E-book

 

 


Copyright © Wanderlino Arruda
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forma idêntica, resumida ou modificada, em língua portuguesa ou qualquer outro
idioma, sem a permissão do autor.

FICHA TÉCNICA

Coordenador editorial: Gráfica Editora Millennium Ltda./ Planejamento gráfico e
capa: Dayana Martins / Revisão de textos: Júlia Maria Lima Cotrim.

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)


ARRUDA. Wanderlino
A773v

Vivendo e Aprendendo. Wanderlino Arruda. Prefácio de Glorinha
Mameluque. Montes Claros / Minas Gerais. Gráfica Editora Millennium
Ltda. 2021.

162 p.
ISBN: 978-65-86024-41-8

1. Literatura Brasileira 2. Montes Claros - Minas Gerais
I. Wanderlino Arruda II. Título

CDD: 366.1
CDU 061.25-134.381

Impresso no Brasil
Printed in Brazil


 

Membros do Consórcio Literário do IHGMC

Dóris Araújo
Dário Teixeira Cotrim
Lázaro Francisco Sena
Maria da Glória Caxito Mameluque
Felicidade Patrocínio
Wanderlino Arruda
Mara Yanmar Narciso da Cruz
José Ferreira da Silva
Ivana Ferrante Rebello
Alceu Augusto de Medeiros
Carlúcio Pereira dos Santos

FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos, arqueológicos, genealógicos, e suas ciências auxiliares, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental do município de Montes Claros e região do Norte de Minas.


SUMÁRIO

Explicativas iniciais - 9
Quem sou... - 11
Prefácio | Maria da Glória Caxito Mameluque - 13
Maria Ribeiro Pires - 17
Maria Luiza Silveira Teles - 20
Felicidade Tupinambá - 23
Manoelito Xavier - 28
Haroldo Lívio de Oliveira - 32
Mara Narciso - 38
Lázaro Francisco Sena - 41
Josué de Oliveira Lima - 43
Dóris Araújo - 46
Dário Teixeira Cotrim - 48
Rigoberto Guillerno Espinosa Pichs - 54
Meu Pai, José Arruda - 57
Dona Amália Morais, minha Mãe - 61
Silvna Melana, segunda Mãe - 65
Dentro e fora de casa - 69
João Morais, meu Avô - 73
São João do Paraíso - 76
Memórias - 80
Meu professor Joaquim Rolla - 83
Os revoltosos passam por Salinas - 90
Mudança para Salinas - 93
Mato Verde - 97
Taiobeiras - 101
Montes Claros - 105
Colégio Diocesano - 108
Meu professor Pedro Santana - 111
Começando a ser montes-clarense - 113
Jornalismo - 116
O Bar Guarani de Vadinho - 119
Hotel São José - 122
Fafil - 125
Aprendendo Etiqueta no Rio de Janeiro - 128
No Teatro Nacional de Brasília - 130
Na Loja Maçônica Deus e Liberdade - 133
Fundação da Faculdade de Direito - 136
Outra vez em Lisboa - 139
Currículo - Wanderlino Arruda - 142
Cronologia - 146
Posfácio | Itamaury Teles de Oliveira - 159


EXPLICATIVAS INICIAIS

Trabalhando em grupo, a sinergia é maior.

Vivendo e Aprendendo chega na hora certa dos oitenta e sete anos, como se um quase romântico relatório de vida e contabilidade, com balancetes e balanço de vivências e convivências. Mostra de vida como se em trabalho de grupo, escola com alunos de várias séries. Predestinação ou destino de muitas almas, percursos em múltiplos caminhos, família humana com registros akáshicos, como pensam os indianos.

Minhas aprendizagens, minhas escolhas, meus problemas. Minha história, minhas estórias: nenhum desengano, nenhum mesmo! Em tempos diferentes, familiares, companheiros, colegas, amigos, irmãos, confrades, confreiras, correligionários, adversários, críticos, todo mundo em eterno aprender e ensinar.

Quem? Com quem? Por quem? Para quem? De quem? O quê? Onde? Aonde? Como? Quando? Quanto? Por quê? Para quê? Cada um, cada coisa, cada companhia, cada acontecimento, em momento certo, lugar certo, aprendizado formal ou não formal.

Muitos os verbos conjugados em todos os modos e tempos: ser/não ser, ter, agir, ver/ser visto, ver de dentro ou ver de fora, assistir/representar, entrar, sair, ficar, sentir, acreditar, substituir/ser substituído, concordar/não concordar. Diversificado o exercício do viver e do agir. Muitos os papéis, com mais alegrias que tristezas, seja sentado no auditório ou atuando em cima do palco, a existência sempre um teatro. Muitos os amores, nenhum desamor.

Considerei as famílias como de origem e de destino, eterno convívio, viver junto ou em distâncias. O núcleo pai e mãe, os irmãos e os afins, cada qual no seu jeito e modo de ser, ninguém igual a ninguém. Com Olímpia, a morena de olhos verdes, eterno presente de 72 anos de alegre convivência e até em possíveis cumplicidades, existências plenas, acredito de acordo com o programado no eterno caminho espiritual. No dizer dela, “doce vizinhança de travesseiros e nas andanças que a vida nos leva, ainda em algum tempo para frente’’.

Muitos os agradecimentos aos ilustres nomes que assinaram opiniões a meu respeito, tenho certeza mais pela amizade e pelo carinho. De todos, somente dois tiveram conhecimento antecipado do texto completo: Glorinha Mameluque, do Prefácio, e Itamaury Teles, do Posfácio, porque tinham que saber, com antecedência, sobre motivação e conteúdo do livro, razões e necessidades de quem precisa analisar bem.

Wanderlino Arruda


QUEM SOU...

Antes de tudo, sou um leitor de todos os momentos, que procura saber sobre pessoas, lugares, coisas e acontecimentos. Pesquisador de semelhanças e contrastes, vivo bem quando navegando entre a razão e a emoção, parte no real, parte nas ideias, inclusive com o ritmo poético.

Minhas leituras começaram aos onze anos, nas bibliotecas das escolas de Salinas e Mato Verde, livros de aventuras juvenis. O contato mais direto com a Literatura em Geral começou em Taiobeiras, quando pude mergulhar, com profundidade, nas obras de autores portugueses e brasileiros, tanto nos romances como nos livros de História e de Religião.

Observador de tempo integral, analista sempre que posso, tento tirar de cada momento lições úteis para uma melhor compreensão da vida, minha e de todas as pessoas. Irrelevantes as dimensões, sei que tudo tem o seu próprio valor. Por isso, o meu gosto em escrever crônicas que, do quase nada, sempre chegam a conteúdos de universos informativos e confessionais ou simplesmente lúdicos. Descrevendo pessoas, narrando ou interpretando fatos, coloco-me quase sempre como partícipe, tendo alguma certeza de estar oferecendo possíveis contribuições e exemplos.

Sempre tive oportunidade de viver e reviver cada texto, antes e durante a escrita, passando os episódios ou as descrições nas lonjuras do tempo ou do espaço, seja em Brasília, seja em Havana, Lisboa, Buenos Aires ou São João do Paraiso, minha terra natal. Vejo tudo em coloridas e sonoras lembranças, ou, no mínimo, como se estivesse sonhando ou em um rememorar de detalhes. Não sei me desligar do meu próprio universo, pois vivente de memória eterna.


PREFÁCIO

Maria da Glória Caxito Mameluque

Entre as missões difíceis que tenho enfrentado nesse tempo de pandemia, essa é uma delas: prefaciar uma obra de Wanderlino. Difícil, mas gratificante e à qual não posso me esquivar, apesar do susto e do inusitado do convite.

Falar do homem - Wanderlino Arrruda - é chover no molhado, é repetir tudo o que já foi falado em letras garrafais e aqui reproduzidas nas letras de Maria Ribeiro Pires, Maria Luísa Rodrigues Batista e Inilta Pires Antunes, Maria Luiza Silveira Teles, Felicidade Tupinambá, Manoelito Xavier, Haroldo Lívio, Mara Narciso, Lázaro Francisco Sena, Dóris Araújo, Dário Cotrim que o retratam como “homem de sete instrumentos” e até comparado a Winston Churchill, na pena de Josué de Oliveira Lima: “Gosto pela política, pela pintura, jornalismo, oratória, ciências e artes...” e Rigoberto Guilherno Espinosa Pichs, que assim diz: “ De Wanderlino, uma galeria de personagens desfila por nossa imaginação, no tempo e na conformação do acontecimento, guiada pela maestria do narrador...”

Poderia parar por aqui, mas o livro “Vivendo e Aprendendo” penetra lá no baú de suas raízes e me encanta, apaixonada que sou pelo resgate de Memórias.

Mário Sérgio Cortella afirma que: “Na vida, nós devemos ter raízes, e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza. Quem tem âncoras vive apenas a nostalgia e a saudade. Nostalgia é uma lembrança que dói, saudade é uma lembrança que alegra.”

Prefiro então, mergulhar nas suas raízes tão bem descritas nesse livro, um resgate de lembranças.

Do pai, José Arruda, herdou o espírito aventureiro “era um viajante faminto de estradas, sempre saindo e chegando...” De prodigiosa memória, lembra-se até do seu pai “vestindo um pijama listado, com botões vistosos e alamares na gola e nas mangas...”

À mãe, Dona Anália, um momento de afeto filial e uma linda declaração de amor: “Ser mãe é curar o cansaço, é amenizar apropria existência...”

A segunda mãe, Silvina Melana também merece uma lembrança especial e uma gratidão: “Ela carregava e lavava os urinóis, dava banho, vestia as roupas, penteava os cabelos, dava os remédios, ensinava a rezar...”

O avô João Morais “viveu oitenta e muitos anos de alegria em tempo integral...” “Vi-o muitas vezes voltando à tardinha, enxada no ombro, embornal pendurado no pescoço, sorriso de ponta a ponta, a cantarolar algumas de nossas modinhas prediletas...”

As andanças por São João do Paraiso, onde nasceu, as lojas principais, o centro da praça onde os fereiros da roça amarravam os cavalos e onde a meninada pulava corda e brincava com bolinhas de gude...” lembranças da infância que me fizeram lembrar “Dos meus tempos de criança” de Ataulto Alves: “Eu igual a toda meninada, quanta travessura eu fazia, jogo de botões pela calçada, eu era feliz e não sabia.”

E o Professor Joaquim Rolla? “Um homem alto, magro, olhar firme e penetrante o tempo todo, com uma régua de madeira, pronta para descer no lombo de quem não estudasse direito...”

As viagens de São João do Paraiso para Salinas, lembrando de quando “pegou varíola e viajou enrolado em palha de bananeira...” E em Salinas, seu deslumbramento porque tinha coisas que São João não tinha: “... sorveterias, padarias, armazéns grandes e até lojas com vitrines...” E ali conheceu a professora, “a mulher mais alta da cidade, com fama de bonita e inteligência sem igual, Dona Heloisa Veloso Sarmento Cordeiro...”

De Salinas para Mato Verde, Taiobeiras: nessa época, sem completar 15 anos era bom fazedor de charadas e autor de palavras cruzadas. E foi em Taiobeiras, tempos depois que foi atingido pela flecha do Cupido, quando cruzou com Olímpia em uma bicicleta feminina amarela e lhe disse que uma amiga dela queria namorar com ele. “Olhei bem nos olhos verdes dela, portadora do mais lindo sorriso do mundo e respondi de pronto: “Namorar eu quero, mas é com você...” Encontro que dura até hoje, há mais de setenta anos.

Por último a vinda para Montes Claros, já de todos conhecida, como suas peripécias pela Rua 15 e pelas ruas onde situavam as casas das “mulheres”, passando pelo Hotel São José até chegar no Bairro Todos os Santos.

O ideal de servir que sempre pautou sua vida, seja no Rotary, na Maçonaria e em muitas outras instituições, talvez tenha tido início naquele dia em que menino, pegava escondido um pouco de cada coisa para dar aos pedidores de esmola, na seca de 39.

Fiquei agradecida e honrada em ter tido a oportunidade de participar desse regate de suas raízes.

Presidente da Academia Montes-clarense de Letras, Membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco.


MARIA RIBEIRO PIRES

Solada na “imensa taça voltada pra as constelações do Infinito”, no dizer de Plínio Ribeiro, Montes Claros brinda a seu destino: SUB UMBRA ALLARUM TUARUM”.

À sombra de suas asas, acolhe, além de seus filhos, os filhos de outras terras. Pelo antigo rigor das leis romanas, que visavam à perpetuação da família, adota-os. Educa-os. Tempera-lhe o caráter na fortaleza, na perseverança e no trabalho. Incute-lhes o seu ideal de grandeza, sua ânsia de progresso e de civilização. Não distingue entre filhos próprios e os de adoção, tal a identidade do ideal com que lhes forja a mente.

Sustentada em fé e ousadia, a cidade cresce impetuosa, segura, assombrando o visitante com suas surpreendentes e imponentes realizações.

Wanderlino é o chegante, o novo elemento da constelação de valores que a cidade amorosamente recebe como mãe que ansiosa mente espera o filho. Será que a tônica do amor é que faz vibrar as cordas do coração, que levaram o autor de ‘Tempos de Montes Claros” a escrever as páginas que vão ficar na história de nossa terra? Como identificar o livro do Prof. Wanderlino Arruda?

Não é o desenvolvimento de uma teoria vivencial. E a própria operacionalização de vida.

Sua pena leve, flexível, traça com fidelidade o perfil dos seus retratados num conjunto harmônico de características pessoais e circunstanciais. Seguro na autenticidade, nunca se resvala para a lisonja, para o convencional.

Acreditamos que o presente trabalho será somado aos de outros escritores da nossa terra, constituindo-se importante subsídio para a história de Montes Claros.

Seus poemas, salmos de intensa espiritualidade, compõem com a prosa a estrutura mística da personalidade do autor.

Como situar o escritor?

É o mestre da língua, o artista de imagens fulgurantes, captando com absoluta sinceridade a alma humana em seus momentos graves, solenes, estuantes de alegria, conforme a situação que lhe apresenta. Wanderlino adotou a nossa cidade. Fez-se estudante em contínua pesquisa, professor em constante exercício, político atento ao interesse público.

Sai, por força de imperativos e interiores chamados da rotina de sua vida de trabalho, e torna-se presença indispensável em todos os setores cívicos e culturais da comunidade.

Subindo os degraus construídos pelo seu próprio talento, ganha o direito à palavra. É o tribuno. Dirige-se aos irmãos, filhos da mesma urbe, com a autoridade de quem não só entende os problemas da região, mas como quem, percebendo sua gravidade social, empenha-se em suas soluções.

É difícil distinguir a linha que separa o seu ser disciplinado, contido, jungido aos compromissos, do voo do idealista, do artista de sonhos largos, ousados.

Altivo, natural, sereno, imune às vaidades vulgares, fala aos grandes e aos pequenos.

Sua cordialidade amena, espontânea, é a chave com que abre todas as portas como quem sabe a que vem, a que chamado responde. Seu olhar direto, incisivo, parece buscar um ponto mais alto como se os Montes Claros lhe tivessem acenado um dia com uma mensagem de luz.

Hoje, traz-me o seu livro, solicitando a apresentação de sua obra. Não sei a que mais devo atender: se à gentileza habitual do autor ou ao sábio espírito de minha terra que o chamou, o acolheu, o adotou como filho amado e lhe inspirou estes magníficos, exemplares trabalhos.

Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 20 de agosto de 1978.


MARIA LUIZA SILVEIRA TELES

Ando desconfiada que o mestre Wanderlino esteja escrevendo suas memórias. E com toda razão! Ele nos deve isto! É uma memória tão rica, que se confunde com a própria História de Montes Claros; tem, pois, de ser contada para jamais ser esquecida.

Sou amiga do professor Wanderlino Arruda há mais de cinquenta anos. Nossa convivência tem sido bastante enriquecedora. Lembro-me, com saudade, dos velhos tempos em que saíamos juntos da antiga Fafil, em turma, e ele sempre a brincar com a minha tia Yvonne de quem o tio Olyntho tinha muitos ciúmes.

Nunca perdeu o seu jeito moleque de menino que se deslumbra com a vida e se diverte com tudo. Brincalhão como ele só, possui uma eletricidade que o move a mil por hora. Já com oitenta e sete anos, continua cheio de energia e empreendedor como ele só. Faz mil coisas ao mesmo tempo. Não desperdiça um único instante. Sempre criando e agindo, principalmente pelo bem de Montes Claros. Alguém imagina que ele não descanse, não tenha lazer e não se divirta? Ora mestre Wanderlino está em eterno lazer, porque o trabalho, a convivência com o outro, ensinar, aprender, dar de si, liderar, criar, agitar a vida cultural da cidade, tudo isto para ele já é lazer e divertimento, pois tudo faz com prazer. Para ele não há o peso do dever e sim a alegria de viver.

Tantas vezes em minha vida precisei dele para um conselho, um desabafo, uma ajuda nos trabalhos intelectuais e ele sempre a me receber com o mesmo carinho e a mesma prestimosidade. E isso não é só comigo que sou amiga, é com qualquer um. Mas, eu lhe devo muito e disto nunca poderei esquecer. Ele tem me feito crescer em todos os sentidos! E não acreditem no que ele fala e escreve a meu respeito. Ele é míope com relação a mim, pois me olha com o sentimento de um irmão.

Agora, não sou eu apenas que falo; isto é uma unanimidade: ele é uma das maiores autoridades culturais não apenas do norte de Minas, mas, quiçá de alhures. É dono de uma memória privilegiada e passeia com desenvoltura por todos os recantos do Saber: História, Geografia, Latim, Grego, Linguística, Literatura, Bíblia, Esperanto, Espiritismo, Filosofia, Semântica, Direito, etc. E, como maçom, rotariano e elista, traz ainda um grande acervo da sabedoria milenar de outras culturas. Sua biblioteca é uma das mais ricas que conheço. Basta uma vistoria por ela para saber o quanto essa criatura tem lido e estudado nesta vida.

Meu pai, que foi uma verdadeira enciclopédia, admirava-o muito e sempre repetia: “Ah, se eu tivesse a memória de Wanderlino”. Existe até uma conversa que ele toma um medicamento especial para a memória. Tanto que basta se chegar a uma farmácia local e pedir “o remédio de Wanderlino”.

Acho que é bobagem falar de seu extenso e rico currículo, pois todo o mundo intelectual de Montes Claros bem o conhece. O homem fez tudo quanto é curso e ocupou quase todos os cargos de importância no município. Foi professor universitário, alto funcionário do Banco do Brasil, vereador, secretário do município, Governador do Rotary, criador do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, da Academia Maçônica de Letras, é eterno jornalista, tendo escrito para todos os jornais que existem e já existiram em nossa terra, é escritor, cronista e poeta. Poema seu já apareceu até em filme francês! Possui vários sites na internet e não para de aprender informática. Adora novidades e tecnologia.

Ainda por cima, como se não bastasse tanto, é pai de sete filhos, avô de uma dezena de netos e até bisavô. Esposo eternamente enamorado de uns belos olhos verdes! Mas, para mim, tem um significado especial: é meu amigo e meu professor de estudos bíblicos.

Sua escrita é deliciosa e tem uma enorme facilidade para contar casos e causos. Escreveu duas dezenas de livros e eu me deliciei especialmente com “Jornal de Domingo”, “Emoções” e “O dia em que Chiquinho sumiu”.

Conforme dizia o nosso inesquecível Haroldo Lívio: Wanderlino Arruda “é um cidadão feliz com a família, com os amigos e toda a humanidade que bate palmas à sua passagem, por reconhecer em sua pessoa um dos valores mais elevados de nossa comunidade montes-clarense”.

E que o mestre Wanderlino fique conosco para todo o sempre! E que venham suas memórias para nossa alegria!


FELICIDADE TUPINAMBÁ

Quem não conhece Wanderlino Arruda? A sua elogiável longevidade, por si só, lhe garantiria ser conhecido por muitos. Mas é seu brilhantismo que o faz se destacar por onde passa. Ele sempre deixa um rastro de luz. O certo é que quem o conhece pode sentir-se um privilegiado por conhecer um homem de bem e de tamanha envergadura. Entendendo como ‘envergadura’ a extensão entre as pontas das asas de uma ave ou de uma aeronave. Sim, asas! De anjo, de quem sabe voar, criar, realizar e servir com generosidade!

Agora, imagine você meu privilégio por conhecer vários Wanderlinos! Em 1992 foi quando nossas vidas se cruzaram numa reunião que ele presidia, na qual fui convidada para fazer parte da fundação de um clube do Rotary. Conheci aí o Wanderlino rotariano. Conhecedor e entusiasta dos ideais de Paul Harris, da obrigação do ideal de servir, para, no mínimo, deixarmos este mundo melhor do que o encontramos. De olharmos além de nós mesmos, de dar de si antes de pensar em si. Fiquei tão apaixonada pelo Rotary, que saí dali rotariana. E 30 anos já se passaram deste encontro primeiro. Nascia ali o Rotary Club de Montes Claros-Leste, e Wanderlino foi o responsável, ao lado de Alexandre Pires Ramos, José Maria Marques Nunes, Henrique Veloso, por criar o primeiro clube de serviço com a admissão de mulheres em seus quadros associativos. Já perdi a conta de quantos clubes Wanderlino criou no Rotary em Minas Gerais e em outros estados, contribuindo assim para o engrandecimento e prestígio que a instituição goza no mundo inteiro. Em Rotary ele tornou-se o meu guru. Sempre que tenho uma dúvida, um aconselhamento, é a ele que recorro.

No Rotary conheci ainda o Wanderlino presidente do Rotary Club de Montes Claros-Norte, Governador do Distrito 4760 no biênio 1994/95, representante do RI em várias conferências no Brasil, na Argentina e no Uruguay, sempre divulgando e engrandecendo o Rotary.

Conheço também o Wanderlino escritor dos livros “O dia em que Chiquinho sumiu”, “Vivências” e tantos outros. Conheci Wanderlino na poesia, nas crônicas, das quais, privilegiada que sou, guardo duas com ternura. Uma é sobre o signo de câncer. Ah! Ele entende também de horóscopo! Me desvendou com rara precisão. Na outra crônica ele conta ter acelerado o passo, numa de suas caminhadas, numa manhã qualquer de domingo, para encontrar a felicidade, que andava um pouco apressada à sua frente, para andar com ela. Tudo indicava ser a felicidade, mas, ao chegar próximo, não era. E assim é também na vida... Às vezes corremos atrás de uma felicidade, mas nem sempre ela está quando a encontramos.

Tem o Wanderlino palestrante. Se você convidá-lo para uma palestra, basta que o avise com 15 minutos de antecedência, que ele comparece e fala com propriedade. Acho genial esta sua disposição de servir e de cooperar com as pessoas.

O Wanderlino político é outra faceta interessante. Já foi vereador, presidente da Câmara e até secretário municipal.

Conheço ainda o Wanderlino nascido em São João do Paraíso, das famílias Morais e Arruda, que veio para Montes Claros e aqui trabalhou em lojas, foi repórter de jornal, até passar no concurso do Banco do Brasil. De lá ele não saiu nem quando se aposentou, contratado que fora para formar executivos do banco através de treinamentos internos pelo Brasil afora. É o que se pode chamar de self-made-man - um homem que se fez exclusivamente em função dos méritos pessoais.

Conheci o Wanderlino pintor, artista plástico, e tenho dele uma marinha com barcos, óleo sobre tela, com pinceladas de um amarelo próprio dos ocasos do sertão, que orna minha casa ao lado de outros estelares das nossas artes plásticas.

Tem ainda o Wanderlino poliglota! Além do português correto, fala, escreve e dá conferências inclusive nos Estados Unidos, em inglês. Tem proficiência em esperanto, francês e espanhol.

A chegada da informática não foi problema para ele. Até facilitou sua comunicação. Domina desde o início o tratamento de informações nas redes sociais. Mantém mais de treze sites e os atualiza frequentemente, além de estar no Facebook, Instagram, Youtube, Twitter e TikTok. Sua maior ocupação atualmente tem sido transformar suas palestras em gravações, que ele exibe na internet. Já transformou em arquivos digitais mais de quatrocentas, o que tem lhe valido um maior número de seguidores.

Tem o Wanderlino intelectual, que levita com desenvoltura pelos institutos e academias como membro, ora como presidente, ora como fundador... Já fundou um sem número de entidades... Discursa com sabedoria e destreza peculiares aos que falam de improviso.

Conheço ainda o Wanderlino do Elos, da Maçonaria, onde ele brilha e destaca-se pelo primor da fala, da escrita e da capacidade de conviver com alegria, retidão e generosidade.

Conheci ainda o Wanderlino esposo de Olímpia, pai de Denílson, Wladênia, Rízzia, João Wlader, Danilo, Júnior e Gracielle, e avô ‘babão’ de Fernanda Isabela, Pedro Henrique, Mayra, Lívia, Natália, Heitor, Gabriela, Andrew, Lucas, Roberto, Pedro Lucas, Arlie e Marcelo.

Conheci ainda o Wanderlino espírita, admirador de Chico Xavier, Divaldo Franco e Nathércio França. Um homem despojado, desapegado de valores materiais, caridoso. Certa feita, estando em sua casa durante uma reunião, ele ausentou-se para atender a um pedinte que havia batido à porta. Reclamei de sua demora em retornar, e ele foi logo me dizendo: poderia ser Jesus. E me lembrou da passagem bíblica, em Mateus 25:35-45: “Em verdade vos digo que, sempre que o fizeste a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizeste”, o que me deixou deveras desconcertada e pensativa. Concordo com o professor Romildo Ernesto Mendes quando ele disse, em crônica recente, que o maior galardão de Wanderlino é ser um homem de Deus.

Vive o dia inteiro rodeado dos livros. Olímpia me confidenciou que ela já jogou uma praga nele quando um dos meninos nasceu. Não me recordo qual deles. Ela se contorcendo de dor em trabalho de parto, e ele sentado no sofá lendo um livro. Ao que ela esbravejou: “Tomara que nenhum destes meninos virasse leitor de livros”. Graças a Deus que a praga não pegou. Wanderlino é poço de sabedoria, nobreza e generosidade. Em síntese, é isto que ele é!


Mesmo aqueles que fazem da arte uma atividade paralela e outra qualquer, não a usando como uma forma de sobrevivência, trazem sobre si uma grande carga de responsabilidade com o mundo à sua volta e com o momento histórico no qual está inserido. Arte na sua verdadeira essência significa educar, propor, retratar e muitas vezes denunciar esta ou aquela paisagem ou situação. Ela pode se manifestar através da música, pintura, literatura, teatro, etc. ou pode ser apenas uma visão de mundo, ou um jeito próprio de apreciar as coisas. Não importa de onde ela venha, como ou quem a trás: brota natural e irresistível dentro do homem e abrange tudo, ultrapassa até mesmo o poder pedagógico das grandes escolas...

