). Recebeu também muita influência da igreja mesclando aspectos de comemorações religiosas com elementos folclóricos. Há uma riqueza de brincadeiras, jogos, lendas e provérbios no folclore brasileiro.

O estudo do folclore é muito interessante e permite conhecer bonitos aspectos de um lugar e de sua gente.


JOÃO GORDO

E a doçura é tanta que faz cócega na alma.
Clarice Lispector

Que bom encontrar um texto como o de João Soares, sem consertos, sem revisões, com a pureza da gramática que o autor sabia. É a riqueza de um lindo momento de pura poesia, quase uma celebração com ritual só de ideias jovens. Coisa mais do que confessional, depoimento de sentires, acontecências de pureza d’alma, desabafo de quem muito amou ou ainda ama. Marcas de juventude, tempos da terceira década do século passado ou de qualquer outro tempo, de antanho ou do hoje em dia.

Agradeço, por isso, ao meu ilustre amigo e companheiro Dário Teixeira Cotrim por me encarregar mais uma vez de prefaciar um livro seu, dividir os méritos de estudos e a fruição da alegria de ler e analisar. São tantos os nossos prefácios feitos que chegamos a publicar um livro - só deles - que demos o título de “Elogios das Letras”, coisa de gente um pouco sem juízo. Agora, com os textos de João Soares, jovem de 27 anos, de trágico destino, quando a morte lhe tirou a vida no seis de fevereiro de 1930, guerrilha de partidários do dr. Melo Viana contra os do dr. João Alves, dias brabos de Dona Tiburtina. Tudo em um caderno de papel pautado, versos manuscritos, acredito nunca passados a limpo, porque esculpidos na luz e nas sombras de cada momento vivido e sentido.

Importante uma explicação do porquê do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros entrar na ilusão de um texto poético, sem pretensões de literariedade, como o de João Soares, poeta mais por paixão adolescente. Nada de resvalo ou desvio de objetivo. O nosso Instituto tudo tem feito para resgatar textos que estavam invisíveis no esquecimento como um do bispo D. João Antônio Pimenta sobre sua própria família, um de posturas da antiga Câmara Municipal de Montes Claros, um de Antônio Augusto Veloso, “Corografia Mineira de Montes Claros”. Casos especialíssimos são os livros “Rio dos Buracos”, de Cândido Canela, que nem a família possui um exemplar e o dos magníficos discursos e crônicas de Simeão Ribeiro Pires, existentes em velhos papéis datilografados. Afinal, nem só de duas revistas por ano vive o Instituto Histórico e Geográfico. Em treze anos, desde a fundação, no mínimo um livro semestre, ou dois a cada passagem
do calendário.

João Soares da Silva, foto que agora passa a ser conhecida, excelente aluno do Grupo Escolar Gonçalves Chaves, saiu de lá para brilhar na publicação em jornais e até na fundação de dois periódicos de pequeno porte. Consultor da União Operária, membro da Aliança Liberal, produziu três livros, “Tempestade de Amor”, “Cantilenas” e “Murmúrios e Canções”, mesmo e apesar de algumas ofensas às normas do escrever. Muito a elogiar por sua produção em tenra idade e pela guarda em arquivos de tão importante documentação poética. João Soares tinha outros méritos: de boa aparência física, jeito de inteligente pelo tamanho da testa e pelo brilho dos olhos, sem barba, sem bigode, furinho marcante no queixo, até parecia talhado para algum sucesso. Tudo isso, além do uso de gravata borboleta, colarinho grã-fino e terno da melhor confecção, não se pode provar se preto ou azul marinho. Para o tempo, acredito de casemira Aurora, a melhor que havia.

Para o organizador Dário Teixeira Cotrim, o livro de João Soares tem o bastante para consagrar e eternizar o autor, principalmente agora debaixo das asas do nosso Instituto, com publicação em livro, menção no house organ da instituição, comentários nos jornais, divulgação pela Internet e pelos programas e aplicativos como Facebook, WhatsApp e Instagram, além de outros que logo logo vão surgir. Três divisões tem o opúsculo: “Tempestades de Amor”, poemas de 1922, ou seja, quando ele tinha apenas dezenove anos; “Horas Loucas”, tempo de muita paixão e desespero; “Amor em ruínas”, horas de amarga desilusão; e ”Cinzas”, misto de orgulho ferido e dolorosa desistência. Em fim dramático, troca de elogios por acusações, de amor por desamor, de beleza por total falta de encantos.

