Igreja de Matias Cardoso/MG

 


 

NOTAS DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO

A ordem de publicação dos trabalhos dos associados efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos associados correspondentes e convidados;

A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem nela contidos. A revisão dos originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.

FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos, arqueológicos, genealógicos e suas ciências e técnicas auxiliares, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental do município de Montes Claros e região Norte de Minas.


Montes Claros - Minas Gerais 2022


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Sobrado de Dulce Sarmento
Rua Cel. Celestino, 140 - Centro - 39400-014 - Montes Claros/MG
(Corredor Cultural Padre Dudu)

REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Publicação Semestral

Diretor e Editor
Dário Teixeira Cotrim

Conselho Editorial
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Hermildo Rodrigues
Mara Yanmar Naciso Cruz
Silvana Mameluque Mota

Editoração, Diagramação e Impressão: Gráfica Editora Millennium Ltda.

Fotografias: Arquivo de Dário Teixeira Cotrim, José Francisco Lima de Ornelas, Maria da Glória Caxito Mameluque, Wanderlino Arruda, Silvana Mameluque, Mara Narciso, Eustáquio Wagner Guimarães Gomes, Ricardo Fernandes Lopes, Maria Clara Lage Vieira, Orozimbo Veloso Prates, Internet.

Impressão
Gráfica Editora Millennium Ltda.
ISBN: 978-65-86024-60-9


Capa: Igreja de Matias Cardoso - MG


SUMÁRIO

Apresentação - 17

Antônio Felix da Silva - 21
O Escritor

Aparecido Pereira Cardoso - 24
O arraial de Formigas do Rio Verde e a Constituinte de 1823

Dário Teixeira Cotrim - 26
O famoso bandoleiro

Edvaldo de Aguiar Fróes - 29
Apendicite aguda complicado num idoso

Gustavo Mameluque - 39
Um homem de valor
Darcy Ribeiro

Hermildo Rodrigues - 46
O universo criou a si mesmo a partir do nada

José do Carmo Felício - 49
Maçonaria norte-mineira na segunda metade do século XIX. Um Spoiler

José Geraldo Soares de Souza - 54
O trem e minhas lembranças

José dos Santos Neto - 58
Feijoada Completa

Landulfo Santana Prado Filho - 61
Ação de saneantes indicada contra o corona-vírus

Lázaro Francisco Sena - 66
Casarões e Sobrados

Manoel Messias Oliveira - 73
Evolução monetária do Brasil

Mara Yanmar Narciso da Cruz - 77
Nadar: homenagem a Sabu

Márcio Adriano Silva Moraes - 81
Sorveteria Pinguim

Maria Clara Lage Vieira - 83
Maria do Socorro Rogério Brandão

Maria da Glória Caxito Mameluque - 89
Pedro Mameluque Mota: Um exemplo de Vida

Orozimbo Veloso Prates - 93
Harlen Soares Veloso

Ricardo Fernando Lopes - 97
Megafauna

Wanderlino Arruda - 111
Carta de Despedida

Raquel Veloso Mendonça - 119
Dolorido adeus a Haroldo Lívio

Zélia Patrocínio de Oliveira Seixas - 126
O prazer é feito de pequeninas coisas

Tânia Dias Freitas Santos - 137
Artesanato de Monte Azul - Norte de Minas

José Alves Macedo - 140
A cidade de Jequitai: apontamentos históricos

Eustáquio Wagner Guimarães Gomes - 146
Eduardo Gomes

DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Fundado em 27 de dezembro de 2006.

COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007

Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
Jornalista Luís Ribeiro dos Santos
Dr. Wanderlino Arruda


DIRETORIA 2020 - 2021
PRESIDENTE DE HONRA Palmyra Santos Oliveira
PRESIDENTE José Franciso Lima de Ornelas
1º VICE - PRESIDENTE Leonardo Alvarez Rodrigues
2º VICE - PRESIDENTE Wanderlino Arruda
1º DIRETOR-SECRETÁRIO Hermildo Rodrigues
2º DIRETOR-SECRETÁRIO Mara Yanmar Narciso Cruz
1º DIRETOR DE FINANÇAS Lázaro Francisco Sena
2º DIRETOR DE FINANÇAS Landulfo Santana Prado Filho
DIRETORA DE PROTOCOLO Dorislene Araújo
Diretor de Comunicação Social Silvana Mameluque Mota
Diretor de Arquivo, Biblioteca e Museu Dário Teixeira Cotrim

CONSELHO CONSULTIVO

Membros Efetivos
Maria de Lourdes Chaves
Teófilo Azevedo Filho
Virgínia Abreu de Paula
Membros Suplentes
Juvenal Caldeira Durães
Gessileia Soares Cangussu
Dorislene Alves Araújo

CONSELHO FISCAL

Membros Efetivos
Carlos Renier Azevedo
André Luiz Lopes Oliveira
Alceu Augusto de Medeiros
Membros Suplentes
Maria do Carmo Veloso Durães
Maria da Glória Caxito Mameluque
João Nunes Figueiredo

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA

Hermildo Rodrigues
José Ponciano Neto
Abigail Maria Ataíde Marques Dias
Antônio Félix da Silva
Ildeu Soares Caldeira Júnior

COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA

Eduardo Gomes Pires
José Dirceu Veloso Nogueira
César Henrique Queiroz Porto
Paulo Hermano Soares Ribeiro
Leonardo Alvarez Rodrigues

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA,
ETNOGRAFIA E SOCIOLOGIA

Maria Ângela Figueiredo Braga
Lúcio Roosevelt Guimarães Maldonado
Orozimbo Veloso Prates
Frederico Assis Martins
Eliane Maria Fernandes Ribeiro

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIOS

Dário Teixeira Cotrim
Maria Ruth das Graças Veloso Pinto
Juvenal Caldeira Durães
Zoraide Guerra David
Landulfo Santana Prado Filho

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO E PUBLICAÇÃO

Marilúcia Rodrigues Maia
Sebastião Mendes Neto
Ivana Ferrante Rebello e Almeida
Daniel Tupinambá Lélis
Maria Clara Vieira Lage

COMISSÃO DE VISITA E APOIO

João de Jesus Malveira - Coordenador
Edvaldo Aguiar Fróes
José Ferreira da Silva
Manoel Pereira Fernandes Neto
José Geraldo Soares de Souza

COMISSÃO DE PROMOÇÕES E EVENTOS

Ana Valda Xavier Vasconcelos
Josecé Alves dos Santos
Teófilo de Azevedo Filho (Téo Azevedo)
Maria de Lourdes Chaves (Lola Chaves)
Augusta Clarice Guimarães Teixeira (Clarice Sarmento)
Mara Yanmar Narciso da Cruz

COMISSÃO DA LITERATURA DE CORDEL

Carlos Renier Azevedo (coordenador)
Teófilo Azevedo Filho
Marcionílio Martins Rocha Filho
João Nunes Figueiredo
Amelina Chaves
Dário Teixeira Cotrim


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC

CD
Sócios
Patronos
01
Edvaldo de Aguiar Fróes Alpheu Gonçalves de Quadros
02
Leonardo Álvarez Rodrigues Alfredo de Souza Coutinho
03
Waldomiro Alves Santos Antônio Augusto Teixeira
04
Maria do Carmo Veloso Durães Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
Dorislene Alves Araújo Antônio Ferreira de Oliveira
06
Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Maria Aparecida Costa Antônio Gonçalves Figueira
08
Gesiane Aparecida Medeiros Mota Antônio Jorge
09
Daniel Gonçalves Rocha Antônio Lafetá Rebelo
10
Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Sebastião Abiceu dos Santos Soares Ary Oliveira
12
Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Ana Valda Xavier Vasconcelos Arthur Jardim Castro Gomes
15
Magda Ferreira de Souza Ataliba Machado
16

Gilsa Florisbela Alcântara

Athos Braga
17
Guilherme Silva de Carvalho Auguste de Saint Hillaire
18
Frederico Assis Martins Brasiliano Braz
19
Paulo Hermano Soares Ribeiro Caio Mário Lafetá
20
Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira Camilo Prates
21
Terezinha Gomes Pires Cândido Canela
22
Silvana Mameluque Mota Carlos Gomes da Mota
23

Landulfo Santana Prado Filho

Carlos José Versiani
24
José Ponciano Neto Celestino Soares da Cruz
25

Isabela de Andrade Pena Miranda

Corbiniano R Aquino
26

Orozimbo Veloso Prates Cyro dos Anjos

Cyro dos Anjos
27
Eduardo Ferreira Oliveira Dalva Dias de Paula
28

Rita de Cássia Soares Maluf

Darcy Ribeiro
29

Carlúcio Pereira dos Santos

Demóstenes Rockert
30
Jonice dos Reis Procópio Dona Tiburtina Dona Tirbutina
31
Augusta Clarice Guimarães Teixeira Dulce Sarmento
32
Carlota Eugenia Martins Soares Edgar Martins Pereira
33
Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Geralda Magela de Sena e Souza Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35

Hermildo Rodrigues

Ezequiel Pereira
36
Roberto Wilton Garcia Felicidade Perpétua Tupinambá
37
Evaldo Gener de Fátima Francisco Barbosa Cursino
38
Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
José dos Santos Neto Gentil Gonzaga
40
Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
José Geraldo Spares de Souza Geraldo Tito da Silveira
43
Leonardo Linhares  Frota Machado Godofredo Guedes
44
Roberto Carlos M. Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
Gustavo Mameluque Henrique Oliva Brasil
46
Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
Abgail Maria Atayde Marques Dias Hermenegildo Chaves
48
Virgínia Abreu de Paula Hermes Augusto de Paula
49
José Ferreira da Silva Irmã Beata
50
Antônio Félix da Silva Jair Oliveira
51
Osmar Pereira Oliva João Alencar Athayde
52
Maria de Lourdes Chaves João Chaves
53
David Ferreira dos Santos João Batista de Paula
54
José Dirceu Veloso Nogueira João José Alves
55
Lázaro Francisco Sena João Luiz de Almeida
56
Ivana Ferrante Rebelo João Luiz Lafetá
57
Marilúcia Rodrigues Maia João Novaes Avelins
58
Maria Ângela Figueiredo Braga João Souto
59
Márcio Adriano Silva Moraes João Vale Maurício
60
Manoel Messias Oliveira Jorge Tadeu Guimarães
61
Ildeu Soares Caldeira Jr. José Alves de Macedo
62
José Jarbas Oliveira Silva José Esteves Rodrigues
63
Carlos Renier Azevedo José Gomes Machado
64
Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Laurindo Mékie Pereira José Gonçalves de Ulhôa
66
Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Marcionílio Martins Rocha Filho José Monteiro Fonseca
68
Benjamim Ribeiro Sobrinho José Nunes Mourão
69
Lúcio Rosevert Magalhão Maldonado José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
José Roberval Pereira José Tomaz Oliveira
71
Manoel Pereira Fernandes Neto Júlio César de Melo Franco
72
Laríssa Paixão Durães Lazinho Pimenta
73
Terezinha de Souza Campos Neves
Lilia Câmara
74
Filomena Alencar Monteiro Prates Luiz Milton Prates
75
Eduardo Gomes Pires Manoel Ambrósio
76
Aparecido Pereira Cardoso Manoel Esteves
77
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro Mário Ribeiro da Silveira
78
Gilberto Aparecido Soares Medeiros Mário Versiani Veloso
79
Antônio Pereira Santana Mauro de Araújo Moreira
80
Isau Rodrigues Oliveira Miguel Braga
81
Juvenal Caldeira Durães Nathércio França
82
Josecé Alves dos Santos Nelson Viana
83
Daniel Oliva Tupinambá de Lélis Newton Caetano d’Angelis
84
Ricardo Fernandes Lopes Newton Prates
85
André Luís Lopes Oliveira Armênio Veloso
86
Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Elzita Ladeia Teixeira Pedro Martins de Sant’Anna
88
João de Jesus Malveira Plínio Ribeiro dos Santos
89
José Francisco Lima Ornelas Robson Costa
90
Teófilo Azevedo Filho (Téo) Romeu Barcelos Costa
91
Wesley Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Jaime kenji Takei Sebastião Tupinambá
93
Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Gessileia Soares Cangussu Teófilo Ribeiro Filho
95
Carlúcio Gomes Ferreira Terezinha Vasquez
96
Guilherme Marias Silva Peixoto Tobias Leal Tupinambá
97
Oneide Ribeiro de Queiroz Torres Urbino Vianna
98
Mara Yanmar Narciso Virgilio Abreu de Paula
99
João Nunes Figueiredo Waldemar Versiani dos Anjos
100
Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

 


ASSOCIADOS EMÉRITOS

Amelina Fernandes Chaves
Maria das Dores Antunes Câmara
Milene Antonieta Coutinho Maurício
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista

ASSOCIADOS HONORÁRIOS

Alceu Augusto de Medeiros
Alberto Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Expedito Veloso Barbosa
Irany Telles de Oliveira Antunes
Itamaury Teles de Oliveira
Girleno Alencar Soares
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Júnia Veloso Rebello
Luís Ribeiro dos Santos
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça

ASSOCIADOS CORRESPONDENTES

Adilson Cézar Sorocaba

 SP

Alan José Alcântara Figueiredo Macaúbas

 BA

André Kohene Caetité

 BA

Avay Miranda Brasília

 DF

Carlos Lindemberg Spínola Castro Belo Horizonte

 MG

Cândida Correia Cõrtes Carvalho Luz

 MG

Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte

 MG

Daniel Antunes Júnior Espinosa

 MG

Dêniston Fernandes Diamantino Januária

 MG

Eustáquio Wagner Guimarães Gomes Belo Horizonte

 MG

Felicíssimo Tiago dos Santos Rio Pardo de Minas

 MG

Fernanda de Oliveira Matos Caetité

 BA

Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte

 MG

Flávio Henrique Ferreira Pinto Belo Horizonte

 MG

Honorato Ribeiro dos Santos Carinhanha

 BA

Ivonildo Teixeira
ES

Jeremias Macário Vitória da Conquista

 BA

João Martins Guanambi

 BA

Jorge Ponciano Ribeiro Brasília

 DF

José Walter Pires Brumado

 BA

Liacélia Pires Leal Feira de Santana

 BA

Manoel Hygino dos Santos Belo Horizonte

 MG

Maria do Carmo de Oliveira Porteirinha

 MG

Moisés Vieira Neto Várzea da Palma

 MG

Neide Almeida da Cruz Feira de Santana

 BA

Paulo Roberto de Souza Lima São João Del Rei

 MG

Pedro Oliveira Várzea da Palma

 MG

Silio Jader Noronha Brito São Paulo

 SP

Tânia Dias Freitas Santos

MG 

Terezinha Teixeira Santos Guanambi

BA 

Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte

 MG

Yury Vieira Tupinambá de Lelis Mendes Porto Alegre

 RS

Zanoni Eustáquio Roque Neves Belo Horizonte

 MG

Zélia Patrocínio Oliveira Seixas Aracajú

 SE

Zilda de Souza Brandão (Bim) Belo Horizonte

 MG

 





EPITÁFIO
Para um túmulo de amigo
“A morte vem de manso, em dia incerto e fecha os olhos
dos que têm mais sono...”
(Alphonsus de Guimaraens - ossa mea, I.)



Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires

APRESENTAÇÃO

Na sequência dos nossos trabalhos no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, estamos completando agora a revista do Instituto, volume XXVIII. Durante os últimos dois anos, que marcaram com a pandemia da COVID-19, a nossa Revista nunca deixou de circular nas datas previstas, pelo contrário, ela esteve sempre presente, diversificando a cultura e o conhecimento da história de nossa terra. Ampliou-se de tal monta a pesquisa histórica, ciosa de prestar informes autênticos e iluminadores, em benefício de um povo sedento em conhecer as suas origens.

Nesta edição publicamos os textos dos seguintes associados: Antônio Felix da Silva, Aparecido Pereira Cardoso, Dário Teixeira Cotrim, Edvaldo de Aguiar Fróes, Gustavo Mameluque, José do Carmo Felício, José Santos Neto, Hermildo Rodrigues, Landulfo Santana Prado Filho, Lázaro Francisco Sena, Manoel Messias Oliveira,
Mara Yanmar Narciso da Cruz, Márcio Adriano Silva Moraes, Maria Clara Lage Vieira, Maria da Glória Caxito Mameluque, Orozimbo Veloso Prates, Ricardo Fernandes Lopes e Wanderlino Arruda. De outras categorias estão presentes os associados: José Alves Macedo, Raquel Veloso de Mendonça, Tânia Dias Freitas Santos e Zélia Patrocínio Oliveira Seixas.

Como já dissemos na edição anterior, a ilustração da capa
desta publicação tem impresso a fotografia da velha Matriz de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, de Matias Cardoso, por sugestão do associado Lázaro Francisco Sena e a escolha da cor da capa por alumbramento do associado Landulfo Santana Prado Filho. Para as próximas publicações, estimulamos os nossos ilustres associados a apresentarem suas ideias, pois a nossa revista trata-se de um livro que, sem dúvida, será bem acolhido por qualquer estante de biblioteca sedenta de conhecimentos sérios. Boa leitura!




O ESCRITOR

1º Encontro dos Escritores do
norte de Minas Gerais no ano de 1991

A Literatura é uma manifestação da alma. Por isso ela difere das Ciências Exatas. Vivendo em um País de Terceiro Mundo, subdesenvolvido, desigual, carente de saúde, de alimentos e principalmente de educação, desejamos que a nossa Literatura cresça e seja cada vez mais primorosa dentro dos padrões intelectualmente aceitos.

No entanto, se continuarmos com esse academismo seletivo que existe desde que o Brasil foi colonizado, podemos afirmar com segurança que a Literatura Brasileira representa realmente a cultura Brasileira?

A maioria dos brasileiros, principalmente os pobres, só concluem o Primeiro Grau de Ensino. Isso ocorre por várias razões. O jovem precisa trabalhar cedo para sobreviver e ajudar sua família também a sobreviver. Por estar desnutrido, ele não tem forças para trabalhar e estudar.

Qual é o estímulo que ele recebe da sociedade e principalmente da Escola? Os assuntos apresentados nos currículos são totalmente divorciados do seu dia a dia. A grande maioria que termina o Primeiro Grau, o faz para conseguir cumprir uma exigência legal que o obriga a isso. Comigo aconteceu isso e acredito que acontece com muitos dos que estão aqui presentes neste Encontro.

Aquele que termina o Primeiro Grau é semialfabetizado. Ele inicia uma nova etapa da vida, a vida profissional, em pleno vigor físico. Cheio de vida e de encanto. Se a pessoa vive em Montes Claros, não consegue ficar alheio a tanta beleza natural como os Montes Claros que nos envolvem.

A pessoa não consegue ignorar o momento mágico da alvorada e do entardecer, à solidão da Lua Cheia ou ao místico e enigmático momento da Lua Nova. A pessoa semi alfabetizada, como todo ser vivente, não resiste à beleza do Ipê em flor, ao cheiro do Alecrim do Cerrado, ao canto do Sabiá, à beleza e a formosura dos nossos jovens e ao esplendor e a grandiosidade do Criador, que através da Natureza, tudo nos dá sem exigir nada em troca.

Ah! Como vivenciar tudo isso, sem mostrar suas impressões aqueles que caminham ao seu lado? Somos cidadãos do Mundo. Pertencemos ao Mundo. Vivemos no Mundo. Queremos registrar para todos que existimos.

Queremos provar que sonhamos. Que amamos. Que somos sensíveis. Que somos responsáveis. Esse é o grande drama dos Montes Clarenses e porque não dizer de todos os brasileiros que conseguiram decifrar as letras.

Nossa Cultura Popular é exuberante, rica e criativa. A grande dificuldade é se comunicar e se expressar utilizando a Língua Pátria. Os mais destemidos vão às Bibliotecas, consultam os dicionários, pedem ajuda aos amigos para traduzir para a Língua Oficial, os seus pensamentos, suas emoções e seus sentimentos, porque a Escola não lhes ensinou a fazer isso.

Qual é o papel da Escola e dos intelectuais nesse contexto? A Alma do Brasil pulsa. Vive. É real. Negar essa realidade seria o mesmo que negar a nossa existência como Nação. Não podemos continuar dependendo de coragem para entrar no caudaloso rio que é a Literatura Brasileira.

Precisamos o quanto antes descer das cátedras e levar ao povo a educação e todos os instrumentos intelectuais que ele necessita para se manifestar livremente. Como Escritores precisamos contribuir com as
nossas obras para que o conhecimento chegue até ao povo.

Precisamos contribuir para que as nossas crianças terminem o Primeiro Grau, alfabetizado e com uma formação básica adequada para o seu desenvolvimento profissional e cultural. Precisamos dar aos jovens instrumentos úteis para que possam produzir, criar e manifestar os seus pensamentos sem temor e com liberdade.

A Arte é uma manifestação da Alma. É o momento sublime que o Ser Criado se assemelha ao Criador. Não podemos criar barreiras para limitar a criatividade. Devemos derrubar as barreiras existentes o quanto antes para que a Alma Brasileira possa brilhar como a claridade do Sol.


O ARRAIAL DE FORMIGAS DO RIO
VERDE E A CONSTITUINTE DE 1823.

Convocada a 3 de junho de 1822, instala a 3 de maio de 1823 e dissolvida, por decreto de Dom Pedro I, a 12 de novembro do mesmo ano, a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823 recebeu requerimentos e proposições de todas as regiões e províncias do Império. Dentre os pedidos feitos pelas câmaras municipais e procuradores do povo, consta um documento concernente ao norte da província de Minas Gerais e ao município de Montes Claros em especial.

Em 1823 o Procurador dos povos do Sertão dos Gerais e rio de São Francisco da parte de Leste, Thomaz da Costa Alcami Ferreira requisitou a Dom Pedro I a elevação do Arraial de Formigas do rio Verde à categoria de vila. A proposta foi encaminhada à Assembleia Constituinte, lida na sessão do dia 30 de julho pelo secretário Manoel José de Souza França e repassada à Comissão de Legislação e Estatística para estudos de viabilidade.

Com a “dissolução violenta” da Assembleia na tarde de 12 de novembro de 1823 e a prisão dos principais parlamentares por orAparecido dem do imperador (SOUSA, 1972, p. 410-420) o requerimento de Alcami Ferreira sequer foi apreciado pela comissão responsável. No entanto, a factibilidade do Arraial de Formigas do rio Verde tornar-se vila continuou a ser discutida em Ouro Preto pelos membros do Conselho de Governo e do Conselho Geral da Província de Minas Gerais. Os dados estatísticos do Plano apresentado em 10 de março de 1826 pelo secretário de governo Luiz Maia Silva Pinto para a nova organização civil da província de Minas Gerais comparada com o que existia em 1823 indicam que o Arraial de Formigas era o maior da região, contando com 192 fogos, tendo o seu distrito 1.972 almas e 500 fogos (CARVALHO, 1922, p. 71-99). O mapa da província de Minas contendo o projeto de nova divisão civil e eclesiástica (criação de municípios e freguesias), desenhado por Luiz Maria Silva Pinto em 1826 apresenta os contornos do futuro município de Formigas. O território da nova edilidade abrangeria os distritos de Formigas, Bom Fim e Itacambira, tendo por limites os rios Pacuí, Verde Grande, Jequitinhonha e Vacaria.

Os antecedentes da instauração da Vila de Formigas em 1832 envolveram esforços dos principais moradores da região, dentre os quais Thomaz da Costa Alcami Ferreira que solicitou ao monarca a criação do novo município em 1823. Apesar de alguns pesquisadores afirmarem que o município criado em 13 de outubro de 1831 e instalado em 16 de outubro do ano seguinte tenha sido uma imposição pura e simples das instâncias superiores (governos provincial e imperial), os debates no Conselho Geral da Província, os abaixo-assinados e requerimentos dos fazendeiros da região demonstram que a fundação das vilas de São Romão, Formigas, Curvelo e Januária atendeu diretamente aos anseios dos grupos políticos regionais. A câmara de Formigas, por exemplo, não foi ocupada por homens bons provenientes de Ouro Preto, mas por indivíduos que desde meados do século XVIII já eram proprietários de terras e grandes plantéis de escravos.