O enfoque hoje é para o artista plástico Wanderlino Arruda, que estará expondo seu trabalho na mostra de arte a ser realizada de 07 a 23 de março próximo no Centro Cultural. Através de sua própria análise, ele afirma que encontrou na pintura a oportunidade para testar sua força de vontade e sua capacidade de iniciativa, um teste que envolve a coragem de acertar ou errar. Sua carreira começou naturalmente, seu aprendizado de pintura não passa de vinte e poucas aulas e, cada nova etapa constitui uma série de obstáculos a transpor e um grande montante de sacrifícios, o que faz de sua vida uma maratona. A pintura está presente em todos os momentos, pois pertence a uma família de artistas plásticos, tendo como colegas, em seu próprio ateliê, sua mulher e seus três filhos, todos tomando parte no mesmo interesse artístico.

Sua especialidade é a pintura a óleo e acrílico, usando sempre pincel e espátula. Seus trabalhos vêm sempre com revestimento plástico, algumas vezes com tratamento especial. Para cada tela pintada, ele já tem sempre uma moldura pronta, de modo que o quadro possa ser colocado na parede logo após o término. Wanderlino Arruda tem preferência por marinhas e usa as cores a seu gosto, muitas vezes monocromaticamente.

É quase impossível, um quadro seu não mostrar montanhas: uma espécie de identidade com a paisagem das Minas Gerais. Em momentos de calma, pinta quadros barrocos mostrando a parte antiga de Montes Claros. Suas incursões incluem os cenários de Ouro Preto, Diamantina e Grão Mogol. Tem como costume anotar cenários em suas viagens, e em seus quadros podem figurar tanto o Rio Grande do Sul, como o Nordeste ou a Amazônia. Seus quadros dão sempre uma ideia de repouso e serenidade. Seu primeiro quadro foi pintado em 1974, por desafio do pintor Samuel Figueira e foi feito em tom azul e branco retratando uma paisagem de chapada, já com relativa transferência, o que transformaria, mais tarde, em sua principal característica. Sua experiência está descrita no livro “Tempos de Montes Claros”, de sua autoria e no livro “Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes”, de autoria do historiador Hermes de Paula. Tem seus quadros vendidos na França, Estados Unidos e em Portugal, onde se encontra seu segundo quadro pintado, um primitivo. Seu estilo é definido como barroco ou hiper-realista e ainda traz traços de ingenuidade marcados em sua primeira fase. Conforme conta ele próprio, seus quadros atualmente são mais de seiscentos e estão espalhados por vários estados, principalmente em São Paulo. Sobre as muitas experiências adquiridas ele destaca uma no Distrito Federal, no ano de 1978, quando enfrentou 75 concorrentes em um concurso lançado pela Sociedade de Artistas Plásticos, no qual saiu finalista com um quadro pintado em cinco horas enfocando o Palácio do Itamarati. Foi o organizador da mostra inaugural de arte do Centro de Extensão Cultural, em maio de 1979. Sua participação na Feira de
Arte da Praça Dr. Chaves é cotada como 100% desde que iniciou até o presente momento.

Sobre seu estilo, que sofreu inicialmente, influência de Godofredo Guedes, Konstantin Christoff, Samuel Figueira e Raimundo Colares e, aos poucos, foi adquirindo feição própria. Ele faz questão de frisar a firmeza de seu estilo para não confundir com nenhum dos seus orientadores. Quanto a seu método Wanderlino Arruda diz: “Não uso cavalete, normalmente. Prefiro a superfície plana para apoiar a tela, talvez forçado pelos anos de experiência de escritório, sempre trabalhando em mesas. Acho melhor a visão da superfície, na horizontal. Trabalho sempre de pé para facilitar a visão em todos os ângulos. Não tenho compromisso de executar a pintura nos moldes
acadêmicos, ou seja, de faze-la de cima para baixo e da esquerda para a direita. Às vezes até começo os meus quadros de baixo para cima, ou mesmo em diagonal. Raimundo Colares me ensinou que em arte tudo é válido, o que importa é o resultado”.

Além de artista plástico, outras atividades marcam a carreira de Wanderlino Arruda como profissional. Elas podem ser destacadas como: professor titular de Língua Portuguesa e de Linguística na Faculdade de Filosofia – FAFIL, de Montes Claros; professor de Linguística Aplicada à Comunicação, para administradores do Banco do Brasil e no Projeto Rondon; participação em congressos nacionais e internacionais; atividades públicas ligadas a várias entidades de Montes Claros e atividades jornalísticas desde 1954. Suas principais obras publicadas são: “Tempos de Montes Claros”, Montes Claros,
sua história, sua gente e seus costumes” (participação) e “Antologia da Academia Montes-clarense de Letras” (participação).


HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA

Anote em sua agenda, por favor. Na próxima quarta-feira, 3 de setembro do ano corrente de 2014, Wanderlino Arruda, o homem de sete instrumentos, estará comemorando, no recesso do lar, a chegada de suas oitenta primaveras. Não se trata de nenhum trote, para incomodar o ilustre aniversariante. Com cara de menino, agitado como um menino e ainda em plena atividade e sem tempo para fazer tudo que planeja para o futuro, quem não o conhece bem deve ter a impressão de que seja apenas um vigoroso sexagenário. Ele está ótimo de saúde, é um cidadão feliz com a família, com os amigos e toda a humanidade que bate palmas à sua passagem, por reconhecer em sua pessoa um dos valores mais elevados de nossa comunidade montes-clarense.

Esta história de vida edificante teve seu ponto de partida no ano de 1934, na atual cidade de São João do Paraíso, que o destino lhe concedeu por berço natal, sendo primogênito de um jovem casal das tradicionais famílias Arruda e Morais, gente de ótima qualidade que honra seus descendentes. Conheceu, no lar paterno, que é o seu escudo de dignidade e amor, as primeiras lições de trabalho e organização na luta pela vida, sem abrir mão das virtudes essenciais que devem ser cultivadas eternamente. Custe o que custar. Por tudo isto, pode-se atestar que o mestre Wanderlino Arruda, de quem tenho o privilégio de ser amigo e contemporâneo, há sessenta anos, pode ser apontado, sem sombra de dúvida, como um guerreiro plenamente
vitorioso em todas as batalhas.

Seu currículo não cabe neste espaço exíguo. Se fosse relacioná-lo aqui, seria abusar da boa vontade do leitor. No meu pequeno mundo, não sei de ninguém que tenha recebido tão grande número de homenagens, distinções e troféus. Foi de tudo um pouco; de vendedor de doce de marmelo a governador do Rotary Clube, adquiriu larga experiência existencial e cultural. Correu mundo...

Conhece o Brasil como a palma da mão. “Oropa, França e Bahia” figuram em seu itinerário habitual.

Veio de baixo e ganhou alturas vertiginosas. Tem sido caixeiro de loja, orador, professor, contador, pintor, prosador, vereador, construtor e outras cousas que rimam com amor. Por falar em amor e sem mudar de assunto, nessa trabalheira danada contou com o arrimo de sua meeira e querida esposa Olímpia, com quem divide sua coroa de glórias. Ele tem uma biografia muito bonita, que para mim é mais importante que o curriculum vitae. Já ia me esquecendo de dizer que ele é poeta, maçom de grau 33 e já presidiu nossa Câmara Municipal, além de ter cumprido carreira exemplar no Banco do Brasil, inclusive como formador de administradores na Direção Geral.

Tome biografia, tome currículo, porque é pouca vida para tanta lida. Agora mesmo, ele acaba de regressar de uma peregrinação cívica em Portugal, onde deve ter divulgado o notável trabalho do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, sua atual paixão. Que Deus o abençoe, caríssimo aniversariante, e o conserve sempre assim. Despedindo-me, não posso deixar de registrar sua atuação como participante ativo do processo de crescimento de nossa Montes Claros, construindo dezenas de apartamentos. Isto é de grande importância. Você é camisa 10!

HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA - 2

É o terceiro título publicado por Wanderlino Arruda. Anteriormente, já havia editado dois volumes de crônicas, ambos recebidos com agrado pela crítica e pelo público. Sua estreia em livro ocorreu com “Tempos de Montes Claros”, enfeixando uma coletânea de escritos publicados na imprensa sobre pessoas e coisas de nossa cidade, que é sua terra adotiva. Considero oportuno recordar que o Autor, dada à sua perene produção intelectual, demorou muito a estrear em livro, pois já estava na casa dos quarent’anos, quando publicou o primeiro título.

Logo em seguida, após breve pausa para meditação, surgiu com o segundo volume, “Jornal de Domingo”, reunindo crônicas publicadas no suplemento literário de “O Jornal de Montes Claros”, no qual assina uma coluna permanente, dando cobertura às suas observações pessoais sobre os acontecimentos do cotidiano. A continuar nesse ritmo editorial, que já prevê o quarto e o quinto títulos, para muito breve, Wanderlino Arruda acabará sendo o mais prolífico de nossos autores.

No momento, o recordista de publicação é o historiador Geraldo Tito da Silveira. De outro lado, verifica-se que outros bons escritores de Montes Claros, como Hermenegildo (Monzeca) Chaves e Caio Lafetá, produziram maravilhas e coleções de jornais antigos, tudo arquivado. Também João Chaves, o bardo, morreu sem editar o esperado livro de poemas, que teve edição póstuma promovida pela família. Ora, a cintilante beletrista Yvonne de Oliveira Silveira, que é a porta-estandarte de nossas letras, tem apenas a meação de “O Velho Brejo das Almas”, feito em parceria com seu consorte Olynto da Silveira, autor de vários livros. E Luiz de Paula, de refinado estilo,
publicou apenas uma plaqueta sobre tema econômico, ficando a nos dever a obra inédita que deverá ser o espelho de sua face lírica e boêmia.

Pois bem, Wanderlino Arruda, que domina o vernáculo e tudo vê, tem comportado, em seu mister de cronista assíduo, com a mesma obstinação do arqueólogo que escava o subsolo em busca de civilizações soterradas, para que elas não desapareçam no esquecimento. O que se percebe, lendo-o, é a preocupação de fotografar o momento para a eternidade.

Por isto, os historiadores do futuro consultarão muito os seus livros, que para eles serão como essas garrafas trazidas pelas ondas do oceano, contendo mensagens enviadas de lugares ignotos.

O Autor vem operando como repórter fotográfico do panorama geral da cidade e do mundo, desse vasto mundo que começa em São João do Paraíso e não tem onde acabar, e opera com habilidade para captar o flagrante do cotidiano, com a luminosidade, a nitidez e o ângulo recomendados pelos manuais da arte de bem fotografar.

Neste livro, ele abdicou de seu direito de selecionar a matéria e cedeu a incumbência a leitores, inovando. Franqueou seu arquivo de recortes a colegas de magistério, que lecionam na Universidade do Banco do Brasil, o Departamento de Seleção e Desenvolvimento (DESED), e pediu-lhes que fizessem a triagem das crônicas. A rigor, creio sinceramente, caberia aos integrantes da luzida equipe a honraria do prefácio. Porém, o Autor, que é dado a atitudes que fogem ao convencional, escolheu um dos muitos personagens do livro anterior para prefaciar a obra.

Só tem que isto aqui não é prefácio, segundo a forma tradicional, significando apenas mera apresentação da obra, despojada da ambição de analisá-la com profundidade e erudição. Neste volume, o cronista edita o que é reputado de mais valioso em sua obra (inédita) de colaborador da imprensa, e o faz muito bem, porque receia que toda essa produção se perca na efemeridade do jornal, que depois de lido vai para a pilha de papéis usados, cai no esquecimento.

Sobre a natureza descartável do que sai nos jornais, recordo ao leitor um episódio ocorrido na juventude do romancista Ernest Hemingway. Aconselhado pela escritora norte-americana Gertrud Stein, ele abandonou o jornalismo e abraçou a carreira literária. Ela simplesmente o convenceu de que o jornalismo é como o texto escrito de giz, no quadro-negro. Basta passar a esponja para que desapareça ao passo que o livro é feito para ficar, para ser lido, guardado, relido, guardado...

Se neste volume, o cronista foi pouco exigente quanto ao prefácio e até cogitou de deixar em branco o espaço reservado ao prefaciador, em outros pormenores revelou-se vaidoso e requintado. A começar pela editora, que é a imprensa da Universidade Federal de Minas Gerais, cuja chancela confere prestígio. A vaidade falou mais alto, na escolha do ilustrador, que recaiu no primoroso artista plástico Samuel Figueira, cujos desenhos de bico-de-pena vão despertar a atenção e emoldurar o texto caprichoso. Acrescente-se a essa vaidade o convite feito ao professor Eduardo Luppi, chefe da equipe de
artistas da UFMG, para a responsabilidade da arte final da obra.

Este livro, tão bem escrito e editado (com a composição feita por computador), se fosse o último, completaria uma trilogia de Wanderlino Arruda sobre aquilo que se chama “a alma encantadora das ruas”, porém ainda virão outros. A fonte inspiradora continuará jorrando... Quando ao título “O dia em que Chiquinho sumiu”, esclareço que não se trata de literatura infantil, embora dê a impressão, merecendo ser lida por crianças e adultos, indistintamente, porque interessa a todo mundo que gosta de ler.


MARA NARCISO

Lazer disfarçado em tarefa é ler e fazer a apresentação do 18º livro de Wanderlino Arruda. Ainda que nascido em São João do Paraíso, em três de setembro de 1934, é o montes-clarense mais autêntico que existe por aqui. Veio estudar em Montes Claros em 1951, coisa que fez com afinco, mergulhando nos livros e no trabalho, crescendo e acompanhando Montes Claros se desenvolver. Testemunha ocular, por paixão e profissão, já que trabalhou como repórter no Jornal de Montes Claros, esteve em importantes acontecimentos históricos da cidade. Montes-claridades é um passeio pelas pessoas, ruas e entidades montes-clarenses, numa caminhada entusiasmada de alguém presente em muitos dos fatos citados, ao mesmo tempo vivendo o acontecimento e reportando-o para a imortalidade.

São crônicas escritas em tempos diversos, e que se consegue imaginar quando foi, pelo fato narrado e pelos personagens, vivos e mortos. O tema “nome de ruas” é recorrente na obra, e, quando menos se espera, vem um detalhe pitoresco e pura surpresa. A Rua Dr. Santos, que homenageia o médico Antônio Teixeira de Carvalho, conhecido como Doutor Santos, era o caminho do menino Wanderlino Arruda. Passava indo e vindo, seja como comerciário, seja como trabalhador da notícia, ou morador de uma pensão naquela rua, e depois do Hotel São José, sendo capaz de, fotograficamente, desenhar com palavras cada edificação, detalhando os personagens dentro dela. O Mercado Central, ser inanimado, ganha vida, cheiros e balbúrdia, nas lentes amorosas de Wanderlino Arruda, que lhe vê grandioso, bem construído, cheio de atrativos, ainda que consistisse num ambiente infecto, verdade relativamente ocultada, já que o amor tende a minimizar qualquer falta de qualidade.

A energia, vitalidade e jovialidade de Wanderlino Arruda sabe-se de onde vêm, da sua literatura e vice-versa. Um alimenta o outro de forma siamesa. Ainda que o toco que ficava em frente à sua casa tenha ganhado ares de protagonista vivente, seu entusiasmo é grande quando fala das pessoas que admira. Há um crescendo no encontrar as palavras exatas, chegando-se ao apogeu de materialização corporal e psicológica, através da sua fácil adjetivação. Os colegas do Colégio Diocesano, alguns compenetrados com os estudos, outros não, a solenidade no trato com os mestres, pessoas austeras, distantes, exceto monsenhor Gustavo, um doce de pessoa, estão lá, nos escaninhos da saudade. O Clube Minas Gerais ganha destaque em sua memória, por ser próximo ao local onde o menino Wanderlino Arruda fora morar quando aqui chegou. O lugar luxuoso, cheio de glamour, mistérios, música, jogo, mulheres e frequentado pelos homens de dinheiro, atiçava a imaginação e curiosidade do recém-chegado, logo transferido para um endereço distante geograficamente do ambiente de pecado, mas não afetivamente.

Quando o personagem é grande, fica exuberante na argúcia do escritor, que visita o passado sem melancolia. Passam por Montes-claridades vultos que construíram a cidade, como Cícero Pereira, Nathércio França, Yvonne Silveira, Konstantin Christoff, Luiz de Paula, Hermes de Paula, Darcy Ribeiro, Dulce Sarmento, João Carlos Sobreira, Simeão Ribeiro, Godofredo Guedes, e outros, bastante elogiados. Entidades circulam em suas páginas como Rotary, Loja Maçônica Deus e Liberdade, Catedral, Banco do Brasil, Fafil, Academia Montes-clarense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, todas elas pululando vida e saúde. Original em várias passagens e genial no nome, Montes-claridades são, na verdade, vários partos, porque conta o nascimento de inúmeras instituições, numa narrativa vibrante, quase romântica, típica dos jovens que nunca envelhecem, como é o caso de Wanderlino Arruda.

Não só deu a luz em suas páginas, mostrando a criação dos nomes citados e outros mais, como também, iluminando o horizonte, para que sigam os caminhos de “o estudo é a luz da vida”. Estudar iluminou a vida desse paraisense, que, generosamente, distribui história e amor em seu novo livro.


LÁZARO FRANCISCO SENA

O furacão Wanderlino - assim foi descrito o nosso confrade do Instituto Histórico e Geográfico, professor Wanderlino Arruda, pelo ex-prefeito de Montes Claros, Athos Avelino Pereira, em solenidade oficial de que os dois participavam.

Por que furacão?

Ao pé da letra, diríamos que o nosso personagem, pela simples presença entre nós, é capaz de provocar desarranjos fenomenais, alterando a ordem natural das coisas, tal como nos acostumamos a entendê-las. Em linguagem figurada, confirma-se o entendimento original, ao perceber que a universalidade de seus conhecimentos, a inquietude e a versatilidade, tudo acondicionado com embalagens de empatia, pode gerar instabilidade ocasional em nossas acomodações.

Comecei a conhecer Wanderlino nos “bancos” da pioneira FAFIL, quando fazíamos o curso de Letras, ele um ano à minha frente.

Sempre alegre e jovial, foi o que me bastou para aprender a admirá-lo e respeitá-lo. O exercício de outras profissões, além do magistério, hibernou o nosso relacionamento durante um bom tempo. Aí aparece o Instituto Histórico, para nos reunir sob o mesmo teto e com os mesmos anseios de preservação da memória de Montes Claros. Estava, portanto, consolidada a nossa amizade e fraternal consideração.

Temos repetido, em algumas oportunidades, que não vale a pena ficar discutindo com Wanderlino, nos raros momentos de calmaria que com ele desfrutamos. Melhor é aproveitar o tempo para ouvi-lo, em vez de querer impor os nossos improváveis questionamentos. Pois bem, diante de tal premissa, vamos ouvir Wanderlino, nesta mais recente obra de sua criação literária, a que denomina “Montes-claridades”, um compêndio de reflexões, sempre bem humoradas, sobre entidades, pessoas, fatos e quejandos de nossa cidade.

Tive o privilégio de haurir, em primeira mão, as presentes “bem -aventuranças” literárias do autor, que nos evocam a memória de consagrados cronistas de Montes Claros, tais como Nélson Viana, Luiz de Paula e João Vale Maurício, para falar apenas dos mais antigos. Pois Wanderlino ombreia com eles, na criteriosa escolha dos temas, na leveza do texto e, sobretudo, na sutileza de detalhes que conduzem ao epílogo bem arranjado nos escaninhos da felicidade. Com ele, as palavras já saltam sorrindo, para construir uma ficção à sua imagem e semelhança. Não existe mau humor e pessimismo em suas obras. E, nesse contexto, quem sai ganhando é o leitor. Felizes somos nós, os premiados com a leitura sempre edificante dos escritos de Wanderlino Arruda.

 

JOSUÉ DE OLIVEIRA LIMA

Nada mais justo do que reconhecer e proclamar o valor de quem se impõe com uma reserva de talento acumulado num arsenal de inteligência como Wanderlino Arruda, jovem escritor norte-mineiro, portador de uma gama de experiência e capacidade de vida, autor de “Tempos de Montes Claros”, editado em Belo Horizonte, livro que reúne documentação memorialística, com o prefácio de Maria Ribeiro Pires, da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.

Nos domínios do espírito e da espiritualidade os “Tempos de Montes Claros”, de Wanderlino Arruda, estão plenamente ajustados à teoria do tempo cultural, aquele que difere do tempo calendário, isto é, o que não conta os intervalos ocasionados pelas dificuldades, pelos acidentes e pelos abrolhos da existência humana. É o tempo do ideal e do idealismo, do espírito e do espiritualismo, da sociedade e do socialismo, no bom sentido do termo. É o tempo da alma e do corpo, do céu e da terra, da vida e da eternidade, porque a morte não conta na perspectiva do tempo cultural.

Toda a carga emocional do homem de pensamento que é Wanderlino Arruda está concentrada na sua biofilia, como alto sentido da existência consagrada ao convívio com o seu meio. As criaturas humanas são razões fortes para a sua vida. A família, o trabalho, a cidade em que nasceu, a terra que o acolheu, são os ingredientes poéticos e líricos ainda não aproveitados por Wanderlino Arruda, que preferiu os temas memorialistas para dar vazão aos sentimentos de sua força intelectual.

Posso muito bem referir-me desse modo sobre o autor dos “Tempos de Montes Claros” porque senti os primeiros impulsos de sua intelectualidade, antes de Wanderlino Arruda tornar-se Professor de Linguística e Língua Portuguesa, na Fundação Norte-Mineira de Ensino Superior e membro da Academia Montes-clarense de Letras, mas quando já era o jovem redator de “O Jornal de Montes Claros”, de Oswaldo Antunes, e depois de “O Diário de Montes Claros”, com Waldir Sena Batista.

Ele carrega no bojo do seu talento, algo parecido, também, com Winston Churchill: gosto pela política, pela pintura, jornalismo, oratória, pelas ciências e pelas artes. Homem sem vícios, não fuma charuto, mas está disposto sempre a fumar o cachimbo da paz com seus semelhantes.

Nas duas leituras que fiz em torno do seu trabalho, uma rápida, quando recebi o exemplar com sua amável dedicatória e outra mais devagar, com senso analítico, pude sentir novamente a presença de grandes figuras que conheci na cidade tema do livro de Wanderlino Arruda: Godofredo Guedes que me fez presente com duas telas de sua autoria, em 1958. Konstantin Christoff, médico europeu aclimatado ao Brasil, onde tem cultivado sementes de boa criatividade artística e cultural. João Vale Maurício, escritor e membro da Academia Montes-clarense de Letras, ex-Reitor da Universidade Norte-Mineira, sociólogo e responsável por notável contribuição cultural ao Estado de Minas Gerais. Por fim, Luiz de Paula Ferreira, intelectual e homem de negócios de notório valor.

No próprio dizer Wanderlino Arruda “julgar valores humanos sempre foi uma tarefa difícil”. Por isso não será necessário converter em tribunal este espaço para julgamento cultural, inclusive porque seria prematuro fazê-lo quando se sabe que o autor de “Tempos de Montes Claros” poderá prestar, ainda, excelente contribuição às letras de sua terra, como bom memorialista da Língua Portuguesa para o Brasil.


Gerente do Banco do Nordeste
Montes Claros, 1955/58


DÓRIS ARAÚJO

O confrade Wanderlino Arruda, professor, escritor, advogado, pesquisador, jornalista, artista plástico, poeta, palestrante, quase tudo em tempo integral, é homem de mil e um ofícios.

Entendendo que o poeta seja um ser perplexo, um questionador, um ser inquieto que usa as palavras com total imprevisibilidade, atribuindo-lhes infinitas possibilidades de forma, de escuta, de significado, e expandindo, com criatividade, sua paleta de cores, acredito que a intenção primeira de Wanderlino Arruda ao escrever é mesmo a de provocar emoções, despertar sentimentos diversos, sensibilizar seus leitores.

Seus versos, livres das peias da métrica e da rima, são soberbamente melódicos, sonoros, envolventes. No livro Vivências, que tive o prazer de fazer o prefácio, o poeta pinta poesia com as pinceladas alegres, joviais e sugestivas de seu viver apaixonado, oferecendo um primoroso banquete, onde nos deliciamos com o sabor predominantemente lírico dos seus versos. Nesse banquete, a principal iguaria servida é o amor. Amor a Deus sobre todas as coisas, amor à vida, à natureza, às pessoas, a lugares.

Amor a Olímpia Arruda, sua musa inspiradora, sua esposa, mãe de seus filhos, avó de seus netos, bisavó dos bisnetos americanos, Clara Star e Luca Moon. Olímpia, a deusa morena, dona dos mais belos e verdejantes olhos. Em sua homenagem é a maioria de seus poemas. Magnetizado pelo “olhar de pura esmeralda” é que o vate canta todas as cores e belezas do amor romântico e sedutor. “Se o destino é o infinito, o caminho tem que ser nas alturas!”

Wanderlino Arruda, como um ser espiritualizado, homem de muita fé, certeza de Deus, a Ele entoa os mais sinceros louvores, sem cheiro passadista, um domador de palavras no seu próprio tempo. Sua tessitura poética é impregnada de jovialidade, fluida, de bom perfume. É saborosa. É saborosa como: “Chupar manga rosa no pé/Comer pêssego maduro/e... sonhar acordado.” A poesia de Wanderlino, em síntese, é o reflexo de si mesmo, de suas vivências. Pura sinestesia, tem gosto de nuvem, aroma de amor, verdadeira ambrosia. Como flecha de cupido, acerta em cheio o nosso coração. Amor-poesia ou poesia-amor, eis o que encontrarão os seus leitores, nas páginas dos seus livros. São textos que agradam aos ouvidos e
ao coração das pessoas sensíveis, que pensam, que sentem com a alma, e que amam o belo e o bom.


DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

Por tudo que conhecemos, podemos dizer que o acadêmico Wanderlino Arruda, o mais importante dos mais importantes construtores de Montes Claros, mostra, com doce encantamento, aos seus brilhantes pares da Academia Montes-clarense de Letras um trabalho sério, bonito, competente e totalmente necessário às novas gerações no conhecimento dos nossos valores intelectuais. Nota-se que “o único lugar em que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário” e Wanderlino Arruda, sabiamente entende as palavras do genial Albert Einstein, e trabalha com afinco e determinação na construção da nossa comunidade. Aliás, seu livro Construtores de Montes Claros representa o que de melhor produziu a literatura montes-clarense nestes últimos tempos. Ele é uma obra de fundamental importância para o estudo da história da cidade e de sua gente. Um livro que certamente estará em todas as estantes de bibliotecas públicas e particulares, bem assim de acadêmicos e estudiosos dos nossos costumes e das nossas tradições históricas. Por conseguinte, guardar esses nomes e preservá-los em livros para que a memória do nosso povo possa perpetuar-se no tempo e no espaço, é um dever de todos nós, membros do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e das Academias de Letras.