Tentativas de sonetos, a forma mais difícil de poetar, as palavras usadas dizem tudo, principalmente do azul dos olhos da doce amada, encantadoramente cheios do brilho do sol e de todas as estrelas que cintilam nos céus. Exemplos: “Oh, olhos azuis que a hora encanta”, “Estes teus olhos, menina... Da cor do céu anilado”, “Este azul dos olhos teus”, “O teu olhar tão terno e azulado”, “A cor divina do teu olhar” e “Tem um encanto nos teus olhos”. Importante também ressaltar que a amada, apesar de não ter nome citado, era beleza para nunca se esquecer por um dia, uma hora, ou um simples momento, nem em hora de dormir, porque preenchia sonhos de noite inteira. A idade? Uma vez ela é “menina”, ou ela é “mulher”, sempre “virgem”, “virgem formosa”, o que pode significar jovem, bonita e pura, tudo no melhor sentido para a época. Vaidosa? A única menção física, além da beleza de corpo, é “a cor dos teus lábios de carmim” e um tipo de “face purpurina”... Quando ele se refere ao “coração de alecrim”, algo que pode indicar sinestesicamente sentimentos perfumados, o espiritual chegando a prevalecer sobre o físico. Considere-se ainda que a beleza era sempre “divina”, ou “tão divinal”.

De propósito, quero ficar apenas no positivo, fase de amor, de encantamento, das muitas ilusões. Tudo em tempo de sol, de luz, cintilâncias e perspectivas de sensações sublimes. Para mim, no aqui e no
agora, conta como tempo o marcar saudades, as vibrações do amor, as
luzes que brilham nos universos de cores e de música. Nada de tristezas,
porque, na vida, tudo passa. Mesmo a desilusão...

Quero, sinceramente, parabenizar, o doutor Dário Teixeira Cotrim por também este livro. Mais uma prova – física e espiritual – de que Montes Claros é realmente, com toda transparência, “A Cidade da Arte e da Cultura”.

Montes Claros, primeiro dia do Verão de 2019/2020.


PATRÍCIO GUERRA,
O POLIVALENTE GUERREIRO

Graças às referências comemorativas do 54º aniversário da Academia Montes-clarense de Letras, retrocedi à década 50 que marcou de modo gratificante minha juventude.

Conduzida por meu saudoso pai José Patrício Guerra, à Montes Claros, fui acolhida com carinho no Colégio Imaculada Conceição, onde estudaria o curso ginasial. Ensejou-me assim, conhecer a cidade e muitos montes-clarenses, pela relação mestres/aluna, colegas/familiares.

Dentre os amigos que conquistei, o casal Olyntho e Yvonne Silveira, Cândido Canela, Professor José Raimundo Neto e Simeão Ribeiro, os quais manifestaram o desejo de conhecer meu pai - o escritor Patrício Guerra - devido à publicação de suas poesias através dos jornais montes-clarenses: DIÁRIO DE MONTES CLAROS E GAZETA DO NORTE.

No ideal de proporcionar possibilidade de torná-lo conhecido, aproveitava suas visitas a mim, para apresentá-lo aos referidos amigos. Foi o alicerce para a construção de sólida e sincera comunicação literária, através de cartas, homenagens poéticas, visitas domiciliares com formidáveis bate-papos!

Autodidata, ao externar sua luta histórica no sertão da Bahia, tornou-se digno de consideração especial, culminando com o convite para tornar-se “sócio-correspondente” da Academia Montes-clarense de Letras, a qual o estimularia a dar continuidade ao processo de registrar em prosa e verso, imortalizando pessoas, fatos e momentos. Por sua vez, graças à sua intensa, variada e nobre produção transmitindo conhecimento, estimulando com seu exemplo de coragem e perseverança a vencer os obstáculos ao crescimento do nível cultural, colaboraria com a realização do objetivo que ocasionou a fundação da egrégia agremiação: Academia Montes-clarense de Letras.