O FAMOSO BANDOLEIRO

O cordelista Rodolfo Coelho Cavalcante, baseado nos livros de Saul Alves Martins (Antônio Dó: o famoso bandoleiro do rio São Francisco) e Manoel Ambrósio Alves de Oliveira (Antônio Dó: o bandoleiro das barrancas), escreveu a história do maior bandoleiro norte-mineiro, Antônio Antunes de França, vulgo Antônio Dó, em cordel, detalhando as suas investidas contra o povo ordeiro do São Francisco. É uma narrativa interessante, curiosa e cheia de situações vividas perigosamente no cerrado mineiro, principalmente na cidade de São Francisco, nas beiradas do rio que lhe empresta o nome. Afinal, quem foi esse Antônio Dó?

Muito bem! Antônio Dó foi um trabalhador rural, que vivia do roçado de grãos e do que mais a terra lhe pudesse prometer. Criava o gado vacum e algumas vacas leiteiras, nos currais sem cercas, para o sustento exclusivo de sua família. Foi duramente atacado pela inveja e pelo ódio dos seus inimigos. O livro de Saul Martins, sobre a vida perigosa de Antônio Dó, traz a verdadeira história de um homem aguerrido no seu trabalho e que foi injustiçado por ser uma pessoa honesta e temente a Deus. Até no último momento ele conheceu o gosto da traição, quando foi abatido como um animal feroz, em sua própria casa. Antônio Dó nasceu no ano de 1859, na cidade de Pilão Arcado, no Estado da Bahia, de onde veio para a hinterlândia januarense. Em pouco tempo ele construiu um razoável patrimônio rural, e logo depois se envolveu em questões de briga por divisões de terra. Preso por trinta dias, ele foi maltratado cruelmente, isso na mesma época em que um de seus irmãos foi morto e o seu gado era roubado por ladrões. A partir desse desencontro, ele passou a atacar fazendas e povoados. Antônio Dó era um homem justiceiro e vingativo. As suas atitudes de cabra corajoso lhe proporcionou uma condição de continuar vivo, mesmo sabendo que a morte a todo instante lhe rondava impiedosamente. Nota-se que o escritor Manoel Ambrósio foi o primeiro a escrever as suas desventuras, enquanto isso, os escritores Brasiliano Braz e seu filho Petrônio Braz, registraram em livros, a saga heroica do bandoleiro do rio São Francisco com muita perfeição e extrema competência.

Da literatura para a sétima arte foi um pulo. Em 1980, a história do famoso bandoleiro foi apresentado nas telonas do cinema em todo território brasileiro. Na sinopse do filme de Paulo Leite Soares, que teve a participação impecável dos autores Luiz Linhares, Nelson Xavier e Roberto Bonfim diz que “Antônio Dó, um pacato fazendeiro da cidade de Januária, é preso e humilhado por um chefe político local. Revoltado com a opressão sofrida não só por ele, mas pelos habitantes da região, Dó forma um bando armado que, por mais de 10 anos, combate os governantes corruptos na localidade”. Ainda, neste sentido, é aguardado, com muita ansiedade, outro filme: “A saga de Antônio Dó”, que foi produzido por ilustre escritor Dr. Petrônio Braz..

“Desfiando o rosário de tragédias que envolveu a trajetória de Dó pelas malhas insidiosas do sertão bruto, pôde Manoel Ambrósio descarregar quantas amarguras e desgraças saboreara ao longo de sua luta contra a hipocrisia, a prepotência e a arbitrariedade, luta inglória e aniquilante dos iluminados contra a mediocridade enraizada nos cérebros obscuros e nas almas pútridas”. Ainda há muito o que se falar sobre a vida e morte desse famoso bandoleiro. No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros o prezado leitor encontra todos os livros sobre o bandido-herói Antônio Dó, Vai lá!

 


APENDICITE AGUDA
COMPLICADA NUM IDOSO

O paciente tinha 75 anos e apresentou quadro súbito de Abdômen Agudo Inflamatório: dor abdominal de média intensidade, difusa, que se localizou no baixo ventre, à direita, náuseas, vômitos, febre baixa e parada de eliminação de fezes e gases.

À palpação abdominal notava-se o sinal da descompressão brusca dolorosa (sinal de Blumberg) e discreta contratura muscular na FID (fossa ilíaca direita).

O hemograma mostrou leucocitose moderada de 10.200/ mm³, com desvio para a esquerda (neutrofilia ou aumento dos neutrófilos), eosinopenia (diminuição dos eosinófilos) e a VHS aumentada. Urina rotina normal. O RX simples do abdômen mostrou a presença de níveis hidroaéreos no baixo ventre (íleo paralítico).

Foi feito um ECG de rotina, jejum e indicada a cirurgia de urgência, realizada com sucesso: apendicectomia, devido apendicite aguda supurada, limpeza e drenagem da cavidade.

O pós operatório transcorria normalmente quando, no 6º dia, apareceram os sintomas e sinais de obstrução intestinal: vômitos frequentes, distensão abdominal progressiva, queda do estado geral e deiscência parcial (abertura) da incisão cirúrgica, com a ruptura de pontos, devido aos esforços provocados pelo vômitos. O RX simples do abdômen com o paciente de pé, mostrou níveis hidroaéreos difusos,
confirmando o diagnóstico.

Nova Laparotomia foi realizada, encontrando-se distensão generalizada
de todo o intestino delgado, com grande quantidade de líquido de estase no seu interior, que foi exaustivamente aspirado, através de sonda nasogástrica, perfazendo um total de 1,5 litro, sendo usada a técnica da “ordenha” do íleo para o jejuno proximal, para esvaziar as alças. A causa da obstrução foram as aderências no íleo terminal, com angulação do mesmo.

O pós operatório, no CTI, foi complicado, pois o paciente apresentou o temido íleo paralítico prolongado por dez dias, tendo-se de se manter a sonda nasogástrica, com aspiração constante e medida rigorosa do volume, dieta oral zero e hidratação venosa com nutrientes, plasma e “papa de hemácias”. Houve ferimento da asa do nariz, devido ao trauma da sonda, além da secura acentuada da língua e garganta. As funções cárdio vasculares e renais se mantiveram boas e a fisioterapia respiratória e dos membros inferiores, foram instituídas precocemente.

Com o retorno dos movimentos peristálticos e eliminação de gases, a sonda nasogástrica foi retirada e iniciou-se a alimentação oral, com alta do CTI.

Mas, outra complicação surgiu com o paciente em casa, assistido por Jansen e uma enfermeira prática: houve necrose parcial da incisão cirúrgica, com deiscência (abertura) da parede parcialmente, até ao nível da aponeurose, ficando tudo bloqueado, o que evitou a evisceração.

A conduta, então, foi conservadora, passando-se para a feitura de inúmeros curativos, com antibiótico local (Rifocina), antisépticos, luvas, para evitar as contaminações. Todos os dias, no final da tarde, ou à noite, lá ia Jansen para a residência do paciente, para os curativos e controle da evolução do caso, até a completa cicatrização “por segunda intensão”.

O paciente se recuperou totalmente, voltando a dirigir o seu automóvel, após alguns meses, ficando como sequela uma Hérnia Incisional (Eventração pós operatória) de médio volume, passando a usar uma cinta abdominal.

Esse caso marcou, profundamente, a Vida Profissional do Médico, despertando nele o sentimento de humildade, que deveria nortear
sempre tão nobre profissão!


CASOS DE TUBERCULOSE PULMONAR ANTIGA COM
TRATAMENTO DAS CAVERNAS RESIDUAIS

Na época havia 03 pacientes que foram tratados há mais de vinte anos de Tuberculose Pulmonar e se submeteram à chamada Colapsoterapia Pulmonar através de Pneumotórax Te-rapêutico (injeção de ar da cavidade pleural com aparelho apropriado), com a finalidade de fechamento das cavernas residuais, provocadas pela doença em estágio avançado. Era vulgarmente chamado de “isolamento do pulmão” afetado.

Tais pacientes, naquela época já sofriam de certo preconceito e, assim, procuravam esconder seu estado clínico e Jansen os atendia discretamente, fazendo controles radiológicos e os encaminhava para exame de escarro (pesquisa de baar: bacilo ácido álcool resistente) agente causador da tuberculose, no SESP, com um Serviço qualificado para aqueles casos.

O aspecto radiológico era, de certa maneira, impressionante, com opacificação total do hemitórax afetado e desvio do Mediastino para aquele lado e numerosas sinéquias (ade-rências), inclusive deformando a cúpula diafragmática. Mais uma fonte de aprendizado!


CIRROSE HEPÁTICA ALCOÓLICA COM HIPERTENSÃO PORTA

Homem de confiança do Prefeito e funcionário antigo Municipal, responsável pela parte financeira, fazia e datilografava os Contratos relativos ao Hospital da Conferência São Vicente de Paulo, onde Jansen trabalhava, chamou o Médico para atendê-lo na sua residência.

Numa cidade pequena as pessoas sabem muito bem dos hábitos e vícios dos seus moradores e, sabia-se, à boca pequena, que aquele senhor começava a ingerir cervejas super geladas às 6:00 horas da manhã e depois do expediente, nos botecos ou em sua casa, diariamente, apesar dos conselhos e ponderações da sua esposa. O casal não tinha filhos.

Na anamnese, o paciente queixou-se de vômitos escuros (hematêmeses) tipo “borra de café” e melena (fezes com sangue metabolizado, com aspecto de “carvão”).

Mucosas ligeiramente hipocoradas, hipertensão arterial e frequência cardíaca em torno de 100 bpm, dor à palpação do fígado e esplenomegalia (aumento do baço) tipo 2, entre a reborda costal esquerda e o umbigo, sem sinais de ascite (líquido na cavidade peritonial).

Com todos esses dados, a hipótese diagnóstica foi de Cirrose hepática Alcoólica com Hipertensão Porta e sua consequência: as Varizes de Esôfago, que se rompem e sangram, podendo levar ao óbito, quando o sangramento é copioso!

Aquele episódio cedeu com o tratamento clínico de soroterapia venosa, antieméticos e Vitamina K injetável (Kanakion IM).

Foi recomendado ao paciente procurar um Especialista em BH o mais breve possível: Gastroenterologista, para os exames necessários, mas se tratava de um doente rebelde que continuou, logo depois, a ingerir as tais cervejas, diariamente.

Num fim de semana, durante a ausência do Médico, teve morte súbita, devido a um provável IAM (Infarto Agudo do Miocárdio).

COLECISTITE AGUDA CALCULOSA COMPLICAD A COM OBSTRUÇÃO INTESTINAL, APÓS 12 DIAS DA CIRURGIA

Tratava-se de um paciente de média idade, obeso (125 Kg), taxista, sedentário e portador de um imenso volume abdominal, que já se submetera à uma ressecção de Lipoma na nuca, sob anestesia local, com Jansen, sendo seu cliente de longa data.

Era portador de Colelitíase, confirmada por radiologia, mas vinha protelando a cirurgia, quando se iniciou um quadro súbito de Colecistite Aguda, com dor intensa e contínua no Hipocôndrio Direito, náuseas, vômitos, febre, parada de eliminação de gases e fezes e icterícia moderada.

Foi internado de urgência, sendo realizados os exames rotineiros de sangue, urina, ECG e RX de tórax em AP e Perfil e indicada a Cirurgia.

Realizada a Laparotomia com incisão subcostal direita (Kocher), confirmando-se a Colecistite aguda calculosa, com colecistectomia, peritonização do leito vesicular e Colangiografia per operatória para se afastar a presença de cálculo no Colédoco, que foi normal.

Drenagem subhepática com dreno de Penrose, exteriorizado por contra
abertura e fechamento da parede abdominal, por planos. O pós operatório transcorreu normal, com alta hospitalar no 6º dia.

Mas, no 12º dia, o paciente foi trazido para o P.S do Hospital, com um quadro de Obstrução Intestinal: dor tipo cólica intensa, náuseas, vômitos, parada de eliminação de fezes e gases, distensão abdominal intensa, sendo reinternado de urgência, para Jansen, que solicitou uma Tomografia do Abdômen, com contraste, para se afastar Pancreatite Aguda, confirmando-se aquele primeiro diagnóstico.

Quando o paciente foi levado para o bloco cirúrgico, acompanhado pelo seu médico, Jansen ouviu um comentário da Enfermeira de sala:” é, doutor, tem de ser muito macho para enfrentar um abdômen desse”!

Realmente, nós Médicos, aprendemos com os nossos Mestres, que devemos enfrentar qualquer situação, com o objetivo de beneficiar os nossos pacientes, pois, o nosso comprometimento é: MISSÃO E VIDA, título escolhido para esse Livro!

Nova Laparotomia foi realizada, com incisão longitudinal ampla, pararetal interna direita subcostal, até abaixo do umbigo, devido ao grande volume abdominal.

Constatou-se torção de íleo terminal que se aderiu na fossa da vesícula biliar, retirada na primeira intervenção, com grande distensão das alças do delgado e líquido de estase, que foi aspirado, desfazendo-se as aderências e recolocando o intestino nos seus lugares, com fechamento
da parede por planos. O pós operatório transcorreu normal com o paciente recebendo alta hospitalar no 6º dia.

COLEPERITÔNIO PÓS COLECISTECTOMIA

O paciente de 50 anos de idade foi submetido à Colecistectomia usual, devido ser portador de Colecistite crônica calculosa sintomática, com crises frequentes de cólicas, náuseas, vômitos e intolerância a alimentos gordurosos, confirmado o diagnóstico pela Radiologia (Colecistograma oral).

Durante a cirurgia, foi realizada a rotineira Colangiografia per operatória, para se afastar cálculo no colédoco e alteração da papila duodenal, sendo normal.

O pós operatório transcorria normalmente quando, no 5º dia, apareceu dor intensa no hipocôndrio direito, febre, calafrios e queda do estado geral, com ligeira icterícia e o RX simples do Abdômen em ortostatismo mostrou a presença de líquido acumulado no espaço subhepático, apesar da presença do dreno de Penrose. O exame de sangue mostrou leucócito se, com aumento dos neutrófilos, granulações tóxicas e VHS aumentada.

Nova Laparotomia foi realizada, através da incisão anterior, constatando-se o temido Coleperiônio (acúmulo de bile no espaço subhepático), que foi devidamente aspirado lavando-se com soro fisiológico morno em abundância.

A ligadura do coto cístico estava íntegra, bem como os ductos hepáticos direito e esquerdo, hepático comum e colédoco, aventando-se a hipótese da existência de diminutos ductos hepáticos acessórios na fossa da vesícula biliar (variação anatômica), que escoaram a bile após a colecistectomia, anteriormente realizada. Colocado dreno tubular, com exteriorização por contra abertura da parede abdominal.

Como foi dito, o Coleperitônio (peritonite biliar) é um processo inflamatório grave, porque a bile não infectada exerce ação traumática sobre os vários tipos de células, inclusive os leucócitos, por dissolução dos lipóides, baixando a sua tensão superficial e pertubando o seu metabolismo normal, causando a ulterior desintegração dos mesmos. A bile também interfere com a atividade fagocitária dos leucócitos e as concentrações elevadas de bile destro- em completamente as células!

E mais, a bile é um ótimo caldo de cultura, propício para os poucos germes existentes inicialmente proliferarem rapidamente, provocando processo séptico secundário.

Todos aqueles efeitos nefastos citados são maiores em presença da bile infectada peritonial!

Felizmente, a complicação foi resolvida em tempo hábil e o paciente se recuperou totalmente. Satisfação geral!

UM CASO DE APENDICITE AGUDA SIMULANDO
COLECISTITE AGUDA

O paciente foi internado de urgência apresentando dor abdominal intensa, ao nível do quadrante superior direito, vômitos, febre moderada, parada de eliminação de gases e fezes e icterícia (conjuntivas oculares amareladas), de início há 02 dias.

Os exames complementares foram solicitados, inclusive RX simples de Abdome em ortostatismo (de pé), aventando-se a hipótese diagnóstica de Colecistite Aguda, iniciando-se o tratamento clínico e acompanhamento da evolução do caso.

Mas o quadro clínico se agravou, com aumento da icterícia e leucocitose acentuada com presença de granulações tóxicas nos neutrófilos, ausência de eosinófilos e VHS (velocidade da hemossedimentação) elevada, tudo indicando a instalação eminente da temível “sepsis abdominal”, ou seja a septicemia, com sua alta mortalidade!

Diante de situação tão grave, Jansen providenciou a remoção imediata do paciente para um Centro de maiores recursos a cerca de 50 KM.

Lá o paciente foi submetido à Laparotomia Exploradora, encontrando-se peritonite purulenta generalizada, devido Apendicite Aguda gangrenada e perfurada, com um detalhe: o apêndice cecal era do tipo ascendente, comprido, cuja ponta alcançava o espaço subhepático, explicando assim a simulação de uma Colecistite Aguda. O paciente faleceu no pós operatório imediato, devido à septicemia. Ficou, assim, aquele sentimento de frustação, para Jansen!


UM HOMEM DE VALOR!

Ao se comemorar amanhã os 100 anos de nascimento do meu tio Marcelo Mameluque Mota aproveito este espaço para falar dele e de uma viagem que fizemos em 1994 à cidade de São Francisco. Apenas ele e eu.

Nesta viagem passei a conhecer mais a personalidade e o “jeito de ser e de viver” do meu querido Tio Marcelo, irmão do meu pai, Pedro Mameluque Mota. Nascidos no Brejo do Amparo, em Januária, tiveram mais dois irmãos, Tio Batista e Tia Elza. Meu avô paterno faleceu aos 36 anos de idade. Vovó Dizia criou os filhos. Tio Marcelo mudou-se para Belo Horizonte visando estudar, trabalhar e vencer na vida. Venceu!!!

Seu primeiro emprego foi na Rádio Inconfidência, cursou o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército brasileiro em Belo Horizonte e fez o Curso de Medicina Veterinária na Universidade Federal de Minas Gerais. Por Decreto do Presidente Getúlio Vargas foi nomeado para a SUVALE, Superintendência do Vale do São Francisco, em Pirapora. Depois foi nomeado para o Quadro Permanente do Ministério da Agricultura onde merecidamente se aposentou.

Mas vamos falar um pouco da nossa viagem. Uma viagem que seria de aproximadamente uma hora e meia foi feita em três horas. Por que? Porque Tio Marcelo, culto e falante que era, fazia comentários inteligentes, e solicitava algumas paradas, para falar de Mirabela, Brasília de Minas, São João da Ponte, Januária, Belo Horizonte e das suas diversas viagens de carro e avião pelo estado a fora. Diferente dos homens apressados de hoje, meu tio não tinha pressa. Era um homem “bom de papo”, companheiro, gentil e prestativo. Como radioamador ajudou diversas famílias e diversas pessoas, em uma época em que não existiam celulares, internet e uma comunicação ágil e eficaz. Ele encurtava a distância entre as pessoas. Mas dentre as várias histórias e estórias que ele me contou vou destacar apenas duas; em face do espaço semanal.

Ele me contou que na pré-campanha à Prefeito de São Francisco a rural vermelha de campanha capotou na Serra da Onça, nos idos de 1970 e que chegar a notícia em Pirapora da morte do seu irmão Pedro Mameluque. Um caminhoneiro chegou com a trágica notícia. Tio Marcelo, acompanhado de alguns companheiros da SUVALE e da Polícia Militar se dirigiram-se ao local do acidente, na perigosa Serra da Onça. Avistou a rural capotada e Pedro Glorinha sentados na beira da estrada. Ele aflito perguntou se estavam todos bens quando meu pai respondeu: Estamos apenas empoeirados. Precisando de um bom chuveiro quente!!! Não tiveram sequer um arranhão. Segundo ele foi a proteção de Nossa Senhora Aparecida, sua Santa protetora.

A segunda estória é que ele teria ouvido, do quarto do hotel, no Rio de Janeiro, o tiro que levou ao suicídio o Ex-Presidente Getúlio Vargas. De fato, ele se encontrava no Rio de Janeiro na data do ocorrido e uma semana antes havia sido recebido em audiência por Getúlio e Tancredo Neves. Segundo ele Tancredo havia lhe oferecido um “Licor de Jenipapo” que ele aceitara.


Marcelo Mameluque Mota

Conheci três homens muito inteligentes. Dois pelos livros; outro pelos causos contados e histórias vividas: Os primeiros Darcy Ribeiro e Dr. Petrônio Braz, o terceiro Marcelo Mameluque Mota. Petrônio que tão bem conheceu Marcelo.

Foi uma viagem que muito ouvi e muito aprendi. Ele falava com entusiasmo de Tia Maria e dos filhos Silvana, Athos, Aramis e Soraia. Tinha muita alegria da trajetória vitoriosa de cada um dos meus primos. Falava com carinho do nosso primo Márcio (Nem) de quem era fã incondicional. Nem não deixava de “pregar peças” no saudoso Tio Marcelo. Uma delas, uma das primeiras, quando Tio Marcelo nos visitava na Avenida Ovídio de Abreu, Nem anunciara que o carro do Tio estava se incendiando. Tio Marcelo se dirigiu apressado para porta da casa e constatou que se tratava de um trote. Mas para terminar vou repetir o que meu pai falou do seu amado irmão em crônica publicada no “Jornal do Norte” de janeiro de 2002, portanto há 20 anos atrás:

“É tempo de agradecer. Tudo é dom de Deus: a vida, a saúde, a família reunida, os amigos... você para mim antes de ser pai e irmão, tem sido o melhor amigo: o amigo que acolhe, que compreende, que perdoa, que está sempre presente nas horas alegres ou difíceis e tenho certeza de que todos aqui concordam comigo: você é o meu amigo, o irmão camarada, que chega primeiro, que sorri, e que chora junto, que socorre, que apoia. A bíblia sagrada nos diz que o “amigo é uma poderosa proteção. Aquele que encontrou um amigo, encontrou um tesouro... Você é este tesouro para todos nós”.

Assino embaixo da fala do meu pai.


DARCY RIBEIRO

Este ano está sendo comemorado o centenário de nascimento do imortal montes-clarense Prof. Darcy Ribeiro. Uma das nossas maiores inteligências. Sendo assim falaremos um pouco do seu Romance: O mulo. O antropólogo Darcy se mostra completamente inteiro em “O Mulo”. Também considerado por muitos literatos brasileiros como um romance regional ele retrata o cotidiano do Sertão das Gerais, de Montes Claros a Cristalina de Goiás. Passa pela construção de Brasília-DF em um tempo de Coronéis, herança próxima dos Coronéis de Brasília de Minas, São Francisco, São Romão. Segundo Wanderlino Arruda, Darcy, sem demorar muito será reconhecido, como um dos grandes romancistas brasileiros do Século XX. Será, talvez, lembrado muito mais como romancista do que como o grande sociólogo, político, antropólogo e político questionador que foi. Somente para relembrar: “Assim cheguei a esse poço sem fundo de lembrança, que despejo em cima do senhor. Sou, hoje, um mulo cheio de reminiscências. Eu nem supunha que coubesse em mim, nem em ninguém, tanta lembrança como as aqui recordadas. Com surpresa vi quanta estava em guardada, soterrada, querendo sair, sopitar, sangrar.”

Sobre esta obra, Darcy Ribeiro escreveu em seu livro Testemunho“Ao contrário do chamado romance social que exalta humildes, mas heroicos lutadores populares, em O Mulo eu retrato o nosso povo roceiro, sobretudo os mais sofridos deles que são os negros, tal como os vi, sempre mais resignados que revoltados. Além da espoliação de sua força de trabalho e de toda sorte de opressões a que são submetidos, nossos caipiras sofrem um roubo maior que é o de sua consciência. O patronato rural se mete em suas mentes para fazê-los ver a si mesmos como a coisa mais reles que há.”