É sempre muito gratificante quando se fala dos escritos de Wanderlino Arruda, corroborando com as suas ideias no âmbito literário. Primeiro porque a sua verve poética e a sua eloquência sempre são admiradas por aqueles que o acompanham nas reuniões e nos saraus acadêmicos. E, depois, pela sua criatividade literária, nas construções dos prolegômenos em louvor de tudo que representa arte e história.”

Para tudo o autor encontra, na douta língua do Lácio, a expressão adequada e pitoresca para fazer os seus elogios sobre o trabalho e a vida de quem ele acha que vale a pena o ato de viver e agir, incluindo aí seus próprios labores nos diversos períodos de sua vida. Não tem senão que admirar-se da perfeição de sua obra, uma oportunidade única para que o leitor possa, também, conhecer o escritor poeta como ser humano comum e mortal. Uma coisa é certa: ninguém como Wanderlino Arruda manifestou em toda sua vida tanto amor por Montes Claros. Nota-se, realmente, que o sentimento jucapratismo faz morada, definitiva, no seu coração. Tudo, uma lição de bem-querer tanto a terra como a sua gente simples e humilde.

Prefaciando a obra, disse-nos Maria Ribeiro Pires que “Wanderlino é o chegante, o novo elemento da constelação de valores que a cidade amorosamente recebe como mãe que ansiosamente espera o filho. Será que a tônica do amor é que faz vibrar as cordas do coração, que levaram o autor de Tempos de Montes Claros a escrever as páginas que vão ficar na história de nossa terra?”. Se outro motivo não houvesse para sustentar essa nossa afirmativa, basta que o leitor atente para a vasta biografia do autor e verificar ali o verdadeiro exemplo de amor às causas nobres que ele, gentilmente, nos oferece.

O autor Wanderlino Arruda é mineiro de São João do Paraíso. Veio para Montes Claros quando ainda era muito jovem e aqui reside com a família. É membro efetivo da Academia Montes-clarense de Letras.

Uma análise sobre a obra literária “Emociones”, do mestre das letras, Dr. Wanderlino Arruda, pressupõe uma série de entendimentos na sistematização da poesia e, evidentemente, nos princípios culturais de nossa terra. É assim porque os escritos do nosso confrade tendem a clarificar os pontos obscuros da nossa história antiga e, por outro lado, a valorizar a biografia e a bibliografia dos seus pares. Na verdade, Wanderlino Arruda é um verdadeiro conhecedor das coisas de nossa terra e de nossa gente. Em nenhum momento o leitor encontra um tipo de conduta com o objetivo somente de coscuvilhar, senão o de contribuir quer seja na Academia de Letras, quer seja no Instituto Histórico, com sugestões e prefácios a pedido de seus confrades.

Constituirá quase um truísmo afirmar que a poesia de Wanderlino Arruda é a mais bela, é a mais romântica e é a mais admirada pela juventude montes-clarense. O seu livro “Emociones” tornou-se o mais procurado pelos cultores da poesia montes-clarense. Com um modernismo-moderado, que é outro ponto positivo nas construções literárias do autor, tornou-se a sua prosódia muito mais adocicada.

Na verdade, talento não lhe falta e a criatividade está em cada verso que forma a sua poesia. De qualquer modo, está ausente o metaforismo exacerbado, pois não há palavras-chave, ou catalisadoras para designar objetos e pessoas. Por essa razão a poesia de Wanderlino Arruda é cristalina e sedutora.

Na verdade, o poeta sabe viver intensamente a arte de poetar, sem deixar de ser o seu trabalho um manancial de elegância e graça e da singeleza de conceber o que é bom. Por isso mesmo os poemas de Wanderlino Arruda são maduros e bem elaborados e que traduzem mensagens de otimismo e de fé, haja vista a experiência literária do autor no livro Poemas de Puro Amor. É verdade que o seu trabalho literário sempre vem atrelado na eloquência de um bom orador com a atormentada sensualidade das palavras no balanço de sua imaginação. Ele sabe como ninguém expressar, corretamente, e na hora
certa, a sua poesia com gosto da sonoridade na plena florescência de sua mocidade.

Por outro lado, nunca se conheceu poemas de cunho social, com a tendência para o romantismo gradual. Falar de amor, os poemas de Wanderlino Arruda falam, e falam a todo o momento. Falar de uma paixão amorosa, também eles falam, pois é um tema constante de sua criação e que é apreciado por todos nós.

Seus poemas que falam de fé, de amor e da compreensão com a espontaneidade que a própria compreensão assim exige. Nota-se que existem almas nos versos que compõem os seus poemas e, nas palavras de seus versos, os que navegam na voluptuosidade do tempo como quem procura o lado epicurista da vida.

O trabalho literário do emérito acadêmico Wanderlino Arruda não tem limites. Hoje, os seus livros já ultrapassam fronteiras. Em vários lugares do planeta muitos deles enriquecem bibliotecas públicas e privadas, quer seja na língua pátria, quer seja no espanhol ou no inglês. É correto dizer que as suas obras encantam meio-mundo literário não só como guardiã e cultora da perfeição estética, mas, sobretudo, como pólo difusor da nossa cultura.

Aos leitores familiarizados com os livros de Wanderlino Arruda, desnecessário é lembrá-los do conceito que o autor goza na sociedade montes-clarense, pela qualidade e pela importância de suas obras. Wanderlino é o escritor que tem as letras no sangue e, certamente, sem a literatura ele não conseguiria viver. Por tudo isso, o autor passa agora a escrever em francês, inglês, espanhol e esperanto. Aliás, a beleza de seus textos, de modo que o leitor possa apreciar, em toda a plenitude, é algo que impressiona os que são apaixonados pela arte literária.

Em “Short Stories”, numa tradução perfeita e fiel de William Lee Barnes, o escritor montes-clarense, Wanderlino Arruda, conquistou uma parcela considerável de leitores americanos, até porque ele esteve por várias vezes nos Estados Unidos da América, onde residem dois de seus filhos. Arruda é um homem do mundo. Pesquisador, historiador, cronista, contista e acima de tudo poeta. E por falar em poesia, o montes-clarense de São João do Paraíso, Wanderlino Arruda, teve a sua poesia “J’adore ta beauté” como tema central do filme “L’arnacoeur” uma produção do cineasta francês Romain Duris.

Isso posto, convidamos o leitor a percorrer as páginas do seu livro, uma ou mais vezes, para assim poder deliciar de suas histórias sobre a nossa terra brasileira na língua dos yankees. O livro de Wanderlino Arruda é de intensidade e densidade, haja vista que a sua escrita tem o fascínio de João Valle Maurício e o realismo de Cyro dos Anjos.


RIGOBERTO GUILLERNO ESPINOSA PICHS

Por uma feliz coincidência, durante a tradução de EMOCIONES e ante a iminência de mais outra viagem de - eterno e incansável peregrino – chegou a Montes Claros, proveniente de Cuba, Vivian Martínez Tabares, crítica teatral e diretora do Departamento de Teatro da Casa de las Américas.

Não casualmente e apesar da existência de bons hotéis na cidade, a teatróloga preferiu hospedar-se na residência de Wanderlino e Olímpia, aquela ilustre casa romana da Rua São Sebastião, Bairro Todos os Santos.

Em apenas cinco dias, apesar do curto tempo para um curso na Unimontes, para conhecer lugares e curiosidades de Montes Claros, fez acontecer também fecundas e intensas jornadas de prosas espontâneas e prazerosas entre nós – incluindo o próprio Wanderlino – que transformou o que poderia ser um tempo apenas agradável, em ricos momentos de feliz proveito intelectual e histórico.

Vívian quedou-se gratamente impressionada com a vitalidade e a pluralidade de Wanderlino, qual um Da Vinci de nosso tempo. Admirou do cálido anfitrião sua capacidade e sua energia inesgotável: um entusiasmo que contrasta com sua madureza, uma serenidade que não trai seu dinamismo constante, uma experiência que lhe permite alcançar o belo sem esforço aparente e sua invejável virtude de saber otimizar o ouro que chamamos tempo, pois com sua produtividade ímpar logra multiplicá-lo e fecundá-lo.

Ao deleitarmos com a leitura de seu livro Emociones, que era a minha atividade naqueles dias, romperam-se as barreiras poéticas. Não podíamos imaginar de onde absorver tudo da sua escrita: se no que genericamente é considerada poesia ou nos textos em prosa em que emergia um universo poético capaz de desafiar a essência e forma dos versos. Havia poesia até nos sentimentos de perda de um tronco, de um gato, de um amigo, ou em um circo.

Nada está isento de poesia sobre todo pelo humanismo de um Wanderlino que transparenta os mais puros sentimentos de um homem que é fiel escudeiro da inteligência, do esforço e da beleza. Possuidor de uma fina espiritualidade por toda a vida, incluindo seus enigmas, suas aspirações, suas contradições que lhe são inerentes.

De Wanderlino, uma galeria de personagens desfila por nossa imaginação, no tempo e na conformação do acontecido, guiada com a maestria do narrador por meio de uma fantasia tão real que parece que se nos apresenta como um novo amigo. Para comover-nos com gentes, feitos e coisas que nos exigem desde o presente, e caminho dialético até o futuro, que nos deixa morrer o passado. Interpelandonos a fazer útil e significativa a memória de um Brasil que para muitos é desconhecido, com sua história, seus costumes, seu folclore. Porém não é tudo isso a escrita de um intelectual importante, apesar de verter em uma linguagem clara, sensível, amena, cômica, mordaz
na maioria das ocasiões. Assim aparecem estes retratos vivos, mais que meras biografias retóricas de artistas, políticos, membros ilustres de famílias.

A natureza pródiga é o marco de Wanderlino em crônicas e poesias, de onde se mesclam o rural e o urbano, e seu universo de interinfluências em um lindo mosaico. Mais que um quadro inerte se convertem em panorama vivo de cenas bucólicas da modernidade com saudades do passado, e fortes matizes da contemporaneidade e do presente. Instituições, lugares, feitos, pessoas e estórias fluem em Wanderlino como um rio que desemboca ao revés, nas costas sem entranhas das Minas Gerais, no coração do leitor.

Wanderlino quebranta as fronteiras do mero autobiográfico e incursiona de tal modo na vida amena que a faz palpitar como algo nosso, algo bem íntimo, que nos encaminha vivas lágrimas adentro. Também nos contagia com a alegria e lembranças do circo, o que nos leva a perguntar: Quem não teve um circo em sua infância, que não vive em sua imaginação até hoje? O autor nos devolve a infância, as brincadeiras, as alegrias e as travessuras para quando hoje, ou amanhã, formos adultos. As cores dos pintores, dos poetas, dos avós, dos cantores, das vozes, o beijo, os olhares, as brisas, os
perfumes, as ruas, enfim tudo nos convida a que junto aos nossos interessados diálogos sobre Wanderlino e suas Emoções, desfrutem e descubram o inesgotável universo poético de onde não queda um instante a salvo de um encontro emotivo com o amor.


MEU PAI, JOSÉ ARRUDA

Faço contas nos minutos e horas da minha vida, revejo esmaecidas ou vivas imagens, tento magnificar pequenos acontecimentos e, pronto, a figura de José Arruda, meu pai, se põe sonora e colorida à minha frente. Convivência de várias décadas, disciplina rígida no início, amenos conselhos em meio e fim de vida, sempre marcante influência. Mais do que tudo um rigoroso exemplo de honestidade a qualquer tempo, seja em temporada de quase opulência, seja nas dobras do passar de tempos em adversidade. Era um viajante faminto de estradas, sempre saindo e chegando: a cavalo, em fordinhos, em caminhonetes e caminhões, em velhas jardineiras ou em ônibus já quase modernos.

Lembranças mais antigas? Ele com um bule esmaltado azul, despejando o café num copo grandão, também esmaltado e de asa. Com o café, comia alegremente biscoito fofão, rosca caseira e o cuscuz que Silvina tinha de levantar bem cedo para fazer. Nos dias de frio ou de chuva, saia do quarto já com uma capa colonial pesadona, tão comprida que passava dos joelhos. Aos sábados, atrás do balcão da loja sortida de tudo, atendia os fregueses, vestindo um casaco de pijama, que achava a coisa mais chique do mundo. Lembro-me até da cor, um cinza esverdeado com desenhos em relevo, um bolso para caneta e lápis e dois outros para as tesouras. Nem no horário do
almoço parava de vender. De cada amigo que atendia havia estórias para ouvir e contar. Aprendi ali as minhas primeiras lições de vida. Como morávamos em frente ao mercado, dava para ver até o fim da tarde, a feira cheia de carros de bois e de cavalos com cangalhas sem bruacas, segundo se dizia a mais rica da região.

Homem em tudo avançado no tempo, minerador de pedras e pepitas de ouro nos garimpos da redondeza, descobria também todas as novidades que São João do Paraíso nem podia sonhar. Já em 1938, meu pai tinha máquina de escrever, geladeira a querosene, lampião Aladim, aparelhos de gilete, uísque Cavalo Branco, casimira Aurora, camisa de colarinho trubenizado, barbeadores com gilete já cortando dos dois lados. Quando de folga, lia em voz alta um livro de geografia com perguntas e respostas e ouvia um rádio de bateria, que fazia mais ruído que uma noite de tempestade. Em 1942, quando fui para a escola do professor Joaquim Rolla, todo o meu material escolar, inclusive a ardósia, era importado, com o “made in Germany” ou “made in England” me dando agradável sensação de importância, compensando até a minha pouca habilidade no mergulho no rio e nas bolinhas de gude.

Claro que as invenções do senhor José Arruda não ficavam só nos objetos de consumo e exibição. Era comprador e vendedor de peças de ouro, pedras preciosas, moedas, velhos relógios de parede, desenhos de nanquim, todo tipo de relíquias e quinquilharias, incluindo aí punhais de bronze e de prata. Foi minucioso o seu planejamento e realização da nossa primeira viagem de turismo: preparou, com absoluto conforto e decoração, um enorme carro de bois, com um guia andando a pé, que nos levou – ele, minha mãe, Nair, Derci e eu – para uma visita a Condeúba, na Bahia, onde ficamos hospedados numa casa de três moças muito bonitas e de fino trato. Foi lá que minhas irmãs e eu experimentamos pela primeira vez o gosto de azeitona e leite condensado… Pelo menos duas vezes por ano, fazíamos viagens às fazendas dos velhos Vicente Arruda e João Morais, quando nossas avós Senhorinha e Ritinha se desdobravam em ordens para o capricho das cozinheiras no fogão a lenha e no forno. Para as visitas a melhor galinha ao molho pardo e o melhor bolo de farinha de trigo ou de mandioca puba, coco ralado por cima.

Quando moramos em Coqueiros, foi grande a sua luta para que eu aprendesse a tocar cavaquinho. Chegou a contratar um professor particular com várias horas de aula por dia. Mas não passei da primeira posição, aquela em que a gente firma as cordas com os dedos da mão esquerda e sacode os da direita para tirar os sons do “besta -é-tu”. Valeu, porque aprendi o do, ré, mi, fá, sol, lá, si, tornando-me quase um intelectual em música. Foi voltando de Coqueiros para o São João, em 1941, que vimos e ouvimos passar o primeiro avião, um barulho de assombrar todo tipo de viventes. A notícia que correu depois é que haviam morrido duas pessoas: um rapaz correndo de medo, caiu numa cisterna, e uma velhinha que, assando biscoitos, resolveu se esconder dentro do forno em brasa. Duas vítimas do progresso dos tempos de guerra…

Agradeço muito a meu pai por todo tempo de convivência direta e indireta: das jabuticabeiras que ele arrematava para a gente chupar jabuticabas até ficar entupidos, dos balaios de marmelo maduros e cheirosos que trazia das viagens ou comprava na feira, das casas com quintais grandes que ele comprava para vivermos divertindo. Agradeço mais ainda dos seus sonhos de conhecer mundos distantes, tão bem transmitidos aos filhos que hoje realizam o que ele não pôde realizar!


DONA ANÁLIA MORAIS, MINHA MÃE

Filha de João Morais e Ritinha, que era neta de índia, era natural do vale do Rio Pardo e crescida em travessias, tão boa em natação que carregava os filhos nas costas sem qualquer sacrifício. Os filhos e a cesta do almoço que ela levada, com rodilha na cabeça, para os trabalhadores do outro lado do rio. Sempre jovial, de menina a moça, considerava-se campeã de danças para qualquer toque, a exemplos das cinco irmãs e quatro irmãos, só gente entusiasmada, porque viver é demonstrar alegria no descanso e no trabalho. O pai, homem de músicas e cantorias, a mãe, gerente em todas as ações, da cozinha ao pomar, do bater roupas no rio ao cuidar das hortas, tudo escola para futuros administradores dos negócios e das famílias.

Nunca vi minha mãe parada, a não ser nas de horas de rezar com o terço azul esmeralda, as contas passando devagarinho pelos dedos acredito até calejados. Cada dia de vida começava com a fumaça do cuscuz e o crepitar da lenha no fogão do café e no forno com os biscoitos. Chegado o leite do curral, era parte para a leiteira, parte para a despensa, destinado aos queijos, aos requeijões, aos doces caramelados com a maior gostosura do mundo, que só mineiro sabe fazer e guardar. Dona Anália sabia cozinhar, assar, costurar, bordar, fazer rendas para qualquer tipo de enfeites, mestra de belezas em enxovais ou coisas do dia a dia. Lindas as suas toalhas, bonitonas as colchas, importantes as blusas e os chales. Para as horas da missa de domingo, até as fitas que ela ajeitava eram chamativas, maravilhosas de causar inveja.

Dona Anália sabia ser amiga em todas as horas, cuidando de visitar e receber visitas, de amar e ser amada, admirar e ser admirada. Muita a sua simplicidade, sorrisos contidos, fala moderada, o olhar sempre direto nos olhos das pessoas, nunca muito alto por não ser arrogante, nunca tão baixo, porque jamais tímida. A forma que ela tinha mais no ser gentil era dar alguma coisa de comer e apreciar às pessoas, principalmente aos filhos e netos. Era chegar a sua casa e só esperar um pouquinho, lá vinha um biscoito cozido e assado, um beiju, um pedaço de bolo, uma canjica, um manuê, um pão sovado, tudo feito por suas habilidosas mãos. Parece até que ela achava que a gente mastigando e engolindo, realizava a alegria da vida e do amor. Tudo parecia que era feito só para nós, presente especial guardado para marcar presença.

Nunca ouvi minha mãe cantando, que cantar nunca foi vocação da família. Jamais a vi solfejando ou assoviando. Jamais a vi em riso alto ou solto, pois de satisfação contida, educada, nos bons costumes. Sua alegria, sem tocar nas pessoas, era marcada só por um leve sorriso, um brilho intenso nos olhos e no jeito de olhar. Nunca a ouvi dizer que alguém não prestava, que era ruim, pois sabia encontrar qualidades em todas as criaturas. Assim, não me consta ter tido qualquer inimigo, alguém contrário aos seus interesses. Desejo de ser rica? Não e não, queria apenas ter o necessário para viver com certa fartura e segurança, o apropriado para criar bem a sua dúzia de filhos, muito embora só nove sobreviventes. Enfim, Dona Anália, uma grande, legítima e importante mulher mineira e brasileira!

Minha querida, Dona Anália Morais, quero dizer-lhe o que honestamente todos os filhos e filhas deveriam pensar e dizer de suas mães, mulheres criadas por Deus para dar sentido à vida e à luz do Amor, a verdadeira poesia da Criação. Os parágrafos seguintes, escrevi-os em forma poesia, agora transformados em prosa. Acho que são perfeitamente válidos para um amor de mãe. Ei-los:

Amarás e servirás incessantemente, todos os dias da tua vida, eis o teu poder, a tua convicção, o teu trabalho santificado. Os teus gestos serão sempre movimentos de encanto, busca de paz, homenagens sinceras a Deus por ter permitido a vida a ti mesma e a teu filho, a tua filha, a todos os teus filhos, pedaços ou amplitudes do teu corpo e da tua alma... Amarás, mãe, os minutos e os segundos e tempo jamais te faltará em busca dos mais santos carinhos com que envolverás o fruto do teu amor. E maternidade, mãe, não precisa que seja do teu próprio ventre, célula da tua célula, porque ser mãe é passar pelo caminho da vida, oferecendo dádivas do amor e da fé, o melhor que exista no coração.

Ser mãe é passar com rastro fulgurante em cendal de estrelas, envolvendo em luz as trajetórias dos seres que lhes são entregues para cuidado e burilamento. Ser mãe é sofrer amorosamente, é sorrir na complacência, é sonhar com a esperança. Nenhuma tarefa é mais dignificante do que a de mãe, pois, em sua vida, dificuldade é ensino, problema é lição, sofrimento é bênção, tudo é alicerce divino na construção do bem. Ser mãe é transmudar-se em bálsamo de bom entendimento, é ter a vida dos anjos, é esparzir misericórdia em nome do que há de mais sagrado no amor. Ser mãe é curar o cansaço, é amenizar a própria existência.

Filhos de todo o mundo reverenciai, hoje, as vossas mães. Elas são seres insubstituíveis, tesouros inestimáveis, maravilhas da criação. A elas, joias do mais fino labor de Deus, o nosso amor!

Há um bom tempo no Mundo Espiritual, desejo-lhe, querida e amada Dona Anália, todas as luzes mais bonitas e coloridas da Criação Divina. Pelo muito merecimento!


SILVINA MELANA, SEGUNDA MÃE

Já na minha experiência de cinco dias de vida, na praça do Mercado em São João do Paraíso, Silvina chegou para ficar e fazer parte da família até que deixou este mundo. Uma vida inteira de verdadeiro amor e dedicação a todos. Tratava minha mãe de Anália, meu pai de Compadre Zeca, a todos pelo nome: Alaíde, Nilza, que morreram criancinhas, e depois Nair, Dercy, Jurandi, Vilmar, Zildete, Deldi, Dalvany e Olwanda, Os outros, pelo apelido de criança ou da vida toda: Wandinho, que sou eu, Diquinha, Dalva, Dica, Deda, Wandinha. Nair, às vezes em Nai, e Jurandi, Jura. Meu nome para ela só passou do de batismo depois da minha matrícula na escola, mesmo com algumas mudanças, porque em Salinas, eu era Wander; e em Taiobeiras, Arrudinha. O nome dela sempre Silvina para todos, só Diquinha e Dalvany a chamavam Silva.

Silvina foi fazer parte da nossa família quando desistiu do marido que fora para São Paulo e nunca mais deu notícia. Tendo só uma filha, deixou-a com uma parenta, e aceitou o convite de Dona Anália, que tinha na época dezoito anos, número da minha diferença de idade com ela. Casou-se com treze, e eu só vim nascer cinco anos depois, ela praticamente sem experiência de lavar e limpar menino. Aí, Silvina chegou para cuidar de tudo, da casa e do filho. Começando por mim, toda a filharada dormia no mesmo quarto que Silvina. Ela carregava e lavava os urinóis, dava banho, vestia as roupas, penteava os cabelos, dava os remédios, ensinava a rezar, dava verdadeiras aulas de religião, pois sabia quase tudo de bíblia. Aprendemos a comer pelas mãos dela, que adorava fazer capitão e colocar na boca de cada um. Nunca nos deixou esconder carne debaixo do angu, nem comer com uma colher maior do que as dos outros, porque saber viver honestamente era coisa séria. Sabia muito da história hebraica e cristã, porque, criancinha na casa de um parente (Clemente Batista), ele lia a Bíblia em voz alta e gostava de comentar tudo para que todos guardassem na memória. E Silvina guardou tudo na consciência e no coração, tornando-se assim uma competente professora de fé, de uma didática que nunca esquecemos, principalmente Nair e eu, os mais velhos.

As roupas dela foram sempre diferentes, preferindo um tipo de saia comprida com franzidos e pregas, além de um babado na barra. A blusa sempre branca, que ela chamava de camisa de morim ou de americano, conforme o tecido. As saias podiam ser de qualquer cor, quase sempre escuras, de um só tom, que podiam ser pintadas com tintol em água fervendo. As blusas, com gola arredondada, eram embelezadas com rendas de vários modelos, que ela mesma fazia na almofada de bilros. Para ir às missas, aos domingos, só serviam as saias e camisas consideradas novas, pois tinha que ser roupa de ver Deus. Depois de lavadas com sabão feito por ela mesma, com óleo de mamona, passava tudo com o ferro de brasas, soprado de tempo em tempo. A verdadeira festa era fazer as rendas, quando ela batia os bilros uns nos outros, como se fosse uma dança mágica, enquanto cantava músicas da igreja. Claro, que a meninada ficava toda ao redor, acompanhando e admirando tanta habilidade. Um encanto quase divino e inesquecível!

Silvina sabia também muitas histórias de reis e rainhas, príncipes e princesas, capitães valentes que defendiam os palácios com espadas e bengalas, todos vestidos com muitos enfeites, engalanados para dar mais força e autoridade. Os banquetes, nos palácios, eram sempre com carne de caças ou peixes que vinham de longe, um mar tão distante que ela nem sabia onde ficava.

As maiores autoridades eram sempre os bispos e cardeais, cada qual mais cheio de pompa, de forma a representar Deus Nosso Senhor e impor mais fé e disciplina. Em verdade, Silvina consciente da própria humildade e de muito respeito religioso, não tinha qualquer dúvida de não ir diretamente para o céu e ver São Pedro guardando a porta, deixando entrar só as almas boas. Dizia ela que nem precisava passar para o lado de dentro, bastando só ficar atrás da porta, vendo os anjos cantarem e os santos rezando terços e rosários. Lá de vez em quando, uma alma boa e caridosa passaria pela peneira fina de São Pedro. No céu, a reza era a água e o alimento de todos, fosse dia ou fosse noite.

Todos os filhos da casa consideravam ter duas mães, a que permitiu a vida, Dona Anália, e a que conservava a vida com o maior carinho, Silvina Melana. Dona Anália sempre presente, quase uma santa; Silvina, uma santa de verdade, com todos os direitos e privilégios de inquilina celeste. Um lindo paraíso, colorido e cheio de fitas de seda, plenitude de luzes e suaves músicas apropriadas para a eternidade. Grande Silvina!

Foi em homenagem a Silvina que Patrícia minha sobrinha, filha de Nair e Manoel, teve na pia de batismo e no cartório o nome de Patrícia Melana, o que muito agradecemos e pelo que nos sentimos soberanamente honrados. Para Silvina, o lugar mais bonito da criação divina tem que ser o céu. O verdadeiro lugar dela!