Sua biografia como participante da ANTOLOGIA DA ACADEMIA MONTESCLARENSE DE LETRAS, editada em 1978, registra:

“PATRÍCIO GUERRA, nasceu em 17 de março de 1896, no Arraial de Piedade do atual município de Licínio de Almeida - BA, foi batizado com o nome de: JOSÉ PATRÍCIO GUERRA, residente atualmente em Mortugaba - BA.

Filho de João de Souza Lima e Cherubina dos Santos Guerra de condições humildes, o que lhe forçou ainda muito criança à dedicação do trabalho na lavoura, barrando-lhe as possibilidade de ir à escola.

Entretanto através de dura luta, buscando orientações dentro de seu próprio lar, escapou ao analfabetismo, sendo assim autêntico autodidata.

Escreve poemas, dramas, comédias, tendo sempre
predileção pela poesia lírica, cantando as belezas da natureza e da pátria e dando também um cunho patente de sua ardente fé religiosa.

Dentro de sua simplicidade, comunica-se facilmente
o que o fez conhecido da Academia Montes-clarense
de Letras, que, reconhecendo seu valor literário,
convidou-o para sócio-correspondente”.

Aos 21 anos publicou seu 1º soneto, num jornal quinzenal de
Caetité - Ba, o “ARREBOL”:

INCERTEZA (Patrício Guerra)

Tu és uma flor, a mais bella e pura
Com que dotou a terra, a Natureza;
A tu’ alma é o emblema da candura,
- Tuas faces - o symbolo da belleza.

A luz phosphórea que em teu olhar fulgura,
Qual uma estrella de máxima clareza,
Attesta a tua clássica formorsura
Realçada em tons de singeleza.

Sinto minha’ alma alar-se à região
Do eterno amor em mystica ascenção,
Quando vejo-te risonha ao lado meu...

Também sinto rasgar-se de tristeza
Meu coração imerso na incerteza
De viver para sempre ao lado teu!...

Com uma perseverança invejável, foi cultivando sua inteligência numa caminhada ininterrupta, sempre enriquecida pela leitura diária, rotineiramente até altas horas da noite.

Quando desposou Priscilia, filha do Capitão Júlio Carvalho, passou a residir em Mortugaba - Vila no município de Jacaraci - BA.

Mortugaba, na carência de recursos progressistas, foi um incentivo ao seu crescimento literário e conceito de cidadão modelo. Buscava nele a informação e a criatividade. Escrevia poesias para as crianças declamarem nas festas escolares e peças de teatro: dramas, comédias, diálogos proporcionando lazer à comunidade, realizadas em palco feito pelos artistas, no quintal de sua residência.

Sobressai em sua produção poética: hinos oficiais, inclusive o de Mortugaba e hinos religiosos. Em virtude da cultura que sempre deixou transparecer, desempenhou os mais variados cargos: delegado, dentista, Juiz de Paz, Fiscal escolar e Vereador. Sua constante aquisição de obras, fê-lo possuidor de uma rica biblioteca.

Dentre outras razões, este seu hábito fez despertar na comunidade mortugabense o desejo de prestar-lhe uma homenagem, denominando a Biblioteca do seu Colégio: “BIBLIOTECA PATRÍCIO GUERRA”. Numa sequência lógica e justa, sua jornada literária foi sendo reconhecida graças às publicações em jornais e revistas de vários rincões do Brasil; reconhecimento manifesto de várias formas e meios:

• Patrono da cadeira nº 40, da Academia de Letras e Ciências de São Lourenço/MG;

• Patrono da cadeira nº 86 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros/MG, as quais ocupo com honra, prazer e saudade;

As referências a seguir avalizam o mérito de Patrício Guerra:

• “Patrício Guerra lutou e cresceu. Integralmente no espírito, no intelecto, nas qualidades morais, nos conhecimentos da ciência farmacêutica, na política, e nas ações do bom samaritano. Cresceu como dono da palavra, expressando-se em diversos gêneros literários. Cresceu como cristão. E seu crescimento fez crescer Mortugaba”.