“Guardo em mim recordações indeléveis das brutalidades que presenciei em fazendas de minha gente mineira e por todos estes brasis, contra vaqueiros e lavradores que não esboçavam a menor reação.
Para eles a doença de um touro é infinitamente mais relevante que
qualquer peste que achaque sua mulher e seus filhos. Esta alienação
induzida de nossa gente, levada a crer que a ordem social é sagrada e
corresponde à vontade de Deus, é que eu tomei como tema, mostrando
negros e caboclos de uma humildade dolorosa diante de patrões
que os brutalizavam das formas mais perversas. Tanto me esmerei na
figuração destes contrastes que um pequeno bandido político em luta
eleitoral contra mim fez publicar alguns daqueles meus textos de denúncia como se expressassem minha postura frente aos negros“.

Darcy retoma o tema da velhice, da desilusão do fim de vida, dos nossos raros momentos de reflexão. “O mulo” é uma obra de questionamentos. Inicialmente incompreendido pelos críticos literários e pela maioria dos leitores este romance regional vai se mostrando cada vez mais universal à semelhança de “Grande Sertão: Veredas”. Philogônio é a antítese do herói Riobaldo de Rosa.

Havia uma certa harmonia, um certo respeito do Senhor de Engenho para com o negro e especialmente a negra das Senzalas. Negra que se deitava com o Senhor. Negra ama de leite. E viviam em harmonia. Em “o mulo” Darcy quebra esta lógica da” Democracia Racial”.
Permeando entre o bem e o mal.

Philogônio de Castro Maya (Maia com Y) é o seu último nome. Inventado. Engendrado pelo recadastramento da Justiça eleitoral goiana, porém, este nome teve diversos outros nomes: Já foi chamado de ninguém, de coisa, de estrupício, de nada, fuso, qualquer um, Filó, Terêncio Bórgia (que se julgava seu pai) e Terezo. Por fim: mulo.

“Uma madrugada que acordei estremunhado e saí porta a fora, bati com o pé no moleque que vivia enrodilhado ali; acordando assustado ele me perguntou gritando: Que é seu mulo? Quem é quem? Perguntei eu. Aprendi ali, naquela hora, meu apelido”.

Maya nunca amou verdadeiramente qualquer pessoa. Talvez um amor carnal por Emilinha; mas nem tanto porque a lançou aos negros sedentos. Terminou sem a quem deixar tantas conquistas iniciadas com arrieiro e depois tropeiro em Paracatu, sempre em direção às águas limpas de Goiás. Tornou-se rico de posses, mas pobre de sentimentos nobres. Fazia sua própria justiça, do seu jeito. E narra tudo na fazenda Laranjos. Amigos? Talvez um único; Militão. Tão amigo que coube a ele comprar o seu luxuoso caixão em Brasília-DF. Fim de vida amargurado? Arrependido? De alguns pecados...

Darcy que tanto admirava a fé de Mestra fininha talvez tenha convivido muito com Deus sem o saber. E poderia muito bem ter colocado em suas “confissões” uma máxima do Poeta maior Fernando Pessoa: Cheio de Deus não temo o que virá, pois venha o que vier, nunca será maior do que minh’alma”. Obrigado Darcy!


O UNIVERSO CRIOU A SI MESMO
A PARTIR DO NADA

Stephen Hawking (1942/2018) físico teórico e cosmólogo britânico, nascido em Oxford, tornou-se um dos maiores cientistas de todos os tempos, responsável por grande parte das maiores descobertas, relacionadas a astrofísica moderna. Hawking foi importante para a ciência porque conseguiu difundir o interesse pela cosmologia, ramo da astronomia que se foca em estudar a origem, a evolução, a composição e estrutura do universo. Foi um dos que mais pesquisou sobre os “Buracos negros” que instigam a nossa imaginação e são debatidos pelos cientistas há mais de 100 anos. “Buracos negros” são regiões no espaço celeste com enorme força gravitacional. Apesar de dificuldades motoras, Hawking é autor e coautor de 15 livros científicos, entre os quais “Uma breve história do tempo”. Em suas últimas publicações, sentado numa cadeira de rodas, com respirador artificial e incapaz de falar após uma traqueostomia, ele usava um aparelho para se comunicar, através de um movimento do queixo para digitar, em média, uma palavra por minuto, afetado pela doença conhecida como Esclerose Lateral Amiotrópica (ELA).

Notoriamente ateu, o cientista declarou em várias oportunidades que o “Universo criou a si mesmo a partir do nada”, descartando completamente a existência de Deus na criação. Paradoxalmente, num documentário recente, disponibilizado no YOUTUBE, Hawking explica a formação do sistema solar, que acabou sendo noticia em diversos sites internacionais, com uma série de informações que coincidem com o relato bíblico de Gênesis sobre a criação.

Eis o relato descrito na Bíblia em Gênesis 1-14: “ Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos. ” Ou seja: o momento da criação do Sol, da Lua e das estrelas.

A tese do falecido Hawking tem como principal defensor o escritor norte-americano Paul Hutchins, autor de livro sem edição em português, cujo titulo em tradução livre significa “ Hubble revela a criação.” Nessa obra ele se propõe a mostrar com base nas descobertas feitas pelos super telescópios (Hubble) da Agência Espacial Americana (NASA), evidências da narrativa de Gênesis 1. Hutchins relata que as recentes descobertas da NASA, tem mostrado que os planetas se formam em total escuridão, a partir de uma nuvem disforme de poeira e detritos, exatamente como é mostrado no documentário. Isso coincide exatamente com o relato de Gênesis 1.2a : “ E a terra era sem forma e vazia.” Ainda na opinião do autor, a afirmação do verso do mesmo Gênesis 1: “ Haja luz”, corresponderia ao momento em que o sol começou a ser um astro plenamente formado,como demonstrado no documentário de Stephen Hawking.

Por fim, não deixa de ser, no mínimo impressionante o fato de a Bíblia um livro escrito há milhares de anos, conter uma narrativa que tanto se assemelha ao que a ciência tem descoberto. Em uma época de incertezas, esta é uma boa noticia. A palavra de Deus é luz na escuridão. Pode se conhecer a Deus e ouvir a sua voz hoje pela leitura do maior de todos os livros: a Bíblia. Deus fala conosco como um pai fala com o seu filho ou como um amigo querido que nos escreve umacarta. O teólogo e arqueólogo Dr. Rodrigo Silva em um programa de Ronnie Von na TV afirmou: “este livro consegue fazer algo que outros livros não conseguem, e exemplificou: admiramos os clássicos de Machado de Assis, sabemos que a educação enobrece, mas se colocarmos os livros de Machado de Assis numa prisão, quantos presos abandonariam as drogas e a criminalidade? Nenhum. Contudo, ao colocar a Bíblia, vários teriam as vidas transformadas.” É um livro humano de origem divina.” Estudá-lo é a mais nobre de todas as ocupações; entendê-lo, o mais elevado de todos os objetivos.


“A MAÇONARIA NORTE-MINEIRA
NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX”: UM SPOILER

Recebi com surpresa, e ao mesmo tempo com alegria, a honrosa missão de prefaciar a feliz e importante obra intitulada “A Maçonaria Norte-Mineira na Segunda Metade do Século XIX”, de autoria do querido Irmão e confrade Yury Vieira Tupynambá de Lélis Mendes, que registra a instalação da maçonaria no Brasil, em especial no Norte de Minas.

Fazer o prólogo de tão importante obra, pesa no ombro de quem se aventura em fazê-lo, pois é uma imensa responsabilidade, ainda mais em se tratando de um aprendiz, o qual sempre serei, no desbaste incessante da pedra bruta.

O autor, Yury Tupynambá, advogado e mestre em História Política pela Universidade Estadual de Montes Claros, é um escritor que, apesar de jovem, já figura entre a plêiade de intelectuais de Montes Claros e região, sendo membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (Cadeira 96 – Patrono: Tobias Leal Tupinambá) e da Academia de Ciências, Letras e Artes de Coração de Jesus (Cadeira 09 – Patrona: Felicidade Perpétua Leal Tupinambá). Recém-iniciado nos Augustos Mistérios da Arte Real, já se mostrou comprometido com os ideais da Ordem Maçônica, honrando a memória de seus antepassados que dela fizeram parte, como os Irmãos Sebastião Mendes dos Santos (seu bisavô) e Capitão Camilo Cândido de Lélis (seu tetravô).

Na referida obra, o autor registra os processos de constituição, durante o século XIX, das Lojas maçônicas nas cidades de São Romão, Diamantina, Grão Mogol, Sêrro, Januária, Paracatu e Montes Claros, bem como a luta incessante de seus fundadores e membros ilustres, que não mediram esforços para tornar a sociedade mais justa, fraterna e igualitária.

Tal documentário nos remete ainda a fatos importantes, com destaque para a participação da Maçonaria norte-mineira na política da época, a exemplo da Conjuração Mineira, da Independência do Brasil, da Guerra do Paraguai, da Abolição da Escravatura e da Proclamação da República. Rememorar esses acontecimentos, muito nos orgulha por fazer parte de tão distinta Instituição.

O autor ainda nos presenteia com a narrativa, em capítulos distintos, sobre a fundação e acontecimentos históricos das Lojas Maçônicas: 1) “Atalaia do Norte” e “União Diamantinense” (Oriente de Diamantina); 2) “Aurora do Progresso” (Oriente de Grão Mogol); 3) “Estrella do Oriente” (Oriente do Sêrro), “União e Segredo Januarense” (Oriente de Januária) e “Nova Luz Paracatuense” (Oriente de Paracatu); e 4) “Pureza” (Oriente de Montes Claros).

Logo no início, quando contextualiza o surgimento da Maçonaria nas Minas Gerais, o autor traz a lume a existência da Loja Maçônica “Nova Estrella”, fundada ao Oriente de São Romão, no Norte de Minas, em 16 de dezembro de 1843, funcionando sob o Rito Moderno. A “Nova Estrella”, ainda segundo o autor, foi a pioneira oficina maçônica nestas plagas, não tendo passado despercebida por Leon Hyneman em seu World’s Masonic Register, de 1860.

Sobre a ARLS “Atalaia do Norte”, Oriente de Diamantina, Loja mais longeva do Vale do Jequitinhonha, surgida entre 1867 e 1873, o autor discorre sobre a fundação daquela oficina e sua primeira diretoria, mas não sem antes relatar a passagem do Alferes Tiradentes no Tijuco e sua participação na maçonaria local. O autor ainda empresta destaque a cidadãos ilustres, tais como: Padre Rolim, Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, General Vieira Couto de Magalhães e Major Domingos José de Almeida, bem como Coronel Josephino Vieira Machado (o “Barão do Guaicuí”), João Moreira Maia, João Nepomuceno Kubitschek (tio-avô materno de JK), Augusto Elias Kubitschek (avô materno de JK), João César de Oliveira (pai de JK), dentre outros, que iniciaram naquela oficina e que contribuíram sobremaneira para com o desenvolvimento das Minas Gerais e do Brasil. O autor aproveita o capítulo para relatar também um breve histórico sobre a ARLS “União Diamantinense”, cuja origem é incerta mas que reergueu-se em 1873, durando pouco mais de 10 anos. Esta vetusta Oficina seria novamente reerguida por maçons da “Atalaia do Norte” em 21 de abril de 1998.

Da ARLS “Aurora do Progresso” nº 3, Oriente de Grão Mogol, oficina também centenária, fundada em 1874, no apogeu da extração de diamantes, o autor destaca a figura do Coronel Gualter Martins Pereira, o “Barão de Grão Mogol”, idealizador e um dos fundadores daquela auspiciosa Oficina, bem como de outros cidadãos ilustres, que contribuíram com o desenvolvimento social e cultural de nossa centenária Grão Mogol, e que, como “pedreiros livres”, não mediram esforços para promover o progresso, a liberdade, a prática da virtude e o patriotismo incondicional, pilares que norteiam o cotidiano dos homens livres e de bons costumes.

Da ARLS “Estrella do Oriente”, ao Oriente do Sêrro, no centro-nordeste de Minas Gerais, Loja fundada em 14 de outubro de 1875 e regularizada em 08 de dezembro do mesmo ano, figurando como idealizadores e fundadores o tenente-coronel Jacinto Pereira de Magalhães e Castro e o Dr. Joaquim José Ferreira Rabello (o “Barão do Sêrro”), o autor enumera os feitos dos obreiros daquela Oficina, em especial os fundadores, cidadãos que através de suas ações, muito contribuíram para com o desenvolvimento político, cultural e social daquela região.

Da ARLS “União e Segredo Januarense” nº 392, Oriente de Januária, oficina fundada em 15 de dezembro de 1879 e regularizada em 18 de novembro de 1883, portanto, também centenária, o autor destaca o episódio de vandalismo, ocorrido em 1879, onde bandidos liderados por Manoel Tavares de Sá, o “Neco”, invadiu o prédio da Loja, destruindo acervos, decorações, mobília e incendiando livros, arquivos e documentos, o que comprometeu o registro da história dos primeiros anos daquela laboriosa Oficina.

Não obstante o truculento episódio ocorrido, a centenária “União e Segredo Januarense” seguiu firme no seu propósito, sob o comando de grandes homens, dentre os quais se destacam o Coronel Antônio José da Rocha, o Comendador Lindolpho Caetano de Souza e Silva, o Coronel Benedicto Alves Ferreira e, principalmente, o Coronel José Eleutério de Souza, o “Barão de São Romão”, que levaram adiante a honrosa missão de promover o progresso e o desenvolvimento de Januária e todo o Vale do São Francisco.

Da ARLS “Nova Luz Paracatuense” nº 394, ao Oriente de Paracatu, no noroeste mineiro, Oficina fundada em 13 de março de 1880, no auge da exploração do ouro, ao que se sabe, por irmãos do Oriente de Olinda-PE, o autor empresta destaque ao Irmão Júlio César de Melo Franco, baluarte da maçonaria paracatuense, bem como de outros laboriosos irmãos que não mediram esforços para alavancar o progresso de Paracatu e todo o noroeste mineiro.

Da ARLS “Pureza” nº 250, Oriente de Montes Claros, oficina fundada/regularizada em 21 de junho de 1894, sendo a mais antiga de Montes Claros, o jovem autor ainda nos brinda com uma bela narrativa sobre sua fundação, figurando como seu líder maior, o Tenente-Coronel Celestino Soares da Cruz, e ainda discorre sobre a biografia de cada um dos fundadores, grande parte deles portadores de patentes militares, enfatizando os feitos do bravo capitão Camilo Cândido de Lelles, seu tetravô.

O autor registra ainda os acontecimentos e a participação dos Irmãos da “Deus e Liberdade” e da “Esperança do Norte”, unidos em prol do soerguimento das colunas da Loja Pureza, atestando com propriedade a liderança intelectual do principal executor do projeto, o querido Irmão Carlos Américo Souto de Freitas.

Por fim, meus cumprimentos ao valoroso Irmão Yury Tupynambá, que numa linguagem clara, simples e concisa, registra com galhardia a história da instalação da Maçonaria no Norte de Minas, e sua efetiva participação nos principais acontecimentos de Minas Gerais e do Brasil.


O TREM E MINHAS LEMBRANÇAS

Sempre me vem à lembrança, o momento que ouço o trem chegando, geralmente vem acompanhado com sua buzina, soando alto, cá de casa, mas precisamente do meu quintal, em noite de poucas estrelas no céu, debaixo da goiabeira paro para escutar o trem, as vezes sento só pra ter o prazer de ouvi-lo passando, percebe-se que ele passa bem distante de minha casa, seu barulho é inconfundível, deslizando sobre os dormentes de madeira, rangendo as rodas nos trilhos, o motor acelerado, aos poucos, vai se aproximando em direção à estação.

Voltando no tempo, me veio a imagem de seu Jorge de dona Dilma chegando da cidade de Corinto, ele era funcionário da Rede Ferroviária naquela época, no momento em que ele se aproximava do bairro onde morávamos vizinho dele, o maquinista provavelmente, diminuía a velocidade, pra ele jogar sua bolsa, e bagagens na beira da linha, apeando antes do destino final, a estação, aquela cena pra mim ficaria marcada pra sempre, pura imaginação, na sua bagagem além das roupas de viagem, ele costumava trazer peixes, doces, queijos, e outras coisas que matavam a saudade de sua terra natal, lá se vai décadas, tanto seu Jorge como nossa família nunca mais se viram, mas o importante ficou: a nossa amizade.

O trem de ferro, sempre alimentou minha curiosidade, era fim dos anos setenta, fomos morar no bairro Cristo Rei recém construído, tudo novinho pintado de branco, a casa onde fomos morar não fazia parte do Bairro Cristo Rei, na verdade era o prolongamento do Bairro São Judas, mas era chique falar para as pessoas que morávamos no Cristo Rei, fomos morar devido ao grande volume de chuva que caiu incessante por quarenta dias, naquele ano de setenta e nove a chuva bateu recorde e foi um verdadeiro dilúvio, estradas interditadas, rios transbordando, lavouras se perdendo debaixo d água, e muitas casas desabando, e este foi o que nos levou à mudarmos de bairro, a velha casa na avenida Cula Mangabeira veio abaixo, era domingo, todo mundo em casa, estávamos aproveitando a visita do sol que à dias não dava as caras, e lá do meio da rua jogando conversa fora, assistimos as paredes desabando, até irem literalmente pro chão, a alternativa foi sair em busca de uma nova moradia, urgente.

No início após a nossa chegada, tudo era estranho, pessoas desconhecidas, o bairro era praticamente desabitado, com isso, bateu a
curiosidade de ir até à beira da linha pra ver o trem chegar da capital, era uma manhã ensolarada, eu e Ednaldo, meu irmão, subimos a rua pra ver de perto o trem passar, vi pela primeira vez quando ele surgiu na curva, acelerado e barulhento, soltando canudos grossos de fumaça, os vagões de passageiros vinham abarrotados de pessoas, todos espremidos nas janelas, observando a chegada na cidade, o local ainda era despovoado, era mato pra todo o lado, do alto do barranco a molecada jogava pedra nos vagões, era uma verdadeira festa pra eles, não sabíamos que aquela cena já era rotineira para quem morava às margens da linha, e assim fiquei conhecendo o trem e achei o máximo.
Foi inesquecível!

O trem baiano que circulou por décadas na nossa região, trouxe desenvolvimento, encurtou caminhos, atraiu paixões e construiu famílias, uniu culturas e costumes, e acabou desativado, segundo a empresa, por motivos de retorno financeiro, e reestruturação da empresa. Foi um choro sem medida, pessoas que dependiam do transporte ficaram de pés e mãos atadas, a Estação Ferroviária, no centro de Montes Claros, responsável pela entrada e saída de tanta gente, perdeu seu glamour e nunca mais foi a mesma. Ficou deserta, sem vida, um entra e sai de pessoas vindas de todos os cantos, com suas bagagens. Tudo isso ficou mesmo só na lembrança, e nas narrativas de boca em boca.

Sempre que assisto a um filme, no qual aparece as imagens de um trem, confesso que me faz voltar no tempo, as lembranças me leva até à época dos filmes de faroeste americano, atores consagrados davam o máximo de realidade nas cenas da telona, tempo bom sem compromisso, as cenas nunca mais saíram de minha mente até hoje, jamais esqueci, eram bandidos malfeitores, mocinhos valentes, índios apaches selvagens defendendo seu território contra a invasão do homem branco, e do outro lado soldados armados até os dentes , já os passageiros, estes, no meio do fogo cruzado tentando se proteger, tudo faz paz parte do tempo que se foi há muito tempo, mas o trem que vi pela primeira, não fazia parte das gravações de algum filme de faroeste, ele era real, assim como a minha curiosidade.

Na obra de José Mauro de Vasconcelos, no livro O Meu Pé de Laranja Lima, a amizade de Zezé e o Português, ficou marcada pela amizade verdadeira, o convívio com a pobreza, o carinho e atenção que o menino pobre não tinha dentro de casa, foi retribuída de sobra pelo amigo ao qual ele ficou conhecendo. Mas o trem de ferro de Mangaratiba foi cruel com o destino dos dois amigos, tirou a vida do Portuga, impiedosamente, segundo relato da obra do escritor, o automóvel do amigo de Zezé, foi atingido pelo trem, quando o mesmo fazia a travessia pela linha férrea, o automóvel ficou destruído com o impacto, ao saber da notícia, a criança adoeceu, ficou de cama, tinha pesadelos e chamava pelo amigo à todo momento, o médico que o consultou, revelou a família que o motivo da doença, provavelmente seria emocional, mas isso só o pobre Zezé poderia responder.

O trem que conheci não se chamava Mangaratiba, e nem matou nenhum amigo meu, ele era conhecido pelo nome de Trem Baiano, que levava gente, mercadorias, sonhos, e esperança por onde passava neste sertão afora, fui apresentado a ele, numa manhã, levado pelas mãos da minha própria curiosidade.

Seu Jorge, aquele nosso amigo que pulava do trem em movimento, este foi embora, para sua terra natal, sem notícias, como o barulho da máquina que puxa os vagões de passageiros, a fumaça escura dos motores, e a buzina potente que ecoava desde a entrada da cidade rumo à estação, ainda ouço todos os dias, quer seja no meu quintal de casa, na rua, pois toda forma de lembrar, é uma forma de viver pensando, que tudo é bom enquanto dura.


FEIJOADA COMPLETA

Um rico comerciante da cidade resolveu fazer uma festa de arromba para comemorar duas datas importantes ao mesmo tempo: o aniversário da esposa e 50 anos de casamento.

Ao tomar conhecimento das excelentes qualidades de Petrônio como um mâitre caipira, contratou-o para fazer uma feijoada no capricho. Coisa para ficar na história. Era festa para mais de 200 convidados e o homem queria tudo do bom e do melhor. Se a festa for para 200 e não forem distribuídos convites pessoais, pode-se esperar pelo menos o triplo.

Foi um fim de semana memorável no sítio do comerciante. Bebidas havia de tudo que é tipo e marca. De cachaça curraleira de primeira, ao mais legítimo uísque escocês, passando por runs, espumantes, vinhos, cervejas e refrigerantes variados. Vodkas, só de primeira qualidade. Não havia aquelas tais de vodkas “entorta chifre”. Neco daquelas pingas que arrancam o couro do beiço.

Também havia deliciosos sucos de umbu, de maracujá silvestre, de coquinho azedo, de jenipapo e até levanta defunto, um afrodisíaco feito à base de ovo de codorna com casca, caracu, leite, manteiga de requeijão e açúcar, tudo bem batido no liquidificador.

Mas dentre todas as atrações, a feijoada de Petrônio era a mais esperada. E o nosso amigo feijoadeiro não fez por menos. Caprichou na qualidade e na quantidade. Seis caldeirões de 50 litros cada, cheios até a tampa da mais legítima feijoada brasileira.

O dono da festa esperava duzentos convidados ou mais. Ou mais? Ou muito mais? Perderam a conta. Os duzentos talheres encomendados foram higienizados várias vezes para atender os convidados, não convidados, penetras e bicões. Um montoeiro de gente que não acabava nunca.

Mas, quando o feijoadeiro dava a última mexida num dos caldeirões de feijoada, o filho do dono da casa fez uma brincadeira de tremendo mau gosto. Ele sabia que Petrônio era mais cosquento do que burro da cara branca. Aproximou-se por trás com os indicadores em riste e pegou o moleque pelas costelas, como se pega um cavalo empacador nas esporas.

Quando Petrônio abriu a boca para dar um berro, as duas dentaduras
pularam dentro do caldeirão de feijoada como um nadador pula na piscina. Já foram caindo e afundando. A panela estava quente. Tentou enfiar a mão. Não deu. Com uma concha bem grande ele tentou várias vezes resgatar as encrencas. Nada. E agora? Fazer o quê? Jogar fora 50 litros de feijoada? Nunca! Tinham que pensar rápido no que fazer. Ninguém ficou sabendo de nada. Apenas o filho do patrão viu o insólito acontecimento.