DENTRO E FORA DE CASA

O dia era o de comemorar a Inconfidência Mineira, o horário já era o da noite, mas o que marca mesmo a minha lembrança é de meu pai ter colocado na mesa da sala um lampião que não era o Aladim, pois de luz bem menos intensa. Antes, Silvina já estava atarefada na ferveção de água, com aquele tanto de lenha para ter mais fogo e atender à pressa. Enquanto as brasas do fogão estalavam, ela caprichava no arranjo de uns panos brancos, parecidos com lençóis pequenos. Do lado de fora do quarto do casal, já eram escutados os gemidos e até a respiração ofegante de D. Anália, quase o mesmo que eu ouvira de vezes anteriores quando estavam para nascer Alaíde e Nilza que como era dito na época, não chegaram a vingar, morrendo bem pequenas, aquilo do por e dispor de Deus, Ele dá e Ele tira. A azáfama daquela noite era o trailer para a chegada de Nair, naquele momento a minha terceira irmã. E não deve ter sido tão fácil, porque só a parteira Conceição não deu conta, precisando da vinda do vizinho, dr. Osório para resolver a situação. Quando foi ouvido o choro da recém-nascida, meu pai deu “graças a Deus” e eu fiquei muito alegre, pois já não estava mais sozinho como único filho da casa. Terminado tudo a contento, meu pai perguntou quanto ele tinha que pagar e o dr. Osório respondeu:

- O preço é dar a menina para Benzinha e eu batizarmos. Mas primeiro é preciso aguardar a vinda do padre Horácio.

Como gosto muito de saber e falar da idade das pessoas, vou logo avisando que era um 21 de abril de 1941, quando eu contava pouco mais de seis anos e já sabia tudo de tabuada e muita coisa de geografia, ensinados pelo meu primo Deoclides. O nascimento de Nair – uma menininha bem bonita - foi a maior alegria e motivo de muito café com leite, pães sovados, broa, manuê, roscas e biscoitos, tudo feito e assado antes do café da tarde.

Outras memórias passam pelas visitas à casa de tia Raquel, quase vizinha, de um dos lados da praça, calçada muito alta e ainda dois degraus na frente da porta. Ela era irmã da minha avó Ritinha, baianas e netas de uma índia, que diziam ter sido pegada de cachorro. Eu gostava tanto dela, que não podia passar um só dia sem ir à sua casa, praticamente uma obrigação. Outro foco bem claro é o da realidade da loja, meu pai vestindo um pijama listado, com botões vistosos e alamares na gola e nas mangas. Nas prateleiras os brins, as sedas, as chitas, os morins e os americanos, não posso esquecer dos sapatos, dos chapéus e das caixas de linhas e de aviamentos. Debaixo do balcão, as caixas de marmelada, os pães sovados, as roscas e os biscoitos espremidos e fofões, um dia ou outro, até bolo de puba, tudo indústria de D. Anália, pois o trabalho de Silvina era cuidar do quintal e da cozinha, dar banho e comida às crianças. Na seca de trinta e nove, quando chegavam os pedidores de esmola, eu pegava escondido um pouco de cada coisa, principalmente pães, para dar a eles. Mamãe reclamava da quantidade e dizia para não exagerar, porque senão eu acabava com tudo.

No desfile das lembranças, o quarto de hóspedes, em que meu pai mantinha uma mesa de gaveta com chave, onde ele guardava as coisas pequenas e importantes, por exemplo, a valete, a gilete, o livro de geografia e umas folhas de papel com rezas para segurar o fogo até os aceiros, evitar quebrantos e mau olhados, além das apropriadas para curar cobrelos e bicheiras. No quarto, mamãe guardava as latas de querosene cheias de leite e os melhores biscoitos destinados às visitas. Um dia, não sei como e nem porque, virei uma dessas latas e o leite derramou. Com medo de apanhar, corri ao quintal, peguei um gato e soltei lá dentro, deixando-o como responsável por minha malinesa. Como passatempo, construía nos dias de sol, casinhas de barro e ainda colocava, na frente e atrás delas, banquinhos e jiraus destinados às flores. Lembro-me como se fosse hoje de uma família de protestantes que mudou para o São João, morando na última casa da parte baixa da praça. De longe, parecia serem brancos demais, talvez por permanecer muito tempo dentro de casa. Curioso e interessado em saber das coisas, fui lá fazer uma visita, mais do que bem recebido, principalmente pelos filhos pequenos. Antes das despedidas, deram-me vários folhetos com mensagens da religião deles. Minha felicidade foi só até chegar lá em casa, porque quando eu disse de onde vinha e que gostara muito da religião deles, mamãe e Silvina, a uma só voz, mandaram-me jogar tudo em cima das brasas do fogão:

- Cuidado e juízo, menino, pegar nisso é pecado mortal. Livra logo de tudo e nunca mais volta lá, nunca mais!

Outro dia importante, foi a tarde da fotografia, depois de banho demorado e de vestir roupas novas e calçar meias e sapatos novinhos. Maravilha ficar fazendo caras de inteligente na frente da caixa escura do fotógrafo Marcelino, coberta com dois panos pretos, afastados para enfiar a cabeça e ver a gente de cabeça para baixo. Nair, Dercy e eu demos o primeiro passo para fixar uma imagem de eternidade. Foto única, primeira e última tirada na terra natal. Pouco tempo depois, mudamos para Salinas. Por falar em banho, acho importante dizer que ainda não estava na época dos chuveiros. A lavação de pé e cabeça era em uma bacia grande, com água esquentada na trempe, sabão do reino, toalha feita com pano fornido, aproveitando saco de farinha de trigo. Quando criávamos algum caso, chorando, D. Anália dava a corrigenda com um chinelo de pano, que punia sem fazer barulho.

Um caleidoscópio de visões da infância projeta as brincadeiras de roda, as galinhas no terreiro, as arapucas, os quebras, as plantas para remédio, o pilão de madeira, a umburana queimada em cachaça, os purgantes de óleo de rícino, o café torrado, as vagens de feijão no chão para secar, os pés de milho. Quinze dias antes do nascimento dos bebês, as galinhas ficavam isoladas em um poleiro especial, porque precisavam estar limpas para o pirão de mulher parida. Fase melhor não havia, desde cedo à espera da gostosura:

- Fiquem perto de sua mãe, que ela deixa vocês comerem do pirão. O mais velho pode até pegar o ganhador ou a coxa, que é a parte que tem mais carne. Ou o pescoço e a costela que pegam mais tempero!


JOÃO MORAIS, MEU AVÔ


Foto: Abílio Morais

De todas as pessoas que tenho conhecido mais de perto, o velho João Morais, meu avô, parece ter sido o único homem a viver oitenta e muitos anos de alegria em tempo integral. Era assim como se tivesse carteira assinada numa firma de felicidade, com todos os direitos, menos o de ficar triste e de deixar de ser alegre. Era, não tenho dúvida, como um papai Noel de ano inteiro, a distribuir presentes de fraternidade a todas as criaturas. Fazia ele da convivência de todos os dias um painel harmonioso e de rica sabedoria.

Conheci-o desde os meus primeiros anos, em sua fazenda perto de Salinas, numa casa sede que ficava rodeada de pomar e jardim, entre o “Ribeirão”, de águas cristalinas, e a estrada principal, onde ninguém tinha direito de passar sem uma visita ainda que ligeira. Ali, cada visitante era recebido prazerosamente e, depois dos cumprimentos de praxe, levado para lavar a poeira do rosto, tomar café-com-leite e biscoitos de tapioca e participar de uma gostosa conversa. Sabendo dividir bem as horas de trabalho nas pastagens e na lavoura, vivia animadamente para o trato com as pessoas, contando estórias, relatando casos, recriando-os com enternecedora vontade de transmitir felicidade.

Vovô foi, acima de tudo, um homem bom, o leme para muita gente neste mundo, que aprendeu com ele a andar no caminho certo, pois conselheiro melhor não havia naquele pequeno grande sertão entre Rio Pardo e Salinas. Era um velho forte e musculoso, vermelho como um europeu, e tinha os cabelos brancos e fartos, que lhe davam um ar de juventude bem conservada e um enorme halo de simpatia. Quando eu era pequeno, pensava que sua cabeça havia embranquecido pelo rigor do sol dos canaviais, onde trabalhou até poucos dias antes de morrer. Eu achava que ele tinha vindo aprimorar o mundo e as criaturas, num esforço de nunca parar, pois nem a doença que o acompanhou anos a fio o modificou em seus hábitos de homem feliz. Vi-o, muitas vezes, voltando à tardinha, enxada ao
ombro, embornal pendurado no pescoço, sorriso de ponta a ponta, a cantarolar algumas de nossas modinhas prediletas.

Todas as noites, após o jantar com toda a família - ninguém podia faltar - deitava-se numa rede amarelecida de tanto uso, e o antigo violão passava a centralizar as atenções, numa suave evocação de lembranças e saudades, que só terminava bem tarde, quando o cansaço vencia e todos iam dormir. João Morais, meu avô, nasceu bem longe, na velha Bahia, pelas bandas de Caetité, creio, num dia de festa até da natureza. Desde rapaz, tropeiro de profissão, viveu a vida dos campos e das estradas, dormindo ao relento, comendo feijoadas com rapadura e farinha de mandioca, e respirando o sereno de todas as madrugadas. Ele mesmo contava que foi naquele tempo
que conheceu uma moça morena e bonita chamada Ritinha, neta de índios, de quem, seis meses depois do primeiro encontro, ficou noivo, e com quem, um ano mais tarde, se casou. E foi vendo a casa cada vez mais cheia de filhos e netos, fazendo e refazendo festas, que viveram mais de meio século em harmonia muito perfeita. Não assisti, mas dizem que ele morreu conversando e sorrindo, como costumava fazer durante todos os dias da vida, pedindo a todos para não chorar ou sentir tristeza. Embora sertanejo e de poucas letras, foi um romancista verbal, narrador inigualável, desenhista
de perfeitos quadrinhos existenciais de humanismo puro e sincero. Na verdade, meu avô tinha uma experiência de vida, uma habilidade diplomática, uma riqueza de inteligência e bondade, dignas de muita admiração. Ninguém que o conheceu deixa de dizer que ele era um velho alegre e agradável, verdadeiro construtor de amizade, sempre ouvido com interesse e prazer.


SÃO JOÃO DO PARAÍSO

As casas do doutor Osório e a nossa, assim como a farmácia e a loja, ficavam na parte mais alta da praça, bem em frente ao mercado grandão e bonito. Ao lado da farmácia, ficava o consultório médico, todas as janelas de vidro, um luxo para a época, porque todas as outras da futura cidade eram de madeira, folhas duplas, com trava e ferrolho. Minhas lembranças de menino, acredito aos três anos, vêm de meu pai ajudando doutor Osório em um encanamento de perna de um tropeiro que havia caído e quebrado um osso num buraco de enxurrada na rua do cemitério, entre a esquina de Américo e a loja do meu padrinho Antônio Pena. Tanto o médico como meu pai vestiam roupas brancas, naquele momento um pouco respingadas de sangue. Sei que a higiene era bem cuidada, porque meu pai levou foi muito tempo para lavar as mãos numa bacia esmaltada, cheia de água quente que minha mãe fervera. Como era dia de sábado, o barulhão da feira não deixava ouvir os gemidos do pobre sofredor, que teve endireitada a perna com pedaços de ripa e imobilização com arames. Não entendi por que, mas antes de despedi-lo, doutor Osório deu nele uma injeção, para mim com olhos de menino, do tamanho de um cano de foguete. Meu pai saiu feliz da vida, porque ajudara o compadre médico, que ele admirava e gostava de prestar ajuda. O jovem Osório Adrião da Rocha, de família rica, saiu cedo de São João do Paraíso para estudar em Belo Horizonte, do final de curso primário até os preparatórios e o primeiro ano da Faculdade de Medicina. Como São Salvador tinha uma universidade quase mais famosa que as do Rio e de São Paulo, achou melhor mudar-se para lá, de onde voltou com o canudo de médico e nota dez no doutorado. Sempre foi um profissional respeitadíssimo da formatura até os cento e quatro anos de vida.

As lojas principais de São João eram as de Antônio Pena, Manoel Messias, Jose Dutra e do meu pai José Arruda. Nelas de tudo era vendido: tricolines, sedas, chitas, alvejados, brins, linhos, chapéus, calçados, capas, guarda-chuvas, galochas, lenços, meias, gravatas, linhas para bordados e para costuras, aviamentos para costureiras e para alfaiates, até urinóis e escarradeiras. Nenhuma delas tinha empregados, só gente da família. Na de Manoel Messias, o vendedor principal era Alcides, meu colega de escola. Na de papai, eu ajudava mostrando aos fregueses os carritéis e os traques. As
vendas e bitacas eram em número maior e com balcão menos limpo, principalmente pela presença do fumo de rolo, dos copos de cachaça e das latas de querosene. Do lado de dentro e de fora, os sacos de farinha, de arroz com casca e os marmelos e raízes de mandioca. As mais importantes eram as de Altino, de João de Bita, pai de Eli e de Cristóvão, meus colegas, e de Américo, na casa onde eu nasci. Na praça havia ainda o gabinete de Tião Dentista - mais tarde prefeitura - as residências de Honorino Rocha, pai de Ludércio; de Afonso Batista, pai de Clemente e de Doutor Osório e D. Benzinha, avô dos meus colegas Ildeu, Osmar e Dorinha. Na parte de baixo, lembro-me bem da casona de Claudionor Almeida, pai de Regina, hoje querida confreira no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e colega em muitas leituras da vida.

Era no centro da praça que os fereiros da roça amarravam cavalos e bois e meu padrinho Antônio Pena realizava as cavalhadas, a dança de trança-fitas e o teatro de rua. Num deles, fiz o papel de filho de Otacione, que atuava como um fazendeiro rico e poderoso. Era também no meio da praça, que a meninada pulava corda, brincava com bolinhas de gude, jogava futebol com bola de pano e as companhias armavam os circos, para onde todo mundo tinha que levar as cadeiras. Foi imitando um salto mortal de um trapezista palhaço, que ralei o nariz e dei o maior trabalho a Silvina e D. Anália, minha mãe, por uma semana de curativos. Levou anos para acabar a vermelhidão. Como a praça ficava num alto, era uma maravilha contemplar o verde dos canaviais localizados depois do rio, onde havia um engenho, uma fábrica de rapadura e de marmelada, além de um alambique de fazer cachaça, tudo pertencente a Clemente Batista. Um panorama de verdadeiro luxo, que a geração mais nova não pôde conhecer!

Volto aos moradores da praça do mercado, porque foram eles, os seus nomes, os seus jeitos de ser que marcaram a minha infância, a forma em que comecei a ver o mundo e todas as suas injunções. Artur Trancoso, por exemplo, foi um quase vizinho de que nunca me esqueci. Filho do major Pedro de Almeida, morava na esquina, ao lado da casa de D. Elvira, mãe de Regina. Será que era importante porque gostava de violão e tocava muito bem, chegando a atrair os rapazes para as farras? Para mim, ele era realmente um sucesso de vida, tanto que depois de ser secretário da prefeitura por convite do doutor Osório, chegou ao cargo de prefeito em 1951, mesmo ano que cheguei para trabalhar e estudar em Montes Claros. Outra pessoa que aviva a minha lembrança é o de Dionísio Santos, o primeiro escrivão do Cartório de Registro Civil, que fazia todos os registros e
escrituras totalmente manuscritos em folhas de papel almaço, letra perfeitamente legível, caprichada, tudo a bico de pena, com tinta, tinteiro e mata-borrão. A minha certidão de nascimento, feita por ele, data de 8 de setembro de 1934, sem nada impresso, tudo à mão. Foi sucedido por Antônio Capuchinho em 1938, segundo muitas opiniões, com caligrafia ainda melhor. Antônio Capuchinho foi chefe de uma grande família, além de irmão de José Capuchinho, pai de Otacione, Miro e Leonídio, um rapaz bonitão e inteligente que se casou com D. Adelina, primeira professora na escola pública, famosa pela boniteza e ainda mais pela competência e dedicação e bons jeitos de ensinar. Foi sucedida por Cleide, que morreu nova, com pouco mais de 26 anos e por Sílvia Capuchinho, uma mestra inesquecível.


MEMÓRIAS

Tenho que agradecer muito a Dorinha – Maria das Dores Batista Rocha – amiga e conterrânea de memória incrível, por me levar diretamente ao colorido e aos sons de muitas lembranças. Ela não esquece um nome sequer e os sabe por inteiro, a composição de cada família, até os apelidos. Quando eu lhe falei do nome de Artur Trancoso, foi um desfile de informações, um mundo de comentários, muitos e muitos detalhes interessantes, até o de que a sua casa e consultório formaram, mais tarde, o prédio da prefeitura. Ao pronunciar o nome de Lauro Santana, meu colega de escola sempre próximo - que uma vez furei o braço com um golpe de caneta - ela reviveu um universo mágico de lembranças, pronunciando o apelido da mãe dele, D. Lió, mais do que amiga de D. Anália, minha mãe, e de Silvina, esta que me criou e ajudou a criar todos os meus irmãos, pois foi morar lá em casa quando eu tinha apenas cinco dias de nascido. Falei com Dorinha das enormes jaqueiras de nosso quintal, pensando que era na esquina da praça, começo da rua que vai para a igreja, mas ela logo me corrigiu, dizendo que era ao lado da casa dela, um terreno enorme com muitas árvores e balanços, canteiro de hortas e rocinha de milho, poleiro de galinhas chefiadas por um capão, quintal tão grande como o de doutor Osório e D. Benzinha, que ia até onde hoje fica a avenida do bairro Tabuleiro Alto.

Foi conversando com ela, que me lembrei como se fosse hoje da ladeira que ia para o cemitério, da igrejinha nova e alegre, do cabo e do soldado prendendo um ladrão, do corpo de um homem morto de tocaia chegando em dois varais parecendo como se fosse numa escada, das caixas de madeira com tampa móvel para guardar marmelada; das bonitas grades do mercado caiadas de branco, da igreja antiga com o padre Horácio, igreja já adaptada com o padre João Pelágio e de um padre substituto, meio sem juízo, chamado Cândido, que queimou cem livros meus, só porque a contracapa dizia que eu era espírita e maçom. Muitas as lembranças sobre o morro esverdeado e as grutas dos tapuias; da ponte de onde os meninos e rapazes pulavam nus para mergulhar e sair da água vendo os joelhos das lavadeiras; das partidas e das chegadas de meu pai com peças históricas e cargas de marmelos, ele, homem de muitas viagens; de um livro de geografia que ficava na gaveta da mesa de nossa sala de visita e da antiga valete de um corte e da gilete de dois, que nunca fizeram barba; do uísque cavalo branco numa garrafa quadrada; das moças e dos rapazes comprando picolés de calda de marmelo feitos por meu pai numa geladeira de querosene num tempo em que a gente morava em contra esquina com a venda de João de Bita; do lampião Aladim com luz tão clara que chegava a doer a vista. Foi
como se eu estivesse vendo a chegada de Fulgêncio Alves com a família, quando comprou a casa de Afonso Batista, linda de morrer, pinturas em tons de azul em todos os cômodos, própria para receber visitas ilustres que se aportavam em São João, incluindo os padres e os missionários. Lembrei-me do livro de atas que registrou uma reunião política na Escola Mendes de Oliveira, com um mundão de assinaturas, inclusive a minha de menino de sete anos, já com mania de participar de tudo...

Nítida a lembrança de uma figura interessante, o açougueiro Otacílio Serafim, na esquina de Antônio Capuchinho, e do sacristão do padre Horácio, chamado Bertolino Cruz, um homem bom que ajudava, nas missas, batendo o sino e sacudindo um turíbulo que cuspia fogo. Revejo, como se fosse hoje, o elegante e bonito padre Horácio, velhinho italiano de cabelos branquíssimos, sempre muito querido. Havia uma história de que ele tinha morado no México e voltado para a Itália, para depois vir para o Brasil e trabalhar no Rio Grande do Sul com o bispo Dom João Pimenta, que o trouxe para Rio Pardo, ao mesmo tempo que assumiu a diocese de Montes Claros.
Vivi com intensidade os passeios pela casa de Maria de Silvina, na Argola, estrada que ia para a fazenda de doutor Osório, onde, aos domingos, comprávamos de João de Nico um pé de jabuticaba todo carregado por cinco mil réis e comíamos até ficar entupidos. Entre o desfilar de memórias, o meu apelido de “padre Horácio”, posto por Antônio Batista, pelo fato de meus cabelos serem quase da cor dos dele, ou seja, de um intenso louro esbranquiçado, coisa de guri branquelo. Que bom lembrar do meu São João em plena primeira metade do Século XX, um tempo de sonhos mais que coloridos, dias e tardes de mil seduções, imensa multidão de encantos. Tudo inesquecível e grato à alegria do viver e conviver!


MEU PROFESSOR JOAQUIM ROLLA

Minha primeira lembrança é do dia em que meu pai me conduziu para a sua escola, na rua de baixo. Foi no início de 1942, acredito no mês de janeiro. O mestre Joaquim Rolla vestia uma bata de professor de cor clara, não sei mais se branca ou em tom cinza. Um homem alto, magro, rápido nos passos, olhar firme e penetrante o tempo todo, com uma régua de madeira, pronta para descer no lombo de quem não estudasse direito ou não desse as respostas certas nos algarismos ou na pronúncia das palavras. No bolso, um lenço grande para secar o cuspe e limpar as lousas que todo nós tínhamos desde o primeiro dia de aula.

As lousas, também chamadas de pedras, eram de ardósia, com moldura de tábuas, utilizadas dos dois lados com lápis do mesmo material. Serviam para escrita de pequenos textos e principalmente para as contas, somas, subtrações, multiplicação e divisão. Os exercícios eram tantos, que nenhum pai podia comprar todos os cadernos necessários, naquele tempo muito caros. Com seis meses de aprendizagem, eu multiplicava e dividia por doze números, coisa difícil de fazer hoje até com as maquininhas eletrônicas. As somas chegavam a trinta parcelas, conferidas pelo menos duas vezes para evitar o impacto da régua e da palmatória. Só não apanhávamos, se tudo estivesse certo para merecer nota dez. Um nove dava puxão de orelha e coques na cabeça.

Eli, filho de João de Bita e de D. Anísia, era o mais velho da turma. Cristóvão, seu irmão, sentava comigo na mesma carteira e usava o mesmo tinteiro. Um grande colega, mas que me atrapalhou, porque eu colava dele, mesmo não precisando. Durante os meses que estivemos juntos, eu estudei menos do que precisava. Uma pena, pois depois dele, nunca mais deixei de ser o primeiro aluno de qualquer classe, porque estudar muito e caprichar eu sempre soube.

Vou introduzir aqui um texto que escrevi em 1978, quando lancei em São João o meu primeiro livro, Tempos de Montes Claros, e narrei uma visita que fiz a Cristovina. Ei-lo: “Foi num mês de fevereiro, trinta e dois anos depois, que voltei a rever a minha terra, São João do Paraíso. Foi bem naquele fevereiro brabo de tantas enchentes, estradas intransitáveis, com um mundão de dificuldades para chegar lá, partindo de Taiobeiras. Foi depois de longa viagem por Valença e Nazaré, por Itaparica e Salvador, andanças de muito laudar pelo céu e pelo mar. Em São João, entramos num dia de intensa luz, depois das chuvas. E comigo estavam Olímpia, Rízzia e Gracielle, ao mesmo tempo que bons amigos como Joaquim da Caixa Econômica, Mário Português e meus cunhados, Anderson e Nelmy, todos para dar maior prestígio ao filho que voltava à cidade natal. Nas ruas, o Lauro, colega de curso primário, fazia a surpresa com muitas faixas de saudação, tudo muito grato, bom demais para os olhos e para a alma.

Visitas, encontros, apresentações, um rememorar de saudades, o reviver de velhas e bem guardadas lembranças, uma alegria aqui, uma decepção ali, porque nem tudo que o coração registra fica imune à ação do tempo. Jovens transformados em velhos, velhos já não na vida. A paisagem já não a mesma e, ainda que melhorada pelo progresso, diferente. Não mais a ponte dos banhos de meninos pelados e jovens lavadeiras; não mais o canavial sem fim; não mais a serra verde escura ligada às nuvens; não mais a igrejinha do alto do morro, nova em folha; a grama da praça, substituída por pavimentação e postos de gasolina; o matagal do cemitério já bairro novo. Tudo mudado. Os olhos procuram, o coração deplora toda a ausência de eternidade nas coisas e nas pessoas! Quanta falta!

À noite, o lançamento do meu livro, na Matriz, o louvor dos discursos, as explicações, os abraços, o rolar de tranquilas lágrimas de gratidão ao passado, a riqueza das lembranças boas que só a infância pôde dar, o olhar reverente de jovens professoras ao camarada mais velho, amadurecido pelas dores da vida. Olímpia me pergunta baixinho o que me passa pela cabeça, enquanto olho a velha igreja, ouço o antigo sino, sinto a paisagem pisada por pés descalços em tempo distante. O que responder? As coisas que passam pelo sentimento não podem ser analisadas, não são lógicas. As imagens são superpostas, principalmente as do meu pai, ainda novo, do meu avô Vicente, de longas barbas brancas, e da tia Raquel e de D. Adelina, gorda e clara.

Vem o segundo dia e, enquanto dia, uma viagem pelo Mato Cipó para visitar os tios Júlio e Diolina, a passagem pela Lagoa da Viada, pelo rio, pelos mangueiros, a procura de velhas estradas por onde costumava passar, indo para a casa de Maria de Silvina, o caminho da fazenda do doutor Osório. A cada lembrança, uma fotografia, a promessa íntima de pintar um quadro. Na volta, à noite, depois do jantar, a palestra na Escola, uma espécie de acerto de contas, um desfiar de vivos sonhos, um voto de confiança e um incentivo às novas gerações. Mais tarde, o passeio pelas ruas, o mingau de milho na sala de jantar de D. Benzinha, o café com biscoitos a convite do padre João, madeirense culto, amigo solícito.

Foi durante um café, sentados em duros bancos, braços sobre uma mesa comprida sem toalha, daquelas feitas com madeira fornida, que resolvi fazer um comentário sobre meu primeiro professor, o velho Joaquim Rolla, mestre de régua e palmatória, de lousa e tabuada, de norma e abecê. Falei da escola, falei dos alunos, descrevi os objetos. Quando ia mostrar que me lembrava também dos móveis, Cristovina, a anfitriã, sorriu maliciosa, e com brilho no olhar me fez arrancar de dentro a mais querida das lembranças, pois aquela mesa, aqueles bancos, todo aquele ambiente era a minha primeira sala de aula. Havia eu, por acaso, me esquecido de que ela era a filha do professor?

Estava ali o maior presente ao meu coração...


OS REVOLTOSOS PASSAM POR SALINAS

Os revoltosos iriam chegar a qualquer hora e, para passar por Salinas, a fazenda do meu avô João Morais tinha que ser caminho obrigatório. Como esperá-los seria loucura ou, no mínimo, ato bem arriscado, todo o pessoal da fazenda tratou depressa de tirar o time de campo e descobrir o lugar mais isolado e seguro que fosse possível encontrar. Aliás, isso não seria problema, pois, quem mais conhece mesmo a sua fazenda é o fazendeiro. Meu avô deu ordens expressas para que levassem de tudo, o necessário para uma agradável aventura de pelo menos trinta dias: material de cozinha, roupas de dormir e de vestir, vacas de leite, garrotinhos de carne macia, porcos, cabritos, frangos e galinhas, capões, todas as abóboras e maxixes e raízes de mandioca mansa que pudessem tirar sal, tempero, rapadura, açúcar de pedra, e mais todos os eteceteras – eteceteras. Também o mais importante para os trinta dias de festas: pandeiros, violões, sanfonas e um ou outro garrafão da melhor pinga do alambique, não muita, porque minha família nunca foi de beber lá esse tanto.