Yvonne de Oliveira Silveira
Presidente da Academia Montes-clarense de Letras.

• * “Patrício Guerra, seu idolatrado pai, ocupa de fato e de direito, lugar privilegiado na luminosa galeria dos maiores poetas do Brasil de todos os tempos”.

Reivaldo Canela
Academia Montes-clarense de Letras

* Excerto da crônica “BILHETE A ZORAIDE”, publicada no JORNAL DE NOTÍCIAS 12/02/2008.

• * “Sua voz é atemporal e universal a sua mensagem, o que o torna perene”

Cândida Correa Cortes Carvalho
Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.

* Excerto do prefácio da obra:

“PATRÍCIO GUERRA - Vida e Obra”
Autora: Zoraide Guerra David
Merece considerável atenção a urdidura artística de suas duas coroas
de sonetos:
- O império da dor.
- O Rosário de Maria.

A fluência dos seus versos tornava-o capaz do improviso adequado, a registrar em ontingências variadas. Filosóficas umas, humorísticas outras:

“Vida só tem quatro letras,
Amor tem quatro também
Mas vem a morte com cinco
E não respeita ninguém.”

Ao contemplar a fachada de uma loja em Caculé-Ba, a “CASA SAPUCAIA”, escreveu:

“Veja que coisa engraçada
Que até mesmo pede vaia.
Como há de ficar caiada
A casa que o sapo caia?”

Dentre as inúmeras homenagens que lhe foram prestadas, destacamos a comemoração do seu 1º centenário de vida, com exposição de suas obras, objetos pessoais, jornais e revistas, fotos, móveis, etc, missa celebrada pelo Padre Henrique Munaiz no salão nobre do Centro Cultural Hermes de Paula de Montes Claros, com a presença solidária de familiares, amigos e confrades.

Em 2011, Dário Cotrim, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - publicou o Livro: “POETAS ILUSTRES”. A capa os expõe! Emocionada e grata contemplo sua foto de participante! Em 23 de maio de 1985 aconteceu o fim de sua peregrinação terrena. As inúmeras homenagens póstumas confirmaram que Patrício Guerra foi um “polivalente guerreiro” a promover a paz. Seu velório foi realizado na Igreja Matriz de São José em Mortugaba, ambiente que recebeu seu zelo de cristão solidário na orientação espiritual de líder e diácono, servindo à comunidade, ao longo de sua vida.

O jovem poeta mortugabense José Borborema, expressou reconhecimento:

“Patrício Guerra,
Você se foi, você partiu...
No entanto, você ficou n’alma do teu povo!

Apesar da imensa saudade concientizamo-nos que o mundo não acaba aqui / Mortugaba ainda está de pé. Enquanto existir a vida / Levaremos conosco sua esperança, seu espírito de fé”.

“HOMEM CARISMÁTICO

Refiro-me ao falecido JOSÉ PATRÍCIO GUERRA, com a intenção de registrar alguns de seus talentos:
1. Cidadão de respeito e da confiança popular, ele residia em Mortugaba, diocese de Caetité, a plantar, alegremente a sua colheita.
(...) 5 – Decano dos ministros extraordinários da Eucaristia, ele encontrou, ai, o brilho da estrela transcendente, que lhe estampa, agora, a imagem de glorificado, junto do Senhor(...).

A existência terrestre sua, teve como fonte humana de suas atividades, o ouro de seu coração, por onde passaram - para os outros – tantas graças ou favores de Deus. Ora, exatamente isto, na Teologia, tem o nome de “Carismas”.

Portanto, foi ele um “homem carismático”
José Alves Trindade
Bispo emérito de Montes Claros”

O nosso relacionamento foi de intensa paz, provocando o sentimento que experimento e que poeticamente ele questionou nesta trova: Saudade...

“Saudade não se biparte,
Como pois se justifica
Que ela vá com quem parte
Sem se apartar de quem fica?”

São Paulo, na II Carta aos Coríntios. 5,1 lega-nos uma confortante afirmativa:

“Sabemos com efeito, que ao se desfazer a tenda que habitamos
neste mundo, recebemos uma casa preparada por Deus, e não por
mãos humanas, uma habitação eterna no céu”.