O rapaz sugeriu que deixassem aquele caldeirão por último, porque talvez não fosse preciso usá-lo. Ou, no caso de chegarem muitos bicões, aquele seria servido apenas para eles. Os convidados de honra, os bacanas, isto é, os primeiros a chegar comeriam das feijoadas dos outros caldeirões, sem o tempero das dentaduras sem escovar. Petrônio saltou de banda.

- Cê é besta, rapaz? Eu vou ficar sem as minhas dentaduras até o fim da festa? Vou servir logo este aqui, pra pegar as duas pererecas! Quero nem saber se convidado é rico, se é bacana ou pé rapado. Vai ter que comer é desta aqui! E você faça o favor de ficar calado. Se abrir o bico eu jogo este caldeirão de feijoada no lixo agorinha mesmo.

- Tá bão, pode servir! Não vou falar nada com ninguém não.

- E tem mais - emendou Petrônio - se você comentar alguma coisa eu conto pro seu pai que a sacanagem foi você quem fez. Foi por sua culpa que as dentaduras caíram dentro do caldeirão!

- Não, não, respondeu o rapaz, não digo nada a ninguém.

Os convidados já estavam de prontidão esperando as delícias. Petrônio foi enchendo as panelinhas de barro com a feijoada, mas olhando cuidadosamente para não servir também as duas dentaduras. Entregava aos garçons e esses levavam às mesas, como se não tivesse acontecido nada. Em menos de quinze minutos, raspou o fundo e achou as duas pererecas. Levou-as à pia, lavou e as colocou na boca. Só depois, voltou a sorrir.

A galera não parava de enaltecer as qualidades da feijoada. Muitos diziam que nunca haviam saboreado um prato tão delicioso como aquele.


AÇÃO DE SANEANTES INDICADA
CONTRA O CORONA-VÍRUS

Antes de explicar a finalidade deste trabalho, apresento a mais consagrada Doutora Francine Souza Alves da Fonseca, filha de Vera Lúcia Santos de Souza, e do autor deste artigo do IHGMC, Landulfo Prado.

Inestimável pesquisadora servidora técnica do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Montes Claros. É licenciada em Química pela Universidade de Uberaba e em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). É especialista em Química pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestre em Ciências Biológicas (Unimontes) e Doutora em Ciências com ênfase na Química Orgânica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Realizou pós-doutorado em Produção Vegetal pelo Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais. Recebeu do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) a primeira carta patente da Universidade Estadual de Montes Claros, relacionada a um Coletor de Folhas e Frutos de Macaúba. Atuou como docente no ensino superior ministrando disciplinas relacionadas à área das Ciências Naturais. Premiada por vários anos desde o ano de 2011, atuação em grandes áreas das ciências exatas, várias produções bibliográficas e formações complementares.

Resignada profissional altamente qualificada e com experiência e servidora técnica federal, na sua sensibilidade de observações de apuração, conjuga o pensamento bem compreendido em nosso Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC), que é de desenvolver na história a inteligência, a ação que edifica no trabalho da ciência existente dentro da Instituição de acesso a pesquisas que gera um maior intercâmbio global de conhecimento, associado a um crescimento da leitura e citação de trabalho do autor. No panorama científico prova o progresso do conhecimento garantido pelos instrumentos de serviço na experiência materializada, revela os elementos necessários e dar-lhe pleno cumprimento no momento que transcorre a epidemia 2019/2020. A ciência auxilia na cooperação de encontrar em novas possibilidades disposição de entender o conhecimento, na certeza de que renovamos ideias, experiências e destinos, cada dia.

O extraordinário trabalho realizado pela digna pesquisadora, e demais colegas, intitulado: “A química dos saneantes em tempos de covid-19, você sabe como isso funciona? consistiu na identificação, organização, e apresentação de informações publicadas em artigos científicos, no sentido de adaptar os recursos da informação às reais necessidades do leitor, tornando o acesso as informações que lhe sirva como fonte de alimentação e suporte teórico. Os pesquisadores enfatizaram o relevante papel da ciência de qualidade, transformados em discernimento de fácil compreensão pelos autores permitindo uma maior proximidade com o universo do conhecimento e da cultura, cultivando novo entendimento inteirado na matéria científica.

A abalizada pesquisa; ação de saneantes indicados contra o coronavírus de Francine Fonseca, e demais pesquisadores, destaca que, desde o início da pandemia, foram divulgados dados sobre o aumento dos casos de intoxicação com produtos de limpeza, além do registro da alta procura por álcool em gel no mercado, embora não seja o único produto eficaz contra o agente.

Doutora Francine Fonseca informa: o maior aliado do consumidor contra as intoxicações está no próprio produto: o rótulo, que reúne as principais informações sobre a composição e recomendações de uso. Mas a excessiva linguagem técnica expressa em textos de letra reduzida é um dos impedimentos para a compreensão das recomendações. “A indústria de saneantes tem muita preocupação em manter o controle de qualidade e o controle de processo, e os rótulos deixam essas informações disponíveis. Mas temos muitas críticas em relação a eles. Talvez seja o momento de demandarmos das empresas que decodifiquem essa informação para alcançar o público” Francine Fonseca, ainda elucida que em maio de 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) divulgou nota técnica em que informa o crescimento dos casos de intoxicação com esses produtos. Apesar da quantidade de informações confiáveis disponíveis, a pesquisadora chama atenção para a divulgação de notícias falsas pelas redes sociais. “Muitos procedimentos são condenados pela ANVISA. Mesmo assim, acabam difundidos pelos aplicativos de mensagens. Orientamos que os produtos sejam utilizados em concordância com as orientações do fabricante”

O trabalho completo foi publicado no volume 43 da revista Química Nova (http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp? id=9104). Na publicação, são expostos os principais saneantes de uso comum regularizados pela ANVISA. O documento reúne detalhes sobre os álcoois, os sais quaternários de amônio, os fenóis e compostos fenólicos, o cloro e seus derivados e os peroxigênios. A pesquisadora chama atenção para as indicações de uso dos produtos. “O fenol, por exemplo, não é recomendado para ambientes com crianças, embora seja encontrado em produtos de limpeza muito conhecidos. É um saneante eficiente, com ação contra o coronavírus, mas é preciso cuidado com intoxicações”, aponta.

No caso da desinfecção de alimentos, Doutora Francine salienta uma preocupação. “Não podem ser utilizados álcoois nem fenólicos. O hipoclorito de sódio é recomendado e apenas em concentração baixa” explicou. Além disso, não se deve usar vinagre ou bicarbonato de sódio contra o novo coronavírus, pois esses produtos não são recomendados pela ANVISA. Já os sais quaternários de amônio são os indicados, de acordo com a pesquisadora, para desinfecção de pisos e banheiros. “Trata-se de moléculas encontradas em desinfetantes em geral”

Além de Francine, o artigo A química dos saneantes em tempos de covid-19: É assinada pelos professores Maria Lair Sabóia, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Ramon Almeida, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e Caroline Gonçalves da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).

Doutora Francine Souza Alves da Fonseca, servidora pública da UFMG, em seus estudos é sempre se atualizar através de pesquisa e cursos, aprofundando em temas imprescindíveis no universo da ciência, lida com as normas, sabe implementá-las na Instituição e como adequar a elas e se destacar nesse universo o domínio sobre a Inteligência em seu repositório institucional de trabalhos publicados, se torna muito mais analítico e dimensional, ela passa a ter uma visão 360º das pesquisas, tendo essa visão, ela prepara a Instituição para lidar com o cenário analisado colher dados e reunir informações estratégicas de forma competente.

A nossa gratidão a quem, todos os dias, se dedicam à evolução da ciência e à saúde da população, construindo pontes entre a comunidade científica e o público de forma ética e solidária!

Todos têm uma missão, cada um com sua responsabilidade.

Para alguns, pode parecer algo trivial, algo que serve apenas para marcar o momento. Mas, com certeza para muitos, esta é uma homenagem que vai além da simples frase e da imagem, constituindo mais um estímulo para que todos sigam em frente na luta contra a COVID-19.

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros registra no volume da Revista XXVII, com muita honra e destaca o brilhante trabalho da autora inicialmente apresentada e expressamos nosso reconhecimento pelo Progresso do Conhecimento que têm respeito duradouro em defesa da Ciência, Tecnologia e Inovação na sociedade brasileira. Com a consciência no intuito de preservar as instituições universitárias e científicas brasileiras, na construção do processo civilizatório no Brasil.

O negacionismo em geral, e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas.

Parabéns e sucesso nas suas atividades.


CASARÕES E SOBRADOS

O conceito básico desses dois tipos de edificação está em todos os dicionários e enciclopédias. Casarão é uma casa grande, é uma casa em seu grau aumentativo. Sobrado é uma casa de dois ou mais pavimentos; pode ser entendido também apenas como a parte superior ao pavimento térreo de um edifício. Não é pacífica a explicação da etimologia da palavra sobrado. Muitos estudiosos afirmam que o sentido deste termo tem a ver com sobra, o que não é essencial, que não faz falta. De nossa parte, preferimos aceitar a ideia de que se refere ao que está sobre, isto é, em cima de alguma coisa. Fica a discussão em aberto. O que caracteriza o casarão é o tamanho, enquanto o sobrado se define pela superposição de compartimentos, donde se conclui que um sobrado pode ser chamado de casarão, dependendo do seu tamanho, mas uma casa, ou mesmo um casarão, jamais será um sobrado, se possuir apenas um pavimento térreo.

Montes Claros vive um momento especial de ressurreição do passado, conservação do presente e preservação do futuro, pela valorização de seu patrimônio histórico, material e imaterial. Com isso, ganharam notoriedade vários casarões e sobrados antigos, a refletirem com fidelidade os valores culturais da época de sua edificação. Infelizmente, alguns deles foram destruídos pelas intempéries, e outros demolidos criminosamente, para ceder espaço à ganância humana, sob falsos pretextos de evolução e modernidade. Este nosso artigo sobre um assunto tão recorrente não passa de uma pequena fagulha ao sabor do vento, sem destino certo para propagar-se, ou mesmo para extinguir-se. De qualquer forma, fica registrado o nosso posicionamento em favor da memória viva de nossa cidade.

O naturalista francês Augusto de Saint Hilaire, em sua “Viagem pelas Províncias de Rio de Janeiro e Minas Gerais”, afirma que se encontrava na povoação de Formigas, no dia 3 de agosto de 1817, onde assistiu a uma “procissão que lá, como em todas as igrejas da província das Minas, se faz nesse dia, em honra da virgem.” Ao descrever aspectos gerais da povoação, afirma que ela “pode compreender duzentas casas e mais de oitocentas almas.” Sobre essas construções, informa: “As casas são quase todas pequenas, mais ou menos quadradas, baixas e cobertas de telhas. Três ou quatro tem sobrado. Algumas são construídas de adobes, as outras de barro e varas cruzadas.” Como se verifica com o narrador, naquele povoado de então, antes de sua emancipação política, nenhuma casa existia que despertasse sua atenção, salvo quando afirma que “três ou quatro” dentre elas tinham sobrado.

A 13 de outubro de 1831, o povoado – ou arraial - se emancipou politicamente, transformando-se na Vila de Montes Claros de Formigas. Nessa condição, permaneceu até 3 de julho de 1857, quando foi elevada à categoria de cidade, com o topônimo de Montes Claros, tão somente.

Os historiadores mais antigos que escreveram sobre nossa cidade foram o desembargador Antônio Augusto Velloso, que em 1897 publicou a monografia intitulada “Corografia Mineira-Município de Montes Claros”, e o agrônomo Urbino de Souza Viana, que em 1916 publicou sua “Monografia Histórica, Geográfica e Descritiva de Montes Claros.” Citamos aqui esses dois renomados autores, para destacar que nenhum deles se referiu aos “três ou quatro” sobrados noticiados por Saint Hilaire, em sua viagem de 1817. O primeiro deles não trouxe qualquer informação sobre os tipos de moradia existentes na cidade. Quanto a Urbino Viana, apresenta uma descrição histórico-geográfica das praças e ruas de seu tempo, citando algumas casas e sobrados, todavia sem qualquer referência ao relatório do naturalista francês.

Por volta da década de 1950, surgem mais dois escritores em Montes Claros, dispostos a garimpar e registrar a memória histórica da cidade: o médico Hermes Augusto de Paula e o agrimensor Nelson Washington Viana. Mais de cento e trinta anos depois de Saint Hilaire, os dois se baseiam em velhos documentos e na tradição oral, para esclarecer quais eram os três ou quatro sobrados citados pelo viajante francês, em sua passagem por aqui em 1817. Segundo Nelson Viana, em sua monumental obra “Serões Montesclarenses”, publicada em agosto de 1972, os sobrados citados por Saint Hilaire poderiam ser os seguintes: o Mirante no Largo da Matriz, demolido ainda no final do Séc. XIX; o sobrado nº 99 da rua Cel. Celestino, onde funciona atualmente a Secretaria Municipal de Cultura; o sobrado nº 18 da praça Dr. Chaves, conhecido como sobrado dos Mendes, ao lado do Centro Cultural Hermes de Paula; e o chamado sobrado do Simeão, destruído por um incêndio em 10 de junho de 1934, que se situava à altura do nº 145 da atual rua Padre Teixeira. Muitas dúvidas e questionamentos existem sobre esses quatro sobrados, inclusive em relação à sua antiguidade, isto é, qual deles foi o primeiro a ser construído. Não sendo objeto de nosso artigo esclarecer tal situação, deixamos essa dúvida à eventual curiosidade do leitor. De nossa parte, discutiremos a existência de dois outros sobrados, com “registro de nascimento” após a emancipação política de Montes Claros, em 13 de outubro de 1831: o que hoje se localiza na rua Justino Câmara, nº 114 - que é o mesmo da rua Cel. Celestino, nº 140 – e o que existiu sob o nº 9, na praça Dr. Chaves, ou Praça da Matriz.

Faça-se um teste com um turista que pela primeira vez visita Montes Claros e, após conhecer o entorno histórico da cidade, pergunte-se-lhe qual deve ser o sobrado mais antigo que encontrou. Ele, certamente, não terá dúvidas e apontará o prédio da esquina da rua Cel. Celestino com a rua Justino Câmara, pelas características gerais de sua construção, pelo desalinhamento de sua estrutura, pela falta de simetria de portas e janelas, enfim, pela ausência de detalhes ornamentais em suas fachadas. De fato, ele foi o primeiro sobrado a ser construído na Vila de Montes Claros de Formigas, sob licença da Câmara Municipal, requerida pelo cidadão Antônio Pereira dos Anjos, em 7 de outubro de 1852. Esse sobrado tornou-se o mais importante da cidade até o início do século seguinte, com citação de alguns visitantes ilustres que ali se hospedaram. Após servir de residência para seu construtor e familiares durante muito tempo, tornou-se objeto de transações comerciais, vindo a ser arrematado em leilão público pela professora Dulce Sarmento, que ali residiu e exerceu suas atividades de educadora musical, tão nobilitantes para o desenvolvimento cultural de Montes Claros. Desse período, ficou o nome de Sobrado de Dulce Sarmento, como ainda é conhecido em alguns círculos sociais da cidade. A ocupação seguinte desse sobrado foi para acolher a então famosa Pensão de Dona Geny, onde se hospedavam comerciantes e fazendeiros bem posicionados financeiramente, quando a ideia de permanência em hotel ainda não era tão valorizada em nosso meio. Passada essa fase, o sobrado foi perdendo prestígio e entrando em decadência, até ser adquirido pela Prefeitura Municipal. Essa transferência, todavia, não evitou que se iniciasse um processo de degradação estrutural, somente contida, em parte, pela colocação de tapumes em suas portas e janelas, para impedir o acesso indevido de pessoas inconvenientes. Foi nessa situação que o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros aceitou o desafio de ocupar o sobrado, ainda que parcial e provisoriamente, com o compromisso de promover a sua revitalização e preservação, como importante marco do patrimônio cultural da cidade. É necessário registrar que, ao Instituto, desde a sua fundação em 27 de dezembro de 2006, nunca faltou o apoio da Prefeitura Municipal. Mas agora, a partir de 6 de março de 2017, deu-se um passo decisivo para o estabelecimento de sua sede, com direito a endereço exclusivo, na rua Cel. Celestino, nº 140. Isso foi possível com o empenho da Diretoria do Instituto, através do então presidente Lázaro Francisco Sena, assessorado pelo diretor de museu Dário Teixeira Cotrim, junto ao secretário municipal de cultura, João Carlos Rodrigues de Oliveira, assessorado por sua diretora de patrimônio, Raquel Veloso de Mendonça. E o sobrado, hoje, “tem a cara do Instituto”, conforme feliz definição do saudoso confrade Magnos Denner Medeiros.

Que assim continue, pelos tempos além.


Sobrado de Dulce Sarmento, o primeiro a ser edificado na Vila de Montes Claros de Formigas, após a sua emancipação política em 1831. Sede atual do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros-IHGMC.

Quanto ao sobrado que existiu sob o nº 9 da Praça da Matriz, teve sua edificação solicitada a 23 de abril de 1853, pelo Cel. João Alves Maurício, ocupando assim o segundo lugar, por antiguidade, dentre as construções do tipo, ainda na Vila de Montes Claros de Formigas. O histórico desse sobrado encontra-se, de forma irretocável, no primeiro capítulo do livro de memórias do Dr. João Valle Maurício, intitulado Janela do Sobrado. Mais do que a lembrança do velho e desaparecido sobrado, ali se registra o depoimento emocionado do bisneto de seu construtor. Como se não bastasse a narrativa em prosa, o Dr. Maurício nos lega também, já no segundo capítulo, o retrato versificado daquele edifício, poeticamente designado como Sobradão, tão somente assim.
E ninguém desconhece, nas atuais tertúlias literárias de Montes Claros, a presença marcante do Sobradão, na maviosa declamação de Dórys Araújo, nossa jubilosa confreira do Instituto Histórico e Geográfico da cidade. Alguma informação, contudo, precisa ser questionada, como é o caso do livro “Montes Claros de Ontem e de Hoje”, das acadêmicas Yvonne Silveira e Zezé Colares, edição de 1995, onde consta, na página 28, a publicação de excertos do poema Sobradão, vinculando-o ao prédio n° 99 da rua Cel. Celestino, que hoje acolhe a Secretaria Municipal de Cultura. O histórico desse último sobrado precisa ser redefinido e consolidado, com base em documentos de valor probatório e não apenas em notícias de caráter sentimental, como a que informa que ali se hospedou, em 1817, o naturalista francês Augusto de Saint Hilaire. Diferentemente de quase todos os pontos de pousada, em seu relatório, não revela quem o hospedou na povoação de Formigas. Como ele mesmo registra que naquele povoado já existia uma hospedaria, não se descarta a hipótese de que ali tenha feito a sua pousada. Talvez o equívoco dos historiadores tenha sido motivado pelo fato de o cientista ter-se hospedado, a cinco jornadas antes de chegar a Formigas, na fazenda Santo Eloy, de propriedade de Pedro Virciani, também proprietário do aludido prédio n° 99. Saint Hilaire muito elogiou a Pedro Virciani, pela hospedagem na Santo Eloy, mas nada disse sobre a sua pousada em Formigas. Enquanto isto, fica o sobrado n° 99 da rua Cel. Celestino carente de retificação em sua história, deixando irretocável o demolido “Sobradão” n° 9 da Praça da Matriz, conforme bem o retratou em seu magistral poema o Dr. João Valle Maurício.


Sobrado do Cel. João Alves Maurício, o segundo a ser edificado na Vila de
Montes Claros de Formigas, após sua emancipação política em 1831. Depois
de ser demolido, resta, como lembrança, o magistral poema SOBRADÃO, de
autoria de João Valle Maurício, bisneto de seu construtor.


EVOLUÇÃO MONETÁRIA NO BRASIL

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, no limiar do século XVI, por aqui ainda não circulava dinheiro algum. Na falta de moeda disponível nas formas cunhadas ou impressas, ficou convencionado que a moeda seria o valioso pau-brasil, cortado e carregado pelos nativos (índios) na quantidade e outros ajustes entre as partes, principalmente na troca por espelhos, miçangas, facas, machados, anzóis, linhas para pescar, além de peças de roupas, alpercatas, chapéus e pouca coisa de uso doméstico. As moedas portuguesas, cunhadas, e o dinheiro em papel moeda só chegaram no início da colonização e, depois, as moedas e as notas espanholas, impressas em papel. Com as invasões dos franceses e holandeses, vieram outras moedas européias. Apesar da multiplicidade de moedas, elas eram insuficientes para atender as necessidades da Colônia. Boa parte das negociações até o século XIX, ainda era feita por meio dos famosos escambos, ou seja, trocas por produtos como açúcar, algodão, couro, cacau, fumo e aguardente, dentre outros.

A primeira Casa da Moeda do Brasil foi inaugurada em 1694, em Salvador, para cunhar os réis portugueses, em cobre e depois, em ouro, já no reinado de D. João V (1706 – 1750), em pleno ciclo do ouro brasileiro.

Veio a independência, mas só no Segundo Império, a partir de 1833, surgiu o primeiro sistema monetário próprio. O real (cujo plural era réis), mas conhecido por mil-réis. Foi essa a moeda oficial que vigorou até 1942 no Brasil.

EVOLUÇÃO DO PADRÃO MONETÁRIO NO BRASIL

REAL: Período Colonial até 07/10/1833. O plural de REAL era RÉIS. Símbolo: - R - , Vigência: até 07/10/1833. Paridade: R 1$2000 = 1/8 de ouro de 22k.

MIL RÉIS: Vigorou a partir do Segundo Império. Um conto de réis correspondia a 1.000.000 de réis. Símbolo: Rs$. Vigorou a partir de 08/10/1833 a 31/10/1942. Paridade: R 2$5000 = 1/8 de ouro de 22k.

CRUZEIRO: Em 1942, com a inflação durante a 2ª. Guerra, o Real Português vira Cruzeiro e 3 zeros são cortados. Símbolo: Cr$. Vigorou de 01/11/42 a 12/02/67. 1.000 Réis = 1 Cruzeiro.

CRUZEIRO NOVO: Com a inflação, o poder de compra do Cruzeiro é corroído, e mais 3 zeros são cortados. Símbolo: NCr$ Vigorou de 13/02/67 a 14/05/70. 1mil Cruzeiros = 1 Cruzeiro Novo.

CRUZEIRO: Em 1970 o Cruzeiro Novo volta a ser chamado de Cruzeiro (simplesmente). Símbolo Cr$. Vigorou de 15/05/70 a 27/02/86. 1 Cruzeiro Novo volta a ser chamado de 1 Cruzeiro.

CRUZADO: Em 28/02/86 o plano Cruzado corta 3 zeros da moeda que passa a se chamar cruzado. Símbolo: CZ$. Vigorou de 28/02/86 a 15/01/89. 1mil cruzeiro passa a ser chamado de 1 Cruzado.

CRUZADO NOVO: Em janeiro/89, o Plano Verão congelou os preços, criou o Cruzado Novo e corta 3 zeros. Símbolo: NCZ$. Vigorou de 16/01/89 a 15/03/90. 1000 Cruzados passa a ser chamado de 1 Cruzado Novo.

CRUZEIRO: Em março de 1990, o Presidente Collor de Melo bloqueou as aplicações financeiras e a moeda volta a ser chamado novamente de Cruzeiro. Símbolo: Cr$. Vigorou de 16/03/90 a 31/07/93. 1 Cruzado Novo passou a valer 1 Cruzeiro.

CRUZEIRO REAL: Em agosto/93, a moeda fica sem 3 zeros novamente e vira Cruzeiro Real. Nos 11 meses de sua existência o Cruzeiro Real acumulou uma inflação de 3.700 por cento. Símbolo: CR$. Vigorou de 31/08/93 a 30/06/94. 10 Cruzeiros passou a valer 1 Cruzeiro Real.