Quando penso nessa proeza, não posso fugir à lembrança de saída dos judeus para a Terra Prometida, com Moisés e Josué dirigindo o povo com todos os animais e todos os tarecos de valor. Para governar o rebanho, foi nomeado o filho mais velho, o mais ajuizado, o defensor intransigente do patrimônio, já quase em ponto de se casar, o Armindo Morais. Todos contam, ainda hoje, da pequena viagem, como uma grande saga, um ato de alegre heroísmo, um descontraído sacrifício de velhos e jovens, de patrões e agregados, Mamãe conta que, mesmo nas paradas para o descanso das mulas de carga, o sanfoneiro tinha de tocar e a dança era obrigatória. Para
qualquer fomezinha, morria logo uma leitoa, o arroz com carne, cozinhava fumegando de gostoso. Todos gozavam a vida e só o Armindo dava o toque de responsabilidade no verdadeiro serviço, só ele comandava para assunto sério.

Conto esta estória para dizer que talvez tenha sido nesse imprevisto contrarrevolucionário de 1926 o grande início de vida do meu Tio Armindo, um homem de sessenta anos de trabalhos, do dia que se entendeu por gente até a hora final por acidente numa fazenda do Pará. Todo o tempo de sua existência foi tempo sem férias ou feriados e, como não podia deixar de ser, a última viagem era também de serviço. O melhor descanso – dizia – era um bom exercício, uma atividade para ocupar a cabeça, dar tratos ao juízo. Quando sentiu terminar sua tarefa de fazer as fazendas de Salinas, Cachoeira de Pajéu e numa espécie de sesmaria que comprou de Filomeno Ribeiro pelas bandas do Rio Ribeiro pelas bandas do Rio Caititu, pulou de fronteiras e iniciou um novo império nas matas da Amazônia. Não era homem de pequenos lotes de terra, era um bandeirante e um colonizador.

Foi conversando com Tio Armindo, aconselhando-o e dele recebendo conselho, interrogando-o sempre sobre a importância de terra e da vida, sobre a pragmática do trabalho e a vantagem de saber pensar, é que criei dentro de mim um grande respeito pelo fazendeiro, pelo homem do campo, a única nação de gente que sabe unir o suor à meditação, sabe remoer calado as fatias de beleza de todas as horas do dia.


VIAGENS PARA SALINAS

Era uma alegria sem igual quando meu pai avisava que iríamos viajar para Salinas, passando primeiro pela fazenda do meu avô Vicente Arruda, antes de chegarmos a Coqueiros, meio caminho de São João a Taiobeiras. Minha maior curiosidade era pensar em ver a espada com que ele brigava quando novo, uma espada que parecia de prata, com cabo de madrepérola. Muitos os arranjos para preparar as roupas, os chinelos, alguns poucos brinquedos que não pesassem muito. Nada mais que a idade não permitisse.

Para a madrugada de início da viagem, dois ou três dias antes o trabalho maior era de minha mãe e de Silvina para os arranjos de sustento, a lata de matula com galinha e farofa, as latas de paçocas, cantis com água, os biscoitos cozidos e assados, os espremidos, os fritos, além dos bolos.

Com ou sem frio, as despedidas, a calma de Tio Abílio, papai de óculos escuros, chapéu de aba larga e guarda pó.

Durante o percurso, para o descanso dos viajantes e dos animais, a parada nos rios, nas lagoas, principalmente quando a fome chegava. Muita curiosidade quando meu pai queria procurar água no meio das matas, ao ver as pedras, as cruzes na estrada. Mais ainda quando da passagem por Taiobeiras, quando víamos os meninos correndo nos carrinhos, ou andando de bicicleta.

Logo após a chegada à fazenda de vovô João Morais e Vovó Ritinha, a primeira providência era lavar o rosto com água morna em bacias esmaltadas, enxugando depois com uma toalha bordada sempre muito bonita. Depois, o melhor era reparar as panelas de leite, o fazer requeijão, os varaus de carne, as linguiças dentro da gordura, os chouriços, as mangueiras, a beira do rio. Ainda melhor o correr para o almoço coletivo na cozinha grandona cheia de janelas. Era um tal de esconder a carne debaixo do angu, ou no feijão escaldado.

Fora da casa, a estrada em curva indo para Salinas, a rede em que vovô João Morais passava o dia e um pedacinho da noite, as estórias que ele contava, enfeitando cada passagem para produzir curiosidade e emoção em novos e velhos, todo mundo sentado ou acocorado para ouvir mais de perto – causos do coronel Horácio de Matos, da princesa Magalona, de Lampião, da Coluna Prestes, quando eles fizeram a maior festa num esconderijo em pé de serra. Mamãe contava estórias de quando eles moravam à margem do Rio
Pardo e ela nadava levando o almoço dos irmãos em vasilha presa na cabeça, o curral, o engenho, a cozinha grandona e o fogão sempre com lenha seca e muita brasa, o regador para molhar as plantas, estórias de cobras que não morreram quando alguém batia nelas de vara, e aí, ficava magrinha, esperando o ofensor para picar, as lavadeiras, batendo roupa nas pedras para clarear. Peguei varíola, viajamos de Salinas para São João, eu enrolado em palha de bananeira, única coisa que não grudava nas feridas, pois havia bolhas no corpo inteiro. Quando meu pai e minha mãe chegavam em alguma fazenda para hospedar eram muito bem recebidos como amigos, mas só até a hora que me viam doente, aí recebiam o casal, mas ficavam de longe com medo de contágio. Salvava um em quinhentos. Só vim sarar depois de dois meses de sofrimentos, tendo até hoje uma marca na coxa direita.

Foi em Salinas que meu primo Nenzinho me levou para conhecer e tomar sorvete. Foi lá que vi pela primeira vez uma revista, a Vida Doméstica. Eu só conhecia jornais, que eram assinados não para leitura, mas para servir de papel de embrulho nas lojas e nas vendas. Foi em Salinas que vi pela primeira vez a luz elétrica nas casas e nas ruas. Funcionava só até às 9 da noite, o mesmo horário que meu marcava para todo mundo já estar dormindo. Quem chegasse por último, que trancasse a porta. Depois das nove, a luz era de candeeiro de querosene, de fifó de óleo de mamona, de lamparina com azeite doce, uma luzinha só para espantar a escuridão, mais usadas no quarto de mulher parida, após o nascimento dos bebês. Lampião com vidro móvel ou Aladim era só para ocasiões de luxo. O aparelho de rádio era quase redondo e funcionava com bateria ou uma pilha elétrica grandona.


MUDANÇA PARA SALINAS

Pensando em tempos de hoje, setenta e sete anos depois, foi uma multidão de sonhos o preparo para a mudança para Salinas, cidade que eu já conhecia nas viagens a cavalo, garupa do meu pai e de Tio Abílio. Lá era muito grande, o maior município de Minas Gerais, cidade que tinha um coronel, a exemplo de Pedra Azul, Rio Pardo e Montes Claros: o coronel Idalino Ribeiro, compadre do governador Benedito Valadares, pai de deputado, riquíssimo, dono de minas de pedras preciosas, a casa assobradada mais bonita da região. Salinas tinha juiz de direito e promotor de justiça, um enorme grupo escolar, uma igreja do tamanhão do mundo com padre holandês.

Salinas tinha sorveterias, padarias e armazéns grandes, e até lojas com vitrines, papelarias que vendiam papel carbono, lápis de cor, cadernos importados e até livros escolares, enquanto o São João, cidade recém-emancipada, tinha interventor nomeado pelo Governo do Estado, em Salinas o prefeito era escolhido em eleição administrada pelo Juiz. Tudo, tudo mais moderno, que aguçava por demais as minhas ideias. São João tinha só um sapateiro, um seleiro, um salão para fazer cabelo e barba. Uma vez houve um furto em uma casa e, pela primeira vez, ouvi a palavra ladrão, o que foi uma grande novidade. Fiquei doido para ver, porque queria saber como seria um ladrão, que diferença teria de uma pessoa normal. Pelas notícias, Salinas tinha era muitos, havendo até um prédio da cadeia, com grade de ferro e soldados de vigia. O que eu mais precisava era me preparar para tantas novidades, ênfase para tomar sorvete bem geladinho em taças de vidro.

Agora, pensando em termos de perdas e ganhos, o que eu ia perder, deixando São João do Paraíso para trás? Muitas coisas, pelo menos algumas. Por exemplo, o doce de marmelo feito em tacho de cobre e guardado em caixas de madeira. A gente olhava a parte que ia comer. O doce de goiaba com casca e semente, adoçado com mel de jataí. O pão sovado que não era feito em padaria, assado em forno de adobe, esquentado com toras de jatobá. A praça de São João, onde nasci era todinha gramada, tão grande que era lá que armavam os circos e instalavam os parques de diversão, feita do tamanho certo para ter cavalhadas duas vezes por ano. Melhor ainda: era lá que meu padrinho Afonso Pena, de quatro em quatro meses, apresentava seu teatro de rua, em que Otacione e eu éramos atores, ele o pai, eu o filho, todas as falas mais do que decoradas. São João tinha o marido de D. Adelina, Leonídio Capuchinho, com toda fama de sabido, porque escrevia com caneta Parker e era maçom, mestre de todos os segredos, coisa rara em qualquer lugar. Do lado de cima da praça, o consultório e a farmácia do dr. Osório Rocha, formado na Universidade da Bahia, a melhor do Brasil, diploma que tinha antes do nome dele o “doutor” escrito por extenso, por causa da defesa de tese. A fama era de ser o melhor médico, de dar a consulta e fazer o remédio, só superado por um ou outro de Belo Horizonte.

No lado de baixo da praça tinha chegado uma família de protestantes que o marido e a mulher já haviam lido a escritura sagrada de cabo a rabo cinco vezes. Liam até de trás prá frente. Será que Salinas seria mesmo melhor?

Descarregado o caminhão de mudança, a casa mesmo grande ficou cheia com as coisas da família de três filhos, naquela época: eu, o mais velho, e as duas meninas, Nair e Dercy, uma com três anos, a outra ainda bebê. A casa era na mesma praça da igreja e do grupo escolar, mas em um ângulo que não dava para ver o mercado, nem as lojas do outro lado. Feita a matrícula por meu pai, o diretor levou-me para a professora, a mulher mais alta da cidade, com fama de bonita e de inteligência sem igual, D. Heloísa Veloso Sarmento Cordeiro. Eu nunca tinha visto gente assim com quatro nomes. O Cordeiro era por causa do casamento com Rodrigo, ele ainda mais
alto do que ela. D. Heloísa era a fera da escola, dona da disciplina, aluno tinha que piar mansinho. Fez um teste para avaliar o que eu sabia, pois vindo de escola particular e pouco tempo de escola de governo, nem tinha um número de série. Achou que eu podia ficar no terceiro ano, e foi lá que me colocou no meio de uns trinta e tantos colegas, sentado na frente para ser visto melhor. Tudo tinha que ser decorado, do descobrimento do Brasil até a Guerra do Paraguai. Nomes de todos os estados brasileiros, de todos os países das Américas e da Europa, com as respectivas capitais. Nem pensar trocar dois esses por cê cedilha. Como não admitia não ser o primeiro da classe, tive de estudar dia e noite até superar o nível da turma. Quase
que uma luta de vida e de morte.

Tantos anos de distância no tempo, vivendo só para a escola, para os banhos na represa e para um tratamento de xistose, minhas lembranças passam mais pela convivência com meu avô João Morais, minha avó Ritinha, meus tios Abílio, Armindo, Agenor, as tias Maria, Honorina e Nininha. Do povo importante da cidade, além do Coronel Idalino, lembro-me do dr. Alcides Loyola, que foi candidato a prefeito e acabou perdendo, porque era do lado do Brigadeiro Eduardo Gomes, de um partido formado para desalojar o governo.

Ainda em tempo: D. Heloísa Sarmento, a professora altona, bonita e competente, muitas décadas depois, em Montes Claros, foi minha colega de magistério no Colégio Estadual Plínio Ribeiro e confreira na Academia Montes-clarense de Letras. Tive e tenho por ela, até hoje, o maior respeito e uma admiração sem limites.


MATO VERDE

Mudamos de Salinas em 1945, poucos dias depois da eleição, quando foi escolhido para a presidência da república o general Eurico Gaspar Dutra, que tinha sido ministro da guerra de Getúlio Vargas. A propaganda eleitoral maior era do Brigadeiro Eduardo Gomes, um mapa do Brasil com a foto dele no centro. A comemoração da vitória de Dutra foi com muito barulho, muitos gritos e muitos tiros: nenhum foguete, nenhuma bomba, todo o pipocar era de carabinas, revólveres, garruchas e fuzis, numa passeata comandado por Arabel de Souza Gomes, um aliado do coronel Levy Silva, prefeito pessedista em Monte Azul. Era aquele movimentado e barulhento espetáculo de valentia e poder político. Nem sei se havia adversários, e quem era que teria coragem de se manifestar? Na mesma semana da chegada, houve uma noite que minha mãe ficou mais do que cansada de tanto servir café com quitandas – biscoitos, bolos, broas, pão sovado, manuê - para meu pai receber as visitas de todos os importantões, que desejavam saber a que viera e o que ele iria fazer. Meu entusiasmo maior foi conhecer o velho Januário, major da Guarda Nacional e marido de Dona Pimpa, agente do correio. Ele vestia um uniforme realmente lindo e portava uma espada, para marcar muito respeito.

Fomos morar na rua principal, próximo da pensão de Hermes Mota Matos e D. Olindina e bem perto da casa de Tide, irmão de Arabel, de Vital e da venda de João Neves, onde passei a trabalhar pouco depois. Na venda de João Neves havia uma parte do balcão coberta com um veludo verde, onde o tempo todo alguns fregueses jogavam baralho, um jogo que não ouço mais falar dele, chamado cunclamplê, que aprendi logo e passei a ser requisitado professor, ensinando a quem queria jogar, mas não sabia; em três dias, eu formava um campeão. Só deixei este meu primeiro magistério, como qualquer outro mal remunerado, porque um tenente que chegou para a delegacia, achou aquilo um absurdo e chamou meu pai e o dono da venda para repreendê-los pelo delito contra um adolescente. Chamou-me também e disse que, como eu precisava trabalhar e ganhar o meu dinheiro, ia me deixar como balconista, mas nunca mais poderia me aproximar da jogatina. Foi a última vez que peguei em uma carta de baralho ou me aproximei de qualquer jogo. Anos mais tarde, quis encontrar o oficial da Polícia Militar de Minas Gerais, que passei a considerar um meu grande benfeitor, mas soube que ele já havia morrido. Foi uma pena não o ter encontrado, porque me lembro dele, com agradecimentos, até hoje.

Lembro-me também da madrugada de 1949, início da viagem de Mato Verde para Taiobeiras, caminhão cheio de coisas de mudança, família ainda pequena, Jurandi e Vilmar os mais novos. Meu pai e minha mãe apressavam-me para terminar de escrever as marcas de saudades que eu gravava com giz na calçada, parte pelos amigos e por D. Zema, a querida professora, maior parte por deixar Pinha, a namorada loura, de olhos azuis da cor de um céu em dia de brilho. Eu não queria largar nada do que vivi em cinco lindos anos de existência.

Tudo representava uma experiência incrível, principalmente no gosto de ler, escrever e fazer discursos. Ainda bem novo, sem completar quinze anos, era eu autor de palavras cruzadas, bom fazedor de charadas, reconhecido por habilidade na escrita Morse, mesmo sendo o meu trabalho, no correio, feito por telefone. Era mestre na arte de engraxar, de vender biscoitos, fumo de rolo e pinga, e por correr de bicicleta e ganhar campeonatos em jogos de pião. Por ter aprendido muito de filosofia, história e até de política em conversas de botecos e de farmácia, considerava-me – sem favor de terceiros - um hábil intelectual, e muito pouco me prendia às pregações do jovem padre Newton D’Ângeles, culto e admirado, mesmo sendo a religião o meu centro de interesse. Só faziam sentido as leituras que me atendessem
à curiosidade e pudessem marcar um mínimo de lógica na liberdade de pensar e agir, nenhuma peia para o livre arbítrio, que eu ainda nem sabia o que era. Por muitas vezes ao entrar em conversas de adultos, fui repreendido e até censurado, nem sempre com educação, minha ou dos concorrentes nas ideias.

Com certeza e muito encanto, mesmo com o calendário uns quarenta anos depois, continuo ligado a Mato Verde já cidade, área urbana incomparavelmente maior, muito mais recursos, mais escolas, muito mais nomes de pessoas, bem mais sobrenomes de famílias. Queiramos ou não, o viver e conviver acabam sendo uma curiosa reescrita, fatos e personagens se superpondo, ganhando as mesmas tonalidades, repetindo os mesmos gestos, desenhando mapas bem parecidos.

Concluo as minhas lembranças, dizendo o que escrevi o prefácio do livro de Jorge Luiz Almeida, nada difícil de esquematizar, porque nossas vidas de jovens do interior foram muito semelhantes na aprendizagem, no trabalho, na política, em todas as visões de vida e até no conviver com bonitas e queridas colegas de escola - eu com Zinha, Dirce, Orlinda, Pinha e Tudinha; ele com Edilene e com outras que não conheci. Por isso é que ele, lembrando-se dos saudosos amigos Zezita, Geraldo de Roseno e Cidé, citou o poeta Mário Quintana: “O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”


TAIOBEIRAS

Nossa mudança de Mato Verde para Taiobeiras se deu num mês de maio, quando o ano era de 1949. Ainda algum calor em Mato Verde e já muito frio em toda a região de Taiobeiras, todos nós com roupas inapropriadas para o novo regime de vida. Já na primeira manhã, uma corrida às lojas para as compras necessárias. De minha parte, lembro-me que a escolha foi um agasalho marrom, ao mesmo tempo camisa e casaco com fecho éclair. Cada um escolheu o que mais gostou, menos Silvina que já tinha suas saias e seus chales, que ela chamava roupas de inverno.

Nossa primeira casa foi na avenida hoje chamada da Liberdade, vizinha da casa do dentista Amílcar Mendes, quase em frente à praça da Matriz, que tinha na esquina a casa de Vadinho Costa, vizinha à pensão de Deja e Hugolino, onde ficava também a venda de Nenenzinho, sócio de Pedro Paulo e Paulo Pedro, centro social e de cultura, onde se falava de política, economia, religião e até de maçonaria, já que os donos eram todos maçons de carteirinha. De maçom só não ia lá Antonino Almeida, porque este não saía da farmácia, onde também era um local de todos os saberes, principalmente dos mais sérios. Sidney, Ageu, Renato, todos intelectuais, com leitura obrigatória e diária de livros e jornais. Com alguma leitura até Gilberto, ainda bem criança.

Dois ou três dias depois da chegada, fui ao Correio, que tinha um agente novo, Hermínio Miranda, totalmente sem conhecimento do serviço. Ótimo para mim, porque de Correios e Telégrafos eu entendia tudo, até da atividade em código Morse, desnecessária no caso, já que os telegramas eram recebidos e transmitidos por telefone junto à central de Rio Pardo de Minas, já bastante conhecida em virtude do meu trabalho na agência de Mato Verde. Emprego garantido na hora, embora sem salário, já que Hermínio nem sabia o que iria ganhar. Em comunicação eu trabalhava por mero prazer e, para isso, o melhor lugar era ainda o Correio. E foi em uma das saídas do trabalho, em que me encontrei a primeira vez com Olímpia. Ela, em uma bicicleta feminina amarela, parou perto de mim e disse que tinha um recado para me transmitir. Sua colega de escola e amiga Lulinha queria namorar comigo.

- Você aceita?

Olhei bem nos olhos verdes dela portadores do mais lindo sorriso do mundo, e respondi de pronto:

- Namorar eu quero, mas é com você.

Nada mais foi dito ou perguntado. Ela saiu voando na bicicleta, soltando poeira do chão batido da avenida. Só vim vê-la à noite, passeando com as amigas no claro luar da cidade sem luz. Muitos foram os quebras, olhares de admiração que ocorrem até hoje, setenta e dois anos depois.

Costumo dizer que Taiobeiras foi a minha melhor escola, mesmo eu não tendo sido aluno de nenhuma. Mesmo tendo tido grandes professores, meu primo Deoclides, aos meus seis anos, o professor Joaquim Rolla, ainda aos sete e pouco, Dona Adelina, primeira professora de escola pública, considero o meu amigo Aníbal Rego meu melhor mestre de todos os tempos. Com ele aprendi, História, Geografia, Matemática, Astronomia, Política, Religião, Literatura, Linguística, Gramática, Antropologia, Civismo, tudo com inicial maiúscula. Ainda tudo relativo a organizações militares, ele um gênio no assunto desde a prestação de serviço no Exército em várias regiões do país. Aprendi muito com Seu Antonino, Ageu, Renato, Laury, Maciel e João Rego, Nenenzinho, Lúcio Miranda e Dudu Cunha. E muito mais quando Osmar chegou de São Paulo, ninguém mais grã-fino e bem-informado do que ele. Foi em Taiobeiras que me aperfeiçoei na criação de charadas e palavras cruzadas, além da redação de cartas e notícias. Foi de Taiobeiras que comecei a publicar palavras cruzadas, charadas e pequenos textos na Revista Libertas, da Polícia Militar (Belo Horizonte) e na Revista da Marinha e Rádio Nacional (Rio de Janeiro). O mais curioso é que, semanalmente, às terças-feiras, eu trocava minhas criações com criações dos oficiais da FAB, que faziam o Correio Aéreo. Capitães e majores – pilotos e engenheiro de
bordo – nunca deixaram de levar suas charadas e palavras cruzadas para o menino que eles mostravam muito admirar. Imagine encontrarem, no interiorão a 1.200 quilômetros do Rio e São Paulo, um garoto de quinze anos em condições de competir com eles. Tornamo-nos realmente grandes amigos, até que me mudei para Montes Claros.

Não foi tão grande o meu tempo em Taiobeiras, já que chegamos em maio de 1949 e eu saí em janeiro de 1951, um ano e meio. Um lindo tempo de aprendizagem em todos os setores da vida, fazendo-me chegar para viver em Montes Claros praticamente como um adulto, consciente de todos os direitos e deveres e um sonho quase sem limites, no possível e no impossível. Imenso o meu universo de leituras em livros comprados pelo reembolso postal e tomados de empréstimos a Maciel, Laury, Aníbal, Ageu, Nenenzinho, Yolanda, Oladiva, Ena e Nay, todos juntos uma grande biblioteca, inclusive em inglês, que eu traduzia até com certa desenvoltura. De trabalho, para ganhar algum dinheiro, o balcão dos sábados na loja de Lúcio Miranda e algumas vezes no armazém de Artur Cunha. O normal era trabalhar na oficina do meu pai, montando malas de couro e de sola, com bons desenhos em retas e curvas, boas dobradiças e bonitas fechaduras. Foi com o dinheiro ganho em vendas, que iniciei a nova vida de estudante, quase trezentos cruzeiros. Viajei de graça, na cabine do caminhão de Dudu Cunha, ele motorista, que não me cobrou nada. Isso foi muito importante – viajar de boleia – para dizer que só viajei de pau de arara uma única vez, no dia de uma eleição em Salinas.

Meu pai - com toda a família - permaneceu em Taiobeiras até 1954, quando eu passei a ter condições de convidá-los para morar em Montes Claros.


MONTES CLAROS

Dentro do possível, tenho procurado escrever sobre pessoas e fatos ligados à recente história de Montes Claros, com os acontecimentos e os lugares de alguma forma jungidos à minha própria experiência. Isso, nos últimos quase trinta e seis anos, desde a noite em que cheguei de Taiobeiras e fiquei hospedado na Pensão de Dona Ismênia, ali pertinho de onde fica hoje o posto de Antônio Barreto, na Praça de Esportes. A primeira aventura foi exatamente no dia da chegada, quando, para marcar o terreno, percorri cautelosamente alguns pedaços de ruas, indo e voltando atrás para não correr o perigo de me perder e ficar, depois, envergonhado. Nesse vai-e-vem, o mais longe que fui foi até o Restaurante do Valério, na Simeão Ribeiro, onde paguei vinte e cinco cruzeiros por um jantar, um preço tão caro para aquela época, que me expulsou por três anos de qualquer casa de pasto mais grã-fina.

À Rua Quinze não consegui chegar, naturalmente intimidado pela clareza das luzes, pelo pessoal desinibido, bem vestido, gesticulante, demasiadamente alegre, que eu podia reparar de longe. Passear por lá, no primeiro dia de Montes Claros, seria uma façanha fora de pretensão para quem chegava com roupas feitas por alfaiate de província pobre e sapatos com excesso de meias-solas. Não dava, não dava mesmo! Por isso, deixei para o dia seguinte, no horário de trabalho, que aí a cidade é de todo mundo e a beleza das pessoas causa menos impacto, sem os perfumes, sem a performance dos momentos de ócio, sem o burburinho das horas de passeio grã-fino. A Rua Quinze que eu vi, pela manhã, era uma rua bem diferente, bem mais vazia, embora ainda tivesse muita gente despreocupada a discutir
política e futebol, a seguir, com olhos cobiçosos, uniformizadas donzelas de longas saias azuis e cabelos de tranças.

Foi depois de contar estórias da vida na Rua Quinze, que tive a grata alegria de receber uma carta do meu colega e amigo Nicomedes Almeida Teixeira, ministro-chefe da Secretaria da Fadec, companheiro de muitas lutas na Fafil, em quatro longos anos do Curso de Letras, quando frequentou minhas aulas de português e de linguística. Se a lembrança dos meus dias de Rua Quinze era um gostoso desfiar de saudades, a carta do Nicó me veio trazer uma suave afirmação de compromisso com o passado, uma certeza de que nenhum ato de nossa vida, simples ou sem importância, passa esquecido ou desfigurado de valor, sem o mérito do ter acontecido. Não vou interpretar a correspondência do meu intérprete. Passo-a ao leitor assim como chegou às minhas mãos. Tem o gosto de um grande amor a Montes Claros e ao tempo de nossa mocidade.

“Amigo Wanderlino, ao ler o seu artigo publicado, no domingo último, intitulado “Rua Quinze”, não pude deixar de me envolver em uma onda nostálgica, pois ali passei boa parte de minha infância.