Rememorando sua vida, creio que ele está na mansão celeste!

E um folheto de canto litúrgico da Igreja São José de Belo Horizonte/MG, expõe-me verdadeira confirmação da afirmativa de São Paulo.

“Ele pôs em minha boca uma canção,
me ungiu como profeta e trovador
da história e da vida do meu povo, e
por isso respondi: Aqui estou!”
E minha alma esperançosa exclama:
Obrigada Senhor!

2 - FICHA LITERÁRIA

Nome: Jose Patrício Guerra
Nome literário: Patrício Guerra
Data de nascimento: 17 de marco de 1896
Naturalidade: Arraial de Piedade hoje Tauape/BA

Residência: Mortugaba - BA
Grau de instrução: autodidata

Produção em verso:
• Poemas de forma livre
Líricos • Sonetos
• Coroas de sonetos
- O Império da Dor
- O Rosário de Maria

Humorísticos
• Logogrifos
• Charadas
• Enigmas

Produção em prosa:
Gênero narrativo
• Contos
• Crônicas
• Romance
- O Tesouro (inédito)

Gênero dramático
• Dramas
- A Sombra do Lar
- 0 Fruto do Apostolado Leigo
- A Voz do Sangue
- Restauração de um Lar
- Suspeita Falsa
- A Cura Milagrosa
- Um Erro Judiciário
- Alma em Desespero
- Milagre Estupendo
- Mãe e Madastra

• Comédias
- Um Caso de Policia
- Frustração de um Noivado
- Paixão de Velho

Gênero Oratória
• Palestras
• Discursos
• Conferências
- O papel da mulher através do tempo
- Deveres dos pais na formação religiosa e cristã dos filhos.
- A educação religiosa (sua importância como base na instituição da família, da organização perfeita da sociedade e do engrandecimento da integridade da Pátria).

Produção Científica:
- Monografia de Mortugaba
- Monografia sobre o Folclore do Sertão Baiano

Obras Publicadas:
• FOLHAS DE OUTONO - Poesias
Editora Mensageiro da Fé - Salvador - BA

• TRES VEZES POESIA -
Obra em parceria com Zoraide Guerra David – filha
Zoraya Guerra David – neta

Gráfica BARVALLE – B. Horizonte – MG
Obras Inéditas: • FLORILEGIO MARIANO – Poesias
• O Prático de Farmácia e a Farmácia no Interior.

Participação em obras:
• Coletânea organizada por DA COSTA SANTOS:
- NOSSO SENHOR E NOSSA SENHORA, na poesia brasileira.
Edições Mantiqueira - MG
• ANTOLOGIA DA ACADEMIA MONTES CLARENSE DE LETRAS - edição especial, comemorativa do seu primeiro decênio de existência. Editora Comunicação - BH
• FORÇAS VIVAS DA NAÇÃO - Estado da Bahia Do Instituto de Pesquisas Municipais pela Comunicação Promoção e Marketing Ltda. - SP
• MORTUGABA - HISTORIA E POESIA autora: Zoraide Guerra David Imprensa Oficial de Minas Gerais - Belo Horizonte - MG
• PATRÍCIO GUERRA – Vida e Obra
Edição Comemorativa do 1º Centenário de seu nascimento: 17/03/1896
– 17/03/1996. Belo Horizonte: Diagrama Arte e Anúncio Ltda. 1996.
Participação em Associações:
• ACADEMIA MONTESCLARENSE DE LETRAS - Categoria de sócio correspondente.
• CLUBE DO LIVRO - Rio de Janeiro - RJ

Publicações:
Revistas:
• NAZARETH – Periódico trimestral Dell’
Instituto Ancelle di Gesu Bambino Anno XVI – nº 63 autono 1971
Veneza – Itália.
• UNICA - Salvador - BA
• O MALHO - R. Janeiro - RJ
• ALMANAQUE MENSAGEIRO DA FE
• MENS AGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS
• ALFA Revista dos Municípios Brasileiros - Salvador - BA
• LEGIÃO DE MARIA - Ano XI - 1992 - n° 39 - Órgão oficial da Legião de Maria no Brasil -Salvador - BA