REAL. Em julho/94, o Presidente Itamar Franco cria o Real, cujo plural é Reais, e que está vigorando até os presentes dias. Este plano foi o único que deu certo. Mas é sempre assim: depois da batalha aparecem os heróis, aqueles que se dizem pais da criança.

Os falsos heróis lembram a estória de uma parábola da mosca que pousou na cabeça do boi, que arava o campo. O boi trabalhou o dia todo. No final do dia a mosca lhe disse: “Boi, trabalhamos bem hoje!”. Ela queria elogio também.

As comunidades conhecem esses falsos heróis.

Antes que o plano entrasse em circulação, passou a vigorar uma unidade de conta, não de troca, chamada URV (Unidade Real de Valor), com variação diária. A economia era estimulada a usá-la comoreferência, até que, finalmente, o plano teve a sua consumação como moeda forte, respeitada, segura e confiável universalmente.

APLAUDAMOS O NOSSO REAL !...


NADAR
HOMENAGEM A SABU

Ter morrido dormindo – uma espécie de condecoração já que infartar em idade avançada, 82 anos, enquanto se dorme é coisa para escolhidos, ou ter tido 19 filhos com a mesma mulher, Aulódia não foram marcas importantes. O que fez a diferença a Sabu – José Francisco de Oliveira foi ter sido ídolo de toda uma geração de frequentadores da Praça de Esportes de Montes Claros.

Sabu era o nome de um menino indiano protagonista de um filme na selva e que fora adotado pelo professor como apelido. O nadador era irmão de Porfírio de Sousa, um ativista político de esquerda preso pela Ditadura Militar, que vigorou no Brasil de 1964 a 1985.

Com a autoridade de Campeão Brasileiro de Natação em 1945, Sabu queria que fosse construído um estádio de futebol na cidade. Pelas suas mãos de instrutor de natação e de vôlei, muitos aprenderam a nadar e a jogar e alguns foram campeões. Seu curso técnico e treinamento foram no Minas Tênis Clube em Belo Horizonte, onde esteve em 1951. Também era técnico em contabilidade, formado em 1956 pelo Instituto Mineiro de Educação.

Os pais montes-clarenses que queriam que os filhos brilhassem no esporte os encaminhavam ao local onde reinava Sabu. Alto, magro, com pele escura e cabelos lisos penteados para trás, o porte atlético e elegante do professor se distinguia no lugar, à borda da piscina semiolímpica. Em volta dela havia um lava-pés e a exigência de uma chuveirada antes do seu uso. Os vestiários possuíam estrados de madeira em toda sua extensão, devido ao entra e sai de pessoas molhadas, em roupa de banho após frequentar a piscina.

O centro do mundo não era a Praça de Esportes ou Montes Claros Tênis Clube, mas poderia ter sido. Corria a década de 1960 e a meninada não saía de lá, um lugar incrivelmente seguro, sem histórico de acidentes sérios, ainda que tivessem árvores, piscinas, escorregadores altos e onde se praticava todas as modalidades de esportes.

As meninas tinham aula de natação às 15 horas, e os meninos uma hora mais tarde. As raias eram demarcadas apenas em dias de competição. O aquecimento físico era feito a beira da piscina numa turma com várias crianças e adolescentes. Apenas os exercícios da prática de natação eram feitos na água. A borda interna da piscina era finalizada de modo arredondado, propícia para ser segurada na altura da cabeça de quem nadava, para evitar cortes e dar mais segurança em casos de necessidade.

O treinamento de respiração era feito com os pés contra a parede da piscina e as duas mãos agarradas à borda, girando a cabeça sempre para o lado direito para pegar o ar pela boca e virando na direção da lâmina d’água, para, pelo nariz soltar o ar na água. Depois desses exercícios, os alunos ficavam um tempão indo e vindo longitudinalmente
na piscina batendo pernas e segurando uma madeira flutuante de algo como 40x27cm. Dizia-se “bater tábua”. Hoje o artefato seria chamado de prancha de natação. Assim se aprendia a flutuar, avançar e esticar as pernas, posicionando-se de forma adequada sem se preocupar em afundar, até saber nadar.

Aos sete anos, todos que tinham três meses de aulas, como era o meu caso, já estavam nadando, mas eu tinha medo de me soltar das bordas na piscina de adultos. Ao fim de uma determinada aula, Sabu pediu a todos que, de um em um, saltássemos na água e nadássemos em diagonal de uma parede a outra, próximos à borda, com sua vigilância. Com receio me encolhi, me agachando. Ele me pegou e, delicadamente, me avisando o que faria, me jogou na água, e eu descobri que conseguia nadar, porque fiz o que ele me ensinou. Esse gesto ousado do professor foi importante para me trazer confiança.

As décadas se passaram, os hábitos mudaram e cá estou eu lembrando-me de Sabu, o professor de natação de todos nós cuja lembrança se perdeu no tempo, mas sem escapar da nossa gratidão.

Dados biográficos:
Sabu - José Francisco de Oliveira nasceu em São Lourenço, zona rural de Brasília de Minas em 30 de março de 1926 e veio para Montes Claros aos 13 anos de idade, sendo contratado pela prefeitura para trabalhar na Praça de Esportes. Fazia cursos frequentes em Belo Horizonte no Minas Tênis Clube. Faleceu numa tarde de 26 de março de 2008.

Casado com Aulódia de Matos Oliveira - Lozinha tiveram 19 filhos, sendo doze homens e sete mulheres, cujos nomes eram seguidos por Francisco, um sobrenome, ainda que as filhas tenham sido registradas como Francisca: Aran, Alan, Avan, Adan, Ajan, Atan, Afan, Azan, Alex, Marcelo, Luciano, Adriano, Leila, Liete, Leisa, Leide, Patrícia, Shirley e Vera Lúcia.


José Francisco de Oliveira - Sabu


SORVETERIA PINGUIM

Uma esquina de gelo sabor. Presidente Vargas com Coronel Prates. Quantas vezes pedi a meus pais para me levarem à Sorveteria Pinguim. Se havia outra na cidade não me lembro. É bem provável que havia. Com certeza havia outras sorveterias. Mas meu sorver de menino da década de oitenta era todo da Pinguim. Um menino que adentrou nos anos noventa com a mesma predileção de sorvete. Até que subitamente a sorveteira se fecha para este século.

De creme de ovos. Era o preferido. Depois daquele creme amarelado o de chocolate. Também de flocos muito me agradava. E ali na Sorveteria Pinguim eu recebia com olhos gulosos a casquinha. Lembro-me de quando apareceu o tal de cascão. Era uma febre. Todos queriam o cascão. Experimentei confesso. Mas eu gostava mesmo era da casquinha. E comia ela todinha. Ainda me lembro do sabor do sorvete. E nem é preciso fechar os olhos para senti-lo. Como numa experiência sinestésica de memória e realidade.

Havia um hábito na família. Aos sábados íamos ao Bar do Gama saborear deliciosa feijoada. Ainda hoje esse ritual se preserva.Com algumas lacunas de sábados porém. Mas a feijoada do Seu Adair ainda é real. Naqueles idos o Gama ficava no bairro Funcionários na Rua Raul Correa. Hoje o Bar do seu Adair está em sua casa no Morada do Parque bem atrás do Milton Prates. No retorno da feijoada era parada obrigatória a Sorveteria Pinguim. Meus pais e meu irmão comigo escolhiam cada qual seu sabor. O meu quase sempre era creme de ovos. Havia uns banquinhos dentro da própria sorveteria para sentarmos. Não era uma sorveteria dessas atuais as quais possuem um atendente de mesa. Era pedir o sorvete sobre um balcão e sair sorvendo. Contudo preferíamos sentar nos banquinhos que havia no canteiro central da Coronel Prates. Esses banquinhos hoje também são memória. Junto com a sorveteria eles se foram. Como muitas casas que existiam imponentes na mesma Coronel Prates. O quanto eu desejava descobrir o interior daquela construção de esquina que depois me disseram ser um seminário para padres. Demolido para se tornar um supermercado. Um outro lugar que tive o prazer de entrar uma única vez foi a prefeitura velha. Ficava do mesmo lado que o tal seminário. Hoje não mais.

A Sorveteria Pinguim nunca soube o tanto que me fez falta. E ainda me faz. Após seu baixar de portas a esquina foi se tornando muitos outros comércios. Mas ainda na minha lembrança os azulejos brancos e toda uma estrutura que satisfez meu paladar. A Pinguim não era só sorvete. Havia também os Gelos Pinguim. Gelos em cubo ou em barra ou britados. Os gelos sobreviveram um pouco mais na Avenida João XXIII. Todavia o gelo mais saudoso era o que se derretia na boca.

Uma vez eu entrei na Sorveteria Pinguim e sorvi o meu último creme de ovos. Quando foi isso não me lembro. Assim como também não tenho a fresca data do seu fechamento. Só sei que a Sorveteria Pinguim ainda vive no adulto que hoje sou. Uma vivência de sabor de infância e adolescência. Uma certeza de experiência sensitiva. Uma saudade que me bate com sabor de creme e de nostalgia.


MARIA DO SOCORRO
ROGÉRIO BRANDÃO

É maravilhoso perceber como o convívio com as pessoas é salutar!
Como disse o escritor e teólogo Thomas Merton, “Homem algum é uma ilha”. Formamos todos juntos um continente. Precisamos uns dos outros. E cada um deixa no outro uma lembrança, um sentimento, uma lição.

Há pessoas que vivem, sonham, sofrem, lutam, amam, agradecem, ajudam e, quando partem desta vida, presenteiam o ambiente em que viveram com marcas profundas e significativas. Sabemos que Bocaiuva teve, tem e terá homens valorosos que se destacaram e se destacam como brilhantes personagens da história de sua terra natal.

Entretanto, o nosso contexto agora é nos lembrarmos das mulheres bocaiuvenses, elas que, no seu silêncio, no seu trabalho incessante, disponível, desinteressado – mas edificante -, estão sempre participando da redação da história de sua comunidade. Conhecemos Socorro sempre ativa, em gestos que promovem a solidariedade: a mão estendida em apoio ou as mãos unidas em oração.

Maria de Socorro Rogério Brandão nasceu aos 16 de junho de 1933, filha do casal Joaquim Rogério de Souza e Maria Izabel de Azevedo, que tiveram uma prole numerosa. Foram seus filhos: José Rogério de Azevedo, Maria de Lourdes Rogério Silva, Irineu Rogério de Azevedo, Martinho Cassimiro de Azevedo, João Batista de Azevedo, Pedro Gerônimo de Azevedo, Maria do Socorro Rogério Brandão, Antônio Agostinho Rogério, Vicente de Paulo Rogério, Carlota Sofia Rogério da Silva, Francisco do Paulo Rogério, Manuel de Jesus Rogério, Maria José Rogério Ribeiro, Socorro veio de uma família muito unida e guerreira.

O pai faleceu prematuramente e, para apoiar a mãe, ela se viu enfrentando dificuldades muito cedo.

Sua vida não foi fácil e, no decorrer dela, enfrentou muitos desafios, que a fortaleceram, dando-lhe fé e coragem. Aos dez anos já fazia todos os serviços domésticos. Aos quatorze anos, foi trabalhar numa alfaiataria para ajudar no sustento da casa. Isto lhe valeu a experiência de costurar e se tornou tão hábil, que sabia confeccionar um terno. Costurava com arte e capricho. Na adolescência, ela, que já conhecia e praticava o amor fraterno, conheceu outro tipo de amor, também verdadeiro, na pessoa do Senhor Sílvio Brandão, que possuía uma propriedade rural. Era uma pessoa simpática e brincalhona. Certa vez, o pároco ligou para a casa deles e o diálogo foi assim:

- Senhor Sílvio, dona Socorro está por aí?

E ele respondeu:

- Uai, ela mora na igreja. Se o senhor não sabe, como é que eu vou saber?

Estando com 20 anos, Socorro casou-se, aos 25 de fevereiro de 1954. Eles, a princípio foram morar na Fazenda dos Furados. Lá, ela trabalhou como professora rural, sempre desenvolvendo seu ofício com responsabilidade, dedicação e amor.

A união de Socorro e Sílvio gerou 8 filhos, l6 netos e 03 bisnetos. São eles, filhos: Eliane Maria Rogério Brandão de Carvalho, Sílvio Geraldo Rogério Brandão, Maristela Rogério Brandão de Souza, Ivone Maria Rogério Brandão, José Augusto Brandão,l Maria do Socorro Rogério Brandão, Joaquim Rogério Neto, Maria Izabel Rogério Brandão. Os netos: Anna Carolina Brandão de Souza Damásio, Oliveira Rogério Brandão de Souza, Letícia Maria Librelon Brandão, Sílvio Brandão Neto, Luiz Henrique Brandão de Carvalho, Ailton Vieira de Souza Júnior, Carlos Eduardo Brandão de Carvalho, Sílvio Rogério Brandão de Araújo, Ana Cecília Brandão de Carvalho, Vinicius Brandão de Souza, Aryanne Brandão Coelho e Silva, Sabrina Djanira Brandão de Araújo, Almir Alves Souza Junior, Sara Rogério Brandão de Araújo, Maria Theresa Teixeira Brandão, Ana Lúcia Brandão de Carvalho. Os bisnetos: David Rodrigues de Souza, Gabriela Brandão Souza Damásio Soares, Matheus Henrique Alves Brandão Os filhos crescendo, o casal veio morar em Bocaiuva para providenciar ingresso na escola para eles.

Em Bocaiuva, ela trabalhou como serviçal na Escola Estadual Gilberto Caldeira Brant, posteriormente, na Escola Estadual Professor Gastão Valle. Serviu na cantina da escola, preparava a merenda dos alunos que eram assistidos pela Caixa Escolar. Oferecia alimentos saudáveis e atendia com solicitude, simpatia e acolhimento. Foi então que conhecemos seu valor profissional e vimos, com grande admiração, o amor com que ela se dedicava ao serviço que lhe foi confiado, sempre com um sorriso estampado no rosto, atendendo com presteza, às vezes cantava para alegrar o ambiente. O trabalho não a assustava. Estava preparada para qualquer função que lhe coubesse.

A oportunidade aconteceu e ela prestou concurso administrativo no Estado de Minas Gerais. Foi aprovada e nomeada, passando a trabalhar na área da saúde, no Posto Sérgia Alkmim, onde ficou até se aposentar. Foi muito gratificante para ela. Gostava de servir. Nesta função, ela pode experimentar a alegria de poder amenizar o sofrimento alheio. Mostrou então toda a capacidade de seu coração de se condoer com os males e as carências das pessoas.

Socorro sempre foi prestativa, carinhosa, companheira, amiga. Católica fervorosa, participou de todas as pastorais da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus. E participou com amor, com eficiência, com espírito de serviço. Realizou ações relevantes na comunidade religiosa.

Quando a saúde fraquejou, ainda assim, participava orientando equipes, dando sugestões quando solicitadas. Nunca desanimou diante das tristezas que, às vezes, os reveses da vida nos fazem sentir. Sua fé sustentou toda a sua existência. Enfrentou os dissabores com serenidade. Infelizmente, para nós, Socorro se foi neste ano de 2022.

A lição maior que ela deixou para as pessoas com as quais conviveu foi que precisamos viver com amor.

No universo familiar, ela foi boa filha, desde a infância, preocupada em ajudar a família. Como esposa e mãe, ela era o esteio do lar, apoiando o marido e tentando compreender e ajudar cada filho. Foi professora rural e deu o melhor de si para seus alunos. Costureira, ela se aperfeiçoou, executando com boa vontade e carinho as suas costuras. Trabalhou na cantina da escola, pondo bom humor e afeto no que fazia.

Enfim, atendendo doentes, homens, mulheres e crianças carentes, encontrou nesse ofício uma oportunidade de servir os semelhantes com simpatia e solidariedade. No serviço da Igreja, esforçou-se para testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo.

Sabemos que existem pessoas que fazem seu trabalho simplesmente para fazerem jus ao salário.

Ela nos ensinou que, colocando alegria no que fazemos, o trabalho se torna mais agradável. Faz-nos lembrar a canção do Padre Zezinho, que diz: “ ao chegar ao fim do dia, eu sei que dormiria muito mais feliz”

Conhecemos pessoas cujo nome caracteriza plenamente o seu caráter, mas Maria do Socorro, esse nome tão bonito, resume toda a vida dessa personagem que ainda vive e viverá na lembrança e no coração dos que a conheceram.


Socorro e Silvio


Maristela, Socorro e Izabel


PEDRO MAMELUQUE MOTA
UM EXEMPLO DE VIDA

Januária, 13 de maio de 1932: na casa de Joãozinho e Dízia um movimento diferente acontecia. Parteira chamada às pressas, anunciava-se a hora que mais um filho iria chegar. Desconfiados, os meninos Marcelo, João Batista e a menina Elza, sabiam que algo do mundo dos adultos ia acontecer e ficam obedientes, à distância. De repente um choro de bebê enche a casa, revelando que mais uma vida acabara de vir à luz. No quarto escuro, iluminado apenas pelas lâmpadas de azeite que ardiam numa vasilha, o recém-nascido mal arriscava abrir os olhos, já que tudo era uma novidade, após os nove meses encolhido e protegido no ventre da mãe. Já arrumado, pois que naquele tempo vinha logo o banho na bacia passada em água fervente e álcool, é mostrado aos irmãos que não se continham de curiosidade. O pai orgulhoso anuncia: “É um menino”, e o pequerrucho se aconchega nas mantas e toucas cobertas de rendas que a mãe preparou com carinho.

Não é difícil imaginar a cena passada há 90 anos, que foram se desenrolando cheios de experiências, de alegrias, de tristezas, de fracassos e de vitórias, assim como a vida de qualquer pessoa.


Pedro Mameluque Mota

O menino ia crescendo, caçula dos irmãos, correndo no quintal cheio de árvores, onde cada um tinha a sua: pés de caju, de manga, de banana, de laranja, numa grande variedade de espécies. Ao lado um pequeno curral, de onde tiravam o leite que servia de alimento para a família e mais tarde para ajudar nas despesas da casa.

Aos cinco anos, uma grande tristeza: perdeu o pai, ainda novo, com 37 anos, vítima de tétano; e ele e os irmãos se desdobraram para ajudar a mãe. O pequeno Pedro ia de porta e porta vendendo frutas do quintal e leite que ajudava a tirar, para ajudar no sustento da casa, mas quando em idade escolar, era aluno aplicado do Grupo Escolar Bias Fortes.

Aos 15 anos muda-se para Belo Horizonte para continuar os estudos, indo morar, estudar e trabalhar no Colégio Marconi, uma das paixões de sua vida. Contava-me que ao sair de Januária, a bordo do vapor Barão de Cotegipe, que tinha um apito bonito e saudoso, deixou sua mãe chorando no porto.

Formado em Direito pela UFMG , é convidado para trabalhar em São Francisco e a sua vida sofre uma guinada, ao encontrar o amor de sua vida, num ataque fulminante de “amor à primeira vista”. A timidez fica de lado e vai conquistando a cada dia a sua amada; daí veio o casamento, os quatro filhos, a vida de Prefeito daquela cidade com apenas um ano de casado, o que veio a se repetir em um segundo mandato anos depois. Querido e acolhido por todos, com sua educação esmerada, sua caridade estampada nos pequenos gestos, seu amor e carinho aos mais pobres.

Mudando-se para Montes Claros, aumentou o desejo de servir, participando da criação do Encontro de Casais com Cristo, da Pastoral Familiar, da Pastoral Carcerária e do Menor, do Projeto Viver (Meninos de rua) aos quais se dedicou até o final de sua vida.

Presidente do Conselho Penitenciário Regional e advogado atuante nas causas dos menos favorecidos, mereceu o título de Cidadão Honorário e Cidadão Benemérito de Montes Claros e ainda várias medalhas concedidas pela OAB e pelo Tribunal de Justiça de Minas
Gerais.

Vitimado pelo Mal de Alzheimer, deixou esse mundo em 08 de dezembro de 2015, dia da Família e da Justiça, dois dos seus maiores amores, a quem dedicou a sua vida.

Mas o maior legado que deixou para seus filhos e netos, foi uma
vida de trabalho, honestidade e valorização dos princípios morais e
cristão. E assim se expressaram seus filhos em depoimento transcrito
em livro que narra sua vida:

“Obrigado por me mostrar através do exemplo o caminho reto e limpo, que a vida simples, a fé, a caridade e o amor ao próximo, com total desprendimento ainda estão ao alcance dos homens.” (Gustavo)

“Que este livro, que relata um pouco da rica história deste menino, alinhavado por quem lhe conhece em toda a plenitude e intensidade, sirva como registro da existência, em nosso mundo, de uma alma boa e caridosa, que agrada aos homens e ao Senhor e que faz do exercício de sua vida diária, mesmo com o pesar dos anos, um exemplo a ser seguido” (Leopoldo)

“Não canso de agradecer a Deus por ter você ao nosso lado. O senhor é nossa fortaleza, nosso porto seguro, nos mostrando com seu exemplo o caminho a seguir” (Christina)

“Pensar em você é simplesmente resgatar tudo que hoje está perdido na humanidade: dignidade, respeito, humildade e honestidade.” (Patrícia)

E eu, nos seus últimos dias, cantava para ele: “Dorme, menino grande, que estou perto de ti... sonha o que bem quiseres, que não sairei daqui...”


80 anos, com os netos


HARLEN SOARES VELOSO

Pesquisador estudioso, entusiasmado com a história e o Universo. Mais uma vítima do coronavirus deixou enlutados nossa família, seus colegas e amigos. O falecimento de Harlen Soares Veloso ocorreu em dois de abril de 2021, numa sexta-feira santa.

Em consideração e em homenagem póstuma ao meu filho Harlen Soares Veloso, analista judiciário no TRT-MG (Tribunal Regional do Trabalho), abalizado genealogista, que estudou, pesquisou e trabalhou rigorosamente para encontrar dados dos ascendentes de Antônio José Versiani (até a quinta geração da família), dados de vários fatos históricos em nossa cidade, registros culturais e dados de monumentos relevantes de nossa região, (inclusive já publicados em edições desta revista e em outras pesquisas); surge este registro.

Nasceu em 3 de maio de 1974, meu filho e de minha esposa Zelita Maria Soares Veloso. Ele iniciou os seus estudos na Escola Estadual Deolinda Ribeiro, posteriormente frequentou o Colégio Marista São José, e o Colégio Biotécnico. Como prêmio e reconhecimento pelo dedicado estudo, foi promovido em Concursos Públicos como, por exemplo, o Prêmio Interestadual sobre Abolição da Escravatura, promovido pela Direção do Banco do Nordeste do Brasil S/A, quando era ainda adolescente. Em Belo Horizonte, foi aprovado no Concurso da Aeronáutica. Mais tarde, ao fazer os exames de saúde, fez opção por continuar os estudos aqui em Montes Claros, uma vez que a insuficiência visual o impossibilitaria de pilotar.

Aos 18 anos, após passar no Concurso da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO), lá trabalhou até tomar posse no TRT. Foi aprovado para Técnico Judiciário nesse órgão inicialmente, dando então seguimento a seus estudos e posteriormente, graduou-se em Direito pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Após a conclusão do bacharelado, participou novamente do mesmo concurso, agora para o cargo de Analista Judiciário, tendo sido aprovado e admitido no Tribunal Regional do Trabalho, onde trilhou carreira. Participou ainda de diversos cursos de pós-graduação ao longo da sua vida profissional, em que sempre teve desempenho destacado.

Sua vida na sociedade foi muito participativa, tanto através de seu ofício, como ainda através de competições esportivas em corridas, grupo de ciclismo, festas e encontros de família, ações religiosas, organização de Pesquisas Genealógicas, estudos astronômicos, entre muitas outras atividades. Podemos citar também que ele foi um exímio instrutor dos Escoteiros no Colégio Marista. Assim, foi conquistando respeito e gratidão de muitas pessoas na nossa cidade.