Em fins de 1951, meu pai comprou, em sociedade com mais dois irmãos, o Big-Bar, ponto de encontro obrigatório para os boêmios da época. Ali passei momentos marcantes em minha vida, discutindo futebol, convivendo com os artistas de rádio trazidos à cidade pelo Airton Serpa, vendo os cartazes de cinema colocados na calçada da loja de “seu” Ramos. Embora criança, vivia o movimento noturno da Rua Quinze, auxiliando meu pai no bar, ou frequentando o salão de sinuca do Tio Hélio (não havia ainda rigor no policiamento a menores).

Tempo bom que me voltou à memória graças a você. Você se lembra do Bolo Esportivo, do Serpa? Dos bailes de carnaval do “Clube dos Bancários?” Quando o “footing” da Rua Quinze acabou, foi como se apagassem as luzes de uma parte da cidade. Os outros “footings” nunca foram os mesmos (ou será que foram as luzes de minha infância que se apagaram, em parte?). De toda forma, o seu artigo me fez reviver esse tempo, tempo bom! Obrigado”.
E você, leitor, está com saudades também? Nunca houve tempo melhor!


COLÉGIO DIOCESANO

Não me canso de ter saudades do tempo bom e gostoso das aulas do Colégio Diocesano, de quando podíamos, todos os dias, sentir e ouvir a alegria do Monsenhor Osmar, a braveza do Padre Agostinho e a terna amizade do Monsenhor Gustavo. É de fato um momento inesquecível, de quando cada gesto era uma lição, cada atitude uma experiência de seres em luta e em paz com a vida. Os três juntos, ou cada um em particular, eram para nós, meninos-rapazes, o grau mais alto da sabedoria, a fonte inesgotável de conhecimento, os degraus por onde alcançar a segurança do futuro. É claro que, particularmente, um por um tinha o seu séquito de seguidores, dependendo da esperteza ou do grau de inteligência de cada aluno, ou mesmo da maturidade ou falta de juízo, como podíamos encontrar nos mais sérios como Geraldo Miranda e Nivaldo Neves, ou nos mais afoitos como Pai da Mata e João Doido. Em órbita havia gente de todo jeito, tipo Tereziano Dupin, Renato Pobre, Renato Almeida, Dezinho Dias, Ivan Guedes, Lazinho Pimenta, Raimundo Santana, José Maravilha, personalidades marcantes que iam do folclore à poesia, do trabalho sério à justa compenetração.

Cada dia era um novo esquema de novidades, de surpresas, uma sensação de estarmos construindo o mundo, preparando-o para a nossa geração e para todas as outras que poderiam vir depois de nós. Ninguém fugia da luta, tirar o corpo de banda, em qualquer tarefa, era um sacrilégio. Matar aulas era pecado capital. Durante a semana não valia nem cinema nem namoro. A ordem era estudar! Uma única transgressão era permitida e só ao Miranda, porque ele havia inovado o sistema, inventado uma saída, namorando com a
professora Lourdes, inteligentão que era. O Dezinho Dias, já mais velho um pouco, falava de fazendas, de vez em quando. O Raimundo Santana era um importante, pois tinha bicicleta e tomava uísque antes das provas de matemática. Ivan impunha grande respeito: de vez em quando jantava em restaurante, sábado à noite depois do grêmio. A maioria, como eu, não tinha dinheiro nem para picolé ou quebraqueixo, e quando muito, bebíamos caldo de cana. Cafezinho era luxo!

Professor bom mesmo era o Pedro Santana, vibrante, grã-fino, dominante nas cadeiras de História, Ciências e Inglês, um terror para quem não tivesse as matérias na ponta da língua, a capacidade de responder, falando ou escrevendo, sem gírias. Pedro era tão imponente, que não repetia ternos e gravatas durante um mês, cada dia uma nova cor, hoje um três-botões, amanhã um jaquetão, tudo dentro do melhor figurino de Vavá ou Wilson Drumond. O cabelo, ah! O cabelo era que merecia o maior cuidado! A barba, de um barbear diário na barbearia de Antônio Guedes, com massagem facial, na mesma hora em que também estavam sentados os grã-finos Júlio de Melo Franco e Nelson Vianna, fregueses de manhã cedinho. Errar com Pedro ou com o Padre Agostinho – outro elegante – era imperdoável. A nota menor que um bom aluno podia tirar era dez. O nove era um feito vergonhoso!

Havia outros professores famosos e entre eles o Tabajara, a Terezinha Pimenta, Doutor Carlyle, A Maria Inês, D. Rosita Aquino e o Belizário, que falava latim e tinha o cabelo parecido com o de Castro Alves. Em certas ocasiões, o Bispo D. Antônio chegava a assistir a algumas aulas, sentado conosco, perguntando e participando, como se não soubesse de tudo! Foi a maior inteligência que conheci, uma cultura universal, um poder oratório que Montes Claros nunca teve igual, nem com o Simeão Ribeiro... Era um admirável mundo novo, principalmente para mim, que sem ternos e sem paletós – o primeiro foi o Vadiolando Moreira que me deu - achava tudo aquilo um sonho em realização. Maravilhosamente encantado, sedento de aprender, nunca cedendo o primeiro lugar a ninguém, uma coisa marcou-me
profundamente a diretiva na vida e me tem servido constantemente de bom exemplo: a alegria de viver de Monsenhor Osmar Novais de Lima, nosso diretor!


MEU PROFESSOR PEDRO SANT’ANA

Em primeiro lugar, tive a maior certeza de saber quem foi o professor de História de Pedro Martins de Sant’Ana. Professor ou professora, tem de ter sido uma pessoa notável, metódica, eficiente, capaz de despertar grande interesse no aluno. Ninguém encaminharia tanto saber a um discípulo se realmente não o tivesse. Não se transmite gosto e amor, simpatia ou paixão, quando não se tem essas qualidades. Pedro, como fruto, tinha de originar-se de árvore de primeira cepa. Era realmente um homem de grande saber histórico, mestre da didática, capaz de ensinar até a estátuas de gelo que estivesses sentadas em sala de aula. Aliás, ele não só ensinava, vivia como artista cada página da história.

Pedro Sant’Ana, nos velhos idos do Colégio Diocesano, fim da década de quarenta, início da de cinquenta, era um árbitro da elegância, no vestir e no falar. Seus ternos eram mais bem talhados do que os da grande grã-fina da Rua quinze, de tecidos mais caros do que os da gente rica do Clube Montes Claros. Famosas gravatas de seda, camisas de colarinhos trubenizados, engomadas com esmero, sapatos Scatamákia de cromo alemão com tonalidades que iam do marrom claro até o escuro-preto.

Era uma época de ouro das alfaiatarias e das lojas de luxo, quando cada par de meias era escolhido como se o freguês estivesse minerando ouro ou falseando diamantes. Aí, Pedro Martins de Sant’Ana era o mestre do bom gosto.

Lembro-me de que o professor Pedro Sant’Ana era bom, humilde quase nunca, algumas vezes arrogante, consciente do seu próprio valor durante todo o tempo. Jamais concedia a si mesmo uma dúvida por menor que fosse. Era um monumento de saber, na História, nas Ciências Naturais, no Inglês. Primeiramente na História. Aí era inesgotável sua eficiência. Falava dos Césares e dos Antoninos, de Aníbal e de Alexandre, de Ramsés ou de Napoleão, de Gêngis Kan de César Bórgia como se fosse ele, Pedro, colega de campanha ou vizinho deles. Como percorríamos as ruas de Atenas e de Esparta, de Roma e de Alexandria, de Tebas ou Jerusalém, vivendo suas palavras! Com Pedro Sant’Ana, lutamos em Dardanelos, corremos em Maratona, navegamos no Rio Nilo, atravessamos o Mar Vermelho, fizemos nossa a Mesopotâmia!

Pedro Sant’Ana, que grande professor! Não me consta que jamais tenha trabalhado pelo ordenado, pelo vil dinheiro, somente pelo pão de cada dia. Trabalhava muito mais pelo entusiasmo, pela visão multissecular dos heróis da História, pela experiência milenar dos sábios. Alimentava-se, parece, pela retórica, tendo, como material da vida, a palavra, a palavra viva, sonora, marcante nas consciências jovens. Para nós, seus alunos, o verdadeiro descobridor do Brasil, o homem que abria as selvas, rasgava estradas, construía escolas, levantava templos, era ele Pedro Sant’Ana, o grande Pedro. O mestre com carinho de um velho guerreiro!

Pedro Sant’Ana, sem favor nenhum, teve outro mérito: culto, vibrante, polêmico, destemido, desaforado, foi um dos dez melhores oradores da história de Montes Claros. Merece um lugar importante em nossa galeria de personagens!


COMEÇANDO A SER MONTES-CLARENSE

Não havia a Rua Lafetá desembocando ali na Rua Carlos Gomes. O que havia lá era só o esplendor do Alhambra, casa de mulheres grã-finas, chefiada com mão-de-ferro por Ana Reis, uma organização de dar gosto. A Rua Lafetá só foi aberta já no fim da administração do Capitão Enéas Mineiro, quando este a ligou com a Rua Visconde de Ouro Preto, que até hoje conserva o nome. Era nesse encontro de esquinas que ficava o cassino, casa de festas, de jogos, de encontros, que tinha na placa o respeitável nome de Clube Minas Gerais. Ao lado, em volta, pertinho, longe, dezenas de casas de mulheres, com janelas apinhadas de propaganda viva, contida algazarra de quem precisava acatar as exigências das famílias vizinhas. Durante o dia, certo respeito. A noite, agora sim, é hora de se divertir, pode levantar o tom da música que é tempo de prazeres. Todos os homens, tendo dinheiro, estão convidados!

Foi por causa do cassino que não pude ficar morando na Pensão de D. Ismênia, na Praça de Esportes. Menino ainda, não ficava bem passar, toda hora, em frente das casas ditas de tolerância, subisse pela Rua S. Francisco, pela Carlos Gomes ou pela Altino de Freitas; pela rua Lafaiete, aí nem pensar, era lá o centro de tudo, a capital do pecado. Sabedor-mestre da situação, Dr. Carlyle Teixeira, meu conselheiro, mandou-me para a Rua Afonso Pena, no beco do Padre Marcos, para a Pensão de D. Tonica, lugar de gente muito mais séria. De lá para a Loja Imperial, durante o dia, ou para o Colégio Diocesano, durante a noite, era um pulinho, e bem a salvo da malandragem ou da perdição... Assim era mais seguro, pensava ele.

Engraçado é que, apesar de todo esse cuidado, por ser eu amigo de Aníbal Rego, que, por sua vez, era amigo de Ana Reis, raro foi o dia em que eu não passava pelo Alhambra, para ouvir rádio ou escutar conversas do mulherio de luxo, não sei que tempo eu encontrava para isso. O cassino eu via por cima, da sacada, lá dentro a orquestra ou um tipo de conjunto musical dirigido por Godofredo Guedes, um mestre da clarineta, a dedilhar e soprar boleros, tangos e velhas músicas de jazz. Com dezesseis anos apenas, entrar na festa estava fora de qualquer cogitação. Este direito ficava com os rapazes mais velhos como Geraldo Borges, Geraldo Avelar, Dudu Cunha, Ildeu Gonzaga, Carlúcio Athayde, ou meninos ousados como Bebeto Prates.

De todos os frequentadores das casas de mulheres, o mais importante, o maior galã, era Dudu Cunha. Rico, bonitão, vivia a época de ouro dos donos de caminhão. Na noite em que ele chegava de Taiobeiras, toda a Pensão de D. Ismênia só falava nas suas aventuras, no cuidado que ele tinha com as roupas, com os sapatos, com o perfume, no demorado barbear. Os filhos de Nego do 0, que vinham de Salinas, Gildásio Ramos, que parece, já morava em Montes Claros, todos ficavam alvoroçados para acompanhá-lo, tirando uma casquinha do seu sucesso. Era um espetáculo para todos nós, os mais novos, mais sensacional do que um episódio de seriado do Cine Cel. Ribeiro. Dizem que, com Dudu, até Nivaldo e Benedito Maciel, os donos da noite, ficavam ofuscados, Montes Claros se curvava perante Taiobeiras!

Fora daí, num outro circuito de que eu só ouvia falar, as estórias corriam por conta de um rico comerciante chamado Kalil, de Ludendorff Pinto Cunha, de José de Souza Zumba, de Benjamim Moura e de jovens doutores bem conhecidos, entre eles Mário Ribeiro, João Valle Maurício e Konstantin Christoff, todos considerados bonitões, elegantes e bem postos na vida. O tempo do Cassino não era mesmo para todos...


JORNALISMO

Não sei bem por que, mas ser jornalista era um sonho que eu acalentava há muito tempo, bem antes de ter-me mudado para Montes Claros, nos meus adolescentes dias de Taiobeiras. Escrever para jornais e revistas, naquela época já não me parecia uma coisa totalmente impossível, tinha cheiro de realidade com boa marca de prazo por acontecer. Na verdade, foi de lá o bom começo, nos meus primeiros exercícios de charadismo e de palavras cruzadas, quando não me limitava à passividade das decifrações.

Era uma experiência e tanto, que me causava grande alegria ao ver meu trabalho e meu nome publicados em letras de imprensa. Meu amigo Aníbal Rego, um dos melhores professores que já tive, muito me incentivou, procurando valorizar meus primeiros passos nesse tipo de atividade na imprensa. Desenhar a nanquim eu sabia de alguma forma, o que eu não sabia era datilografar, que era coisa difícil em cidade de interior. Foi aí que Ageu Almeida, outro amigo, nas horas de folga da farmácia, me deu grande ajuda, ensinando-me, corrigindo e, mesmo, passando a limpo minhas primeiras tarefas. Foi uma boa escola, coisa de nunca a gente se esquecer.

Depois, vendo meu esforço, meu interesse, meu pai comprou uma máquina de escrever e um método de aprender datilografia. Foi, não tenho dúvida, um grande encantamento e alegria: lembro-me,como hoje, coloquei máquina e livro em cima da canastra, no meu quarto, bem em frente à janela, e passei a gastar nos exercícios todo um mundão de papel, batendo e batendo todas as teclas, com todos os dedos, até aprender a nova arte.

Foi assim que cheguei a Montes Claros, em janeiro de 1951, quase datilógrafo, ia com meio caminho andado para trabalhar em jornal. Quando o Capitão Enéas e Luiz Pires Filho fundaram O JORNAL DE MONTES CLAROS, alvoroçado, vi abrirem-se para mim as portas da nova profissão, sentindo mesmo que o grande sonho poderia transformar-se logo em realidade. Nada, porém, aconteceu, porque o excesso de trabalho no comércio, as tarefas no Colégio Diocesano, a leitura de pelo menos um livro por semana, as cartas para a namorada, tudo, tudo não deixava tempo para o futuro jornalista. A novel de sonho, limitei-me a acompanhar de perto a primeira fase de desenvolvimento do jornal, principalmente das polêmicas que não eram poucas.

Depois veio a política estudantil no grêmio do Instituto Norte Mineiro, com eleições perdidas, eleições ganhas, com liderança construída quase a ferro e fogo. Foi também nesse tempo que Waldir Senna me passou a presidência do Diretório dos Estudantes, numa velha sala da rua Dr. Santos, de frente para o Hotel São José. E daí, para quem vinha de tão longe na vida, estudar de favor, porque dinheiro não havia, o novo cargo era uma espécie de consagração. Deve ter sido por isso que o professor José Márcio de Aguiar, que não era tão meu amigo como o era de Haroldo Livio e Waldir, resolveu atender o pedido de Oswaldo Antunes e me mandar para o JMC. Antes, me recomendou uma série de cuidados na arte de escrever,no contato com o público e principalmente, um valioso conselho: nunca esperar do jornalismo a riqueza do dinheiro, porque jornalismo teria que ser sempre um sacerdócio.

E, realmente era. Trabalhei três meses completamente de graça. Depois, Oswaldo destinou ao jovem e apressado repórter um ordenado de mil cruzeiros. Dos velhos . . .


O BAR GUARANI DE VADINHO

Elton Jackson ao me fazer um pedido para escrever sobre a Rua Doutor Santos, deixou-me na liberdade de voltar ao assunto quantas vezes forem necessárias, pelo menos até a hora em que eu chegar na esquina do Hotel São José, onde morei muito tempo. Na primeira crônica, como não podia ser, procurei avivar todas as lembranças que marcaram a história recente do quarteirão do Hotel São Luiz, quando ficava de um lado o Bar de Manoel Cândido e, do outro lado, o Banco de Crédito Real, tudo muito próximo da área dos aflitos. Fui subindo, esquina por esquina e, agora, já estamos entre as ruas D. Pedro II e Dom João Pimenta, pedaço de mundo que me marcou profundamente, pois, ali passei alguns dos melhores momentos de minha vida de estudante e comerciário, de jovem repórter e de soldado do Tiro de Guerra, além das muitas atividades como radialista amador e como líder estudantil no Diretório dos Estudantes. Foi neste quarteirão que, de 1951 a 1954, morei nas pensões de D. Ismênia Porto e D. Duca Guimarães, levantando-me sempre pelas madrugadas para aprender as matérias das provas do Colégio Diocesano e do Instituto Norte Mineiro.

Era quase na esquina da Rua D. João Pimenta que ficava o Bar Guarani, um boteco alegre e bem frequentado desde os dias de sua fundação, pelos idos de 1950. Pequeno, de poucos metros quadrados, quase que de centímetros, tão curtas eram as dimensões pelo lado de dentro e pelo lado de fora. Quando passava de uns cinco fregueses, necessário era que alguns já ficassem de pé, no passeio, encostados ou não na parede velha e pintada de verde. Havia umas duas mesas pequenas e algumas cadeiras para o pessoal que gostava de jogar damas, tomando cerveja ou bebendo pinga.

Foi por volta de cinquenta a cinquenta e um que o Vadinho, Vadiolano Moreira, chegou a Montes Claros, um dos poucos rapazes de Taiobeiras que não veio para cá para estudar, mas, para ganhar dinheiro. Renato, Murilo, Nenzinho, Dedé, Valtinho, Alfredão, Tone, Quincas, eu, todos nós viemos para enfrentar a realidade e os sonhos dos livros. Vadinho não. Vadinho veio para trabalhar muito, trabalhar dia e noite, trabalhar o quanto fosse necessário para ficar rico, se possível muito rico. Foi assim que o Vadinho botou o olho no Bar Guarani, simpático, gostoso, e não teve dúvida, ali estava a primeira mina de sua vida montes-clarense.

Nunca conheci melhor comerciante que o Vadinho. Costumo dizer que, se ele instalar um boteco, um barzinho ou mesmo um restaurante encima de um pé-de-mandacaru, ainda assim teria constantes e eternos fregueses e amigos para todas as horas. É que ele vive cada momento, participa interessadamente de todos os assuntos, respeita reverente a alegria ou a tristeza de todos que dele se aproximam. Quando o Vadinho comprou o Bar Guarani, fez as primeiras mudanças, ampliou-o com mais um espaço lateral, foi como se uma luz nova iluminasse a paisagem e iniciasse um novo sistema vivencial para velhos e novos, pobres e ricos, principalmente para os que gostavam de futebol e de cervejas e batidas de limão. Por lá passa vam obrigatoriamente os hóspedes e moradores de todos os hotéis e de todas as pensões do centro da cidade. Nenhum estudante que se prezasse poderia deixar de ir lá pelo menos aos sábados e domingos, antes ou depois do cinema. Uma coisa era muito importante: na hora do futebol no rádio, nos momentos dos gols, o Bar Guarani era o epicentro do mundo, o lugar mais barulhento da terra.

Mas, como sempre existe o lado contrário de tudo, o Bar Guarani também teria de ter um fim. O seu último dia de real movimentação foi o dia em que Vadinho o vendeu. Vendeu-o por um preço de fazer inveja, por ser o lugar de melhor frequência de Montes Claros. A essa altura dos acontecimentos, Vadinho já era um fazendeiro rico!


HOTEL SÃO JOSÉ

Venho percorrendo, aos poucos, a rua Doutor Santos, a pedido do colega Elton Jackson e em obediência a um esquema tempo/espaço traçado desde a primeira crônica sobre o assunto. O meu objetivo é chegar à Rua Bocaiúva e, aí, em atendimento a um sonho de minha amiga Nailê, fiel cobradora de minhas lembranças de vizinho, falar de quando ela era criança, quase menina-moça, dos tempos de nascimento de João Wlader e de José Danilo. Passo a passo, saí do Hotel São Luiz, de D. Nazareth Sobreira e do Bar de Adail Sarmento, no início da rua, e, hoje, chego ao Hotel São José, de D. Laura e, depois, de D. Emília e do inesquecível Juca de Chichico e do eterno gerente Geraldo. São lembranças agradáveis, grandemente gratificantes de um jovem que alcançava a idade adulta, já hóspede em hotel, com uma individualidade e uma privacidade nunca antes imaginadas como morador de pensões.

No Hotel São José, cuja placa dizia o maior e o melhor, ser hóspede já era um grande privilégio, marcava, quer queira quer não, um status de matar de inveja os estudantes de repúblicas, ou aqueles que viviam desprezados nas casas de parentes, muitos em barracões de fundo de quintal. Foi lá que tive, pela primeira vez, um quarto só meu, com pia e guarda-roupa, inicialmente, no térreo, do lado de dentro do pátio, na ala da praça Cel. Ribeiro, e, depois, no primeiro andar, quase de frente para os dois mais importantes endereços: os apartamentos de Ademar Leal Fagundes e do diretor do DNOCS, o dr. José Correia Amorim Sobrinho. Foi uma melhoria de situação social que quase não tinha limites, quando comprei, duas calças de tropical, uma meia dúzia de camisas, novas meias e... realização de velho sonho, um rádio de segunda mão, rabo quente, que tocava músicas e dava notícias todas as manhãs.

O Hotel São José era um mundo à parte, bom, alegre, importante, chique, principalmente depois que “seu” Juca assumiu a direção e realizou uma grande reforma. A saudade marcada com a ausência de D. Laura foi compensada com a elegância de D. Emília e a descontraída presença dos filhos, principalmente de uma menina que era a mais bonita da rua Doutor Santos, a Mercesinha, já quase em início de namoro com o João Walter Godoy. Zé de Juca, Lauro, Bernadete, todos eram também bastante simpáticos com os hospedes. A hora do jantar era quase sempre uma festa, exigindo-se a melhor roupa de cada participante do banquete diário, uma etiqueta fiscalizada de perto pelos garçons, principalmente pelo Fernando, que, até hoje, trabalha na profissão.

Poucos foram os estudantes que conseguiram a permanência no quadro de hóspedes. Um a um ia saindo, pedindo ou recebendo as contas, depois de uma brincadeira mais forte, ou do não respeito à posição da gente importante e seria como era o sisudo e culto fazendeiro Ademar Leal, o milionário Manoel Rocha, a mais graduada figura do Exército na região, o sargento Moura, o advogado José Carlos Antunes, que falava inglês corretamente, Lagoeiro, músico-chefe da regional da Rádio Sociedade, o diretor do IBGE, e o próprio dono, seu Juca, o único montes-clarense, na época, a ter feito uma viagem internacional de muitos meses pela Terra Santa e pelo Mundo Antigo.

Pode ser exagero de minha parte, mas, para nós, lá era o centro da
cidade e da cultura.

Bons tempos aqueles, justamente quando iniciava atividades, já com os pés no chão, o nosso O JORNAL DE MONTES CLAROS, não sei bem certo, parece já com a direção do Oswaldo Antunes, pois o ano em que estamos é o de 1955, quando recebi das mãos do Waldyr Senna a presidência do Diretório dos Estudantes e quando foi eleita a nossa rainha mais bonita de todos os tempos, nenhuma outra igualada em nobrezas nem antes nem depois: Cibele Veloso Milo!


FAFIL

Uma recordação forte, muitas lembranças desde a primeira conversa com Baby e Mary Figueiredo, a inscrição para o vestibular, as aulas de francês e português, as idas e vindas à Secretaria para ver Adélia, e sentir o peso de autoridade de Isabel, eterna diretora que não sai do nosso coração! Nas salas de aula, as presenças de gente que ninguém poderia pensar viver ainda em bancos de escola: Dr. Maurício, Dr. Mourão, Dr. Hélio Moreira, irmãs do Colégio, Omar Peres, quanta gente também da Pedagogia, tantos e tantos nomes de valor!

Inaugurar a FAFIL era quase um abrir de portões do fechadíssimo Colégio Imaculada para o grande público, principalmente para os homens, classe que ali não tinha acesso a não ser quando professores de reconhecida respeitabilidade. Abrir as portas da FAFIL foi um renovar de atitudes, um início interessante de experiências, quando recatadas freiras se sentaram receosas de contaminação com o público externo, quando moças e moçoilas foram se afirmando nas primeiras minissaias e uso de linguagem um tanto livre, em palavras novas da gíria nacional, ideias para época um tanto avançadas. Além de todas as sensações, mais a certeza de ser aquela a primeira escola de nível superior da região, um marco que mesmo os cegos poderiam ver e contar como escala de progresso. Tudo era motivo de curiosidade!

Creio que o grande laboratório de ideias a usina dos sonhos tenha sido mesmo as salas de aulas da Universidade Federal de Minas Gerais, onde moças montes-clarenses terminavam diferentes cursos, tão distantes uns dos outros que iam da História à Pedagogia, das Letras à Matemática, da Geografia às Ciências Sociais. Diplomatas, portadoras de muito saber e incentivo de antigos professores da capital, Isabel Rebelo de Paula, as irmãs Baby e Mary Figueiredo, Sônia Quadros Lopes, Florinda Ramos Marques, Dalva Santiago de Paula, ansiosamente, se uniram a outros idealistas, e o resultado foi o nascimento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas aqui em Montes Claros. Verdade é que não houve oposição ao seu trabalho e até não faltou crédito ou aquele sempre necessário voto de confiança. Todo mundo acreditou nelas, com o Colégio Imaculada Conceição cedendo espaço físico e moral, a Fundação Educacional Luiz de Paula fornecendo recursos e entusiasmo, professores como Jorge Ponciano Ribeiro, dando logo a sua quota de serviços.

Foi uma beleza o começo, um sucesso o primeiro cursinho de Montes Claros. Lembro-me bem, da primeira aula de francês que tivemos com a professora Baby Figueiredo, com texto solto, impresso fora de livro, uma novidade! Lembro-me de Adélia Miranda elaborando, como secretária, os primeiros relatórios, apertando os primeiros alunos retardatários para não atrasarem no pagamento das mensalidades ou início das aulas. Era uma experiência interessantíssima com passagens de se emocionar!
Era tanta sabedoria nova, um conhecimento tão organizado, uma perspectiva de aprendizagem tão grande, que problemas apareciam a toda hora, todos querendo aproveitar de tudo, sorver de vez todo um alimento que por não existir antes, estava sendo negado a quem muito o desejava. Acontecia então o troca-troca de salas, uma espécie de mineração de assuntos, um descobrir quem era o melhor professor, um abeberar de toda uma nova filosofia de vida. Não posso contar tudo sobre as aulas de nossos cursos, nos primeiros dias do semestre, porque os acontecimentos vinham aos borbotões, quase sufocando a curiosidade, até confundindo as cabeças. Era como se fosse um vasto ciclo de conferências de palestras, um eterno comício. Hamilton Lopes, calouro, ensaiava os primeiros passos da política estudantil, João Valle Maurício, José Nunes Mourão, Hélio Vale Moreira, Mauro Machado Borges, alunos mais vividos, mostravam uma compenetração pouco natural de estudantes. D. Yvonne Silveira, esta numa santa vaidade de literata, se desmanchava em sorrisos e sutilezas numa alegria quase infantil.