Jornais:
• A TARDE - Fundado em 15-10-1912 em SALVADOR-BA, principal
Jornal do Norte e Nordeste do Brasil.
• O COMBATE
• A PENNA e o ARREBOL - quinzenários de Caetité - Ba.
• O PALADINO - de Espinosa - MG
• O JACARACY - de Jacaracy - BA
• O CONDEUBENSE - de Condeuba - BA
• NOSSA TERRA - de Cruz das Almas - BA
• O LIBERTADOR - de Urandí - BA
• O BASTENSE - de Bastos - SP
• O CEUZINHO - Jornal da E .E. D. Vidinha Pires - M. Claros MG
• O LAR CATÓLICO - de Juiz de Fora - MG
• O DIARIO DE MONTES CLAROS e o GAZETA DO NORTE
Montes Claros - MG
• FOLHA ESTUDANTIL - Órgão mensal de orientação cultural e popular - Salvador - BA



ANÍSIO TEIXEIRA,
DE CAETITÉ PARA O MUNDO

Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caetité – Bahia no dia doze de julho de mil e novecentos, era filho de Deocleciano Pires Teixeira e Dona Ana Spínola Teixeira, sua terceira esposa.

Anísio Teixeira iniciou sua vida educacional com os jesuítas do Instituto São Luiz Gonzaga em Caetité e desde cedo já demonstrava talento e desenvoltura aparecendo sempre entre os alunos que se apresentavam e se sobressaíam nas solenidades do final do ano letivo pelas boas notas e quantidade de medalhas recebidas.

Anísio concluiu o curso ginasial em 1915 com aproveitamento excelente e seguiu para Salvador onde prosseguiu seus estudos com os jesuítas do Colégio Antônio Vieira, aí continuou se destacando, chamando a atenção dos padres e despertando a cobiça deles, que o queriam entre os vocacionados da Companhia de Jesus. Provavelmente, Anísio não teria saído de Caetité com o propósito de seguir carreira vocacional, muito menos esta era a intenção de seus pais ao enviá-lo ao Antônio Vieira, porém, entre as perspectivas possíveis, esta, muito lhe seduzia.

Ao concluir o secundário, Anísio começa o curso de Direito em Salvador, entretanto, seu pai o transfere para o Rio de Janeiro onde ele termina o bacharelado, entretanto, essa transferência, não foi capaz de lhe fazer desistir da ideia de se dedicar à Companhia de Jesus, mesmo sem aprovação dos seus pais que já tinha uma filha seguindo carreira religiosa junto à Congregação do Bom Pastor.

Anísio, por sua vez, contrariado mas condescendente com a decisão do pai, com as angustias de um recém formado, volta a Caetité já bacharel em direito em 1923. Ele, talvez não soubesse ainda o que era “vocação” e certamente só descobriu alguns tempo depois quando um convite do governador da Bahia Góes Calmon em 1924, mudaria completamente o foco das suas atividades laborais e também da sua vida.

Góes Calmon, recém empossado como governador da Bahia queria abandonar a velha política trazendo novidades ao governo do estado, neste sentido, recrutou alguns jovens recém formados, desconhecidos do mundo da política, para compor sua equipe, entre eles, estava o jovem bacharel em Direito Anísio Teixeira, que assumiu o cargo de Inspetor Geral de Ensino — cargo equivalente hoje ao de Secretário da Educação.

Aceito o convite do governador, inicia o Anísio, os primeiros passos na pasta da Instrução Pública na Bahia, terreno desconhecido e pedregoso para um jovem bacharel em direito sem experiência alguma na área da educação. Este foi estímulo para que ele começasse a estudar e se inteirar dos assuntos e problemas pertinentes à pasta.

Aos poucos Anísio começa a visualizar as maiores necessidade e gargalos da instrução pública na Bahia: a falta de instituições de educação, principalmente no interior, o que refletia em números muito elevados de analfabetos no estado.

Anísio Teixeira, propunha como diferencial e como inovação para a administração de Góes Calmon a ideia de escolarizar o povo e assim resolver um dos principais problemas do estado, para tanto ele sugeria a disseminação de escolas primárias públicas por todo o território do estado para que uma maior quantidade de crianças tivesse acesso à escolarização.