Quero deixar aqui registrado que no nosso convívio ele veio nos ensinar a bem viver nestes seus quase 47 anos. Esta tarefa de escrever sobre este filho maravilhoso é ao mesmo tempo triste, mas, o maior sentimento é a gratidão, por tudo que nos presenteou e nos ensinou na convivência diária e através da sua vida de dedicação à família, ao trabalho e à sociedade, como por seu esmero em deixar um exemplo da correta conduta em tudo que participasse.


Harlen Soares Veloso

Harlen foi convidado pelo Presidente do Instituto Histórico Geográfico de Montes Claros, Sr. Dário Teixeira Cotrim, a ajudar nos trabalhos de pesquisa e estudos históricos e tomou posse em janeiro de 2018.

Ao escrever seu primeiro artigo, dedicado ao Sr. “Soarinho”: Um homem zeloso Pelo Bem Comum”, Harlen certificou-se, tenho certeza, de que ele vinha realizando em sua vida ações em que procurava seguir o exemplo de seu bisavô. Podemos ainda garantir a sua dedicação a nós, seus pais, com muita atenção e carinho, bem como ações visando nossa felicidade. Mais uma vez nosso reconhecimento e eterna gratidão.

No dia 26 de setembro de 2003 casou-se com Érika Soares Caldeira, médica e professora na Faculdade Pitágoras, sendo exemplo de mãe de família com muita dedicação e amor na formação de seus filhos. Foram três: Beatriz Soares Caldeira Veloso, Rodrigo Soares Caldeira Veloso e Mariana Soares Caldeira Veloso Prates. A formação cristã dos mesmos foi uma prioridade em sua conduta. Em tudo que Harlen fazia, procurava ser o melhor possível e, com sua família, demonstrava mais ainda como amava a cada um.

Na sua trajetória ele viveu intensamente e conseguiu escrever seu nome no livro da vida com amor a Deus e a sua família.

Em um dos seus registros, disse Harlen: (...) “Tenho certeza de que valeu a pena todo o trabalho! E tenho certeza que alimentará o sentimento de gerações futuras também, de amor pela família, de valorização das origens”.


MEGAFAUNA
CONTEXTO HISTÓRICO UMA ÊNFASE NOS ACHADOS FÓSSEIS NO NORTE DE MINAS GERAIS.

INTRODUÇÃO:

O presente trabalho tem como objetivo descrever os achados fósseis no Norte de Minas Gerais dentro de um contexto histórico. No qual será possível constatar desde a presença de fósseis de megatério do período Quaternário até um Titanossauro (Tapuiassaurus macedoi) referente ao período Cretáceo.

A realização deste estudo justifica-se devido aos constantes relatos de diversos moradores das cidades norte mineiras, que noticiam ter encontrado “ossos grandes”, neste caso específico “fósseis”, mas, entretanto não o sabem. Partindo desse princípio é que após o ano de 2015, ao ouvirmos vários relatos de diversas pessoas e em cidades diferentes percebemos a necessidade de estudar o tema para um melhor entendimento e esclarecimento de tais fatos. E nesse contexto partimos para fazer visitas em locais com possibilidade de encontrar fósseis, segundo o relato de moradores destas cidades. Estivemos em várias cidades, onde se ouviu falar em Dinossauros, percebemos que tais contos eram verdade e a partir desse momento fizemos diversas visitas in-lócus, para observar se tais relatos seriam confirmados. Ficamos surpreendidos em diversos locais, pois foi possível observar o afloramento de fragmentos de fósseis de forma visível e exposto ao processo erosivo, devido as chuvas e a baixa cobertura vegetal. Em uma destas viagens conhecemos o Sr. Ubirajara Alves Macedo, residente na cidade de Coração de Jesus – MG. Este mesmo, nos informou sobre a ocorrência de fragmentos fósseis em uma comunidade local.

Foram visitados vários municípios dentre eles podemos citar: Janaúba – MG, Francisco Sá – MG, Coração de Jesus – MG, Brasília de Minas – MG e São João do Pacuí e Montes Claros – MG. Todos estes municípios com possibilidade de se empreender pesquisas e estudos acadêmicos sobre o tema. Mapa do Norte de Minas com as cidades supracitadas.

FIGURA 1: MAPA - NORTE DE MINAS GERAIS. (ADAPTADO)


Fonte: Lopes, Ricardo Fernandes.

Este trabalho é de grande relevância para a comunidade científica e acadêmica pois abordaremos os principais achados fósseis.É possível a partir deste despertar o interesse da comunidade científica nacional e internacional, pois será proposto um trabalho dentro do contexto histórico de pesquisas no Norte de Minas, demonstrando o potencial fossilífero da região. A partir deste estudo possibilitaremos a comunidade científica e acadêmica como também as comunidades locais um melhor conhecimento sobre a megafauna existente em períodos como o quaternário e cretáceo no Norte de Minas Gerais. Que foram objeto de estudo de vários pesquisadores no século XIX e XX, visto que o presente estudo poderá ser utilizado por gerações futuras para estudos científicos. Ao passo que a comunidade científica poderá voltar o seu olhar para a nossa região devido ao seu potencial fossilífero. Mas, ao mesmo tempo, carente de estudo e pesquisas na área de Paleontologia. Com a publicação deste trabalho é possível abrir novos espaços para fomentar o turismo local e regional; como visitas aos sítios paleontológicos por pesquisadores e grupos de estudantes locais, no qual ocorrerá a geração e conhecimento para as gerações futuras e dessa forma será possível preservar estes sítios paleontológicos.

Para tal, será utilizado a metodologia de revisão bibliográfica de artigos, monografias, teses, livros e demais estudos, publicados em sites e revistas de relevância na comunidade científica nacional e internacional.

DESENVOLVIMENTO:

1. O CONTEXTO HISTÓRICO DOS ACHADOS FÓSSEIS NO SÉCULO XIX.

O Norte de Minas compreende toda a mesorregião do Norte do Estado das Minas Gerais, comumente, a denominação sertão mineiro é usada para delimitar uma região ainda mais ampla ao longo de todo o curso do rio São Francisco dentro do Estado. A região se caracteriza por ser plana, composta por pastagens e matas além do cerrado e da caatinga. De acordo com (FARIA, C. 2021).

“O domínio das caatingas estende-se sobre a porção semiárida nordestina, e é caracterizada pela escassez e pela irregularidade de chuvas, pela predominância de intemperismo físico e de solos pouco profundos intercalados por terrenos pedregosos e afloramentos rochosos”. (SILVA et al. 2016, p.189).

Segundo FARIA, C. A colonização da região ocorreu por volta de 1690, através de dois movimentos distintos: o dos vaqueiros vindos a Bahia que seguiram o curso do Rio São Francisco e dos bandeirantes paulistas, dentre eles Matias Cardoso, Gonçalves Figueira e Januário Cardoso, estabelecendo-se assim os primeiros povoados, alguns com os seus respectivos nomes em homenagem ao bandeirante fundador. Desenvolveu na região, primeiramente a criação de gado favorecida pelo regime de Sesmarias[1]. Esta região pertencia à capitania de Pernambuco, a margem esquerda do Rio São Francisco e a margem direita pertencia a Bahia. Junto com a pecuária desenvolveu-se a agricultura de subsistência e a caça facilitada pelas grandes reservas de salitre, matéria prima para a fabricação da pólvora, na região de Formigas[2], Januária, Contendas[ 3] , Coração de Jesus e Manga.Para (CAMPOS, 1983), esse produto, ‘salitre’, formado no interior das grutas com a contribuição dos dejetos dos morcegos, era levado de Formigas (atualmente Montes Claros- MG) para outros centros, a fim de ser preparada a pólvora. O seu comércio era uma das riquezas da região.

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[1] Sesmaria: eram terrenos abandonados pertencentes a Portugal e entregues para a ocupação, primeiro em território português e, depois, na colônia, o Brasil, onde perdurou de 1530 até 1822. O sistema foi utilizado desde o século XII nas terras comuns, comunais ou comunidade. O nome sesmaria deriva de sesmar, dividir.
[2] Formigas. Atual Município de Montes Claros-MG.
[3] Contendas. Atual Município de Brasília de Minas-MG.

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Sendo este um dos objetivos da visita ao sertão norte mineiro dos naturalistas viajantes. Para (SAINT-HILAIRE, 1938), a sua permanência em Formigas era de grande importância, pois aproveitou o tempo para ir ver uma grota ou ‘gruta da Lapa Grande’ de onde se extraia o salitre, provavelmente a única da região que, por essa época, ainda fornecia a substância. Seria para desejar que algum geólogo visitasse com cuidado as grotas do deserto. Encontrariam aí provavelmente ossos fósseis, pois que me deram em Vila de Fanado um dente de mastodonte, que está atualmente no Museu de Paris, e me disseram ter sido encontrado em um terreno salitrado do sertão. Não sei bem mesmo se não me falaram de ossadas gigantescas descobertas nesta região.

Em Viagem pelo Brasil (1817 – 1820), (SPIX E MARTIUS, 2017. p. 105) descreve. “Estas grutas também eram de grande interesse para nós, porque deviam conter ossada de enormes animais desconhecidos, dos quais já muitas vezes nos haviam falado no sertão”, segue descrição. “A mais importante, porém, entre todas, pareceu-nos a Lapa Grande, porque nela foram encontradas as tais ossadas de animais primitivos”.

Conforme (SPIX E MARTIUS, 2017) em sua visita a gruta Lapa Grande em Formigas no Sertão. No fundo dessa gruta, subimos por dezoito degraus quase regulares, igualmente recobertos de carbonato de cálcio, estendendo-se em forma de cascata. Foi aqui, sobre um dos degraus de cima, que um dos nossos guias achou, há sete anos, uma costela de seis pés de comprimento e outros restos de ossadas de um animal primitivo. Cavamos na argila fina, que reveste esta região da caverna com uma camada de 4 a 8 polegadas, e foi grande a nossa alegria, ao acharmos, não ossos grandes,é verdade, mas alguns fragmentos, que nos deram a certeza de se tratar de restos de um Megalonix[4] sobretudo achamos vértebras, metacarpos e últimas falanges. Nunca as ossadas estão incrustadas na própria pedra calcária, porém, jazem mais ou menos encobertas, soltas e sem ordem, na terra.

Os naturalistas viajantes que percorreram, com denodo, um Brasil misterioso e particularmente desconhecido, especialmente no século XIX, deram as primeiras informações sobre a existência de ossadas de enormes animais desconhecidos no sertão mineiro merecendo referência os bávaros João batista von Spix e Carlos Frederico von Martius. (CAMPOS, 1983, p. 37).

1.1 FÓSSEIS EM JANAÚBA:
Segundo, OLIVEIRA, L. L. A criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), criada pela lei n°3.692, de15 de dezembro de 1959. Foi com o objetivo de desenvolver a região e diminuir a desigualdades entre o Nordeste e o Sudeste. A causa imediata da criação do órgão, pode-se citar uma nova seca, a de 1958, que aumentou o êxodo rural e o desemprego da população. Sua área de atuação era em todos os Estados do Nordeste e parte de Minas Gerais (Norte de Minas Gerais).

“Por sua real identificação com a região nordestina, foi incorporada à Área do Polígono das Secas (DNOCS)[5] e posteriormente a na área de atuação da SUDENE”. (PIRES, 1979, p. 244).

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[4] “Megalonyx (grego, “garra grande”) é um gênero extinto de preguiças terrestres da família Megalonychidae, nativa da América do Norte durante a época do Pleistoceno. Foi extinto durante o evento de extinção do Quaternário no final do Rancholabrean do Pleistoceno, vivendo de ~ 2,4 Mya - 11.000 anos atrás. A espécie-tipo , M. jeffersonii , media cerca de 3 metros (9,8 pés) e pesava até 1.000 quilogramas (2.200 lb). [2] Megalonyx é descendente de Pliometanastes ,um gênero de preguiça terrestre que chegou à América do Norte durante o Mioceno Superior, antes do Great American Biotic Interchange . Megalonyx teve a distribuição mais ampla de qualquer preguiça terrestre norte-americana, tendo uma extensão que abrange a maior parte dos Estados Unidos contíguos, estendendo-se ao norte até o Alasca durante os períodos quentes”. (WIKIPEIDA The Free Encyclopedia, 2021).
[5] DNOCS: Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.

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Atualmente, como o aumento intensivo, graças à SUDENE, DENOCS da fronteira pecuária da região, busca-se corrigir as condições adversas do meio, fazendo água, abrindo-se com tratores tanques (barreiros no Nordeste) nas regiões mais baixas, argilosas, junto às corridas de água das chuvas, ao lado de perfurações de poços tubulares. Tem sido frequente, na abertura de tanques, o encontro de ossadas petrificadas, de milhões de anos, em profundidade média de três metros. Chegamos a constar quase que um verdadeiro cemitério de tais fósseis na região do Rio Gorutuba, em Janaúba. Atribuímos esse fato a ter sido o local de uma antiga lagoa, há milhões de anos, em que os animais, refugiando-se em procura de água, morreram em uma catastrófica época de grande seca. (PIRES, 1979, p. 249).

No Município de Janaúba, na Fazenda de Moisés Lacerda, vamos encontrar uma ocorrência do tipo cacimba[6]. . Trata-se agora de uma barragem, em cujos terrenos aluvianos, em época anteriormente a seca, foram identificados e coletados restos de fósseis de megatérios, também da fauna pleistocênica. (CAMPOS, 1983, p. 181).

Em conversa com o Senhor Francisco Lacerda filho do Senhor Moisés Lacerda “in memoria”, antigo proprietário da fazenda supracitada, podemos confirmar os fatos. (INFORMAÇÃO VERBAL)[7].

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[6] Cova aberta em terreno úmido ou pantanoso, para recolher a água presente no solo que nela se acumula por ressumarão. (GOOGLE, 2021).
[7] “Francisco Lacerda relatou que no ano de 1964, em um período de seca houve a necessidade de cavar a mina d’água, pois a mesma já estava secando e com esse trabalho de escavação foram descobertos os fósseis. (Ou ossos grandes como dito). Eles não sabiam de que animal se trava, então correu a notícia pela região e nesse interim veio geólogos de Belo Horizonte que recolheram o material e disseram ser tratar de um possível fóssil de mastodonte”.

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Em seu livro A Arte Rupestre (COTRIM, 2018), descreve a Megafauna extinta no Norte de Minas e cita as cidades onde foram encontrados: Montes Claros – MG. Preguiça (terrícola). Jaíba – MG. Preguiça gigante. Itacarambi – MG. Preguiça (terrícola). Janaúba – MG. Preguiça gigante. Toxodon (com porte de um rinoceronte). Francisco Sá – MG. Mastodonte. Preguiça gigante. Montalvânia – MG. Preguiça (terrícola). Curvelo – MG. Mastodonte. Tigre dente-de-sabre. Coração de Jesus – MG. Dinossauro[8] e Preguiça gigante. Sendo estes pertencentes ao Período Quaternário, conforme tabela abaixo.

FIGURA 4: GEOLOGIC TIME SCALE


Fonte: National Park Service. (Adaptado, recorte).

1.1.1 AFLORAMENTOS NO VALE DOS DINOSSAUROS – PIRI PIRI:

Seguindo as notícias, desloquei até a cidade de Coração de Jesus –MG. Segundo matéria (Estadão, 2005). Um sujeito chamado Zezinho encontrou um osso saindo da terra, curioso, retirou-o e levou para a sua casa. Dias depois recebeu a visita de um Oficial de Justiça, que tinha o objetivo de apurar os fatos. Dentre uma conversa e outra, eles não sabiam o que fazer com aquele osso. Foi assim que resolveram procurar o “Bira”[9], a enciclopédia viva da cidade, se alguém pudesse descobrir de onde vinha aquele osso era ele.

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[8] Tapuiassaurus macedoi. (Tapuiassaurus homenagem aos índios que viviam nesta região. Macedoi, homenagem a Ubirajara Alves Macedo).
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Partindo desse princípio, resolvi verificar tais fatos. Chegando no Município conheci o “Bira”, que em (conversa verbal) relatou-me este e outros fatos relacionados à fósseis. Realizei visitas in-lócus, ver foto a seguir. Coordenadas. 16º40’ 09.41” S, 44º37’ 09.22” W. (Google Earth Pro).

FIGURA 5: FAZENDA PIRI PIRI


Foto: autor. Processo erosivo seguido de afloramento

Foi verificada uma condição necessária a esta ocorrência o afloramento de acordo com a (SIGEP, 2021). Afloramentos naturais são as exposições da rocha devido a ação de processos naturais, como erosão e deslizamento de solos, em rios, cachoeiras e escarpas. Já o afloramento artificiais são devidos à ação do homem. Sendo neste último um dos processos de maior degradação do solo no Município de Coração de Jesus, favorecido pela gradeação[10] de terras para fazer pasto para o gado bovino.

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[9] Ubirajara Alves Macedo. Natural de Coração de Jesus – MG, hoje está com 75 anos de idade, ele relata que iniciou a caça aos dinossauros no ano de 1958 na companhia de seu Pai José Alves Macedo. Bira é um profundo conhecedor de plantas medicinais do cerrado, explorador de cavernas, fotógrafo profissional, com um acervo de aproximadamente 15.000 fotos. Artista plástico, homem sisudo naturalista nato com um conhecimento de invejar a muitos biólogos e geólogos. (Informação verbal).
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Trecho entre Coração de Jesus-Ibiaí, fornecem exemplos dos litótipos presentes na borda oeste da Serra da Embira Branca. Os dois afloramentos aqui designados de Ibiaí1 e Ibiaí 2, exibem rocha clástica, maiormente arenitos, com estruturas cruzadas diversas, uma característica exclusiva deste setor de sucessão sedimentar estudada. A granulometria dominante é o arenito fino, o qual se mostra distinto de outras áreas devido ao alto grau de seleção granulométrica (menos de 10% da matriz). (PIRES-DOMINGUES, 2009. p. 31,31).

Sendo realizado nesta região em específico no Alto Paracatu, o primeiro estudo estratigráfico e tafonômico de detalhes em três bone-beds[11] de dinossauros. Com sucessão sedimentar portadora de fósseis quanto à ocorrência de dinossauros, é inédita na Bacia do São Francisco. Descrita em detalhes por (PIRES-DOMINGUES, 2009).

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[10] Processo de aragem da terra.
[11] Os leitos ósseos são acúmulos notáveis de ossos e dentes modernos ou fósseis de mais de um indivíduo que ocorrem em um estrato geológico ou uma superfície de solo, o termo é mais frequentemente usado em referência a ocorrências antigas, em particular, ossos fósseis de animais grandes como dinossauros e mamíferos. (THE CANADIAN ENCYCLOPEIDA, tradução nossa).

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Fragmentos de fósseis encontrados por moradores locais (Fazenda Piri Piri) e doados ao Museu Senhor Macedo, localizado na cidade de Coração de Jesus – MG. (Informação verbal). É nesse contexto que foi encontrado o Tapuiassaurus macedoi, espécie descrita e catalogada.

Conforme, (BITTENCOURT, 2015. Apud, ZAHER, et al. 2011), foi descrito o titanossauro Tapuiassaurus macedoi, coletado na região de Coração de Jesus – MG. Sendo o holótipo desta espécie e todo o material coletado associado são os primeiros fósseis de vertebrados do Norte de Minas Gerais. O crânio do T. Macedoi é o mais completo até o momento para titanossauros, comprovando assim o potencial paleontológico da Bacia do São Francisco, para estudos biogeográficos, sedimentológicos e bioestratigráficos. Para (DA SILVA, 2013), o material coletado e descoberta de uma nova espécie de dinossauro em Coração de Jesus, apontam para a possibilidade de que esta região seja praticamente inexplorada na Bacia Sanfranciscana e tenha uma relevância paleontológica significativa para o entendimento da diversificação dos terópodes no continente, ampliando assim o registro e a ocorrência de dinossauros no Brasil.

CONCLUSÃO:

Conforme levantamento bibliográfico verificamos que as notícias e relatos dos moradores do Norte de Minas se tornaram fatos, visto que, no início do século XIX, com a colonização da região e a busca pelo salitre como matéria prima para a produção da pólvora, sendo um dos principais motivos que chamou a atenção de brasileiros e estrangeiros há visitar o Sertão.

A partir desse período é que se tomou conhecimento da realidade existente, pois estas visitas foram descritas em livros de publicação nacional e internacional. Destacando a megafauna do período Quaternário encontrada nas Cavernas do Sertão. “A exemplo a Gruta da Lapa Grande”, localizada no Município de Montes Claros-MG. Onde foram encontrados fósseis de Megatério. Já no século passado, observamos vários achados fósseis no Sertão Mineiro, dentre os quais citamos vários registros tais como:fósseis encontrados em Janaúba-MG, na atividade de escavação de tanques “Megatério”, “Mastodonte”; Francisco Sá-MG, “Mastodonte”. Dentre outros citados no texto.

No período presente foi possível verificar in lócus, a existência de tais fósseis. Seguindo os passos dos naturalistas viajantes, estive em várias cidades das supra citadas no texto. Sendo realizadas várias prospecções em campo e grutas. Destaco aqui a visita realizada na Fazenda Piri Piri, localizada no Município de Coração de Jesus -MG, com o Sr. Ubirajara Alves Macedo: onde observei uma área de afloramento com rochas expostas e fragmentos de fósseis à vista. É nesse contexto que os moradores do Sertão Norte Mineiro convivem, pois a cada ano que se passa isso se torna mais visível devido às condições climáticas da região e a ação antrópica. Concluímos que, dentre as notícias e os fatos se tornaram realidade, ao ser consultada a bibliografia e após verificação in lócus em algumas cidades e conversas informais com moradores antigos, podemos comprovar a existência de fósseis em várias cidades do Norte de Minas, sendo de uma quantidade de sítios Paleontológicos ainda não georeferênciados e com um potencial de pesquisas incalculável.

Destarte, foi possível fazer a relação proposta inicialmente no presente artigo, visto que, foi descrito animais pertencentes a megafauna do Quaternário, cujos fósseis foram objeto de descrição em literaturas diversas. Mas, foi observado também a presença de fósseis do período Cretáceo, com estudos publicados e pesquisas divulgadas nacionalmente e internacionalmente, em específico o T. macedoi. (Vide artigos citados no corpo do texto).

Neste contexto, fica uma lacuna em aberto, pois ainda há muito a ser pesquisado no Norte de Minas Gerais, em específico na área da Paleontologia, pois temos uma carência enorme de profissionais para desenvolver tais trabalhos de relevância social e científica.


CARTA DE DESPEDIDA

25 de novembro de 2021. Hoje cedo, a partida para o mundo maior.
Um breve “até logo”, minha querida e amada Olímpia.

Um marcante momento de despedida, depois de mais de 72 anos de convivência, início de quando ela ainda não tinha treze anos e eu ainda não tinha quinze. Só de vizinhança de travesseiros, como ela costumava dizer, são mais de 64 anos. Não sou capaz de dizer de mais Amor ou mais Amizade. O mais firme e positivo encontro e reencontro e compromisso do ser e do viver. Eu sempre trabalhando muito, estudando muito, tentando realizar muito. Ela só alegria, sorrisos mais do que sempre, existindo para criar bem os nossos filhos e dar carinhos aos netos, agora, em final, também aos bisnetos. Olímpia, a linda morena de olhos verdes, o bom senso em tudo. O mais sensato sentimento da razão de existir, sempre na vontade de Deus. Cada dia é para ser vivido, sentido, preenchido. Amizade incondicional. Queria que todos sorrissem, vivessem com alegria. Jamais se considerou melhor do que qualquer outra pessoa, mesmo as mais humildes ou mais modestas.

Tinha muita noção de hierarquia, mas não considerava ninguém melhor do que o outro. O que contava era forma de ser e de agir de cada um. Valia sempre o bom trato, a finura de tratamento, a capacidade de trabalho. Cargos para ela era só encargos. Valia a atuação.