Tudo foi uma longa festa intelectual, uma corrida de muita sede à fonte, todos considerando um grande privilégio, uma oportunidade a mais de vencer na vida, em campos profissionais já longamente seguidos. Pela primeira vez, vimos professorinhas ensinando para velho elenco de construtores do futuro!

Olhado de longe, vinte e sete anos depois, quase uma loucura. Mas que maravilhosa loucura! Que o diga Isabel Rebelo de Paula, a primeira diretora.


APRENDENDO ETIQUETA
NO RIO DE JANEIRO

Confesso que sou leitor vidrado em regras de etiqueta. Não perco uma linha do que se fala de educação e do bem-viver social, de como tratar as pessoas, de como buscar uma convivência pacífica e polida com os nossos semelhantes, principalmente quando pelo menos um mínimo de elegância é exigido. Leio tudo. Seguir, obedecer às regras, fazer do bom trato uma linha de vida é difícil, exige muita observação e muito esforço, mas é sempre possível se a gente for incorporando à cultura pequenos e grandes conhecimentos nesse setor. Em verdade, cautela e cuidados sociais não fazem mal a ninguém. Claro que a educação ou a finesse em sociedade, e por sociedade entender-se todo o relacionamento humano em qualquer parte, merece vasta gama de obediências, uma forma natural de agir, o saber como, quando e onde tomar atitudes. É preciso saber quem convidar, presentear, receber, desculpar-se. É preciso saber vestir-se, dar festas, ir a festas, sair com colegas e pessoas amigas, ir à rua, a um restaurante, a um barzinho, a um lugar da moda. Também é preciso saber conversar ou escrever um bilhete, uma carta ou simples recado sempre que isso for necessário, seja hora triste, seja hora alegre, nossas ou das criaturas com quem vivemos, de quem gostamos. É preciso saber o melhor comportamento no trabalho, nos encontros, nos esportes, em toda e qualquer oportunidade.

Falando nestas coisas, lembro-me com saudades de uma experiência que tive em 1979 bem no século passado, no Rio de Janeiro, período em que ministrava um curso de Linguística para administradores do Banco do Brasil. Sempre que chegava do almoço, via no elevador, nos corredores e na entrada do auditório do Centro de Treinamento um vasto mundo de mulheres elegantes e bonitas, lindas-lindas, cada uma mais educada do que a outra. Num local em que a grande maioria era sempre de homens, aquela quantidade de belezas no mínimo parecia curioso, logo não tardando as explicações: estava sendo realizado ali um curso de etiqueta com uma professora da Socila, contratada pelo Banco para treinamento das secretárias de alta direção. Era isso a razão do belo visual e de toda finura de trato. Reunião de alta importância, reunião de gente fina, o que é outra coisa. Time de primeira linha, mesma professora que treinava as equipes internacionais da Varig.

Dispondo da metade do tempo, pois só lecionava pela manhã, por um caminhão de razões, não tive outro jeito senão pedir ao chefe Dalton, que por sua vez pediu à elegante professora, para que eu fosse aceito como ouvinte e fiel observador de todas as lições. Imagine, minha senhora, que situação! Um homem só no meio de quarenta mulheres mais do que civilizadas. Mesmo pegando o bonde já em meio de caminho, não houve alternativa, tive que aprender tudo ou quase tudo. É que nas discussões sobre o papel da mulher, nunca pude deixar de representar o papel do homem, estabelecer o contraste de posições. Por mais educação que houvesse, foi briga de nunca acabar: “machista chauvinista, representante da tradicional família mineira, bandido!” Foi um sucesso de aprendizagem. E como!


NO TEATRO NACIONAL DE BRASÍLIA

É preciso saber descobrir sempre o lado gostoso e nobre de cada momento de nossa vida. Buscar a felicidade é uma obrigação e a própria busca deve ser um motivo de ser feliz. É o que acontece comigo todas as vezes que entro no foyer do Teatro Nacional de Brasília, que desço a rampa aveludada e bonita e vejo aquela majestade de auditório, aquele conjunto monumental que só Niemeyer poderia imaginar e realizar. Ir ao Teatro Nacional de Brasília me oferece um gratificante prazer, um bom motivo de alegria. Foi assim a sensação que tive quando Dagmar, Anderson e eu tomamos o primeiro contato com a nossa turma, antes e durante a apresentação de Bibi Ferreira, na peça Piaf, um sonho de interpretação. Foi assim quando nos sentamos, bem em frente, ao palco, num bom grupo composto por lasbek, Riza, Carlos Hetch, e Car men, vendo do outro lado bons colegas de trabalho, tendo como destaque em mais de meio auditório o charme de Ângela Momm.

Curioso que tenha prevalecido em grande parte a cor vermelha, um vermelho forte, vivo, flamejante. Entre nós, e muito feliz, de vestido, bolsa e sapatos vermelhos, a Ivone. iria, mais feliz ainda, com um rosa choque que, à luz da noite, ninguém diria que não era vermelho. Valquíria, Daniel, Eduardo, Roberto, Cardenas, todos de camisas vermelhas. O Carlos, não sei se menos ou mais, também com vários detalhes de vermelho. Quando acende a iluminação do palco, o fundo espouca em vermelhidão intensa, vivíssima como um campo de luta, formando conjunto com o foco avermelhado que iluminou Bibi durante todo o tempo. Em contraste, como num romance francês, o negro das roupas do luxo e da pobreza que, de início, apavoram a consciência e a visão do espectador. Para compor, de nosso lado, a negritude da camisa do muito mineiro Moacir. De lá e de cá sempre o negro e o vermelho.

A voz de Bibi Ferreira, a presença, os gestos, o pessimismo, o lado difícil da vida que ela faz explodir a todo instante, o minúsculo físico sem nenhum traço de beleza, tudo marca a alma de Edite Piaf. É Piaf purinha com a visão de contemporaneidade, é realmente como se estivéssemos em presença dela. Aliás, mais do que isso: as duas, se parecem, quase uma mesma pessoa, todas duas famosas, marcadas visivelmente pela muita idade, com desgaste que a própria vida artística impõe e provoca. A voz, a princípio, miudinha, pedindo desculpas por existir, de repente enche e preenche o ambiente e vai tomando volume, ganhando corpo, envolvendo, límpida, num crescendo admirável como se representasse toda a força da sonoridade da eterna França. É como se estivesse no espírito dos cabarés de Paris, no Olímpia, o máximo da glória de toda a arte, muito mais do que o Carnegie Hall ou qualquer outro teatro do mundo, inclusive o Nacional de Brasília, em que estamos presentes.

Ouço e vejo Piaf e me transporto numa doce saudade para as ruas parisienses, as praças, os monumentos, os «boulevards”, os museus. Sinto no acordeom, na harmonia do fundo musical, e atmosfera de cultura, do gosto de sensibilidade que os franceses sabem cultivar com tanto amor. Vejo me no alto da Torre Eiffel, no Arco do Triunfo, na Place de la Concorde” na Pigale, no Sena, dentro de um bateau mouche, na Nôtre Dame, nos teatros de revistas, no Louvre, no meu modesto hotel de viajante solitário e muito feliz. Vejo-me correndo do frio, embevecido com o colorido das luzes, das bancas de jornais e revistas, das bancas de frutas vermelhinhas, com os brilhos dos restaurantes e cafés, ah! os cafés! Vejo-me envolvido com a alegria das crianças e a beleza magra das mulheres, com a diversidade de tipos, com as roupas que estrangeiros e franceses
desfilam nos passeios e jardins. Sonho e vejo!

E depois de tudo, emocionado, agradeço à arte de Bibi e a oportunidade de estar em Brasília. Nada melhor do que matar uma saudosa saudade!


NA LOJA MAÇÔNICA DEUS E LIBERDADE

Foi numa sexta-feira do mês de agosto do ano de mil novecentos e sessenta e três a primeira vez que vi as luzes do velho templo da “Deus e Liberdade”, ainda na Cel. Joaquim Costa, onde fica hoje o Colégio São Norberto. Minha impressão inicial era de que estava num pequeno cômodo quadrado, com cadeiras altas, gente sentada ao redor coladas às paredes, falando uma linguagem teatral numa espécie de fogo cruzado, todos muito interessados em conhecer os profanos cada qual querendo saber mais sobre o que pensavam a respeito de uma série de coisas do passado e do atual. As vozes eram todas minhas conhecidas, nenhuma sem identificação, bastante familiares para um já calejado repórter, político e sindicalista bem entrosado em todas as camadas de pobres e ricos de nobres e plebeus. Tudo me impressionou muito e creio que também ao Renato Alencar, de Porteirinha, meu companheiro de posse.

Dos que falavam mais de perto, lembro-me bem do Toninho Rebello, do Renato Alarico, do Almerindo Mendes, do Luiz de Paula, do Geraldo Novais, do José Gomes este um mestre-sala que, parece, complicava mais as coisas mostrando que tinha mais autoridade, Julinho Pereira, João Murça, Arnóbio Abreu, Ewany Borges, Vadiolano Moreira, Tulio Felício, Cristóvão Costa Mendes, Pedro Spyer, Hélio Athayde, João e Terezo Xavier, todos apareciam de vez em quando como a dizer que eu estava no meio de amigos, não devendo temer mal nenhum, e ao contrário, pudesse rejubilar-me de ser participante de uma assembleia composta só de gente portadora dos melhores e maiores méritos, de membros de uma sociedade milenar e de muito bom exemplo em toda a história do mundo. Mais distantes, mais calados, Antônio Franco Amaral, Antônio Aquino, Raulemar do Conto, Djalma Coelho, Rodolfo Cândido, Antônio Pernambucano, Antônio Cassimiro, Tasso Rodrigues, Pedro Paulo e Paulo Pedro Costa, Nenenzinho, e o meu quase conterrâneo Joviniano Ramos, todos curiosos e contentes com sorrisos de quase mistério.

Se dependesse só da memória, não sei se poderia hoje descrever todos os acontecimentos da noite, tão bonitos, tão fartos pela rápida sucessão, tão harmoniosos no conjunto, assim como a servir de eternos lembretes para uma vida de real fraternidade. Sei que não devo ter falhado em nada da confiança que em mim depositavam, porque também sabia que a seriedade dos meus acompanhantes não deixava dúvida quanto à importância do momento.

Deve ter sido um caso de confiança mútua, assim de conivente compreensão de ambas as partes, cada lado procurando demonstrar maior lealdade, pois, no fim, saímos todos para um jantar no Restaurante Mangueira, na Rua Dr. Santos, um encontro bastante amigável.

Pergunto a mim mesmo se tenho saudades dos meus primeiros tempos de Deus e Liberdade, um pequeno grupo empenhado em desenvolver um trabalho social de grande alcance, onde a lembrança de Chico Tófani, Francolino Santos, João de Paula, trabalhadores de muitos anos, era sempre uma constante, nunca esquecidas por Fernando Jabbur, Almerindo Brito, Alício Mendes, entre os amis vivi dos no lado mais importante de todos os acontecimentos. Lembrome bem de Waldir Macedo, de Giru Amaral, de Gentil Antunes, de Joel Stark, de Walter Suzart, todos de melhor companheiragem, tudo gente muito boa e de convívio bem agradável como acontecia com Jonas Almeida, Ormezindo Assis Lima, Aristides e Quincas Barbosa, Daniel Guimarães, Geraldo Borges, Carlúcio Freitas, Didi e Djalma Guimarães, Jaime Mendes e tantos outros.

Muitos já não se encontram entre nós causando falta, marcando apenas a lembrança. De lá para cá, bem mais de uma centena de bons companheiros chegaram para perto do trabalho e do estudo, construindo mais amizades, revolvendo a terra da história em busca do grande monumento que é hoje a nossa Loja. Tenho sido muito feliz todos estes anos, mais de encontros que de desencontros, mais de conforto que de desconforto, sobretudo muito mais de pureza de sentimentos, na verdade o único material com que se pode construir a solidariedade e o amor. E ainda bem que a vida tenha esse lado bom de se viver...


FUNDAÇÃO DA FACULDADE DE DIREITO

Normalmente, chegávamos à casa do professor José Oliveira Fonseca na Rua Carlos Pereira, às cinco da manhã. Todos os dias, de segunda a sábado, lá estávamos para a aula de análise sintática e de outras questões mais objetivas da língua portuguesa. Não éramos muitos, mas, éramos bastante curiosos e interessados, principalmente o Mauro Lafetá, o Corbiniano Aquino, o Afrânio Nogueira, o Adil Oliveira e eu. Eles, candidatos ao vestibular de Direito em Pouso Alegre ou Niterói; eu, estudante do curso de Letras, aproveitando a maestria do professor Fonseca, o melhor que passou pela disciplina em Montes Claros.

Era um tempo excelente, alegre, pleno de maduro entusiasmo, sonhos de pessoas que, a certa altura da vida, sabem o que fazer e com que se ocupar. O Afrânio acabava de deixar as aulas de primeiro estágio do madureza e já cursava, à noite, as últimas unidades para enfrentar o segundo grau, num esforço tremendo de ano e meio entre a escola primária e a universidade. O Mauro, com toda aquela pose que Deus lhe deu, sério, compenetrado, sonhador, quase já exigia que o tratássemos de doutor. Era tudo uma beleza, embora o professor nunca nos tenha dado um cafezinho para espantar o sono do levantar tão cedo...

Foi por aí, madrugadas em transformação de aurora, manhãs de gostoso friozinho para pouco agasalho, que o professor e nós fizemos as primeiras propostas para a fundação da Faculdade de Direito. Entre uma análise e outra, entre um verbo e um substantivo, uma nova observação sobre o futuro da segunda faculdade de Montes Claros. Quem estaria disposto a colaborar? Com quais advogados poderíamos contar para a formação do corpo docente? Quem poderia ser o primeiro diretor? Onde funcionar? Onde buscar apoio financeiro? Eram perguntas e mais perguntas, tão constantes e tão assíduas como os próprios formuladores. Não durou muito tempo a temporada de sonhos e cogitações e, em menos de um mês, já estávamos na rua, buscando apoio, tendo-o encontrado no deputado Euler Lafetá, tio do Mauro e homem próximo ao Governo, e no Inspetor Federal José Monteiro Fonseca, que ficou mais entusiasmado do que nós próprios. A luta tomava corpo, criava-se o espírito de séria decisão. O Mauro cada vez mais encantado e, antecipadamente, vitorioso.

Iniciamos as primeiras consultas aos principais advogados, através de uma comissão – Mauro, Afrânio e eu – num desdobramento de trabalho feito antes por Francolino Santos e Corby. Ninguém pode imaginar nem prever as reações humanas e profissionais diante de um desafio. Poderíamos calcular onde estaria o desinteresse pessoal, o desprendimento, o entusiasmo ou, ao contrário, o medo de futuro concorrência? E quem em perfeito juízo poderia acreditar naqueles sonhadores, querendo fazer as coisas de baixo para cima, invertendo toda a lógica aceitável?

Realmente, diante da proposta, futuros mestres mostraram-se ora alegres, ora tristes, na maioria das vezes terrivelmente irônicos. “Quem” era mesmo que queria fundar uma faculdade de Direito em Montes Claros? Que saberiam aqueles três sobre espírito universitário? Loucos era o que pensavam que éramos... Por que não iam estudar por correspondência como fizeram tantos outros, passeando de vez em quando? Seria mais fácil do que criar uma escola...

Dois fatores tornaram-se importantíssimos em nossa luta: o Jornal de Montes Claros ficou contra, afirmando a não necessidade de formação de novos bacharéis, o mundo já estava muito cheio de advogados; apareceram interessados em nosso trabalho: o professor João Luiz de Almeida e os deputados Francelino Pereira e Cícero Dumont. Doutor João cedeu-nos as instalações do Instituto para funcionamento da escola e se dispôs a ser o primeiro diretor; Francelino levou as ideias e os planos ao governador Magalhães Pinto; Cícero organizou os estatutos da Faculdade e da Fundação que viria unir FAFIL e FADIR.

Ninguém poderia segurar mais. O contra e o a favor estimularam ainda mais nossa frente batalha. A reação da imprensa provocou um desafio, a ajuda dos amigos poderosos deu o tempero que faltava.

Hoje um final mais do que feliz, com a FADIR – agora Centro de Ciências Jurídicas, completando 34 anos! Tenho bem guardadas as gravações do dia definitivo da fundação, reunião realizada na Rua
São Francisco, na Delegacia de Ensino, sala de trabalho de José
Monteiro Fonseca!


OUTRA VEZ EM LISBOA

Nova crônica sobre a viagem a Portugal com a mesma alegria de quase meio século atrás, tudo mais do que gratificante. Agora como dantes, as palavras de carinho recebidas em casa, nas reuniões, nas visitas feitas e recebidas, de muitos e muitos dos amigos. Quando um assunto versa sobre alguma coisa de mais pessoal, fala mais ao coração, transubstancia sentimentos, vale pela carga ou sobrecarga de afetividade, diz o que muitos ou todos gostariam de dizer. Momentos de felicidade agradam e sensibilizam, graças a Deus! E o mundo está precisando muito de vibrações mais positivas, de alegria, de amizade sincera e franca. Assim, dou-me por satisfeito e volto ao assunto, o que estava mesmo nos meus planos ao falar das novas andanças pela pátria-mãe. É possível que a parte maior da felicidade em Lisboa e grande parte de Portugal tenha sido pela companhia dos queridos anfitriões Eusa Rego e Antônio Salgado e de Olímpia, Rízzia, Jonathan e Andrew, gente do coração, companheiros de viagem, que engrandecem o ato de viver.

Nunca me esqueço da primeira viagem por lá, principalmente de Dulce Sarmento e Antônio Ramos, hoje amigos no plano das saudades. Que bons colegas e quanta jovial sinceridade naqueles dois! Como amavam a vida! Fazia gosto vê-los quedados diante da beleza, emudecidos de emoção diante do bem. Antônio Ramos era homem de conhecer o que havia de melhor no mundo e por isso, era viajante incansável ao lado de D. Flora, sua mulher. Dulce Sarmento, a arte personificada, uma fé que beirava à santidade, tinha na balança do belo a leveza dos anjos! Foi assim, no passado e agora, no meio de grupos admiráveis que vi Lisboa, Sintra, Cascais, Coimbra, Setúbal, Alcobaça, Almada, Fátima, Queluz, Santarém, Batalha, cidades que mais encantam os brasileiros e conosco se encantam também.

Não posso calcular no quanto a modernidade política tenha modificado a capital e o povo da nação portuguesa, depois da descolonização da África da volta dos retornados e do surto econômico da União Europeia. Mas, por mais que tudo isso tenha feito, acredito que Portugal ainda é um país tradicional, bonito e charmoso para nunca se esquecer! Por lá, passei também duas vezes sozinho, solitário, ruminando emoções no Castelo de São João, nas ruas estreitas de Alfama, nas margens do Tejo, na Estufa Fria, às margens da Avenida da Liberdade e até no barulho das Praças do Comércio e dos Restauradores. É preciso tempo e coração para descobrir, conhecer Lisboa, eterna menina e moça, linda e encantadora. Como é gostoso ouvir os falares do povo, principalmente os mais novos, os que, namorando, falam com a melodia do amor! Como é bonito o idioma português falado nas tascas, onde os bebedores ainda não bêbados soltam a língua com a musicalidade que só os libertos pelo torpor do vinho conseguem!

Tudo é bonito quando estamos felizes: o barulho das crianças, o anúncio dos vendedores, a algazarra dos desocupados! Sons, cores, movimentos, gestos, tudo é alegria! É preciso saber viver cada momento, tirar da vida os encantos que a vida tem, agradecer a Deus cada minuto bom que a existência nos oferece, nos proporciona, nos permite. Merecedores ou não, é gratificante aproveitarmos, fruirmos cada instante feliz. Não importa onde nem quando. E se for em Portugal ou somente a Lisboa, então nem é preciso pensar: a realidade é mais do que o sonho...


CURRÍCULO - WANDERLINO ARRUDA

Mineiro de São João do Paraíso, nascido em 3 de setembro de 1934, tem cursos de Contabilidade, Letras e Direito, pós-graduação em Linguística, Semântica e Literatura Brasileira, especialização em Comunicação Social e Metodologia de Ensino Superior.

Educador na Universidade Corporativa Banco do Brasil, professor aposentado da UNIMONTES, fundador e primeiro presidente de duas instituições montes-clarenses: Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas. Consultor da Fundação Rotária Brasileira, membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (Belo Horizonte), da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (Rio de Janeiro), da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco e da Comissão Interpaíses Brasil, Portugal e Países de Língua Oficial Portuguesa (São Paulo). Sócio Emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Palestrante em encontros literários, religiosos e maçônicos e em conferências regionais, seminários, fóruns e institutos nacionais dos Rotary. Jornalista, pintor, cronista e poeta, publicou Tempos de Montes Claros, Jornal de Domingo, O dia em que Chiquinho sumiu, Feeling-Poems, Emoções, Short Stories, Emociones, Construtores de Montes Claros, Prefácios e Comentários, Elogio das Letras (em parceria com o escritor Dário Teixeira Cotrim), Efemérides da Academia Montes-clarense de Letras, Vivências, Rotary Club de Montes Claros-Norte, História e Didática d’O Livro dos Espíritos e Montesclaridades e os e-books Poemas de Puro Amor, Poemas e Crônicas e Vida e Poesia. Prêmio nacional de pintura, participa de várias antologias literárias, regionais e nacionais. Tem vários blogs e é webmaster
de vários sites regionais e nacionais.

Em Montes Claros, foi presidente do Sindicato dos Bancários, do Esperanto-Klubo, da Fraternidade Espírita Canacy, da Academia Montes-clarense de Letras, da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas e da Câmara Municipal. Foi membro do Conselho Editorial da Unimontes, Diretor Cultural do Automóvel Clube, Vice-presidente da Câmara de Comércio Luso-brasileira em Minas Gerais, Delegado do Grau 33 da Maçonaria, Secretário de Cultura e diretor do Patrimônio Histórico. Sócio fundador do Rotary Clube de Montes Claros-Norte, é Sócio Honorário de R. Clubes de Belo Horizonte e do Norte de Minas. Governador e Diretor do Elos Internacional, Governador 94/95 do Distrito 4760 do Rotary International, tem diversos destaques: Academia Rotária; Reconhecimento Presidencial, Troféu Internacional Paulo Viriato, Companheiro Paul Harris, Benfeitor da Fundação Rotária.

Formador de governadores Brasil-Portugal (2000), em Anaheim, USA, coordenador da Força Tarefa de Serviços à Comunidade Mundial do RI (2001), Protocolo-assistente na Convenção Internacional do RI na Argentina (2000), Training Leader nos Institutos Rotários do Brasil, de Recife, São Paulo, Foz do Iguaçu, Aracaju e Florianópolis, Coordenador 2004-05 da Fundação Rotária (Brasil), Representante do Rotary International nas Conferências de Blumenau, Salvador, Goiânia, Feira de Santana, Salto (Uruguai), Concórdia e Salta (Argentina). Fundador de vinte e seis Rotary Clubes.

Participações: Convenções Internacionais dos Elos da Comunidade Lusíada, Lisboa, Teresópolis e Belo Horizonte; Congressos Internacionais de Esperanto e Espiritismo, Brasília; Assembleias do Rotary International 1994 e 2000 (Team Leader), Los Angeles; Convenção Pan-Americana, Rio de Janeiro; Congresso Internacional do Rotary/Nações Unidas e Convenção Internacional do Rotary, Buenos Aires; Festival del Proyecto Cultural Sur de Escritores y Artistas, Havana; Conferência Latino-Americana do Crescimento Populacional e do Desenvolvimento (Coord. de Equipes), Brasília; Congresso Internacional de Empresários Brasil-Portugal, Belo Horizonte; Conselho Internacional de Legislação 2001 e Institutos Internacionais da Fundação Rotária 2004 e 2005, Chicago. Pets Multidistrital do Rotary, Brasília- DF.

Homenagens: Cidadão Benemérito de Montes Claros. Personalidadedo Século - Jornal Hoje em Dia/ Theodomiro Paulino. Personalidade no Sesquicentenário de Montes Claros, em 2007. Medalhas João Pinheiro e Israel Pinheiro, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Medalha Mathias Cardoso, do Governo de Minas.

Casado com a artista plástica e professora Olímpia Rego Arruda (Design de Interiores), o casal tem sete filhos: João Wlader (Graduado em Direito - RC Montes Claros-São Luiz, RC New York -Oceanside e Tulsa-Sunrise), José Danilo (Graduado em Design de Interiores - RC Belo Horizonte-Serra), Denilson (Graduado em Jornalismo), Wladênia(Graduada em Direito e Letras Português/Inglês), Wanderlino Filho (Graduado em Ciências - RC Montes Claros-União e Manaus-Adrianópolis ), Rízzia (Estudos de Comércio Exterior -
Intercambista nos Estados Unidos (RC Montes Claros-Norte e RC Coshocton, Ohio) e Gracielle (Graduada em Publicidade - RC Montes Claros-Sudeste); netos: Mayra, Lívia, Fernanda, Pedro Henrique, Natália, Heitor, Gabriela, Andrew, Roberto, Lucas, Pedro Lucas, Arlie Emanuel e Marcelo; bisnetos, Clara Star e Luca Moon.


CRONOLOGIA

• 6 anos – Aprendi soma, subtração, multiplicação e divisão com Deoclides Oliveira, meu primo.

• 7 anos – Aluno na escola particular do Prof. Joaquim Rolla, escrita, aritmética, leitura de três livros. Multiplicação e divisão por doze algarismos, em lousa de ardósia, limpeza com cuspe.

• 8 anos – Aluno da escola pública estadual, Professora D. Adelina – leitura do livro do terceiro e quarto anos, redação de pequenos textos, e boa noção de desenhos.

• 10 anos - Mudança para Salinas, – terceiro ano primário com a professora Heloísa Veloso Sarmento, mais tarde minha colega de magistério e confreira na Academia Montes-clarense de Letras.

• 11 anos – Mudança para Mato Verde – trabalho na venda de João Alves Neves – o primeiro magistério foi ensinar alguns fregueses a jogar poker. Um delegado chegante viu o menino no jogo e o proibiu de encostar-se no pano verde, sob pena de prisão do empregador e do pai. Foi a última vez que toquei em uma carta de baralho.