Como diretor da instrução pública ele propôs uma grande reforma para o sistema escolar baiano, entre 1924 e 1927, quase dobrou o percentual de investimento do estado na educação, e triplicou o número de matrículas, abriu e reabriu muitas Escolas Normais, inclusive a de Caetité fechada em 1903. Ainda neste período, realizou viagens de estudos à Europa e Estados Unidos, onde conheceu as ideias de
John Dewey, tornando seu discípulo.

O cargo de Diretor de Instrução pública da Bahia foi apenas o primeiro ocupado por Anísio na área da educação. Ao longo da sua vida ele ocupou muitos outros cargos públicos, foi funcionário do Ministério da Educação e Saúde Pública e logo depois diretor-geral do Departamento de Educação do Distrito Federal. Criou a Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Foi ainda Conselheiro de ensino superior da UNESCO e o criador da Escola Parque, em Salvador, que se tornou um novo modelo de educação integral. Foi diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), realizando trabalhos para a valorização da pesquisa educacional no país e criou o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, fundou a Universidade de Brasília, tornando-se reitor entre 1963 e 1964. Com a instalação do governo militar, foi para os Estados Unidos, onde passou a lecionar na Universidade de Colúmbia e na Universidade da Califórnia.

Anísio sempre foi defensor da educação como um direito e da escola pública de qualidade para todos, publicou muitos livros, é uma referência quando se fala de educação integral por exemplo.

Com essa trajetória fica muito visível que a Companhia de Jesus, certamente perdeu um possível grande padre e a família Teixeira um político, mas sem dúvidas, o Brasil, ganhou um grande intelectual.

Anísio Teixeira foi encontrado morto no dia onze de março de 1971, no fosso de um elevador no prédio onde morava Aurélio Buarque de Holanda, situado na Praia do Botafogo, 48, edifício Duque de Caxias no Rio de Janeiro. Ele teria ido neste endereço se encontrar com Aurélio para lhe pedir voto pois era candidato a membro da Academia Brasileira de Letras.

Acerca dessa morte sobraram muitas dúvidas e recentemente, estudos do professor João Augusto de Lima Rocha, apontaram que não se tratou de um simples acidente, Anísio não caiu no fosso do elevador, ele foi assassinado e naquele lugar foi colocado.


A HISTÓRIA DE DONA LILI

Dona Lili é uma mulher de fé, sábia, corajosa esplêndida, guerreira e capaz de contar toda sua história através de lembranças vívidas e bem guardadas no coração. São muitos adjetivos que marcam a vida dessa mulher que será sempre lembrada pela sua família e amigos.

Dona Vitalina Alves Conceição, filha do senhor Joaquim Marcelino da Conceição e dona Maria Mendes da Silva, nasceu em 17 de março de 1940 no Distrito de São José do Gorutuba, no município de Porteirinha. Sendo a terceira filha do casal, teve cinco irmãos, Ângela, Adriano, Inês, Neuza e Nauza. Viveu toda sua infância e juventude naquele distrito pelo qual ainda é apaixonada por causa das histórias vividas. Foi batizada na igreja centenária de Nossa Senhora da Soledade, que ainda resiste ao tempo. Participava ativamente das novenas, das festas religiosas, fazia parte da coroação de Nossa Senhora da Soledade, participava do coral da Igreja e, quando se tornou professora, preparava seus alunos para a coroação e primeira comunhão. Lembra que, na sua juventude, as missas eram celebradas em latim pelo padre Julião Arroyo Gallo.

Lá, suas professoras foram Maria Paulo Santos, Honorata Dias Correa e Dilvani Dias Correa. Ela conta que a escola de São José do Gorutuba só oferecia até a terceira série primária. Sendo assim, ela repetiu esta série várias vezes, até completar 13 anos e poder ir para a cidade concluir a quarta série na Escola Estadual João Alcântara. Em 1954, ela, apenas com o ensino primário, retornou para São José do
Gorutuba e, com quatorze anos de idade, começou a lecionar como professora leiga na mesma escola onde estudou. Destacou-se como professora e, com sua generosidade, sempre cuidou de quem precisava. Trabalhou de 1954 a 1962 e, por razões políticas, foi dispensada no inicio de 1963. Nesse período de dispensa, dedicou-se aos trabalhos domésticos e costuras, bordados e afins.