Amizade com todas as pessoas, em casa, no trânsito, em todos os lugares, principalmente nas viagens, mesmo nas internacionais. Viajando do Canadá para os Estados Unidos, ela sentou-se ao lado de uma senhora italiana, entenderam-se tanto, mesmo não falando uma a língua da outra, a italiana ficou tão amiga de Olímpia, que quando veio ao Brasil, passou um dia aqui conosco em Montes Claros, um momento de intensa alegria.

Grande capacidade física e espiritual para enfrentar situação difíceis. Sempre com fé. Grande poder de adaptação, fosse em família, com as amigas, em reuniões institucionais, no exterior. Foi assim em Portugal, na França, na Itália, no Uruguai, na Argentina, no Paraguai, na Bolívia, no Panamá, no Canadá, principalmente nos Estados Unidos, que conheceu praticamente de ponta a ponta. Centenas de reuniões, sempre a mesma Olímpia, segurança e simplicidade.

Lembro bem da nossa participação de um Congresso do Rotary International/Nações Unidas, em Buenos Aires, ela viveu e conviveu com grande alegria, com absoluta simplicidade e firmeza. No mais famoso teatro da América do Sul, o Colón, quando chamei a sua atenção sobre a importância de estarmos ali, ela somente brincou: “E daí?”

Foi uma grande conselheira, falando tão diretamente ao coração das pessoas que a procuravam, que ela mesma ficava admirada de como surgiram tantas palavras de valor.

Jamais contou vantagens, em qualquer época da vida. Para tudo, sempre houve uma razão de ser. A vida sempre uma missão divina, uma obrigação a ser cumprida.


Olímpia Rêgo Arruda

Sempre encantada com a beleza das crianças, a inteligência delas, a espontaneidade. Quase todos os dias eu mostrava para ela, no computador, a beleza infantil, e ela adorava cada foto, conversava com elas, em tom de carinho, como se fossem reais. Todo encantamento com a beleza.

O que mais me encantava em Olímpia era a gratidão que ela tinha pela vida. Uma fé em Deus, com toda a harmonia do ser e do viver!

Que as nossas lembranças, minhas como eterno companheiro, de todos os amigos e admiradores, seja a da alegria, do contentamento de ser como era e queria ser, uma pessoa do bem e do amor! Por tudo isso e por muito mais, os meus mais profundos agradecimentos ao Pai Celestial por essa maravilhosa temporada de vida ao lado de Olímpia. Muitas as esperanças de novas oportunidades e novas chances de aprender mais.

No momento em que Wladênia julgou necessário levá-la para a Santa Casa, ela, ainda deitada, olhou-me com firmeza, e eu a vi, com seus olhos verdes, com a beleza máxima, como eu nunca havia visto nos 72 anos de convívio. Era a hora da despedida, do meu sentir e viver o mais eterno e verdadeiro amor. Uma luz mais do que mágica!

Meu bom Deus, receba Olímpia com toda a claridade e a força da tua Luz e do teu infinito Amor. Sabemos, Senhor, Tu e eu que ela muito merece!


Wanderlino e Olímpia


DOLOROSO ADEUS A HAROLDO LÍVIO

No coração, a dor profunda do adeus ao grande amigo, mais que amigo, irmão, Haroldo Lívio. A sua tristíssima partida, da qual só tivemos notícia através do artista plástico e amigo Hélio Brantes, quase às 22h00 de sábado, dia 02 (estávamos ausente da cidade no dia 1°, quando ele se foi), e porque o contato telefônico nosso (entre eu e ele ou eu e sua grande esposa Maria do Carmo, Duca) mais frequente era o da Secretaria de Cultura, na sexta-feira fechada. Duca nos disse foram muitas as tentativas infrutíferas de nos avisar. O que importa mesmo, no entanto, lembrou, foi termos participado tanto do convívio familiar, não somente aqui, mas também na bela casa da família em Grão Mogol, junto a Ana Bárbara, que o admirava muito também e por quem tinha grande carinho. Ela havia se encontrado com ele poucos dias antes, na entrada da Secretaria de Cultura, quando ele saia, depois de mais uma preciosa visita ao nosso setor e, em meio a cumprimentos, a última conversa gentil, cortês, atenciosa, afetuosa e elogiosa, com ele falando alegremente, com muita consideração e estima, palavras que se tornaram para ela inesquecíveis!...

Liguei para o também grande e querido amigo-irmão (hoje também saudoso), Magnus Medeiros, no sábado, e ele, que tanta força e apoio proporcionou à família do amigo comum, Haroldo Lívio, antes e depois de sua partida, relatou-nos os fatos. Disse ter optado por não nos avisar, porque sabia quanto ficaria abalada. E concluímos que Deus sabe o que faz, porque não sei se suportaria - embora lamente muito não ter podido estar ao lado da família o tempo todo naquele triste momento - despedir-me dele pessoalmente, em sala da Santa Casa, que em nada lembra o seu lar cheio de vida, verde, arte e beleza, distribuídos por todos os cantos e recantos, de forma harmoniosa e aprazível, por Duca. A bela casa no Todos os Santos sempre decorada, em momentos especiais ainda mais, com o extremo bom gosto e habilidade artística da amada esposa e mãe de três filhas de ouro, Clarissa Mônica, Fabíola e Luciana, a mais nova e que vinha levando o pai ao Cartório que mantinha em Porteirinha, depois de delicadas intervenções cirúrgicas pelas quais passou.

Falando no belo casal Haroldo Lívio e Duca, foram quarenta e oito anos de uma união exemplar, cercada pelas graças e bênçãos de Deus e pelo amor, desvelo, vigilância, cuidado e carinho extremados de Maria do Carmo, que se esquecia, muitas vezes, de si mesma, a partir das primeiras horas da manhã, para zelar por tudo que a ele dizia respeito, desde os remédios às refeições, auxiliada de perto pelas grandes filhas, chegando a se levantar oito, dez vezes à noite, para ver como ele estava, para resolver o que faltara; para pensar, detalhar e programar o que fazer por ele e para ele no dia seguinte!...

No coração a dor, na mão, “Nelson Vianna, O Personagem” (Matéria de Jornal) - Edições Cuatiara -, dedicado a seus queridos pais José Luiz e Dalva (in memoriam), exemplar que dele recebi em 18.06.1996: “Para a querida amiga Raquel, com o maior apreço e admiração, oferece o autor”. O Prefácio de jornalista do valor de um Oswaldo Alves Antunes, de cujo O Jornal de Montes Claros saiu a seleção de crônicas ali elaboradas e publicadas, lembra, o que também fica claro nas palavras sempre especiais de Waldyr Senna Batista. Oswaldo Antunes define: “Haroldo mostra em seu livro, às vezes com carinhosa ironia, outras com lirismo e saudade, a parte mais amena do labor jornalístico: relata casos, referência pessoas e fatos históricos, como se lhe estivesse dando fé-de-ofício. (...)”, livro que contou com participação de Antologia da lida e elogiada obra “Montes Claros - sua história, sua gente, seus costumes”, do também grande e saudoso historiador, escritor, folclorista e médico, Hermes Augusto de Paula (Minas Gráfica Editora - 2a. Edição - 1979).

Lá no alto, Haroldo deve ter sido recebido, em seguida à bela, sublime e festiva cerimônia de entrada organizada pela comitiva celestial, cercada de seresteiros da terra a entoarem “Amo-te muito” e “O Bardo”, além de tantas outras belas (“As mais belas do mundo...”) modinhas de João Chaves, por nomes como Dr. Veloso, Urbino de Souza Vianna e Hermes de Paula, aos quais tocou a tarefa, segundo Haroldo Lívio em seu livro, de cadastrar, minuciosamente, todos os dados históricos registrados desde a fundação dos primeiros currais de gado que deram origem à cidade. Ao lado deles, a também grande historiadora, que partiu do plano terreno aos 98 anos de idade, Ruth Tupinambá Graça, a nossa muito amada, querida e admirada Rutinha, que se foi logo após o genial “roqueiro de Moc”, poeta e compositor Elthomar Santoro Júnior, e o grande, musical “Sapo na Muda”, seu primo apressado Peré. Sem contarem outros tantos amigos e familiares idos. Claro, ao lado deles, o cronista, justa e merecidamente homenageado, Nelson Washington Vianna, já a partir do comentário do autor: “...dificilmente surgirá alguém que possa sobrelevá-lo em seus méritos de estilista e observador arguto dos acontecimentos que fazem o cotidiano da vida encantadora de uma cidade.”

Nada melhor, pois, para lembrar e homenagear o grande cronista, escritor, jornalista e extraordinário historiador que ora nos deixa, que transmutar Nelson Vianna, o Personagem, nas palavras de abertura do importante livro, no próprio Haroldo Lívio de Oliveira:“Como sempre acontece na vida real, um belo dia o autor deixa a pena e se muda em personagem - como acaba de suceder com o imortal Haroldo Lívio -. Os sinos dobram finados anunciando o desaparecimento de uma das pessoas mais admiradas, conhecidas e reconhecidas de Montes Claros. Finou-se - precocemente - aos setenta e seis anos de idade, cercado do respeito e reconhecimento ao valor de sua vida e obra, o notável escritor e historiador Haroldo Lívio de Oliveira, brasilminense de estirpe fidalga, que dedicou toda a força de seu amor e sua inteligência de escol à missão de garimpar o nosso passado. Montes Claros o pranteia porque foi ele, sem nenhum favor, um dos autores mais lidos da literatura montes-clarense, entre todos que mourejaram nas letras, aqui residindo e recolhendo a história local da boca do próprio povo”, em conversas aprazíveis, entrevista a entrevista.

Além disso, a Haroldo coube pesquisar a fundo a história da cidade! E ninguém melhor do que ele havia para relatá-la, caso a caso, data a data, personagem a personagem, de forma sempre fiel, precisa, inteiramente pertinente e profundamente fundamentada em fatos reais! Tanto que, volta e meia, junto a ele tirávamos dúvidas as mais diversas, muitas vezes em atendimento a alunos de todas as séries e escolas, mestrandos, doutorandos, de Montes Claros ou não, interessados em inúmeros nomes e acontecimentos que permearam a rica e pacífica - vezes conturbada, via Rua de Baixo versus Rua de Cima - história de Montes Claros, informando os seus telefones (fixo e celular) e endereço eletrônico, residencial a meia cidade e meia, para dirimirem dúvidas sobre os fatos históricos mais complexos, porque a ele “coube o laborioso e paciente recenseamento - histórico e cultural - de nossa Montes Claros de seu tempo e dos tempos de antanho”! Osvaldo Antunes completa, magistralmente: “... e dizer que através da janela desse Nelson Vianna, o Personagem, nós, retirantes do tempo, contemplaremos paisagens humanas vivenciadas ou cuidadosamente pesquisadas por Haroldo Lívio, - também memorialista de primeira água -, que se coloca entre seu personagem Nelson Vianna e seu quase conterrâneo Niquinho Teixeira, de memórias análogas.”

Aqui deixou Haroldo, além de sua maravilhosa família, inconformados, milhares de admiradores e amigos, entre os quais eu e minha filha nos incluímos! Era um ser humano excepcional, querido por todos que o conheciam, liam ou dele recebiam sempre as mais corretas e completas informações históricas ou lições. A ele encaminhávamos muitos e muitos pesquisadores, quando os questionamentos ultrapassavam as fronteiras de nosso tempo e conhecimento. Foi nosso Mestre Maior nas aulas de História!...

Agora o que fazer, além de reverenciar para sempre a sua memória, o seu imenso legado, seu nome, trabalho e história honrados, inapagáveis?! Quando alguma dúvida surgir ou faltar algum dado precioso, indispensável para compor os mais de trezentos anos de história “montesclarina”, restar-nos-á olhar para os céus e lhe pedir, com a atenção, gentileza e interesse de sempre, lançar as informações complementares em forma de gotas ou fartas chuvas de sabedoria - que tinha de sobra! - pelas janelas a ele abertas do paraíso, e que se materializarão, como por milagre, aqui na terra, em mentes e corações ansiosos para espiritualmente recebê-las!

Obrigada por ter existido em nossas vidas (e trabalho) amigo Haroldo! Não estava autorizado a nos deixar tão cedo - eu lhe cobrei muitas vezes a mais longa “vida longa” ou longevidade do mundo! -, mas Deus haverá de dar à sua família e amigos sinceros, fiéis e verdadeiros toda a força, fé, conforto e consolo necessários, para aprenderem a viver sem a sua presença apenas física, porque, não há dúvida, você continua e continuará sempre mais vivo e mais amável do que nunca entre nós, eternamente encantado e preparado para contar e recontar, todo o tempo, histórias memoráveis, antológicas, inesquecíveis da cidade que teve a honra de tê-lo como um de seus filhos de coração mais ilustres, insignes, sérios, corretos e éticos!...

Sei que se foi excepcionalmente bem composto, sob todos os aspectos, trajado, arrumado, nos mínimos detalhes (o terço branco da pureza entre as mãos...), para uma grande festa de gala e louvor eternos nos céus, como poucos no mundo o são, mais um mérito da esposa amada Duca, Maria do Carmo, e sob o som de todos os cânticos, credos e orações (a grande cantora lírica Maristela Cardoso estava lá!), ao lado de nomes como Dona Yvonne de Oliveira “Centenária” Silveira - Salve “Olintho da Silveira Setentão”, uma de suas belas e brilhantes crônicas -, que o homenageou em poéticas, harmoniosas, emocionadas palavras e ao segurar, firmemente, alça do seu último berço; Maria Luiza Silveira Telles, a nossa extraordinária escritora, país e mundo afora; o amigo de longa data, Paulo Narciso, que, soube, regou o tronco de uma árvore com suas lágrimas de dor e adeus, e tanta gente mais, porque você queria e teve pra lá de “um milhão de - fiéis e devotados - amigos!...”

Adeus então, como em crônica falou ao seu pai super-herói, o montes-clarense da atual Rua Gonçalves Figueira, parte do Centro Histórico da cidade, José Luiz de Oliveira, Imperador do Divino das Festas de Agosto de Montes Claros, sonho irrealizado de Darcy Ribeiro! Adeus então, querido e sábio companheiro de trabalho de cunho histórico; admirável e inesquecível Irmão-Amigo, a quem, não por acaso, eu chamava “Mestre” e lhe beijava a mão na despedida, após conversas próximas ou no Café Galo, bem como no setor de Patrimônio Histórico e Cultural de Montes Claros, na Secretaria Municipal de Cultura, por tudo que era e reuniu sobre a verdadeira história da cidade, cujos filhos, legítimos ou
legitimamente adotivos ou afetivos, o aplaudem, longa e demoradamente e, penhoradamente, agradecem-lhe toda a atenção, interesse e ensinamentos, para sempre e alegremente em pé, embora chorando a perda de um mestre, de um amigo insubstituíveis, que permanecerá eternamente vivo!...

É realmente incalculável a sua imensa contribuição à cultura,à história, à literatura e imprensa do município e região inteira! Muito ainda haveria a dizer ou destacar sobre você, mas só não podemos, neste momento, deixar de dizer, alto e bom som: Viva Haroldo Lívio! Viva!... Para sempre, Viva!...


O PRAZER É FEITO DE
PEQUENINAS COISAS

Era um domingo ensolarado de novembro de 2011. Encontrávamo-nos em Manaus, em visita à filha e aos netinhos que ali passaram a residir. Na procura do que fazer na cidade ainda desconhecida, veio a ideia deum passeio no Jardim Zoológico. Nada mais convidativo do que o contato com a natureza da selva amazônica, podendo-se conhecer novas espécies de animais e de aves em pleno cenário de floresta.

A sugestão teve pronta acolhida por parte dos adultos, porém o netinho de sete anos de imediato protestou: “Não gosto deste tipo de programa, por isso prefiro ficar em casa.” Mas, isso não seria possível!! Não havia com quem ficar e todos apostaram na tese de que ele iria se descontrair quando visse as atrações do Zoo.

Sob protesto, o passeio aconteceu e foi tudo muito bonito e surpreendente. Os animais selvagens a rosnar para os estranhos; os macaquinhos saltitantes em busca do que comer e receptivos às brincadeiras; as aves exóticas a grasnar e mostrar a exuberância das suas asas coloridas; os passarinhos, ao alto, também a se exibirem no livre voar. Tudo isso, integrado ao painel verde das árvores centenárias.

E o netinho? Ah, este continuava de cara amarrada e, se consultado quanto à sua satisfação, respondia contrariado: “Odeio quando vocês me obrigam a fazer o que eu não quero”.

Final de passeio, fome a ameaçar. Procurou-se, então um restaurante que dispusesse de espaço e estrutura de lazer para as crianças. O que encontramos oferecia um “Clube da Criança”, onde o netinho emburrado soltou o sorriso enfim, feliz com os videogames. Ali reencontrou o seu mundo e a partir de então a dificuldade passou a ser o querer sair.

Aquela situação tocou-me o coração e levou-me a questionar a real essência dos prazeres da infância no mundo atual. O brincar, no seu sentido pueril e ingênuo, também parece ter cedido seu espaço à virtualidade. Hoje só se fala no virtual! E, lamentavelmente, a virtualidade já vem reprimindo as nossas crianças nos seus impulsos do querer se soltar, brincar, correr, saltitar, fazer amigos e sorrir. Elas estão se tornando crianças robotizadas, entre quatro paredes, prisioneiras de seus equipamentos de lazer que são os celulares, os computadores, os tabletes, o smartphone, a internet, os jogos de vídeo, o Nitendo64, o X-Box, os playstations e outros mais que fogem ao meu conhecimento. É por isso que pouco querem conversar e tanto resistem às situações novas. Passam o tempo todo conectadas e sob o domínio e linguagem de equipamentos eletrônicos. Com eles tornam-se super-homens, pois o importante é competir, vencer, mostrar que é mais capaz...

Mas, e as emoções próprias do ser criança? Também tornaram-se virtuais? Como será isso?

Nessa hora, me veio a nostalgia do que foi ser criança lá nos anos “enta”, em Montes Claros. Lá, a essencialidade da infância brincar. E, como a escolarização só começava aos sete anos, a liberação era geral e o lema das crianças era brincar, brincar e só brincar. Havia compromissos também – as chamadas “obrigações” –, mas era um trabalhar brincando. A tecnologia ainda se mostrava remota: meios de comunicação acessíveis, só o rádio e o telefone– leia-se, telefone fixo. Os recursos também eram limitados: presentes, só no Natal. Por conseguinte, cabia às próprias crianças criarem os seus brinquedos, adaptarem os seus ambientes, procurarem suas companhias. Era na criatividade que os meios tornavam-se múltiplos e as formas variadas. E o relevante era que pequenas coisas geravam satisfação e a ingenuidade prevalecia...

Seria possível traduzir o mundo infantil dos anos “enta”? No que alcança a memória, alguma coisa dá pra resgatar...

A socialização começava por um processo natural logo na primeira infância. É que já se nascia no coletivo das famílias sempre numerosas, sem falar nos parentes agregados, o que favorecia o contato humano. O colo de mãe era temporário, o que impedia a superproteção e a relação de dependência. Os mais velhos assumiam o cuidar dos mais novos, o que inibia o ciúme e estimulava a cooperação. O brincar era o movimento, as cores, o barulho, o olhar.

O crescer, mesmo ainda na imaturidade cognitiva, levava os interesses e os instintos a se manifestarem. A necessidade de maior contato e a ânsia de novas descobertas induziam as crianças a procurarem algo mais a fazer e com quem fazer, onde quer que fosse. Conforme idade e afinidades, os grupos de amigos iam naturalmente se formando. Não faltava companhia, pois, além do núcleo familiar, tinha também a vizinhança da rua que era a extensão da família. No coletivo, as brincadeiras, a imaginação e a criatividade tornavam-se mais elaboradas. Os meninos, mais aptos na capacidade física e motora, logo se ligavam ao correr, à bola, aos animais. As meninas, já revelando o instinto maternal, procuravam o“brincar de casinha”. E os brinquedos eram de fabricação própria: bonecas de pano, panelas de barro, carrinhos de madeira entalhada, sabugos de milho feito boizinhos de carro, bolinhas de gude, pião de madeira e outros que a imaginação alcançasse.

As cantigas de ninar logo evoluíam para as cantigas de roda, saindo do fundo do quintal para as ruas tranquilas ao anoitecer. Era no querer dançar e cantar que se formavam os grupos de roda a cantarolar as eternas canções daquela fase infantil: “Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...”; “O cravo brigou com a rosa...”; “Fui no Tororó beber água, não achei. “Apareceu a Margarida, olê, olê, olá...”; “Atirei o pau no gato tó...”. A coreografia do ir e vir, do destacar-se ao centro com sapateado próprio e do puxar o cordão formando alas seguia o ritmo e a inspiração de cada momento. A animação fluía por si só e contagiava a todos sem precisar de animador. Difícil quem não retorne a sua infância ao ouvir essas canções, pois elas a todos marcaram e se tornaram eternas.

Os jogos e as brincadeiras de rua também se afirmavam no coletivo, evoluindo as suas complexidades a depender do desenvolvimento físico e motor e da capacidade mental da criança. Os menores se estabeleciam em brincadeiras mais simples como pular corda, esconde-esconde, pega-pega, batata quente, cabra cega, boca de forno, quente ou frio. Os maiores já procuravam a competição mais logística dos jogos e do esforço físico da queimada, da porta-bandeira, da amarelinha, das corridas de saco e outras tantas. Todos os divertimentos tinham regras a serem cumpridas e, em geral, havia o vencedor e o perdedor, bem como líderes e comandados. E todos tinham que se ajustar a essas condições sem apelo ou proteção. Essa era a forma espontânea de se auto disciplinar, de respeitar o limite do outro e de criar as próprias defesas.

O esforço físico das brincadeiras e dos jogos requeria intervalos para relaxar. Pedagogicamente falando, era o momento de “volta à calma”. A galera procurava as calçadas ou o alpendre (hoje varanda) de alguma das casas da rua para espairecer, o que acabava virando um exercício grupal da fala. Era o momento de contar histórias e estórias ouvidas das mães e dos professores, e de passar adiante os “causos” de assombração captados das conversas dos adultos. Ainda sobrava tempo para testar as adivinhações e para as piadas de salão, estas saídas da boca dos mais espirituosos.

A leitura também era fonte de diversão. Até então, os livros não eram lidos por obrigação, mas pelo prazer da leitura. No circuito havia mães-professoras e o acesso aos livros era estimulado. O ler possibilitava à criança viajar na imaginação e penetrar noutros mundos. A preferência era pelos contos imortais do mundo mágico dos irmãos Grimm, Perrault, Andersen, chegando à criação do nosso compatriota também eterno, o Monteiro Lobato. Os personagens e os cenários da Gata Borralheira, Branca de Neve, Bela Adormecida, João e Maria, Chapeuzinho Vermelho, Pequeno Polegar, Gato de Botas, Pinóquio, Sítio do Pica-Pau Amarelo, entre outros, levavam as crianças ao devaneio, à fantasia e à emoção. As narrativas também geravam aflições, pois sempre havia os vilões personificados nos gigantes, nas bruxas, nas madrastas, nos lobos maus, a fazerem o mal. Porém, com poder maior, havia as fadas e os heróis que apareciam a tempo, nem que fosse no último segundo, para salvar as vítimas encurraladas e indefesas Se o imaginário levava a sonhos irreais e impossíveis, pouco importava! Importante era que o vilão sempre terminava derrotado, o bem vencia o mal e todos eram felizes para sempre. Difícil é se desprender totalmente de um conto de fadas enquanto existir alegria e esperança!

O domingo era o dia mais esperado! É que a liberdade era ainda maior e os entretenimentos expandiam para além da casa e dos amigos da rua. Até a comida era especial. A galinha caipira apresentava-se como o prato principal do dia, complementada pela macarronada e pelo tutu de feijão, com direito à sobremesa.