• 13 anos – Conclusão do quarto ano primário com Distinção e Louvor, Professora Zulmira Santos. Leitura de todos os livros da Biblioteca da escola. Primeiros discursos em público, em nome da escola e da cidade. Trabalho na Agência do Correio, com Leúde Leão Hugues, aprendendo tudo de Correios e Telégrafos, inclusive o código Morse.

• 14 anos – Início da produção de charadas.

15 anos – Mudança para Taiobeiras. Trabalho na Agência do Correio. Início do namoro com Olímpia, que tinha 12 anos. Início de confecção de palavras cruzadas e aperfeiçoamento na confecção de charadas, com publicação na Revista Libertas da PMMG, (Belo Horizonte), na Revista da Marinha (Rio de Janeiro). Permuta de charadas e palavras cruzadas com oficiais da FAB (Capitães e Majores), que faziam, semanalmente, o Correio Aéreo Nacional (passando por Taiobeiras).

• 16 anos – Mudança para Montes Claros em janeiro de 1951. Moradia na Pensão de D. Tonica, Rua Afonso Pena, esquina com a Rua Padre Marcos. Curso de Admissão e primeiro ano ginasial no Colégio Diocesano, diretor Monsenhor Osmar Novais de Lima. Trabalho na Imperial-Lojas Reunidas, de Joaquim F. Rodrigues Correia. Mudança de trabalho para a Casa Elza, de Ernesto Rodrigues Neves, gerente Manoel Alves Neves – Bias (quando terminei de estudar datilografia). Mudança para a Pensão de D. Ismênia, Rua Doutor Santos, esquina com a Rua Dom João Pimenta.

• 17 anos – Mudança para a Pensão de D. Duca, Rua Doutor Santos, entre as Ruas D. Pedro II e Dom João Pimenta, onde mais tarde foi o Prontocor.

• 18 anos – Soldado 89 do Tiro de Guerra 87, comandado pelo Sargento Moura, Rua Tiradentes, esquina com a Praça da Estação. Colega de serviço militar ainda vivo, o soldado Humberto Souto.

• 19 anos – Mudança para o Rio de Janeiro, Ilha do Governador, Aeroporto do Galeão, onde meu tio Argemiro Morais trabalhava (Panair do Brasil). Volta
para Montes Claros. Trabalho no Empório Neves, de João Alves Neves. Trabalho no setor de atacado de Loyola & Cia. Rua Rui Barbosa, esquina com a Rua São Francisco. Presidente do Diretório dos Estudantes de Montes
Claros, sucedendo Waldyr Sena Batista.

• 20 anos – Segundo lugar geral no 3º ano de ginásio do Colégio Diocesano. Quarto ano no Instituto Norte Mineiro de Educação, diretor dr. João Luiz de Almeida. Primeiro lugar em concurso no Banco Hipotecário e Agrícola de Minas Gerais. Início como profissional no “O Jornal de Montes Claros” e colaborador na Gazeta do Norte. Professor de Inglês e Português na Escola
Normal, Sobradão da Rua Coronel Celestino. Cadeira permanente como jornalista nas reuniões do Rotary Club de Montes Claros (antigo Hotel São Luiz, presidente Luiz de Paula Ferreira). Diretor-fundador da Tribuna do Estudante.

• 21 anos – Primeiro lugar no concurso do Banco do Nordeste do Brasil. Posse na Agência de Montes Claros, setor de Cadastro (Analista de balanços) e, algum tempo depois, trabalho como fiscal agrícola região Norte de Minas. Diretor-fundador da Folha do Estudante. Presidente do Grêmio Lítero-contábil João Luiz de Almeida, do Instituto Norte Mineiro de Educação.

• 23 anos – Conclusão, em primeiro lugar, do Curso Técnico de Contabilidade no Instituto Norte Mineiro de Educação. Chefe do Escritório e Contador da Cooperativa Agropecuária de Montes Claros (maior faturamento regional). Casamento com Olímpia Rego Arruda, depois de sete anos de namoro e um de noivado (15 de outubro de 1957). Professor de Contabilidade Bancária e Língua Portuguesa no Colégio Imaculada Conceição e no Instituto Norte Mineiro de Educação e de Língua Portuguesa no Colégio Diocesano. Nascimento de João Wlader.

• 24 anos - Terceiro lugar nacional no concurso do Banco do Brasil. Curso de Cooperativismo do Estado de Minas Gerais, Secretaria da Agricultura, Belo Horizonte.

• 25 anos - Posse como escriturário no Banco do Brasil, Agência de Montes Claros, Rua Doutor Veloso, esquina com a Rua Presidente Vargas. Delegado Regional da União Colegial de Minas Gerais. Nascimento de José Danilo.

• 26 anos - Secretário do Sindicato dos Bancários de Montes Claros.

• 27 anos - Membro da Diretoria da Federação dos Bancários dos Estados de Minas e Goiás (Belo Horizonte). Nascimento de Denilson.

• 28 anos - Eleição para a Câmara Municipal de Montes Claros, pelo Partido Social Democrático. Repórter e cronista no Diário de Montes Claros. Representante da Federação dos Bancários de Minas e Goiás no Congresso Nacional de Bancários em Salvador e, meses depois, no andamento da greve dos funcionários do Banco do Nordeste, juntos aos Sindicados dos Bancários em Salvador, Recife e Fortaleza, com assinatura do acordo.

• 29 anos - Presidente do Sindicado dos Bancários de Montes Claros. Início do Curso de Letras (Português/Francês) na primeira turma da Fafil – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas. Prêmio no Concurso de Monografias sobre Manuel Maria Barbosa du Bocage, do Elos Clube Internacional.

• 30 anos – Presidente da Fraternidade Espírita Canacy. Professor de Língua
Portuguesa na Escola Estadual Professor Plínio Ribeiro. Membro da Comissão de Fundação da Faculdade de Direito do Norte de Minas. Publicações na Revista Montes Claros em Foco.

• 31 anos - Cursos de Liderança de Reuniões e Relações Humanas no Trabalho, Universidade do Ceará, Fortaleza. Curso de Suficiência em Língua Portuguesa - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Vice -presidente da Câmara Municipal de Montes Claros. Presidente da Junta Governativa do Sindicato dos Bancários de Montes Claros. Sócio efetivo do Elos Clube de Montes Claros. Nascimento de Wladênia.

• 32 anos - Presidente da Câmara Municipal de Montes Claros. Conferencista
com o tema A Língua Portuguesa no Brasil no Congresso do Elos Internacional, em Lisboa. Extensão da viagem à Espanha, França e Suíça durante trinta dias. Curso de Introdução às Línguas Artificiais, Palais de la Découverte, Paris. Reeleição para a Câmara Municipal de Montes Claros.

• 33 anos – Graduação no Curso de Letras (Português/Francês). Professor Assistente de Língua Portuguesa e de Linguística na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas. Nascimento de Wanderlino Filho.

• 34 anos - Curso de Aperfeiçoamento de Professores de Língua Portuguesa, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belo Horizonte. Curso de Grafotecnia, Banco do Brasil/DESED, Centro de Formação de Belo Horizonte.
Curso Teoria da Comunicação, Banco do Brasil/COMAD, Brasília- DF. Curso de Dinâmica de Texto, Banco do Brasil/CEFOR, Brasília-DF. Professor formador de administradores do Banco do Brasil, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Chefe do Departamento de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas. Nascimento de Rízzia.

• 35 anos - Curso de Suficiência de Língua Portuguesa - Universidade Federal de Juiz de Fora. Sócio fundador e Vice-presidente do Rotary Clube de Montes Claros-Norte. Sócio efetivo do Elos Clube de Montes Claros.

• 36 anos – Curso de Especialização em Linguística e Literatura Brasileira pela Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte. Professor de Didática para Supervisores do Banco do Brasil (Orientação de Treinamento em Serviços), Brasília-DF e outras capitais.

• 37 anos -Curso de Sociologia e Política – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 3º Congresso Brasileiro de Língua e Literatura –Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cidadão Benemérito de Montes Claros, pela Câmara Municipal.

• 38 Anos - Curso de Modernas Técnicas Didáticas de Ensino Superior, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Professor Titular de Língua Portuguesa e de Linguística, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
do Norte de Minas.

• 39 anos – Curso de Metodologia de Ensino Superior, da Fundação Universidade Norte Mineira e membro do Conselho de Redação da Revista Vínculo. Pós-graduação em Gramática Gerativa Transformacional, Semântica, Linguística e Literatura Brasileira, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

• 40 anos – Início da atividade de pinturas a óleo e acrílicas, aulas com Samuel Figueira, Konstantin Christoff, Godofredo Guedes, Raimundo Colares e Cristina Rabelo. Coordenador da Feira de Artes de Montes Claros. Presidente do Elos Clube de Montes Claros. Coordenador do Congresso Espírita Centro-Norte de Minas, Montes Claros. Nascimento de Gracielle.

• 41anos - Professor Homenageado na Formatura do Curso de Letras da FAFIL, Montes Claros.

• 42 anos – Sócio efetivo da Academia Montes-clarense de Letras, Cadeira 30, Patrono Antônio Augusto Teixeira. Elevação ao Grau 33 pelo Supremo Conselho da Maçonaria, República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro. Exposição de Pinturas no Centro Cultural Hermes de Paula. Presidente do Conselho de Kadosh da Maçonaria, Montes Claros. Redator-fundador do Jornal da Loja Maçônica Deus e Liberdade, Montes Claros.

• 43 anos – Formador no Curso de Palestrantes - Banco do Brasil, em Brasília-DF e outras capitais (Didática de Comunicação para Administradores). Paraninfo do Curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas. Conferencista na Convenção Internacional do Elos, Teresópolis, RJ. Diretor no Conselho Superior do Elos Internacional. Delegado Litúrgico Região 3, do Supremo Conselho do Grau 33 da Maçonaria. Presidente da AME-Aliança Municipal Espírita de Montes Claros. Participação ativa no Encontro Nacional de Professores de Literatura, Universidade Católica, Rio de Janeiro, e no Seminário Nacional de Metodologia para Avaliação de Redações, Belo Horizonte.

• 44 anos – Elaboração do Módulo de Instrutores de Linguística Aplicada à Comunicação, Direção Geral do Banco do Brasil, Brasília - DF. Professor titular de Linguística e Língua Portuguesa (UNIMONTES). Governador do Distrito 3 do Elos Internacional. Participação ativa no IV Jornada de Estudos Linguísticos, Teresina, PI. Redator e cronista no Jornal do Norte, Montes Claros. Publicação do primeiro livro – Tempos de Montes Claros. Coordenador da publicação do Livro Montes Claros, Sua História, sua Gente e seus Costumes, de autoria de Hermes de Paula (Loja Maçônica Deus e Liberdade). Personalidade do Ano (ARTES), pelo Jornal de Minas/Diário de Montes Claros/Thedomiro Paulino.

• 45 anos – Curso de Pré-História – Sociedade de Pré-História e Paleontologia de Minas Gerais, Belo Horizonte. Diretor do Concurso Anual e Permanente de Pinturas de Montes Claros. Diretor do Serviço de Intercâmbio de Jovens, do Rotary International, Montes Claros. Presidente do CRE- Conselho Regional Espírita Centro-Norte de Minas Gerais. Secretário da Academia Montes-clarense de Letras. Destaque do Ano (LITERATURA), O Jornal de Montes Claros/Lazinho Pimenta.

• 46 anos – Prêmio de Pintura, Federação Nacional de AABBs- Fenab – Goiânia. Membro da Brazilo Esperanto Ligo, Rio de Janeiro - da Universala Esperanto-Asocio, Rotterdam- Holanda - e da Fundação Lorenz, Rio de Janeiro.

• 47 anos –Sócio Efetivo da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, Belo Horizonte, Patrono: Nelson Washington Vianna. Presidente da Academia Montes-clarense de Letras. Conferencista no encerramento do Congresso Internacional de Esperanto, Brasília - DF. Palestrante na área de Semântica e Comunicação do Projeto Rondon.

• 48 anos - Membro Honorário da Loja Maçônica Acácia Montesclarense. Sócio Benemérito da Associação dos Repentistas e Poetas Populares do Norte de Minas. Publicação do livro Jornal de Domingo.

• 49 anos – Posse como Sócio Efetivo da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, Rio de Janeiro. Curso de Esperanto, Prof. Antônio Felix da Silva. Supervisor do Posto Avançado do Banco do Brasil em Mirabela.

• 50 anos – Sócio Benemérito de Montes Claros, pela Câmara Municipal.

• 51 anos – Homenagem Presidencial pelo Rotary International –, Chicago, USA. Congresso Internacional de Espiritismo, Brasília - DF. Presidente doCongresso Maçônico da Região Mineira da SUDENE, Montes Claros. Presidente do Segundo Seminário de Direito Civil- SEUD, Montes Claros.

• 52 anos – Presidente do Montes Claros Esperanto Klubo. Gerente da Agência do Banco do Brasil, Capitão Enéas. Exposição Individual de Pintura – Banco do Brasil- Sede IV Brasília - DF. Palestrante no Congresso Brasileiro de Teoria e Crítica Literária em Campina Grande, PA.

• 53 anos - Colação de Grau pela Faculdade de Direito do Norte de Minas, Ordem dos Advogados do Brasil - 52667. Professor do Curso de Jornalismo, na Fundação Educacional Montes Claros. Publicação do livro O dia em que Chiquinho sumiu.

• 54 anos - Diploma de Mérito pela União dos Escoteiros do Brasil. Segunda edição do livro O dia em que Chiquinho Sumiu. Redator e cronista no Jornal de Notícias.

• 55 anos – Aposentadoria no cargo de Gerente da Agência do Banco do Brasil em Capitão Enéas, 31 anos de carreira, frequência em tempo integral, nenhuma falta, nem por doença. Conferencista na Convenção Internacional
do Elos, Belo Horizonte, MG. Ombudsman do Jornal de Notícias.

• 56 anos – Homenageado no Primeiro Salão Nacional de Poesia - Psiu Poético. Secretaria de Cultura/Prefeitura Municipal de Montes Claros.

• 57 anos - Prêmio Distrital por Serviços Prestados à Fundação Rotária com Excepcional Dedicação, Belo Horizonte. Última Exposição Individual de Pintura – Centro Cultural, Montes Claros.

• 58 anos - Comenda Paul Harris, da Fundação Rotária, Chicago, USA. Paraninfo do Curso de Artes, Montes Claros. Membro-fundador e Presidente
do Conselho Deliberativo da Guarda Mirim, Montes Claros.

• 59 anos - Personalidade do Ano 1993 – Jornal do Norte/Theodomiro Paulino. Um dos cinco convidados de Montes Claros para a posse de Darcy Ribeiro na Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro.

• 60 anos – Assembleia Internacional do Rotary, Anaheim/Los Angeles, USA. Governador do Distrito 4760 do Rotary International. Prêmio Mérito Distrital pelo Rotary International. Diploma de Colaborador Emérito da Polícia Militar, pelo Comando Geral, Belo Horizonte. Personalidade do Ano, Jornal Hoje em Dia/Theodomiro Paulino.

• 61 anos - Secretário de Cultura de Montes Claros. Diploma de Reconhecimento do Rotary International por Serviços Prestados, Taipei, Taiwan. Troféu Paulo Viriato, por ter sido o maior fundador de Rotary Clubes no ano de Governadoria do Distrito 4760 (fundação de 13 Rotary Clubes). Prêmio Distrital da Fundação Rotária. Criação dos sites Wanderlino Arruda e Espiritismo Online.

• 62 anos – Professor de Comunicação e Oratória na Faculdade de Direito do Norte de Minas. Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural de Montes Claros. Membro do Conselho do Plano Diretor de Montes Claros. Benfeitor da Fundação Rotária, Chicago, USA.

• 63 anos - Representante do Presidente do Rotary International na Conferência do Distrito 4650, Blumenau, SC. Professor no Curso de Oratória para Oficiais e Sargentos do 55º Batalhão do Exército – Montes Claros. Criação dos sites Rotary Club Montes Claros-Norte e Montes Claros, Cidade da Arte e da Cultura.

• 64 anos -– Representante do Presidente do Rotary International na Conferência do Distrito 4550, Salvador/Itaparica, BA. Conferencista no Instituto Rotário do Brasil, Brasília - DF. Criação dos sites Fraternidade Espírita Canacy e Aliança Espírita de Montes Claros

• 65 anos – Training Leader na International Assembly, Anaheim/Los Angeles, USA, na formação dos Governadores 2001/2002 -Brasil e Portugal. Conferencista área de Literatura Brasileira, no Festival del Proyecto Cultural Sur, Havana, Cuba. Diploma de Ação Participativa na Polio Plus, firmado pelo Ministério da Saúde, Brasília-DF.

• 66 anos – Training Leader no Instituto Rotário do Brasil – Foz do Iguaçu, PR. Fala sobre Comunicação no Congresso Internacional do Rotary/Nações Unidas, Buenos Aires. Diretor de Protocolo Assistente na Convenção Internacional do Rotary - Buenos Aires, Argentina. Personalidade do Século,
Jornal Hoje em Dia/Theodomiro Paulino. Criação dos sites Fundação Rotária,
Wanderlino Crônicas e Wanderlino Poesias.

• 67 anos - Membro da Comissão Organizadora da Conferência Latino Americana Sobre População e Desenvolvimento, Rotary International, Brasília-DF. Membro da Delegação Brasileira no Conselho Internacional de Legislação do Rotary – Chicago, USA. Participação ativa no Instituto Rotário
do Brasil, de Porto Alegre, com relatório favorável à criação do cargo de Governador Assistente. Participação no Congresso Brasil-Portugal -Desafios
do Milênio, Belo Horizonte, MG.

• 68 anos – Representante do Presidente do Rotary International na Conferência do Distrito 4960, Salto, Uruguay, e Concordia, Argentina. Visita
Oficial à Logya Masonica Hiram, Salto, em que era Venerável o General Giuseppe Garibaldi, móveis ainda do seu tempo (1852).

• 69 anos –- Training Leader no Instituto Rotário do Brasil, Blumenau, SC.
Coordenador do Instituto Rotário do Brasil, Cuiabá, MT. Membro Fundador
do Conselho de Desenvolvimento e Consultoria Política de Montes Claros.

• 70 anos – Coordenador da Fundação Rotária no Brasil (Norte de São Paulo até o Acre. Representante do Presidente do Rotary International na Conferência do Distrito 4770, Goiânia, GO. Instituto Internacional da Fundação Rotária, Chicago, USA. Coordenador do Instituto Rotário do Brasil,
Florianópolis, SC. Conferencista do Instituto Rotário do Brasil, Aracaju, SE.
Publicação dos livros Emoções- poemas e Feelings - poems. Site da Fundação Cultural Marina Lorenzo Fernandez.

• 71 anos - Instituto Internacional da Fundação Rotária, Chicago, USA. Diploma de Exaltação e Reconhecimento da Comissão Nacional do Programa Polio Plus do Brasil - Encontro Nacional da Fundação Rotária – Belo Horizonte. Representação no Teatro da Paz, em Belém do Pará, no Centenário de fundação do Rotary. Publicação do livro Emociones – Crônicas y poemas, lançado na Argentina; e Short Stories, lançado em Chicago, USA.

• 72 anos – Representante do Presidente do Rotary International na Conferência do Distrito 4800, Salta, Argentina. Fundador e primeiro Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

• 73 anos – Conselheiro da Fundação Rotária - Brasil. Membro Organizador do I Congresso Brasileiro de Institutos Históricos e Geográficos, Belo Horizonte. Medalha Israel Pinheiro e posse como Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Medalha do Sesquicentenário de Montes Claros. Diploma de Pai do Ano 2007 pelo Automóvel Clube de Montes
Claros.

• 74 anos – Representante do Presidente do Rotary International na Conferência do Distrito 4390, Feira de Santana, BA. Membro Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Belo Horizonte. Sócio Efetivo da Aclecia- Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco. Personalidade do Ano 2008, Jornal Hoje em Dia/Theodomiro Paulino.

• 75 anos – Posse na Comissão Interpaíses Brasil-Portugal e Países de Língua Oficial Portuguesa. Membro da Comissão do Instituto Rotário do Brasil, Belo Horizonte. Medalha Matias Cardoso – Governo de Minas Gerais.

• 76 anos – Membro do Conselho Consultivo da ABTRF – Associação Brasileira da The Rotary Foundation.

• 77 anos – Benemérito da Maçonaria – Conselho de Veneráveis do Norte de Minas. Publicação do livro Construtores de Montes Claros.

• 78 anos – Participação no Seminário Internacional de Educação Comparada e Novas Abordagens na Formação Docente – Ministério da Educação – CAPES – Brasília – DF. Publicação do livro Poemas de Puro Amor
(e-book).

• 79 anos - Fundador e primeiro Presidente da Academia Maçônica de Letras
do Norte de Minas, Patrono João Batista de Paula. Publicação do livro Poemas de Crônicas (e-book).

• 80 anos - Publicação do livro Prefácios e Comentários e Vida e Poesia (e-book)

• 81 anos - Sócio Emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Belo Horizonte. Publicação do livro Elogio das Letras, parceria com Dário Teixeira Cotrim.

• 82 anos – Presidente de Honra da Academia Montes-clarense de Letras. Curador do Setor História da Editora da Universidade Estadual de Montes Claros. Publicação do livro Efemérides da Academia Montes-clarense de Letras – 50 anos.

• 83 anos – Sócio Honorário e Presidente de Honra do Instituto Histórico e Cultural dos Policiais Civis do Norte de Minas.

• 84 anos - Publicação do livro Vivências - Poemas.

• 85 anos – Presidente da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas. Publicação do livro Rotary Club de Montes Claros-Norte 50 anos. Palestra e lançamento do livro História e Didática d’ O Livro dos Espíritos, em Dallas, USA.

• 86 anos – Publicação do livro Montes-claridades. Publicação de palestras no Youtube, Instagram, Facebook Twitter e TikTok em diversas áreas da Cultura.

• 87 anos - Publicação do livro VIVENDO E APRENDENDO, Consórcio
do Instituto Histórico e Geográficos de Montes Claros. Conclusão do livro
SALMOS (Poemas), com base em escritos do Rei David. Chegada ao patamar
de quatrocentas palestras gravadas em diversas áreas da Cultura, do
Conhecimento e da História.

• 88 anos – Projeto de conclusão e publicação de mais dois livros: “Personalidades históricas de Montes Claros” e “Capitão Enéas Mineiro e suas gentes”.

... Sem constar cursos de extensão universitária, pesquisas e publicação de monografias em áreas da Linguística, Literatura, Artes, Ciências, História, Direito, Rotary e Maçonaria, por ser de número muito extenso.


POSFÁCIO

Itamaury Teles de Oliveira (*)

Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis. Bertolt Brecht

Acabo de ler VIVENDO E APRENDENDO, interessante e mais recente livro de Wanderlino Arruda, um verdadeiro esquadrinho nos recônditos de sua memória prodigiosa. Este autor sempre foi para mim uma figura paradigmática, porquanto ensejou em mim a vontade de ser cronista e escrever tão leve e solto como ele. Trata-se de rica biografia, escrita a várias mãos, pois, em princípio, sob a perspectiva de autores, escritores e jornalistas e, por fim, reminiscências sob a sua exclusiva ótica e lavra.

Eu, que já o admirava, fiquei impressionado com a riqueza de sua narrativa, trazendo à luz detalhes que dormitavam em seu cérebro, há mais de 80 anos. Lembra-se de fatos que remontam a sua primeira infância, ainda na sua pequena São João do Paraíso - terra da boa marmelada, que a todos encanta. Wanderlino e eu temos muito em comum. Somos de pequenas urbes e viemos para principal cidade da região em busca de novos horizontes. Começamos a trabalhar muito cedo, na mesma redação de “OJornal de Montes Claros”, o principal órgão de imprensa da cidade. Mas as
coincidências não param por aí. Fomos colegas no Banco do Brasil, inclusive
como instrutores de gerentes, nos centros de treinamento espalhados país afora.

Este detalhe me faz lembrar dos meus primeiros contatos com essa figura que tanto admiro, e que é hoje, sem sombra de dúvida, a maior expressão da cultura regional norte-mineira. Em 1979, logo após eu terminar o curso de Administração, na Universidade Federal de Minas Gerais, fui convidado para trabalhar na Direção Geral do Banco do Brasil, em Brasília.

Soube, a época, que Wanderlino Arruda também estava se transferindo para o mesmo órgão que eu iria, o DESED - Departamento de Seleção e de Desenvolvimento de Pessoal, a universidade do trabalho do grande banco brasileiro. Eu acabei me mudando para a capital federal, mas Wanderlino, não. Soube, mais tarde, o motivo: o apartamento funcional que lhe destinaram não era suficiente para abrigar sua família de sete filhos, que moravam numa ampla e confortável casa. Perdeu Brasília, ganhou Montes Claros...

Depois dessa época, nossa amizade se estreitou e nos reencontramos em várias fases da nossa trajetória profissional, até aposentarmos. Mas, a partir de então, as atividades literárias nos uniram em novos projetos, em novas circunstâncias. Verificando os ancestrais de Wanderlino, em seus textos rememorativos, percebi que nossos caminhos talvez tenham se cruzado bem antes. Seu avô, da família Moraes baiana, de Caculé, talvez seja a mesma do meu bisavô Rodrigo de Moraes Brito, da vizinha Jacaraci. Logo, poderemos até ser parentes, o que provavelmente explicaria nossa grande afinidade, como membros da Arte Real, de academias de letras e institutos históricos.

O autor, que ronda a casa dos noventa anos, com espírito jovial, está sempre com novos planos editoriais em mira. De sua mente prodigiosa já brotaram quase vinte obras, inclusive esta rica biografia. Mas não dá sinais de que sua fonte se esgotou. E nem que esta obra seja seu “canto de cisne”.

Aprendemos muito com livros biográficos, como este, por nos demonstrar que nada é impossível quando se tem determinação e vontade, mas, principalmente, por nos mostrar que o sucesso nunca está desatrelado de muito esforço pessoal, de bom foco no que se quer da vida, de não desistir diante do primeiro obstáculo, de sempre perseverar...

Por isso mesmo, convicto estou de que o vitorioso currículo de vida de Wanderlino, o seu otimismo e alegria, o seu entusiasmo, enfim, neste volume enfeixados, podem servir como farol, como rumo, até como porto seguro para pessoas de todas as idades, num mundo pós pandêmico, em que a desesperança grassa, para que reapareça, tênue que seja, luz no fim do túnel.

Ave, Wanderlino Arruda!

Você, que vem lutando ao longo de toda uma vida, é um homem imprescindível, na justa e perfeita definição de Bertolt Brecht.

Que continue assim...


(*) Escritor e jornalista. Membro das Academias Montes-clarense de
Letras e Maçônica de Letras do Norte de Minas e do
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.


Este livro foi composto na tipografia Swis 721 Cn BT
em corpo 12 e Thanks Autumn, impresso em papel offset 75g/m2 .
Montes Claros, agosto de 2021.


Impresso na oficina da GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro| 39.400-057 - Montes Claros /MG
mileniograf@hotmail.com | (38) 3221-6790

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

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