Em 15 de junho de 1961, casou-se com José Alves do Nascimento, com quem teve nove filhos: Valdiney, Vanilda, Valdelice, Valciney, Vanilce, Valtemir, Vilson, Vailza e Vanilson.

Em junho de 1966, foi contratada como professora novamente e se efetivou pela Lei de Estabilidade por Tempo de Serviço. Em 1972, retornou aos estudos, iniciando o Curso Fundamental com 40 horas semanais oferecido no período de férias apenas para professores leigos. Para frequentá-lo, precisou de muita ajuda da família, pois já tinha seis filhos, de 7 meses a 9 anos de idade. Terminando o curso em janeiro de 1974, não conseguiu ir fazer as provas finais em Montes Claros. Quando teve condições, matriculou-se no Centro de Ensino Supletivo para concluir o Ensino Fundamental e Médio.

Ressalta-se a origem da escola onde ela estudou e trabalhou, pois além de ser a primeira do município, está entrelaçada na história da sua família. A Escola de São José do Gorutuba começou a funcionar quando Dona Sophia Rosa da Silva foi nomeada normalista para emprego de professora pública primária de São José do Gorutuba. Na época, em São José, não havia prédio próprio para funcionar a escola.
Então, o pai de Dona Sophia Rosa emprestou uma das salas do seu casarão para que a escola funcionasse. Na foto, vemos o casarão do pai de Dona Sophia Rosa.

Depois, a escola foi passando pelas casas despovoadas do distrito, pois muitas famílias de Porteirinha possuíam casas, que eram ocupadas por elas apenas em tempos de festas ou em período eleitoral. Em 08 de novembro de 1947, o senhor Joaquim Marcelino e sua mulher dona Maria Mendes fizeram a doação de uma gleba de 10.000 metros quadrados de terras de sua propriedade na fazenda Gravatá, onde, em 1949, foi concluída a construção do prédio da escola no povoado. Dentre as filhas de seu Joaquim, lecionaram na escola Nauza, Inês e dona Lili, que atuou também como coordenadora no ano de 1976.

Com a morte de seu pai, em 1976, Dona Lili sentiu o desejo de homenageá-lo, dando o seu nome para a escola, pois ele, além de ter sido o doador do terreno, sempre desempenhou um papel fundamental ao demonstrar interesse e luta pelo desenvolvimento da educação naquele lugar. Orientada pela inspetora, ela escreveu a biografia de seu pai e encaminhou a solicitação à Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Porém, por um motivo que não vem ao caso contar aqui, em 1977, foi publicado o decreto com a nova denominação: “Escola Estadual Neco Lopes”.

Em 1978, dona Lili, com muito sofrimento, assistia quase sozinha o povoado se esvaziar por causa da construção da Barragem do Bico da Pedra. Nesse ano, ela apenas cumpria horário, pois já não havia alunos para quem ministrasse as aulas.

Em 01/02/1979, Dona Lili foi removida da Escola Estadual Neco Lopes, que funcionava sem alunos em São José, para a Escola Estadual Odilon Coelho, em Porteirinha, que funcionava no mesmo bairro que ela escolhera para morar. Ali ficou até se aposentar em 1987. Mas a missão de dona Lili ainda não havia terminado. Continuou a sua busca na realização de seus sonhos, trabalhando no Lar do Idoso Dona Lia Coelho de 1995 a 1997. Em 1997, passou em um concurso para o cargo de Auxiliar Administrativo para a Prefeitura de Porteirinha, trabalhando até 2012 no Centro de Saúde. Nesse período, fez os cursos de Técnico e Auxiliar de Enfermagem e se sentiu realizada, pois era seu grande sonho trabalhar nessa área. Hoje, a matriarca da família Alves Conceição vive em Porteirinha com seus 80 anos e traz consigo aquilo que sempre teve: fé, devoção, humildade, simplicidade e uma grande esperança de que teremos um Brasil e um mundo melhor.


Impresso na oficina da
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