O dia começava com a missa das crianças, logo no início da manhã, na Igreja Matriz. Era uma obrigação cristã que todos levavam a sério. Sem necessidade da companhia de adultos, as crianças tornavam-se público exclusivo daquela missa, portanto, os rituais eram a elas adequados e as mensagens a elas dirigidas. A maioria fazia parte da “Cruzada Infantil” - movimento organizado pela igreja para estimular a participação da criança na comunidade cristã e também catequizá-la. A interação dentro do grupo e o preparo permanente do catecismo estimulavam a sensibilidade e o comprometimento das crianças, tornando-as mais receptivas aos ensinamentos religiosos e mais dispostas a partilhar. As missas eram sempre participativas e entoadas por cânticos. No último domingo do mês, ou em datas comemorativas, os “cruzadinhas” compareciam com seus uniformes brancos e faixas amarelas com o símbolo da cruz, o que emprestava ar de solenidade à cerimônia. Quem coordenava tudo era o Padre Dudu - eterno pároco da igreja. Com seu perfil enérgico, às vezes exagerava ao difundir para as crianças a imagem de um Deus vigilante e punitivo com o não cumprimento dos seus mandamentos. Mas, nunca deixava faltar a imagem do Deus amigo e protetor das crianças e o sentido do amor cristão. E foi aquela sementinha que despertou a espiritualidade de todos a crer num Ser Superior “que sempre nos rege, nos guarda e nos ilumina”.

Emoção também do domingo eram as matinês logo no início da tarde. Como ninguém tinha mesada, os pais selecionavam previamente os que iriam, com base no melhor comportamento. Algumas crianças se ofereciam como baleiro circulante – uma boa forma de ter acesso aos filmes. As sessões de cinema sempre começavam pelo seriado Zorro, em que rápido se formava uma torcida geral pela vitória do vingador mascarado. Os filmes principais variavam de gênero a cada semana, ora passando filmes de ação, orafaro estes americanos estilo Matar ou morrer, ou algum de espionagem com o agente secreto James Bond, como Moscou Contra 007 -, ora épicos históricos, estilo Quo Vadis ou Os dez mandamentos, até chegar aos filmes cômicos de Zé Trindade e Grande Otelo. Aventura, de fato, era dar A volta ao mundo em 80dias. E, quem não tivesse medo de assombração, podia até encarar o suspense do Alfred Hitchcook.

Também, em conformidade com a censura, podia-se alcançar os filmes românticos da época, à moda do Candelabro Italiano – cantem Al di Lá, de Quando setembro vier e de E o vento levou. A sensualidade era pouca explorada, beijos só de “bico selado” e o amor mostrava-se puro...Até então, o cinema já tinha evoluído do mudo para o falado e legendado, do preto e branco para o “technicolor” e o “cinemascope”. Os recursos dos estúdios de “Holliwudy” ainda eram limitados, mas grandes galãs já se tornavam ídolos.

Os passeios do domingo à tarde eram as visitas aos familiares e amigos – avós, tios, primos, comadres. A distância, a poeira e o calor até chegar ao destino não se mostravam como obstáculos ao lazer. No colo da mãe ia o filho mais novo, outros agarrados à barra da sua saia, os demais segurando-se as mãos. O cansaço se desfazia com a alegria do encontro com os visitados. Crianças e adultos se dividiam em seus grupos próprios, uma vez que todos tinham com quem se ajuntar, conversar e se divertir. E o lanche nunca podia faltar, sempre regado ao farto café mineiro com queijo, biscoitos de polvilho, bolo de fubá, além dos doces caseiros feitos no tacho de cobre.

Daqueles inesquecíveis passeios, vêm à mente inúmeros cenários:

- Os vastos quintais das casas feitos pomares com árvores frutíferas das mais variadas espécies; às vezes tinha até um fio d’água correndo lá no fundo. Neles, o brincar não era só subir e balançar nos galhos das árvores, mas, competir quem alcançava o topo mais alto, quem não escorregava nos troncos roliços dos mamoeiros, quem pulava de galho em galho imitando os macacos.

Depois do pula-pula era o sentar-se debaixo das árvores e deliciar-se com as mangas maduras caídas do pé e com as jabuticabas pretas retiradas do tronco das jabuticabeiras. Era uma comilança só, sem se lembrar da obstrução certeira das vias intestinais no dia seguinte, por conta de tanta semente engolida;

- A subida à ladeira para chegar lá no Alto dos Morrinhos, donde se avistava toda a cidade. Quem por ali passasse não podia deixar de entrar na colonial Capela do Nosso Senhor do Bomfim, subir à sua torre para badalar o sino e, por obrigação, rezar uma Ave Maria para ser abençoado;

- O corre-corre para ver o trem passar, quando a maria-fumaça ecoava de longe um apito uivante. E lá vinha ela, com toda sua imponência, a soltar fumaça, abrindo passagem. E todos a acenar aos passageiros, desejando-lhes boa viagem;

- A corrida atrás do carro de boi– aquele de eixo com duas rodas de madeira puxado pela junta de bois amordaçados e atiçados pelo ferrão do malvado carreiro. Para a garotada, o insistente nhem-nhem-nhem produzido pelo movimento das rodas era o gemido lamentoso dos bois que, cabisbaixos, mostravam-se sofridos e humilhados. Os gritos da galera se confundiam no incitar os bois e no repudiar a maldade do seu condutor.

Mas, aventura no seu sentido nato de proeza e de risco ocorria de fato nos saudosos piqueniques, sempre à beira de um rio. O São Francisco mostrava-se distante, apesar de Montes Claros estar no seu Vale, mas havia os seus afluentes – ou subafluentes – mais acessíveis. O rio Carrapato era o preferido! Era também aos domingos que a gurizada se aboletava na caçamba de seu Zé e da dona Antônia, desprendidos organizadores dos passeios, para curtir as paisagens da mata. A viagem, não obstante os sacolejos nas estradas de terra esburacadas, era só alegria e algazarra! Quando o rio era avistado, ninguém mais se segurava. Os mais afoitos se jogavam logo às suas águas transparentes e começavam a fazer dos galhos das árvores trampolins para saltar nos poços mais fundos. O dia era de integral e exclusivo contato com a natureza e com direito a toda espécie de traquinagens, como armar alçapões para pegar sabiás (a ordem era depois soltá-los), pescar piabas, catar conchas de caramujo, correr atrás das lagartixas, catar flores e sementes.

Incrível como tudo era encanto! Os adultos se inquietavam, preocupados com a segurança das crianças, mas estas pareciam ter o seu anjo da guarda próprio. Prova: apesar dos escorregões, quedas e arranhões, ninguém fraturava nada. E, ao fim do dia, todos voltavam para casa são e salvos!

Havia também passeios a fazendas. Dos vizinhos fazendeiros, os mais receptivos eram o seu Luiz Maia e a dona Ceci, que ao irem com a família à fazenda Cabaceiras, de sua propriedade, davam oportunidade aos amigos dos seus filhos. Era um privilégio participar daquela caravana! O destino, por ser mais distante, tinha como meio de transporte o trem. E qual mineiro não gosta de viajar de trem?! Por isso, as emoções já se manifestavam no embarque na estação ferroviária. Anunciada a saída, todos se sentiam partindo para uma viagem internacional. O trem nada tinha de corredor e ainda por cima fazia muitas paradas. Mas, pensando bem, era melhor que fosse assim, já que o que se queria mesmo era ampliar a viagem e conhecer os vilarejos e as paisagens ao longo do caminho. A estadia de três a cinco dias na fazenda levava todos a situações novas: o convívio com os bois no curral, o andar a cavalo, o catar os ovos de galinha escondidos; as trilhas a percorrer. À noite, o curtir era apreciar a lua e as estrelas, tentando definir a fase da lua e as figuras formadas pelo aglomerado de estrelas lá no céu. Como as constelações ainda não eram conhecidas, cada um interpretava o desenho das estrelas conforme sua imaginação.

O tempo ia passando, as crianças crescendo e uma metamorfose se anunciando. Algo começava a mexer no corpo e no emocional daquela moçada, era a puberdade que vinha chegando. Mas, lá nos anos “enta” essa mutação se processava mais lentamente, o que tornava a infância mais prolongada. Por isso, o querer brincar persistia. Ainda havia tempo para os meninos ampliarem seus espaços, soltarem suas pipas, jogar em peladas de futebol em campos improvisados e fazerem suas pescarias de forma mais aventureira. As meninas, mais recolhidas e fantasiosas, davam vazão à imaginação na arte da música e da representação. E, no fluir da liberdade de criação, o teatro também ganhava a sua vez, atraindo como público até os adultos das redondezas.

De fato, dentro dos seus limites e possibilidades, a meninada, ainda inspirada pelas estórias do mundo mágico, conseguia dar vida aos cenários e personagens dos contos de fada. A adaptação e a montagem eram próprias: tablado improvisado com pneus e pedaços de madeira; cenário formado por papel de embrulho pintado com aquarela; cortinas improvisadas com lençóis e toalhas. Roupas e fantasias podiam ser feitas de papel, mas as do fundo do baú também eram reaproveitadas. Quanto ao efeito cênico e sonoro, esses dependiam da capacidade de interpretação de cada um. Traduções mais comuns eram as estórias do Chapeuzinho Vermelho, do João e Maria, da Gata Borralheira. Mas também se interpretava as peças da Maria Clara Machado, como o inesquecível Pluft, o fantasminha, A bruxinha que era boa e o Rapto das cebolinhas. Com fantoches, dava-se interpretação aos habitantes do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Era nas apresentações e representações que todos revelavam a sua espontaneidade e o seu interior.

Enfim, é de tamanha simplicidade a gerar tanta satisfação e tanta alegria que se pode depreender que o prazer é feito de pequeninas coisas.

E, voltando às crianças do Século 21, só me resta fazer um apelo: Meu Deus, não deixe que os desejos infantis escapem das nossas crianças. Desperte sempre nelas a sensação do brincar, do correr, do gritar e do sorrir. Não permita que se tire delas o encanto pelo mundo, nem os sonhos com a fantasia. Impeça a sociedade de lhes cobrar mais saberes do que suas mentes alcançam. E, acima de tudo, não deixe que as máquinas antecipem nelas a vida de adulto.


ARTESANATO DE MONTE AZUL
NORTE DE MINAS

A arte artesanal acompanha a cidade de Monte Azul, localizada no norte de Minas Gerais, há várias gerações.

A beleza natural é uma das grandes inspirações dos artesãos que fizeram dos recursos naturais e materiais regionais, símbolo de beleza e terapia artística. Essa técnica começou com uma forte abundância de argila e solos férteis. Que se deu a criatividade da confecção de vasos de argilas e trabalhos artesanais com identificação profunda com o Folclore e características de produtores rurais, que utilizavam materiais para uso doméstico, como vasilhas de cerâmicas, vasos, potes e entre outras peças.

A cidade de Monte Azul carrega a originalidade e identidade pela cultura de um povo criativo e modesto, tudo isso através da arte e da valorização da matéria-prima. A partir de sua relevância, a nossa cidade busca aprimorar, não somente sua história artesanal, mas, também, levar para as atuais e futuras gerações a importância da arte local, capacitando as crianças e adolescentes, através de

grupos de convivência e fortalecimento de vínculos, o gosto pelo artesanato. Além de desenvolver projetos sociais, para a prática de artesanato nas escolas municipais, no qual aprende a reciclar e cuidar do meio ambiente, eles ainda produzem com extremo carinho as pinturas em garrafas, com o reaproveitamento das embalagens e da conscientização de reciclagem. Também fazem os bordados regionais, pintura em vasos de argila, confecção de peças de linhagem e entre outras, tudo com a bela arte do bem fazer. Todos esses materiais são desenvolvidos pelos alunos, principalmente aqueles que estão em amparo social, prestando-lhes oportunidades com o desenvolvimento sustentável, além de oferecer uma agradável terapia mental.

Ademais, o artesanato local é uma autentica simbologia da história de Monte Azul, desde dos seus antepassados, em distintas épocas, até nos dias atuais. Que são aprimorados nos costumes e no estilo artístico de grupos de artesãos e artesãs, que fazem da arte artesanal uma fonte de cultura e renda, para o desenvolvimento regional sustentável.


A CIDADE DE JEQUITAI
APONTAMENTOS HISTÓRICOS

As cidades, às vezes envelhecem precocemente, mas podem renovar-se, surtos de processo dão-lhe feição nova, tornando-as mais esperançosas.

A cidade de Jequitai, nos dias que correm, atravessa essa fase de esperanças, de renovação, embora sua vida típica do garimpo tenha ciclos em que os dados estatísticos se confundem com as marcas sismográficas.

Mas, o atual prefeito da cidade, Sr. José Maria de Aquino, moço idealista e realizador, estima o faiscador como motivação de um movimento progressivo ondulante, e orienta sua administração no sentido positivo do ressoerguimento de todos os setores da vida municipal, como sejam instrução primária, saúde e transportes.
O orçamento do município para o exercício de 1968, a seguir, mostra o primeiro plano de governo de seu novo Prefeito, dentro dessas nossas assertivas.

PARECIMENTO DA CIDADE

Com elementos que nos forneceu o coronel Daniel da Fonseca Junior, um dos mais ilustres filhos de Jequitai, cuja idade provecta é um valioso acervo de serviços prestados a sua terra, vamos tentar o registro de alguns informes a respeito do aparecimento da cidade de Jequitai, cidade que, ao contrário das demais de Minas, ou maioria delas, não nasceu à sombra de uma cruz e nem ao redor de uma ermida, mas do achado ocasional de4 alguns diamantes mas praias do rio do mesmo nome.

No ano de 1872, o tenente coronel Cipriano de Medeiros Lima, mais tarde Barão de Jequitai, atingia o apogeu do maior latifundiário nas terras das Minas Gerais, comandando suas vinte e cinco fazendas, tendo como piloto a mais importante delas, o Brejo Grande, onde residia, e que ficava pouco distante da hoje cidade de Jequitai.

As propriedades do Barão, segundo minuciosas pesquisas realizadas pelo engenheiro e professor Simeão Ribeiro Pires, de Montes Claros, mediam-se por 65.660 alqueires geométricos, todas elas em franca prosperidade agrícola e pastoril. Trinta mil rezes era o rebanho; os braços de duzentos escravos sustentavam laboriosamente o dinamismo do Barão.

Homem de pouca instrução, mas ativo e inteligente, Cipriano de Medeiros teve como primeira atividade a profissão de ferreiro, de que se gabava ser um perfeito artífice. Nunca fora o ferreiro da maldição, porque sempre tinha o ferro e tinha o carvão...

Progrediu mais na traficância de escravos e, assim, suas fazendas, como era óbvio, foram as mais produtivas da época.

No Brejo Grande, segundo “Os Engenhos de Cana de Açúcar em Minas Gerais” publicação do Instituto Nacional do Açúcar e do Álcool, teria financiado na dita fazenda o primeiro e precário complexo dessa indústria rural, de tão nefastas consequências na formação social do século 19. Verdade é que açúcar era só para adoçar os rigores das leis proibitivas do fabrico de aguardente. A publicação citada, de cunho oficial, não assegura contudo em que região, em que bandas, ficava o Brejo Grande. Fala, por alto, em Filgueiras, ou Formigas.

A história recúa, deste modo, no século 18. A primeira usina de açúcar em Minas Gerais, e nesse récuo vamos encontrar na região o rei dos emboabas, o famoso Francisco de Nunes Viana - correto é Manuel Nunes Viana – procurador de Izabel de Brito, da dinastia tabaroa da Casa da ponte, em plena atividade no rio das Velhas, de Sabará à Barra do Guaicuí, sendo de se acrescentar que na barra do rio Jequitai no São Francisco, ainda se veem as ruinas da sede da fazenda “Engenho Velho”, de Nunes Viana.

O professor Simeão Ribeiro Pires, que citamos, fala da arrematação por parte de Cipriano de Medeiros das fazendas que pertenceram a Antônio Caetano Nunes de Macedo e sua mulher, dona Ludovina da Costa Ferreira, dentre as quais destaca-se a do Brejo Grande. A citação deu-nos a telha escarafunchar os motivos da medida judiciária, uma vez que a informação é de que os imóveis arrematadas constituíam legados do casal que não tinha herdeiros e por isto sido instituído a favor de seus escravos. De indagações e indagações, fomos inclinados a pensar que o casal Antônio e Ludovina não compreendia o instituto da escravidão, não se conformavam com as restrições da igualdade humana entre brancos e pretos. Desconhecemos a legislação da época, mas cremos que o escravo não era pessoa jurídica, não podendo receber por instrumento testamentário, ficando assim frustrada a intenção dos testadores.

No ano de 1872, como íamos comentando, o garimpo do alto-médio Jequitinhonha fez migrar das minerações do Medanha e Inhaí levas de garimpeiros que desceram e foram faiscando rio abaixo, para afinal se deterem nas ricas lavras do Pau D’óleo, Tambadouro, Peixe-cru, Quebralinhas e muitas outras nas cercanias de Terra Branca.

Por aí moravam os Gero, família numerosa e de influência no meio, e por um dia do mesmo ano de 1872, mandaram a fazenda do Brejo Grande dois escravos levando uma carta a Cipriano de Medeiros, em que pediam certa quantia em dinheiro para o comércio de diamante. Os Gero eram capangueiros. Dias depois os escravos chegavam à beira do rio Jequitai, no ponto certo onde deviam atravessar o rio a vau, bem próximo à fazenda Brejo Grande. Quando comiam a matula, verificaram que o esmeril negro, os sexos rolados, de mistura com o marumbé, a forragem de agulha, o caboclo e outros testemunhos do diamante, eram os mesmos ocorrentes nas grupiaras e praias do rio Jequitinhonha, nas lavras de Terra Branca.

Foram recolhendo e reduzindo o material, levando nos chapéus de couro, servindo de bateia. Pegaram dois diamantes de quatro quilates e dois de dois quilates.

No mesmo dia alcançaram a fazenda Brejo Grande, onde foram prontamente atendidos, recebendo à importância pedido pelos Gero.

- Yôyô Cipriano – disseram os escravos – nós estamo indo embora com a boca cheia dágua pra dá um experimento de garimpo na beira do rio Jequitai. E mostraram as quatro pedras encontradas.

- Quatro estrelas! – exclamou Cipriano de Medeiros.

Os olhos do tenente brilharam com mais intensidade do que brilhavam as quatro estrelas que faiscavam em suas mãos tremulas.

E naquele instante Cipriano rabiscou algumas linhas e entregou aos escravos. Pedia aos Gero que mandassem quinze escravos, bem equipados com todo material necessário a uma grande exploração de diamantes. Não faltaria dinheiro e munição de boca era farta.

Aos dois escravos Cipriano de Medeiros ordenou que fossem fornecidas duas bestas de sela arreadas, para o regresso.

***

E, ASSIM, COMEÇAVA A ODISSEIA DA CIDADE DE JEQUITAI.

O topônimo já existia, nascera antes, da cachoeira a jusante, onde os jequis traiçoeiros eram armados entre os canais de pedra para a pesca, e que passariam a fornecer a principal alimentação a uma população ocupada com a riqueza fácil e ilusória que o diamante costuma dar, e indiferente às atividades de uma vila produtiva e racional.

Um ano depois, 14 de novembro de 1873, a lei provincial 1995, elevava o lugarejo à categoria de vila de Jequitai, com sede no arraial do Senhor do Bom Fim (Bocaiuva), do município de Montes Claros. Em 1881, era a sede transferida para seu território já então em condições de funcionar com seus próprios recursos, já sob o nome de vila de Nossa Senhora da Conceição de Jequitai. Três anos mais tarde, a lei provincial de número 3.273, de 30 de outubro de 1884, elevava a vila nascente à categoria de cidade. No dia 17 de abril de 1890, por motivos políticos pouco discutíveis, a lei estadual número 44, despojava Jequitai de seus fotos de cidade, passando a distrito de Montes Claros e depois de Coração de Jesus (*).

Quarenta anos decorreram, quando os filhos de Jequitai, de que mais se destacaram coronel Daniel da Fonseca Junior, coronéis José Coelho de Araújo, Sandoval Coelho de Araújo, Dr. Carlos Messias de Aquino e outros, reivindicam os direitos de emancipação política e administrativa de sua terra, a que se converte na lei estadual número 336, de sete de dezembro de 1948, sancionada pelo presidente Milton Campos.

No seu curto espaço de vila, de cidade, esteve sob a jurisdição da Comarca de Montes Claros a cidade de Jequitai, onde várias vezes esteve a serviço do cargo o Dr. Jeronimo de Castro, casado com a senhora Joana de Castro, neta de Francisco Ferreira Leal, instituidor do patrimônio e fundador da cidade de Coração de Jesus.

Dirigiu o Conselho Municipal, com eficiência e muito civismo o tenente Francisco Coelho de Araújo.

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(*) Vila Nova de Jequitai.


EDUARDO GOMES

Faleceu as 6,30 horas de hoje, dia 20.02.2022. Era o quinto filho de José Gomes de Oliveira (Zé Gomes) e Maria das Dores (Dorzinha) Guimarães Gomes, de um total de seis. Quando morre alguém assim, a sua morte nos leva junto, roubando um pouco de nosso passado e apagando uma presença forte no futuro. Ao perdermos os melhores, a sensação é a de que recomeçamos do zero. Eduardo fará muita falta. Do seu jeito de ser, grandes lições de humildade. Do seu abraço ao aperto de mão, a certeza de um irmão presente, de um esposo que exalava o seu carinho e transbordava de afetividade, de um avô afetivo, de um pai austero, mas amoroso, de um tio querido, de um cunhado atencioso, de um primo e de um amigo querido. Do seu olhar, a transparência de um ideal que foi o de viver em paz. Da vida, a alegria, a caridade e tudo mais de bom que transmitia. A vida promoveu um empate entre os que já se foram e os que ficaram daquele lar edificado com tanto amor. Nos bons tempos, éramos oito. Hoje somos, apenas, quatro remanescentes. É o ciclo da vida. Eduardo era casado com Goretti Zuba e deixa três filhos e cinco netos. Médico Veterinário e Professor universitário na Faculdade de Agronomia e Veterinária da UFMG, ele tinha, em seus alunos, uma legião de admiradores e, em seus amigos, incontáveis irmãos. Esta página tem dedicado um espaço, sempre que solicitada, para noticiar o falecimento de alguém, a fim de que os amigos e parentes possam ter uma derradeira chance de homenagear aquele ente querido que concluiu sua jornada terrena. Em um mundo no qual as notícias se sucedem, sem tempo de serem absorvidas, hoje quem lamenta a morte de um irmão, sou eu. Tive o privilégio de experimentar a sensação maravilhosa do convívio, da afeição, das lições e da luz que meu irmão Eduardo Gomes emanava. Hoje a parte física desse convívio, no entanto, meus amigos, já se encontra no passado. Depois de quase quarenta dias lutando, meu irmão de sangue e de alma, deu por encerrada sua missão e nos deixou. Quem já perdeu um só de seus afetos sabe muito bem o que essa imensa dor significa. No entanto, não serei ingrato em dar peso maior à dor do que a todas as boas lembranças que ele me deixou. E assim segue a vida. Na foto, ele aparece ao lado de sua esposa Goretti.

UMA HOMENAGEM IMPORTANTE!

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, atendendo ao honroso convite do comandante do 55º Batalhão de Infantaria, o coronel Hidelgard Borba de Vasconcelos, nas pessoas dos associados Dário Teixeira Cotrim (Diretor de Museu) e José Francisco Lina de Ornelas (Presidente do IHGMC), recebeu em noite festiva o notável Diploma “Amigos do 55º Batalhão de Infantaria Dionísio Cerqueira” – ato de outorga registrado sob o número 20220053, às folhas de número 2, do Livro de Honra dos Amigos do 55º Batalhão de Infantaria Dionísio Cerqueira, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à comunidade de Montes Claros e ao Exército Brasileiro. Além do Diploma, o presidente Chico Ornelas ainda recebeu a Medalha em laurel ao Dia da Arma de Infantaria - data natalícia do Brigadeiro Antônio Sampaio – Foi um momento de muita alegria para o nosso IHGMC.

 

 


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